quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O Castelo de Cartas desmorona...


Ontem foi um dia muito simbólico na luta pelo fim da corrupção no Brasil. No mesmo dia a Polícia Federal cumpre mandado de busca e apreensão na casa de Eduardo Cunha e enfim o Conselho de Ética decidiu pela continuidade das investigações contra Eduardo Cunha. Estas investigações podem resultar em censura do deputado ou até mesmo a cassação de seu mandato. 

Para quem convive um pouco no meio político, é nítido que o deputado, ao ser ver acuado, usou sua última arma: a aceitação do processo de impedimento de Dilma Roussef. O que por sua vez, fez o governo entender que ele não tem mais nada nas mãos e, talvez, apenas talvez, tenha caído essa cascata de inferidas contra Cunha. 

Não entro na questão do mérito do impedimento, pois é alvo de ampla análise e os juristas conceituados estão divididos, mas um dos pontos que advogam contra os manifestantes que pedem o impeachment nas ruas é esse apoio louco e inconsequente à Eduardo Cunha. Oras, apoiar um cara que não sai do olho do furacão dos noticiários sobre escândalos de corrupção e propina em troca que ele dê seguimento a um processo de impedimento é apoiar o Coringa para este matar o Pinguim. 

O que poucos observam é a linha sucessória, caso o impedimento, de fato, ocorra. Não há uma alma decente ou competente na linha sucessória e, amigos, cá entre nós, tirar a Dilma não mudará nada neste momento.

O PT e PMDB, em nível nacional, são partidos marcados por estigmas nada bons. O primeiro é tido como incompetente, olhar com atenção apenas para a Política Social e negligenciar a Política Econômica. O outro, é conhecido como uma meretriz de luxo, que nunca vai à cabeça do pleito, mas fica nos bastidores articulando e executando suas maldades. Reitero que o maior erro do PT foi se aliar ao PMDB e a prova disso é o divórcio litigioso que assistimos todos os dias.

É frustrante observar que o jovem se encontra desacreditado da política, e não é pra menos. Qual foi o último político que encampou um projeto bom e o levou até o fim? Dá pra contar nos dedos (de apenas uma mão). 


Nossa civilização chegou neste ponto de evolução através da guerra ou da política. Retroceder à guerra não é necessário tampouco benéfico, mas é imprescindível que melhore-se a qualidade dos que se envolvem na política bem como a participação da população, porque apenas ter contato com a política apenas através dos jornais e a grande mídia não é suficiente tampouco esclarecedor.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O bas-fond e os filhos da puta







POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O que vimos na “mininfestação” (mini+infestação) do último domingo? O bas-fond da sociedade brasileira saiu às ruas. Bas-fond? Sim. Apesar de terem rechonchudas contas bancárias, representam o que há de moralmente mais apodrecido em terras tupiniquins. Aliás, muitos não saíram propriamente às ruas. Em Joinville, por exemplo, os caras foram às ruas a bordo dos seus carros. Afinal, essa coisa da “luta política” exige sacrifícios, mas não é preciso exagerar. O dia estava quente.

E houve para todos os (des)gostos. Alexandre Frota posando de artista - e do bem. Tradição, Família e Propriedade no túnel do tempo a propor a era das trevas. Marombeiros que apareceram na fotografia de forma acidental. Uma professora paranaense com um sério déficit cognitivo. Um senhor que, num cartaz, pedia Tiririca na presidência (será ironia?). Muitas bandeiras dos Isteitis. Uma micareta ridícula feita por dançarinos apatetados. E um inacreditável flashmob num shopping, protagonizado por militantes de ar condicionado.

Uma senhora entrevistada pelo jornal português “Público” se disse decepcionada com a pouca adesão à manifestação. E deu mostras de quanto o brasileiro é solidário: “Sabe quando vai encher? No dia em que ela cortar o Bolsa Família daqueles filhos da puta. Aí vai encher”. Sim, você leu direito. Para essa senhora, que é gente de bem, os beneficiários dos programas sociais não passam de uns “filhos da puta”.

Aliás, a manchete do “Público” foi muito feliz. O jornal lusitano anunciou que o “Tea Party brasileiro” tinha saído às ruas. É a comparação que melhor define essa tranqueira que no domingo espalhou bílis em muitas cidades do Brasil. Gente que faz da ignorância um culto e da intolerância uma profissão de fé. Só é pena que a maioria nem saiba o significado de Tea Party. A qualidade intelectual dos caras não dá para tanto.

Mas há outros detalhes interessantes. O primeiro é a acentuada queda do número de participantes, que chegou a cerca de 70% em São Paulo. Outro é o envelhecimento dos protestantes, uma vez que a idade média passou dos 39,6 anos em março para 48,2 anos no domingo. É caso para pensar. Essa gente deve ter pelo menos sentido alguns eflúvios da ditadura. Já era tempo de terem juízo e deixarem dessa coisa de golpe.


É a dança da chuva.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Mixturado!


Corrupção não é só coisa de Brasília


JORDI CASTAN
Depois desta sobre-exposição aos escândalos de corrupção que assolam o país de um extremo ao outro, a sensação é a de que estamos imunizados. Ou seja, de que não há nada mais que possa nos surpreender. Que a corrupção está restrita a Brasília, ao Governo Federal, ao Congresso Nacional, à Petrobras, à Hemobras, ao BNDES. Enfim, a uma lista que não para de crescer a cada dia, mas que não é coisa daqui. Que nem em Santa Catarina e muito menos em Joinville estas coisas acontecem.

Aqui estamos tão longe dessa malfadada corrupção que o último prefeito a se eleger, se vangloriava na campanha que tinha as mãos limpas, como se esse fosse o seu diferencial. Indiretamente a mensagem que os seus marqueteiros lançaram era a de que os seus concorrentes não seriam tão honestos assim. Assim que implicitamente devemos pressupor que haja corrupção também por estes lados.

Em Santa Catarina, um ou outro prefeito tem sido investigado por corrupção e algum até tem perdido o cargo. Falando do prefeito. O prefeito tem reconhecido que há casos de corrupção no seu governo, e tem feito acusações imprecisas a funcionários públicos, sem citar nomes e sem apresentar provas concretas, numa situação que é no mínimo estranha. Se houver corrupção e a Prefeitura pagava mais caro antes que agora, esta informação deve ser divulgada. Aliás, recursos para isso não faltam. Se não houver provas concretas o prefeito faria melhor em ficar calado.

A área da saúde é uma das que mais verbas administra e já teve, em outra gestão, até secretario municipal preso por corrupção. Será que agora estamos a salvo? Que fora dos problemas que o MPSC acompanha de perto, está tudo certo na saúde? Sendo um tema que o prefeito conhece tão bem, é de imaginar que não haja problema, que não faltem remédios e que os preços praticados sejam menores que os praticados com anterioridade. Licitações mais transparentes, pagamentos em dia e seriedade ajudam a baixar preços e a reduzir o risco de corrupção.

Qual seria o resultado de uma investigação no Legislativo? Se tomarmos como referência alguns  municípios importantes do litoral, as investigações realizadas resultaram em vários vereadores presos, casualmente todos os casos de corrupção denunciados estão ligados a mudanças de zoneamento, projetos de urbanização e mudanças de legislação para beneficiar a uns e outros em prejuízo de maioria. Temas estes que em Joinville são sensíveis e merecem um acompanhamento criterioso, não seja que algum vereador conhecido acabe tendo o seu nome ligado a algum escândalo.  Casualidade? Parece-me que não seja casualidade. Não é estranho tampouco que haja até uma mancomunação entre o Legislativo e Executivo quando se trata da tramitação e aprovação deste tipo de projetos.

No nível local não há grandes empreiteiras do calibre das envolvidas nos escândalos da Lava Jato, do Petrolão, da Transposição do Rio São Francisco ou dos que ainda estão por eclodir. Mas não deixa de ser curioso que a maior parte das obras públicas sejam costumeiramente vencidas, também em Joinville, pelas mesmas empreiteiras de sempre. Exatamente as mesmas que entra governo, sai governo seguem sendo as principais prestadoras de serviços no município. Se a isso se acrescenta a péssima qualidade das obras públicas, o incumprimento de prazos e o acréscimo habitual dos valores dos contratos, fica a impressão para o cidadão médio que a corrupção pode não ser algo tão alheio ao seu quotidiano.

Seria bom para Joinville se houvesse mais transparência, mais luz, água e sabão para limpar toda a sujeira a que parece que não estamos tão imunes assim. Joinville ganharia muito com isso. E se Joinville ganha, todos ganhamos.