terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O carnaval está terminando... e 2012, começando?

POR CHARLES HENRIQUE
Pode parecer clichê, mas é a realidade brasileira. O carnaval está acabando, e o ano, finalmente, está começando. Após as manifestações culturais da maior festa brasileira (que em certos momentos mais se parece com um subterfúgio social para o sexo), temos nove meses para correr atrás do prejuízo já acumulado neste começo de ano. Para os órgãos públicos esta é uma velha máxima todos os anos.

Aqui em nossa cidade acompanhamos uma bela festa de carnaval, principalmente se considerarmos que até cinco anos atrás nada existia por aqui. A Fundação Cultural de Joinville (FCJ) fez um belo trabalho em todos os anos, e sem a ajuda do Governo do Estado, que ignora Joinville e investe no carnaval de cidades que metade dos joinvilenses nunca ouviu falar.

Tirando isso, a cultura infelizmente não se resume apenas à festa de Carnaval na Rua Rio Branco e na Praça Dario Salles. A FCJ dá importância exacerbada para esta festa, e esquece-se da difusão cultural promovida por outros projetos e pelos seus aparelhos públicos. Nesta atual gestão, ações que levavam as políticas públicas para os bairros (como a Caravana Cultural e o Curta nos Bairros, por exemplo) simplesmente deixaram de existir, sem ter nenhuma intervenção na periferia da cidade. Quem intervém na periferia são os artistas contemplados pelo Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura, o SIMDEC. Uma ótima forma de ajudar os artistas que não pode ser confundida com “terceirização”, entretanto, está.

Resta-nos aqui alertar que os museus de Joinville pedem socorro. Várias interdições irão marcar a política cultural joinvilense do começo deste século. O último a ser interditado foi o Museu do Sambaqui, referência mundial para os especialistas. Casa da Cultura está com uma reforma interminável, Estação da Memória, Museu Fritz Alt, Centreventos eTeatro Juarez Machado com problemas. Onde vamos parar? Não adianta dar a desculpa de que é uma “herança maldita” de gestões anteriores. Caso sabia-se do problema, por qual motivo não foi consertado? Não adianta ser omisso com o problema deixado pelo antecessor...

Está na hora da FCJ avaliar sua atuação, e, lembrar: a política cultural da cidade não se resume apenas a carvanal e SIMDEC. E mais: ter a dedicação que tem com o carnaval para com as outras áreas da cultura aqui na cidade; só assim teremos de fato uma difusão das idéias e do conhecimento, cujo ganho social é incomensurável. Será que o ano só começa agora para a FCJ?

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A camisa do JEC virou um abadá

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO


Para escrever o texto de hoje, primeiro preciso fazer dois statements.

1. Sou torcedor do JEC.
2. Trabalho com design de comunicação e com marketing institucional.


Digo isso porque neste momento esses dois statements parecem inconciliáveis. E volto a focar um tema já abordado de passagem na minha coluna do AN: a camisa do JEC. O sem-número de marcas de patrocinadores transformou o uniforme do time numa autêntico abadá. Ok... pode até ser legal agora durante o carnaval, mas depois fica over. São logotipos a mais. 


Entendo que o torcedor mais fanático esteja pouquíssimo preocupado com isso. Não importa se a camisa parece uma penteadeira de puta, tal o número de adereços. Afinal, o que interessa é o clube ter grana suficiente para construir uma equipe capaz de disputar os campeonatos que vêm por aí. O torcedor é sempre emocional e estará sempre a favor enquanto o time ganhar.


Mas quando os dois últimos grandes patrocínios foram anunciados, pensei que as verbas seriam suficientes para sustentar o clube. E o melhor: que era o fim da venda da marca JEC no varejo. Mas não. Fui informado - e continuo a suspeitar que só pode ser um erro de informação - que BMG e Eletrobrás serão “mais” dois patrocinadores. Ou seja, que serão apenas mais duas marcas na camisa.


O grande exercício do designer (aviso que um designer a sério não aceitaria esse trabalho) será encontrar um lugar na camisa para os novos logotipos. Mas aí faço uma pergunta. Você, enquanto patrocinador, iria aceitar a sua imagem numa camisa que ficou poluída em termos estéticos e confusa em termos de leitura, ostentando marcas que parecem pregadas a martelo?


Há duas respostas. Sim, se você for um patrocinador de uma empresa de cariz público que chegou ao clube por interesses políticos. Não, se a empresa for da iniciativa privada. Eu, enquanto profissional de marketing, nunca recomendaria um patrocínio nessas condições a um cliente. Porque esse furdunço de logotipos não acrescenta valor à marca. Pelo contrário.
O que não dá para entender é essa insistência em vender a marca JEC no varejo. Porque os atuais patrocínios não darão sustentação de longo prazo ao clube. Quem recorre aos caminhos políticos em vez dos caminhos empresariais acaba ficando na mão. E se hoje o torcedor está contente, amanhã vai cobrar a falta de solidez. É preciso ter visão de longo prazo e tratar a marca JEC (que é muito valiosa) com maior rigor. 


Muita gente riu da piada de um dirigente do clube, quando ele disse que o JEC precisaria usar duas camisas diferentes - uma para cada tempo de jogo - por causa de tantos patrocínios. O meu lado emocional de torcedor é capaz de rir junto. Mas o meu lado racional de profissional de marketing lembra que muito riso pode ser sinal de pouco juízo. Afinal, se eu tenho dificuldade em encontrar o distintivo do JEC numa camisa, algo está errado com a marca. 


Mas pelo menos espero que os jogadores corram muito em campo. Porque nem os pilotos de Fórmula 1 têm tantas marcas no uniforme.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Acrescentar um ponto ao debate: Conselho de Usuários e Usuárias do Transporte Coletivo.


POR MAIKON K

O debate sobre o futuro do transporte coletivo na cidade ganha novos espaços. A primeira audiência pública sobre o tema, organizada pela Comissão de Licitação - cuja composição é de 100% de membros da PMJ (Prefeitura Municipal de Joinville) - deixou a desejar, por justamente não abrir a participação de diferentes setores da cidade que debatem o transporte coletivo. Ao mesmo tempo, as duas audiências (a segunda está marcada para o dia 27 de fevereiro) se mostram com uma tintura democrática, porque segundo a PMJ, o futuro do transporte em Joinville já tem destino definido: controle e exploração da iniciativa privada, longe dos interesses da população.

A FLPT (Frente de Luta pelo Transporte Público) por quatro anos constrói sua visão sobre o funcionamento e importância de transporte público, gratuito e de qualidade para a cidade. Debates e seminários com diferentes vozes formularam com base concreta o projeto Tarifa Zero. O projeto está em discussão no Blog Chuva Ácida. Manifestações ocuparam as praças e as ruas da cidade, única maneira de se fazer ouvir pelo poder municipal, já que o debate com as vozes dissidentes na perspectiva política radical, ainda sofre muita resistência. Eu quero acrescentar um ponto, ainda de maneira introdutória e superficial, que é a formação de um Conselho de Usuários-as do Transporte Coletivo.

A prática política atual está convencionada aos espaços institucionais. Ou seja, tudo que acontece fora da Câmara de Vereadores, da PMJ e dos Partidos está condenada a ser ignorada, tratada com indiferença ou classificada a “rebeldia juvenil”. A FLPT está na contramão da presente prática política, se coloca com disposição a auto-organização das vozes dissidentes por um transporte público. Fato que leva a descrença de setores mais tradicionais da esquerda joinvilense, da grande mídia local e da PMJ. A prática política FLPT é a democracia das ruas. O entendimento dos espaços abertos da cidade proporciona que a cada pessoa inserida na luta traga o seu ponto de vista, seu acúmulo teórico e prático sobre o tema, criando um poder de voz e de voto diferente do que acontece nos espaços institucionais, onde o futuro da cidade é determinado por representantes ligado à exploração econômica e dominação política e cultural. Antes que você afirma algo, já digo, não é a anarquia nas ruas, mas uma tentativa de ampliar o entendimento prático de democracia.

No mesmo cenário, homens e mulheres mantêm entusiasmos com os espaços “democráticos” assegurados pela Constituição de 88 e pelo Estatuto das Cidades. Consideram os Conselhos Municipais como uma via necessária, porque não dizer fundamental, a ser ocupado por nós. Quando críticas são feitas aos Conselhos Municipais, os argumentos estão baseados que os espaços são conduzidos por pessoas corruptas, mesmo assim, ainda se mantém fé nesses espaços institucionais. Porém, nos últimos anos vivenciamos um pouco mais do que simples corrupção. Vemos Conselhos funcionarem para manter a “ordem”, “paz social” e o “trabalho”. Cito somente dois fatos relacionados ao Conselho Municipal da Cidade :  Em 2009,  a articulação do tal Conselho ignorou as vozes dissidentes, na época publiquei sobre a  questão, leia:

Conselho (06 de agosto)

Quando a dança não é para todos (08 de agosto)

Uma raivosa resposta a Charles Henrique (13 de agosto)

Outro fato é que a Justiça cancelou as deliberações do Conselho Municipal da Cidade, mais informações na reportagem do Jornal A notícia, publicada no último dia 14 de fevereiro de 2012.

Por isso, quando falo, e em certo aspecto a FLPT também argumenta, sobre Conselho de Usuários e Usuárias, não faço referência ao modelo pouco participativo, de fácil manipulação para os interesses de quem explora economicamente e domina politicamente e culturalmente os caminhos da história escrita no tempo presente, como nos Conselhos Municipais.

O que trago para vocês é a ideia de que não basta uma empresa pública com transporte público e gratuito, torna-se fundamental a criação de um Conselho de Usuários, que seja proibida a participação da iniciativa privada e da PMJ. A legítima organização de usuários e usuárias do transporte coletivo.



As possíveis responsabilidades do Conselho:

A) que os (as) participantes não sejam remunerados e nem ocupem cargos comissionados na PMJ e na Câmara de Vereadores, menos ainda na iniciativa privada que explora a questão da mobilidade urbana.

B) que os conselhos sejam organizados nas 14 secretárias regionais, mas completamente independente da PMJ.

C) que seja responsável pela fiscalização do funcionamento, dos gastos, das arrecadações para a aplicação da gratuidade

D) que seja responsável pela elaboração, junto com os técnicos responsáveis pelo setor de mobilidade urbana, da criação e mudanças das linhas disponíveis, a condição de trabalho dos motoristas, mecânicos e outros profissionais que trabalham para o funcionamento do transporte

E) que seja responsável pela acessibilidade de pessoas com necessidades físicas, visuais, de ciclistas e outros (as).

No presente blog, quando é citada a necessidade de um transporte público, os descrentes com os serviços públicos apontam o quanto os homens e as mulheres que compõem o Estado são responsáveis por corrupção, gastos excessivos e má gestão. Eu concordo com esses apontamentos na realização da cidade capitalista, apesar de acreditar que essas práticas estão contidas na própria existência do Estado. Porém, torna-se fundamental defender os serviços públicos básicos para todas as pessoas. Dentro do contexto de construção de luta, a criação de um Conselho de Usuários e Usuárias é uma tentativa para evitar os desvios corruptos e de interesses privados em detrimento da população local.

Maikon K é membro da Frente de Luta pelo Transporte Público, professor do ensino fundamental e médio e trabalhador da cultura na CIA Rústico Teatral.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Joinville em poemas e problemas

POR GUILHERME GASSENFERTH

Joinville é uma cidade
lotada de problemas.
Vou sem dó nem piedade
falar sobre alguns temas.

A biblioteca, coitada,
se a visse Rolf Colin
deste jeito abandonada
choraria sem ter fim.

Biblioteca sem teto
Museu interditado
Não posso ficar quieto
Muito triste tenho achado.

E falando em interdição
lembrei-me das escolas:
descaso, decepção!
Como pode, oras bolas?

E da Câmara, que falar?
Os nossos maus vereadores
ao invés de legislar
só nos causam dissabores.

Além disso é só olhar,
com os carros do Odir,
não precisam trabalhar,
basta apenas dirigir.

E falando aqui de carro
nosso trânsito tá horrível.
Isto tudo é bem bizarro
pois o imposto está incrível.

De bicicleta nem pensar
não dá para ser feliz
se ninguém te atropelar
então foi por um triz!

De busão fica difícil
desconforto e lotação
além de tanto sacrifício
o preço é deste tamanhão!

Se eu não vou com a Transtusa,
"opto" pela Gidion
esta escolha é obtusa
porque como tá não está bom.

E nem mesmo de avião
é possível ter conforto
porque ali no Cubatão
já tá pequeno o aeroporto.

E agora vou dizer:
obrigado, seu Carlito
mais espaço pro lazer
nosso parque tá bonito

Mas não posso me furtar 
a falar com sinceridade:
É preciso batalhar
por um parque de verdade!

Não esqueçamos da saúde
muito menos do Zequinha
vemos cada vez mais amiúde
superlotado na telinha.

Vendo assim até dá pena
e a toda hora, o tempo inteiro
entoam a mesma cantilena
"Isto é falta de dinheiro!"

Mas não se engane, não Senhor
quando ouvir este bordão
digo isto sem temor
O problema é de gestão

O Carlito até tentou
melhorar a administração
E onde foi que ele errou?
Foi na comunicação.

Mas até gosto no geral,
da gestão deste Carlito.
Se tá errado eu meto o pau, 
mas se tá bom eu admito!

Acredite, Joinville ficará boa!
mas pr'isso se concretizar
e não ter sido tudo à toa
pense muito bem na hora de votar.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Escolher entre fazer o fácil e o difícil




POR JORDI CASTAN

Sem chegar ainda a ser uma situação apocalíptica, Joinville não apresenta muito bom aspecto. A quantidade de pessoas, das mais diversas origens e condições, que manifestam o seu descontentamento pelo estado em que a cidade se encontra é elevada demais para que se possa falar em orquestração.

Por que será que a cidade parece regredir em lugar de avançar, como todos gostaríamos. Alain de Botton, o conhecido filosofo suíço, que esteve no Brasil há poucos dias, responde com a simplicidade que lhe é característica: “A desordem, o caos e mais fácil, a ordem, a organização dão mais trabalho.” Simples assim.

Organizar, planejar, prever, fazer, resolver exige mais esforço e capacidade que procrastinar, esquecer, deixar de fazer ou em outras palavras olhar para o outro lado. A facilidade com que nos deixamos levar pela senda do menor esforço é evidente. Nem precisamos enumerar os prédios públicos que estão interditados ou em estado precário. As obras inconclusas, interrompidas ou deterioradas prematuramente: todos conhecemos mais de media dúzia. A situação é tão comum que a imprensa quase nem noticia mais.

Estes são os pontos em que as pessoas se fixam para chegar à conclusão de que as coisas não estão bem. A percepção, por outro lado, tem um peso importantíssimo. O que passa a ser verdade é aquilo que as pessoas percebem com verdadeiro. De nada adianta gastar pequenas fortunas para repetir que três praças são um parque, ou que nunca se fizeram tantas obras, ou que a qualidade das obras públicas agora é muito melhor que no passado. O que conta é a percepção.

À medida que o tempo passa, e há menos areia na parte de cima do relógio, é mais difícil acreditar que o que não foi feito antes será feito agora. Porque quem escolheu seguir o caminho mais fácil dificilmente vai mudar a sua forma de agir. Mudar a forma de agir toma tempo, exige esforço, mudanças comportamentais. E nem sempre tem sucesso. Quando se trata de uma pessoa já é difícil, quando se fala de cultura organizacional é quase impossível. Se além de todas estas dificuldades, ainda há resistências internas e se a organização em questão muda de direcionamento a cada quatro anos, pode ser uma missão impossível.