Mostrando postagens com marcador joinville 30. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador joinville 30. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Temei, joinvilenses. O futuro de Joinville pode ser lúgubre e assustador


POR JORDI CASTAN
Uma cidade será tão inovadora, inteligente ou avançada como a soma da totalidade da sua população. O planejamento urbano é um tema importante demais para ser deixado na mão de um pequeno grupo de gênios. Apesar de ser um tema complexo e que requer conhecimento técnico específico, uma peculiaridade do planejamento urbano é que todos os que aqui moram e vivem a cidade podem e devem contribuir.

O primeiro erro é o de pressupor que seja preciso um conhecimento especial, um conhecimento restrito a um pequeno grupo de “çábios” encastelados numa torre de marfim. Eis o problema: quanto mais encastelados e afastados da realidade das ruas e do dia a dia da cidade, mais absurdas e descabeladas serão as soluções encontradas.

O antigo IPPUJ é um exemplo disso. Os donos da verdade e os detentores do conhecimento fizeram mais trapalhadas que acertos, partiam da premissa que o planejamento urbano era complexo demais para que as pessoas comuns pudessem compreendê-lo e que gente sem mestrados e doutorados não poderia contribuir com suas sugestões.

Não lembro que em nenhuma das mais de duas dezenas de audiências públicas em que participei nos últimos anos, uma única sugestão feita por alguém da plateia fosse considerada, anotada e incluída na discussão. Menos ainda que o autor da proposta recebesse uma resposta, ou pudesse rastrear a análise da sua proposta.

Na verdade, as audiências públicas foram convertidas, e continuam sendo, em pantomimas homologatórias. Com o único objetivo de fazer de conta que a população é ouvida. Não canso de repetir que até pode ser que seja ouvida, mas faz tempo que não é escutada.
É por conta desta arrogância superlativa que vemos, a cada dia, novas intervenções no tecido urbano uma pior que a outra. Desde as ciclofaixas que unem nada a coisa alguma, criando uma falsa sensação de segurança para o ciclista. De fato são ciclofarsas que acabam tendo o efeito contrario do pretendido.

As estatísticas estão aí para mostrar que o número de acidentes envolvendo ciclistas tem aumentado. Há mais ciclistas? Deve haver, mas também há mais acidentes. Portanto, as ciclofaixas não melhoraram a segurança dos ciclistas, são verdadeiras armadilhas.
A LOT permite que um maior número de atividades geradoras de tráfego se instalem num maior número de ruas. Até uma criança de oito anos sabe que polos geradores de tráfego, como escolas, supermercados, indústrias, academias ou bares e restaurantes aumentam o número de pessoas e veículos que se dirigem a aquele empreendimento.

Portanto, aquelas ruas que já não davam conta do trânsito local agora terão que absorver um volume ainda maior e o risco de colapso será cada vez mais forte. Parques, praças, ruas arborizadas e ambientes mais caminháveis melhoram a saúde das pessoas, reduzem o risco de doenças e melhoram a qualidade do ar. Em Joinville a cobertura arbórea urbana diminui a cada ano, poucas gestões municipais tem tido uma relação mais perversa com o verde urbano e com a qualidade de vida dos joinvilenses que esta.

Ignorar o bom senso, alijar a participação da sociedade do debate do modelo de cidade e desconsiderar a sabedoria e o conhecimento popular não é a melhor solução para o futuro desta cidade. Mas é o que fazem as gestões  autocráticas. O resultado é que tanto o gestor, como seu séquito de tecnocratas, tem se convertido no “faz-me rir” da maioria da população. Essa gente tem caído no descrédito e é motivo de chacota de um extremo ao outro da cidade.

Extinguir o IPPUJ foi um erro. Desmantelar o pouco conhecimento que o instituto foi capaz de produzir ao longo de três décadas foi desastroso, mas foi o preço a pagar por planejar de costas ao cidadão. A realidade atual é ainda pior. Sem conhecimento, sem referências, sem capital humano capaz e sem a humildade de reconhecer que estão perdidos e sem rumo. O futuro é lúgubre e assustador.