POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Não é preciso estar muito atento para ver as
tentativas de assassinato de reputação que alguns meios da imprensa brasileira
produzem contra os seus desafetos. Falsos testemunhos, denúncias orquestradas
ou depoimentos suspeitos fazem parte da estratégia. Mas o que antes parecia ser
território exclusivo da imprensa, agora também se espalhou pelas redes sociais.
Digam lá, leitor e leitora, quantas vezes por
dia vocês recebem denúncias mandrake nas redes sociais? O bolsa-bandido. A casa
milionária do Lulinha. Os gringos que querem tomar a Amazônia. A fortuna
pessoal de Lula, que apareceu na capa da Forbes como milionário (uma grana
calculada em cerca de R$ 2 milhões). Ou que Dilma liberou Belo Monte e o chefe
Raoni chorou. E por aí vai. Houve um tempo em que me dava ao trabalho de
desmentir. Mas é um trabalho de Sísifo e deixei para lá.
O fato é que as coisas também podem acontecer numa
escala menor, no nosso dia a dia. Hoje pela manhã, ao dar uma olhada no
Facebook, dei de cara com um post a dizer: “outra denúncia recebida pelo PSB
Mulher que precisa ser verificada a veracidade dos fatos”. Era uma espécie de
denúncia sobre uma festa de formatura da Fundamas, de alunos ainda não formados
e que teria mesmo contado com a presença do presidente da entidade e do prefeito
Carlito Merss.
Não interessa discutir aqui se houve algum
regabofe na praia. Não tenho os fatos e nem vontade de correr atrás. Que
investigue quem tem a obrigação de investigar. Se houver alguma ilegalidade,
que seja usada a lei. Se houver alguma imoralidade, que seja o cidadão a fazer
o julgamento. O que interessa discutir é a forma displicente como as pessoas
andam a disparar denúncias pelas redes sociais sem se preocuparem em checar os
fatos.
Porque o próprio texto do post (numa frase mal
formada) afirma que “precisa ser verificada a veracidade dos fatos”. E, no
entanto, a autora publica a tal denúncia sem qualquer verificação. Ora, isso
tem um nome: leviandade. Qualquer pessoa de bom senso sabe que os fatos tem, no
mínimo, duas versões. Sem a versão dos acusados – sejam culpados ou não – o que
a pessoa está a fazer é prestar um desserviço à democracia.
O resultado prático dessa leviandade é que o
texto se espalhou e deu origem a três partilhas e quatro dezenas de
comentários (a expressiva maioria negativos). Mas uma coisa ficou evidente: muitas
pessoas envolvidas nessa difusão da denúncia não parecem estar interessadas na
verdade, mas apenas em detonar a reputação das pessoas. Não é preciso ser
jurista para saber que as pessoas são inocentes até que se prove a culpa.
Vou repetir. Não estou a defender as pessoas
envolvidas na tal denúncia, até porque não as conheço. Se erraram, que paguem.
Mas essa lógica deve valer também para a pessoa que espalhou uma notícia. Publicar uma denúncia que admite precisar de
confirmação é uma forma de iniciar uma tentativa de assassinato de reputação. E se o que o post insinua não for confirmado? Aliás, se não houver qualquer ilegalidade, acho
que a autora também deveria enfrentar o rigor da lei.
Ética...