POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Meu caro Karl
Marx.
É provável que já
tenha notado, mas, de qualquer forma, vou repetir: você morreu. Ah… e o
marxismo também. É triste, eu sei, mas você tem que aceitar o fato. E é pouco
simpático que o seu espectro insista em voltar ao planeta.
Não volte. Ainda um dia destes um estudante de Itajaí jogou mais uma pá de cal sobre o seu nome. É claro que o tal guri nunca leu um texto seu. Chateado? Não é preciso, porque
ele parece ser um daqueles que sequer conseguem ler o menu para pedir um
x-burguer.
Mas a coisa virou
notícia na imprensa e o pessoal trouxe o seu espectro de volta. Já imaginou os
problemas que isso causa? Se o seu fantasma continua a rondar por aí, as pessoas - os tais trabalhadores - podem começar a acreditar nos teus poderes e o caldo entorna.
Ora, isso não seria justo para os
banqueiros, os multimilionários, os megaempresários ou os especuladores da
bolsa. Você tem que
reconhecer, caro filósofo, que esses sujeitos têm feito a lição deles
direitinho. Veja o mundo que eles construíram. Os
ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Os países do
hemisfério Norte detêm quase 85% dos recursos econômicos do planeta.
O Estado está a
ser desmontado, tudo a ser privatizado. Os políticos
pensam que mandam, mas já não mandam nadinha - são apenas títeres. Os
trabalhadores perdem direitos e o desemprego aumenta e aumenta e aumenta. Acho
que no futuro não vai haver mais essa coisa chamada emprego. Portanto, não precisamos das suas ideias.
Ah... e a tal
globalização criou um monstrengo chamado "pensamento único". É que
depois da queda do Muro de Berlim, o marxismo foi mais uma vez enterrado e o
modelo neoliberal foi considerado vencedor. Hoje existe um
neoliberalismo, mas não um neomarxismo. Perdeu, velhinho. Aliás, ali na Univali o cara inventou o
“único pensamento”: é proibida a inteligência.
De qualquer forma,
velho filósofo, fica sossegado, porque sei de fonte segura. O cara só não
escreveu o texto porque não sabia quem era Marx. Se tu, se o Groucho, se o
Harpo ou se o Chico. E também tinha o Burle, mas esse ele pensou que fosse para fazer café.