POR ANDRÉ BALABAN
Eu, André Balaban, brasileiro, nascido em Porto Alegre e "naturalizado" Joinvilense, casado, pai de dois filhos e um enteado, venho comunicar que DESISTI.
Desisti de tentar convencer que alguém que apoia a tortura não é cristão.
Desisti de tentar convencer que alguém que é entusiasta da ditadura militar não é um democrata.
Desisti de tentar convencer que alguém que é político faz 30 anos não é "renovação".
Desisti de tentar convencer que alguém que nunca tentou ser prefeito ou governador, seja a solução para presidente do país.
Desisti de tentar convencer que alguém que bate continência à bandeira dos Estados Unidos possa defender os interesses nacionais.
Desisti de tentar convencer que alguém que sempre combateu os direitos dos trabalhadores vai dar prioridade para as necessidades de quem mais precisa.
Desisti de tentar convencer que alguém que acha que Hitler "tem diversos pontos positivos" tem alguma humanidade.
Desisti de tentar convencer que alguém que tem um torturador como herói mereça o voto de qualquer pessoa sadia.
E sabe quando eu desisti? Ontem.
"Debatendo" nas redes sociais e tentando convencer um jovem que o "nazismo não é de esquerda", que "o Brasil não vai virar cumunista" e que "a terra não é plana".
E sabem o que aconteceu? Não consegui fazê-lo mudar de ideia.
Então, tenho que reconhecer meu absoluto fracasso.
Não vou mais tentar convencer ninguém de nada. Cada um que fique com sua consciência. Todos vocês sabem o que está em jogo.
Dia 28 farei minha parte, votarei 13 por mim, pela minha família, pelo Prouni, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Luz para Todos. pelo Pré-Sal nosso e tudo mais que foi feito para tirar o país do mapa da fome e colocá-lo um pouquinho mais perto das potências mundiais (sem jamais esquecer todas as coisas erradas que também fizeram).
Na balança entre democracia e autoritarismo, fico com a primeira e todas as suas contradições.
Mais Amor, menos ódio.
Viva o Brasil.
sexta-feira, 12 de outubro de 2018
quarta-feira, 10 de outubro de 2018
Bolsonaro e a anatomia de uma derrota
POR CLÓVIS GRUNER
Foi afirmando seu descompromisso inabalável com a democracia, que Jair Bolsonaro se dirigiu ao Brasil na noite de domingo, logo após a confirmação de um segundo turno entre ele e Fernando Haddad. Ao lado de uma tradutora de Libras e de uma reprodução em papelão de Paulo Guedes, afirmou que o primeiro turno foi fraudado e que será preciso, após eleito, acabar com todo o ativismo político no Brasil.Não há evidência de fraude. Problemas com urnas eletrônicas surgem e são resolvidos em todas as eleições, mas isso nunca impediu Bolsonaro de ser eleito por elas para seus vários e improdutivos mandatos como deputado. No domingo mesmo, o resultado das urnas parece ter surpreendido o próprio candidato, e não apenas porque sua votação – 46,7% do total de votos válidos – ficou bem acima do que indicavam as pesquisas.
Mas também porque o PSL elegeu a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados, além de vários parlamentares nas Assembleias Legislativas de diferentes estados. Um bom número é egresso de quarteis e delegacias: no Paraná, por exemplo, são quatro delegados e quatro militares (dois soldados, um subtenente e um coronel). Depois de “regime militar” (ou “movimento”, de acordo com Dias Toffoli), parece que o Brasil fará mais uma contribuição original à ciência política: a “democracia policial”.
Os números mais que confirmam o fracasso da política e dos partidos tradicionais. Mais particularmente para a esquerda, se trata de uma derrota acachapante, que pouco provavelmente será revertida no segundo turno. Os anônimos comentaristas desse blog podem preparar o foguetório: de tanto nos mandarem para a Venezuela, a partir de 2019 a Venezuela virá até nós.
Vitória do antipetismo – Bolsonaro concorre com um programa que reproduz as conversas de grupos do WhatsApp, diagramado por algum adolescente. Suas declarações, do general Mourão e do economista Paulo Guedes, além de desencontradas, infundem temor. Os seguidos desmentidos inspiram tanta confiança quanto Collor afirmando, em 89, que não confiscaria nossa poupança.
Sem estrutura partidária nem direção, e com parcos oito segundos de TV, o PSL concentrou a campanha nas redes sociais, principalmente nos grupos de WhatsApp, onde montou uma rede de compartilhamento de fake news difícil de rastrear, controlar e desmentir, porque demasiado “líquida”. O alvo principal foi, obviamente, o PT, embora tenham sobrado petardos também para outras candidaturas do establishment.
A estratégia foi suficiente para eleger, entre outros, Hélio Fernando Barbosa, ou “Hélio Negão”: em 2016, pelo PSC, ele obteve menos de 500 votos e ficou em 131º lugar na eleição para vereador em Nova Iguaçú, no Rio de Janeiro. No domingo, recebeu 342 mil votos para deputado federal. Como Hélio, inúmeros outros candidatos que “colaram” em Bolsonaro passaram da condição de desconhecidos a campeões de voto. Por outro lado, figuras tradicionais da política brasileira, à direita e à esquerda, não conseguiram se reeleger.
Aquilo que analistas vem chamando, desde o final de semana, de “nova direita” é, basicamente, fruto de uma aliança que tem como eixo central o antipetismo. Não há programa, projetos, ideias; mas sobra um ódio patológico ao PT que justifica qualquer coisa, inclusive colocar sob risco nossa já frágil democracia, entregando o governo nas mãos de um político aventureiro e fascista.
Herança autoritária – Não há paralelo na história recente da América do Sul. Apesar de terem vivido ditaduras, algumas ainda mais cruéis que a nossa, soluções autoritárias não são sequer cogitadas na Argentina, no Chile ou no Uruguai. Nos dois primeiros, presidentes de direita foram eleitos dentro dos limites da normalidade democrática, e não há indícios de que pretendam alterá-la.
Um paralelo possível para entender o funcionamento e a capacidade de mobilização dessa “nova direita” está em outro tempo. Uma tradição historiográfica que inicia em Hannah Arendt e se estende até historiadores como Robert Paxton e Michael Mann, insiste na tese de que a eficácia do fascismo europeu dos anos 30 residiu, entre outras coisas, em sua capacidade de contrapor, à racionalidade política das democracias liberais, o irracionalismo característico das massas.
O culto personalista ao líder, o elogio da força física e da violência política, em um ambiente de instabilidade e crise, sedimentaram um tipo de unidade que não tardou a reconhecer, na democracia e suas instituições, a razão de um declínio que era, principalmente, moral. O passo seguinte foi oferecer, a essa mesma massa, um inimigo a temer, combater e eliminar.
No Brasil, Bolsonaro conta ainda com as políticas de esquecimento que atravessam e estruturam o presente de uma sociedade que não aceita nem mesmo discutir a dívida histórica da escravidão, que nega a existência de uma ditadura e desqualifica a memória de suas vítimas. No domingo, Bolsonaro prometeu “acabar com todo o ativismo político” como condição para “conciliar o país”. Instruído por algum assessor, dessa vez ele não disse que as minorias, ou se curvam à maioria, ou simplesmente desaparecem. Mas poucas vezes um silêncio gritou tão alto.
***
terça-feira, 9 de outubro de 2018
7 em cada 10 joinvilenses querem casar com o fascismo
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Eis um tema para reflexão. 72% dos joinvilenses votaram em Jair Bolsonaro. Isso quer dizer que há a probabilidade – muito concreta, diga-se – de 7 em cada 10 dessas pessoas serem fascistas. É um número brutal, mas não vamos pôr a todos no mesmo saco. De tudo o que sabemos sobre Joinville e a sua história, é possível dividir os eleitores do candidato da extrema-direita em pelo menos quatro grupos.
1. Os que são mesmo fascistas. E, arrisco dizer, devem ser a maioria.
2. Os que, não sendo propriamente fascistas, namoram as ideias do fascismo e até acham que uma suspensão temporária (pode ser longa) da democracia é o que o Brasil está a precisar.
3. Os cínicos, que por interesses pessoais e razões táticas (o ódio ao PT, por exemplo), estão numa relação aberta com o fascismo. Mas não têm a pretensão de casar porque sabem que o fascismo para a vida toda é loucura.
4. E as virgens. Dizem que 60% dos eleitores de Bolsonaro são jovens entre os 16 e 34 anos. É gente que, pela idade, nunca experimentou um regime autoritário e acha o discurso fascista uma coisa sexy. Há muito tesão, ingenuidade e a falta de juízo típica da juventude.
Mas todos têm uma coisa em comum: o apego ao discurso autoritário, violento e moralizador (apesar de que a moral é sempre discutível). Os joinvilenses, em sua maioria, não têm tradição de intervenção política e limitam-se a votar. É tentador, portanto, entregar o próprio destino nas mãos de um líder que pareça sólido. E Jair Bolsonaro, em que pese a sua extrema burrice, conseguiu construir essa imagem. Isso sim é a construção do mito.
O fascismo é um movimento de massas que precisa de um apoio social transversal. Só é eficaz se juntar os opostos – ricos e pobres, por exemplo – à volta de um líder carismático, mesmo que o carisma seja construído de forma artificial, como é o caso. Não é despiciendo lembrar Max Weber e o conceito de dominação carismática, que assenta na crença de que o líder tem qualidades superiores. Bolsonaro não tem, mas não vem ao caso.
A seguir a senda weberiana temos uma condição: o líder deve ser visto pelos seguidores como alguém acima da média, quase sagrado e a sua imagem deve emanar algo “heróico”. Tal líder é alguém imune ao erro. Ora, não precisa ser verdade – Bolsonaro é a encarnação do erro – porque estamos a tratar de um jogo de sombras. Não importa a realidade, mas a criação de uma percepção. E esse trabalho foi feito.
As massas gostam da ideia do pai autoritário e protetor a dizer o que elas devem fazer. Perfeito. Duro. Implacável. Os momentos de crise, de ressentimentos e de impotência são perfeitos para abrir o caminho para o autoritarismo. No Brasil destes dias, tudo conjumina a favor dos projetos fascistas. A economia de pantanas. O desemprego galopante. A criminalidade desenfreada. A falta de esperança no futuro. A cultura do ódio.
Aliás, este último fator é essencial para o sucesso dos projetos autoritários. É imprescindível ter um inimigo palpável, visível e identificado para odiar e destruir. Hitler, por exemplo, elegeu os comunistas como principal inimigo a abater. E a história se repete. No Brasil, o inimigo é o PT. Nem é preciso lembrar a (des)construção da imagem do partido feita ao longo dos últimos anos. Com o Supremo com tudo.
Em Joinville, a coisa funciona na perfeição. É uma cidade condicionada pelo delírio da ética (protestante) do capitalismo e nunca escondeu o ódio pelas esquerdas e pela ideia de liberdade. Porque as pessoas não sabem o que fazer com as liberdades. É um peso ter que decidir. O conservador acredita na ordem imutável das coisas. Para que falar de aborto, da questão sexual, de racismo, de xenofobia, de eutanásia? Há o medo de que temas fraturantes fraturem ordem “natural” da vida.
Enfim, estruturalmente os joinvilenses são conservadores e muitos adoram um bom fascismo. É namoro para dar em casamento. Não vamos esquecer que a cidade deu uma vitória retumbante a Aécio Neves nas últimas eleições. E a Serra nas anteriores. Portanto, da próxima vez que estiver entre um grupo de joinvilenses fique atento. É bem provável que entre 10 pessoas 7 não se importem de vê-lo pau de arara. Isso se você não for uma dessas pessoas, claro.
É a dança da chuva.
Eis um tema para reflexão. 72% dos joinvilenses votaram em Jair Bolsonaro. Isso quer dizer que há a probabilidade – muito concreta, diga-se – de 7 em cada 10 dessas pessoas serem fascistas. É um número brutal, mas não vamos pôr a todos no mesmo saco. De tudo o que sabemos sobre Joinville e a sua história, é possível dividir os eleitores do candidato da extrema-direita em pelo menos quatro grupos.
1. Os que são mesmo fascistas. E, arrisco dizer, devem ser a maioria.
2. Os que, não sendo propriamente fascistas, namoram as ideias do fascismo e até acham que uma suspensão temporária (pode ser longa) da democracia é o que o Brasil está a precisar.
3. Os cínicos, que por interesses pessoais e razões táticas (o ódio ao PT, por exemplo), estão numa relação aberta com o fascismo. Mas não têm a pretensão de casar porque sabem que o fascismo para a vida toda é loucura.
4. E as virgens. Dizem que 60% dos eleitores de Bolsonaro são jovens entre os 16 e 34 anos. É gente que, pela idade, nunca experimentou um regime autoritário e acha o discurso fascista uma coisa sexy. Há muito tesão, ingenuidade e a falta de juízo típica da juventude.
Mas todos têm uma coisa em comum: o apego ao discurso autoritário, violento e moralizador (apesar de que a moral é sempre discutível). Os joinvilenses, em sua maioria, não têm tradição de intervenção política e limitam-se a votar. É tentador, portanto, entregar o próprio destino nas mãos de um líder que pareça sólido. E Jair Bolsonaro, em que pese a sua extrema burrice, conseguiu construir essa imagem. Isso sim é a construção do mito.
O fascismo é um movimento de massas que precisa de um apoio social transversal. Só é eficaz se juntar os opostos – ricos e pobres, por exemplo – à volta de um líder carismático, mesmo que o carisma seja construído de forma artificial, como é o caso. Não é despiciendo lembrar Max Weber e o conceito de dominação carismática, que assenta na crença de que o líder tem qualidades superiores. Bolsonaro não tem, mas não vem ao caso.
A seguir a senda weberiana temos uma condição: o líder deve ser visto pelos seguidores como alguém acima da média, quase sagrado e a sua imagem deve emanar algo “heróico”. Tal líder é alguém imune ao erro. Ora, não precisa ser verdade – Bolsonaro é a encarnação do erro – porque estamos a tratar de um jogo de sombras. Não importa a realidade, mas a criação de uma percepção. E esse trabalho foi feito.
As massas gostam da ideia do pai autoritário e protetor a dizer o que elas devem fazer. Perfeito. Duro. Implacável. Os momentos de crise, de ressentimentos e de impotência são perfeitos para abrir o caminho para o autoritarismo. No Brasil destes dias, tudo conjumina a favor dos projetos fascistas. A economia de pantanas. O desemprego galopante. A criminalidade desenfreada. A falta de esperança no futuro. A cultura do ódio.
Aliás, este último fator é essencial para o sucesso dos projetos autoritários. É imprescindível ter um inimigo palpável, visível e identificado para odiar e destruir. Hitler, por exemplo, elegeu os comunistas como principal inimigo a abater. E a história se repete. No Brasil, o inimigo é o PT. Nem é preciso lembrar a (des)construção da imagem do partido feita ao longo dos últimos anos. Com o Supremo com tudo.
Em Joinville, a coisa funciona na perfeição. É uma cidade condicionada pelo delírio da ética (protestante) do capitalismo e nunca escondeu o ódio pelas esquerdas e pela ideia de liberdade. Porque as pessoas não sabem o que fazer com as liberdades. É um peso ter que decidir. O conservador acredita na ordem imutável das coisas. Para que falar de aborto, da questão sexual, de racismo, de xenofobia, de eutanásia? Há o medo de que temas fraturantes fraturem ordem “natural” da vida.
Enfim, estruturalmente os joinvilenses são conservadores e muitos adoram um bom fascismo. É namoro para dar em casamento. Não vamos esquecer que a cidade deu uma vitória retumbante a Aécio Neves nas últimas eleições. E a Serra nas anteriores. Portanto, da próxima vez que estiver entre um grupo de joinvilenses fique atento. É bem provável que entre 10 pessoas 7 não se importem de vê-lo pau de arara. Isso se você não for uma dessas pessoas, claro.
É a dança da chuva.
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