segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A base está de Parabéns!

POR GABRIELA SCHIEWE
 
Joinville foi campeã geral dos Joguinhos Abertos realizado na cidade de Criciúma, com jovens atletas radicados na cidade.

Realizei uma entrevista com o Presidente da Felej, Fernando Krelling, para o blog, aonde um dos questionamentos foi a falta de apoio ao esporte joinvilense e, principalmente, a base que é fundamental para a continuidade e prosperidade da categoria, aonde falou que estavam trabalhando com afinco e que Joinville estaria sendo representada nas competições, exclusivamente por atletas da base de Joinville.

É de suma importância que estes atletas sejam motivados e tenham o suporte necessário para que evoluam nas suas modalidades e o apoio do município, por meio da Felej é fundamental.

Parabéns aos atletas que estiveram representando Joinville de maneira honrada e com muito esmero e enfrentando desafios contra competidores mais experientes subiram ao pódio e trouxeram o título para nossa cidade.

Claro que este título não pode apagar outros problemas que o esporte vem enfrentando na cidade, como o total abandono do Ginásio Ivan Rodrigues, agora o Abel começou a ser reformado, com equipes de ponta terem que mandarem alguns jogos em cidades vizinhas pois não há local adequado na cidade e alguns outros que não irei me aprofundar neste post.

Tudo tem que ter um começo e, sendo este pela base do esporte, há de se vangloriar o trabalho e aplaudir este grande título conquistado.

Recusar Marx é recusar a busca pelo conhecimento

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Fui estudante da Univali (Universidade do Vale do Itajaí) por quase quatro anos. Lá fiz minha graduação em Ciências Sociais, de 2006 a 2009. Convivi com muitas pessoas diferentes do que até então eu havia convivido. Muito do que sou hoje vem daqueles tempos em que o curso era espremido em um bloco dominado pelo curso de Direito. Ainda em 2009, antes de eu me formar, a instituição, por questões internas, decidiu fechar o curso de Ciências Sociais e colocar o de Relações Internacionais na estrutura do meu antigo curso.

Vários dos meus professores saíram. Outros, continuaram a dar aula, até mesmo para o novo curso do bloco. Tenho amigos que ainda estudam por lá, e tenho contato até hoje com aqueles professores que continuaram.

Fui obrigado a lembrar destes bons momentos após ler a carta do estudante da Univali que fez sucesso pela internet. Deu saudade de quando aqueles corredores eram ocupados por pessoas que sabiam reconhecer que o conhecimento era construído a partir de diferentes perspectivas.

Desconsiderando o preconceito, a desinformação, e o manifesto típico de um "cidadão de bem" que é "pressionado psicologicamente", o estudante faz duras críticas ao marxismo, após um de seus professores (eu não sei qual foi, mas é alta a chance de ser um ex-professor meu) pedir um trabalho acadêmico sobre Karl Marx. Ao recusar fazer o trabalho, o garoto está recusando a busca pelo conhecimento. O problema não está em discordar, de forma democrática. O problema é ignorar a importância de uma importante linha de construção cognitiva sobre o que é a sociedade.

Se fizesse o trabalho, ao menos saberia reconhecer que Marx foi um dos mais brilhantes estudiosos sobre o capital: sua origem, importância e também seus modos de aplicabilidade na sociedade. Além disso, saberia reconhecer, no mínimo, que a contraposição feita por este autor, no desenvolver da Revolução Industrial, fez o próprio capitalismo se reprogramar, e até se aperfeiçoar, para sempre fugir das "garras" estatais e ser esta potência que é hoje, principalmente após o neoliberalismo (usurpando-se do Estado, se for preciso).

Mas não. Ao recusar Marx, ele caiu na armadilha de sempre: colocar a "liberdade" e a "democracia" como situações inexistentes em governos ditos "socialistas" e dignas de governos "de direita".

É necessário um parênteses. Marx não foi o responsável pelas "atrocidades" de Stalin. Marx não governou a URSS, Coreia do Norte, ou até mesmo Cuba. O contexto histórico e a intenção de Marx foram outros, só para começar. Se o estudante tivesse estudado e feito o trabalho, não confundiria as coisas.

Voltando, o capitalismo foi o responsável pelo colonialismo na África, por duas guerras mundiais, pelo assassinato de Constituições de países latinoamericanos através de ditaduras, dentre outras situações, e tudo em prol de uma "liberdade" e uma "democracia". É este mesmo sistema responsável por poucos terem bilhões, e muitos terem fome. A desigualdade social é algo presente em todos os países: democráticos, liberais, de esquerda, de direita, etc...

Por fim, é triste olhar e saber que a busca pelo conhecimento, para muitos, virou apenas um "agregado de compatibilidades". Ou seja, se faz parte da minha linha, eu agrego. Se não faz parte, eu nem quero saber. Talvez este seja o problema da geração que já nasceu dentro do neoliberalismo (a qual eu me incluo): tomar a parte pelo todo, ser individualista, e achar que todos os problemas da sociedade irão ser resolvidos dando oportunidade de trabalho para quem necessita.

Já que estamos falando de Marx, é aí que os problemas começam...

PS: fica aqui também a crítica ao modelo universitário brasileiro que, cada vez mais, segue "tendências de mercado" e extirpa cursos onde o debate e a construção de diferentes correntes de pensamento são a base de tudo. O mesmo corredor que abrigou e construiu alteridade em seus alunos, hoje acomoda preconceituosos e a falta de abertura para o diferente.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Vingança, ódio, cadeia, capital

POR FELIPE SILVEIRA

Ficar sabendo, por qualquer meio, de crimes com alto nível de violência e/ou morte também me choca, me dá raiva, causa tristeza, ódio, repulsa e desejo de vingança. Mas esse sou eu, e não o Estado. E sentir isso também não me dá o direito de exigir do Estado que execute essa vingança. Se me desse eu também não iria querer, por razões óbvias.

O problema é que, em nome desse desejo de vingança, estimulado principalmente pela mídia, o Estado comete, diariamente, crimes tão ou mais chocantes quanto esse que pipocam nos jornais todos os dias. A motivação real, no entanto, é outra.

A ideia é afastar do centro tudo aquilo que é pobre, sujo, feio e preto (sim, nossa sociedade é racista). Afastar o máximo possível, e deixar lá para apodrecer.

Quer dizer. Antes era para apodrecer, mas já acharam uma forma de ganhar dinheiro com a cadeia. Negócio bilionário mundo afora e crescente por aqui. Capitalismo de alta performance. Menos escola, mais cadeia. Negócio em franca expansão. Em plena privatização.

Capitalismo que gera miséria. Miséria que gera violência. Vale ressaltar: miséria, e não pobreza.

Estado omisso. Com a população, claro, e não com o patrão. O poder econômico, que determina as políticas geradoras de miséria para os 99% e de riqueza para o 1%, que é o próprio poder econômico.

Poder econômico que pauta a mídia. A mídia e o desejo de vingança. O ódio. A miséria. A violência. A polícia que espanca, forja, rouba e mata. Todo dia.

Esse debate, há um ano, estava quente em Joinville. Mas um juiz só não faz verão. Principalmente quando se há tanta coisa pra fazer. Questionar o nosso ódio e desejo de vingança, pra começar. Ao mesmo tempo, a mídia. Entender a loucura que é o capitalismo, com urgência. Lutar contra ele. Humanizar a polícia. Entender o Estado. Dar com os dois pés até ele aprender.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A morte do carniça!


Desmilitarizar a polícia e a política



POR CLÓVIS GRUNER

Na mesma semana em que as imagens da polícia carioca reprimindo violentamente professores em greve correram o país, confirma-se que Amarildo foi torturado e assassinado por policiais da UPP da Rocinha, onde morava. Ambas as notícias reforçam a sensação de desacerto entre uma polícia militarizada e violenta e uma sociedade que se pretende democrática. Como já disse em outro texto, as instituições prisionais e policiais funcionam como imensos reservatórios da arbitrariedade e da violência cultivadas durante a ditadura civil militar. O gradual desmonte do aparato repressivo não alcançou o interior das penitenciárias, presídios, delegacias e quarteis de polícia, sinalizando o antagonismo entre as políticas de segurança pública e os esforços pela consolidação da democracia iniciado há quase três décadas.

Tal contradição é estrutural e consagrada pela Constituição de 1988, que prevê em seu artigo 144 a divisão de tarefas entre as polícias Militar (a quem cabe realizar o policiamento ostensivo) e Civil (responsável pela investigação policial). Trata-se de uma verdadeira distorção dos modelos que, supostamente, inspiraram a organização da polícia brasileira. Ainda que muitos países europeus possuam forças militares com funções de polícia – como são os casos da Gendarmerie Nationale, na França; dos Carabinieri, na Itália; da Guardia Civil, na Espanha; ou da Guarda Nacional Republicana, em Portugal –, sua estrutura e funcionamento são diferentes da nossa Polícia Militar, a começar pelo fato de serem nacionais, e não estaduais. Além disso, as atribuições de policiamento destas forças se restringem prioritariamente às áreas rurais; os policiamentos ostensivos e investigativos nas áreas urbanas são de responsabilidade das polícias civis. As gendarmarias europeias são, ainda, de ciclo completo, no que se assemelham às polícias americanas e inglesas. Nestes dois países, aliás, as polícias são exclusivamente civis.

REPENSAR E REESTRUTURAR A POLÍCIA – No Brasil, o treinamento militarizado é um dos responsáveis pela criação de uma das mais violentas polícias do mundo. Os números são assustadores. Em São Paulo, cerca de 2.200 pessoas foram mortas em supostos confrontos com a PM entre 2006 e 2010. No Rio de Janeiro, foram mais de 10 mil mortes entre 2001 e 2011. A atuação dos policiais nas manifestações iniciadas em junho evidencia uma cultura de confronto que está arraigada na PM e é velha conhecida dos moradores das periferias, historicamente os mais sujeitados à violência policial – e é sintomática a declaração do ex-membro do BOPE, Rodrigo Pimentel, ao ver um policial descarregar uma metralhadora para o alto durante um dos confrontos: “Isso é desastroso, uma arma de guerra, uma arma de operação policial em favelas, não é uma arma pra ser usada no ambiente urbano…” [os grifos são meus].

O recrudescimento da violência e o aumento de sua percepção (coisas próximas, mas ainda assim distintas) por um público mais amplo – o que se deve em parte à mobilização virtual nas redes sociais –, tirou das margens da agenda política o debate sobre a desmilitarização da polícia. No âmbito mais estritamente institucional, no começo desta semana um passo importante foi finalmente dado, com a apresentação da PEC 51, já batizada de PEC da Desmilitarização (clique no ícone "Texto inicial"). O projeto é extenso e não cabe aqui comentá-lo step by step. Mas há alguns pontos centrais que merecem ser destacados. 

GARANTIR DIREITOS – O primeiro é a definição e a função da polícia como instituição cujo propósito não é garantir a segurança do Estado, nem fazer a guerra contra suspeitos ou criminalizar movimentos sociais, mas promover e garantir os direitos dos cidadãos. Com a desmilitarização, a PM (hoje, força de reserva do Exército, “formada, treinada e organizada para combater o inimigo”) deixa de existir e cria-se uma polícia unificada e com carreira única. Além disso, toda polícia deve realizar o ciclo completo, exercendo o trabalho preventivo, ostensivo e investigativo e colocando fim ao fracionamento hoje característico da atividade policial. São os estados que definem o formato a ser adotado por suas polícias, bem como o grau de responsabilidade dos municípios na manutenção da segurança pública. Na prática, rompe-se com o modelo centralizado hoje previsto na Constituição e confere-se maior autoridade e autonomia aos estados e municípios na implementação de políticas de segurança pública. Não menos importante, aumentam os mecanismos de controle social, com a extinção, por exemplo, da Justiça Militar, e a criação de Ouvidorias externas.

Não apenas o trâmite da PEC será certamente demorado como, provavelmente, ela enfrentará a oposição de setores corporativos e de conservadores em geral, para quem pouco importa uma polícia democratizada e menos violenta e uma política de segurança realmente pública. Ciente desta e de outras dificuldades, o próprio texto prevê uma “implementação cuidadosa”, caso aprovado. Sua efetivação depende agora da mobilização daqueles realmente interessados em romper o ciclo de violência de nosso passado autoritário tão recente e hoje ainda presente nas instituições militares. Pessoalmente, acredito que poucas causas merecem tanto nosso engajamento.