sexta-feira, 21 de setembro de 2018
Lula é o Sun Tzu dos sertões...
TU CÁ, TU LÁ
POR SANDRO SCHMIDT E JOSÉ A. BAÇO
JOSÉ BAÇO - Putz. Os caras fizeram de tudo para evitar que o PT e Lula voltassem ao poder. Levaram o Brasil a essa desgraça e agora o Haddad aparece com 19%? Aí fica difícil, né?
SANDRO SCHMIDT - Primeiro que Lula sempre soube ler o cenário político como ninguém. Fez tudo certo de acordo com o "manual" da Arte da Guerra. É o Sun Tzu dos sertões. Depois, o Jumito e o Mourão ajudaram bastante.
JB - Mas não achas impressionante o número de eleitores do Bolsonaro em Joinville? É certo que a cidade é uma das mais conservadoras do Brasil. Mas do conservadorismo à eutanásia do próprio cérebro vai uma distância e tanto...
SS - Bom, pra quem votou no Aécio e no Udo, este 2 vezes, nada mais me impressiona. Joinville tem uma turminha que adora ficar na porta da Casa Grande, sempre achando que vai entrar, mas nunca passará de capacho, pra turma de cima limpar os pés.
JB - Não sei se dá para chamar Casa Grande. É mais um curral. É tanta cavalgadura que não vão ser pisados... vão é ser montados.
SS - Sim, um curral grande. E ainda tem sede.
JB - Sede de sediar ou sede de beber?
SS - Retórica? Gostoso é de ver "universitário" batendo no peito e dizendo que a turma estudada vota no jumito. Tudo formado no PROUNI do Haddad... hua hua hua...
JB - Esse troço do diploma é bem brasileiro. Bolsonaro cursou a Escola Preparatória de Cadetes do Exército e a Academia Militar das Agulhas Negras... e é um jumento. É só um "papér" na parede.
SS - Isso. Ajuda na hora de conseguir um emprego, mas fica por aí. Tenho algumas discussões com empresários que dizem votar no Coiso em função do combate à corrupção. Aí pergunto a eles: vamos falar de corrupção aqui pertinho? Ficam quietos. Rabos presos.
JB - O quê? Vai dizer que tem corrução aí perto. Nunca ouvi falar...
SS - Não deve ter. Pela quantidade de gente de bem nas passeatas do Vem Pra Rua de Joinville...
JB - É tudo "gente de bem". Pessoas que gostam de votar em "jumento de carga".
SS - Gente de bem burra.
JB - Burros, jumentos… agora é esperar os anônimos e a burricada fica completa.
quinta-feira, 20 de setembro de 2018
Horário político-eleitoral é sinal de atraso
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O horário político é importante para levar as ideias dos políticos aos eleitores. Mas a influência excessiva da televisão é mau sinal, porque aponta para uma certa iliteracia política dos eleitores. Nunca é demais repetir que a relevância exagerada da televisão é um fator típico das sociedades culturalmente mais atrasadas. Aliás, ela exerce o papel que décadas atrás foi do rádio, usado para comunicar com os que não sabiam ler.
O modelo precisa evoluir. Porque, como sabemos, o tempo de antena dos partidos nanicos virou moeda de troca e fator de corrupção. O financiamento das campanhas é uma zona sombria que, quase sempre, deixa os políticos amarrados a interesses econômicos. E o dinheiro das campanhas poderia ter um uso mais digno, ao contrário do que acontece hoje: mostrar candidatos embrulhados no papel de sabonete mais bonito.
Se a educação – formal, cívica, experiencial – não for efetivamente democratizada, o país ficará refém da incapacidade que muitos têm de ler o mundo. E a iliteracia política é uma ameaça para a democracia. Aliás, é importante salientar que em muitos países desenvolvidos onde há horário político, ele praticamente passa despercebido. É a comunicação social a mediar a relação políticos-eleitores, marcando a agenda midiática.
Há outra razão de fundo. A humanidade caminha a passos firmes para uma “sociedade das telinhas”, com a informação centrada nos computadores, tablets, smartphones e outros dispositivos móveis. É preciso projetar o futuro a olhar para a exclusão-inclusão digital. No Brasil, o crescimento tem sido interessante nos últimos tempos, mas 46% dos lares ainda estão desconectados (54% entre as famílias com renda entre um e dois salários mínimos).
O futuro imediato pede uma reforma política e, por consequência, uma mudança no modelo de horário político. Porque se o resultado de uma eleição pode ser definido pela propaganda política e pela força da televisão, isso significa que a sociedade – e a própria democracia – ainda tem muito que avançar. Quer dizer, o horário político é sinal de atraso.
É a dança da chuva.
O horário político é importante para levar as ideias dos políticos aos eleitores. Mas a influência excessiva da televisão é mau sinal, porque aponta para uma certa iliteracia política dos eleitores. Nunca é demais repetir que a relevância exagerada da televisão é um fator típico das sociedades culturalmente mais atrasadas. Aliás, ela exerce o papel que décadas atrás foi do rádio, usado para comunicar com os que não sabiam ler.
O modelo precisa evoluir. Porque, como sabemos, o tempo de antena dos partidos nanicos virou moeda de troca e fator de corrupção. O financiamento das campanhas é uma zona sombria que, quase sempre, deixa os políticos amarrados a interesses econômicos. E o dinheiro das campanhas poderia ter um uso mais digno, ao contrário do que acontece hoje: mostrar candidatos embrulhados no papel de sabonete mais bonito.
Se a educação – formal, cívica, experiencial – não for efetivamente democratizada, o país ficará refém da incapacidade que muitos têm de ler o mundo. E a iliteracia política é uma ameaça para a democracia. Aliás, é importante salientar que em muitos países desenvolvidos onde há horário político, ele praticamente passa despercebido. É a comunicação social a mediar a relação políticos-eleitores, marcando a agenda midiática.
Há outra razão de fundo. A humanidade caminha a passos firmes para uma “sociedade das telinhas”, com a informação centrada nos computadores, tablets, smartphones e outros dispositivos móveis. É preciso projetar o futuro a olhar para a exclusão-inclusão digital. No Brasil, o crescimento tem sido interessante nos últimos tempos, mas 46% dos lares ainda estão desconectados (54% entre as famílias com renda entre um e dois salários mínimos).
O futuro imediato pede uma reforma política e, por consequência, uma mudança no modelo de horário político. Porque se o resultado de uma eleição pode ser definido pela propaganda política e pela força da televisão, isso significa que a sociedade – e a própria democracia – ainda tem muito que avançar. Quer dizer, o horário político é sinal de atraso.
É a dança da chuva.
quarta-feira, 19 de setembro de 2018
E se fosse #ElaSim?
POR CLÓVIS GRUNER
Mereceria uma leitura mais cuidadosa o fato de que, mesmo
entre setores da esquerda que atentam para a urgência das pautas identitárias,
a candidatura de Marina Silva não tenha sido nem mesmo cogitada como uma alternativa
ao segundo turno. Não bastasse serem três homens a
protagonizarem as candidaturas de centro esquerda, dois deles, os que disputam nominalmente o voto – Ciro e
Haddad – têm vices mulheres relegadas a um papel coadjuvante.
Os argumentos mais comuns contra Marina são simplistas, quando não
desonestos. Pesa contra ela o apoio a Aécio no segundo turno de 2014, um
equivoco, já que ela podia simplesmente não apoiar nenhuma das candidaturas,
como Luciana Genro. Mas a atitude não me parece mais grave que as alianças
que o PT fez com quase toda a banda podre da política brasileira, incluindo
Michel Temer, escolhido a dedo por Lula para vice de Dilma, por exemplo.
Ela é acusada de ser de direita, mas nada em sua trajetória
passada e presente sustentem isso. Sua aproximação a economistas liberais como
Eduardo Gianetti é supostamente a prova de seu neoliberalismo, dizem os
petistas, olvidados de que Henrique Meireles foi o homem forte da economia nos
governos Lula, que Dilma nomeou Joaquim Levy seu Ministro da Fazenda, e que
Fernando Haddad, mal subiu nas pesquisas, já acena ao também liberal Marcos
Lisboa.
Um debate não polarizado – A lógica vale para a acusação de
que, evangélica, Marina fará um governo “conservador nos costumes”, como se as
administrações anteriores, incluindo e principalmente as do PT, tivessem
assegurado a plena laicidade do Estado. Até prova em contrário, o Estado laico
está menos fragilizado com a orientação religiosa de Marina, do que estava
quando Lula nomeou pastores da IURD como ministros ou Dilma rifou a Comissão de
Direitos Humanos, abrindo as portas para que Marco Feliciano assumisse sua
presidência.
O seu programa de governo, por outro lado, reafirma o que
Marina efetivamente representa: uma candidatura de centro esquerda, com as pautas,
os limites e as possibilidades atinentes a uma candidatura de centro esquerda. Suas
propostas em áreas como educação, cultura e direitos humanos, por exemplo, não diferem
substancialmente do que propõem Lula/Haddad e Ciro, e mesmo avançam em alguns pontos.
Seu alegado liberalismo não a impede de defender os investimentos
públicos como um dos fatores para alavancar a economia, ou a não privatização
da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica. Além disso, ela mantém
uma relativa autonomia frente aos grupos políticos que disputam hoje a
presidência baseados na polarização extrema, uma maldição que não poupou o PSOL
e, tampouco, Ciro. Com Marina, penso que teríamos a chance de algum debate
racional, e poderíamos fazer nossa escolha baseados em outros critérios que não
o ódio ou o medo.
***
Post Scriptum: Braziliansplaining – Na semana passada, ainda com o 7 a 1 da
Copa de 2014 atravessado na garganta, brasileiros decidiram acertar as contas numa seara onde somos craques: a história alemã. Um vídeo publicado pela Embaixada da Alemanha mobilizou nossos melhores atletas, que entraram em campo decididos a explicar
aos alemães que o holocausto não existiu e que o nazismo é, sim, de esquerda.
Como aparentemente nem a Alemanha é suficiente para
convencer nossa direita pouco esclarecida, vou tentar com o próprio Adolf Hitler. Em entrevista concedida em 1923 ao escritor alemão George
Sylvester Viereck, publicada anos depois pela conservadora “Liberty”, e
acessível aos leitores coevos no site do inglês “The Guardian”, Hitler explica
o que entende por socialismo, sua relação com a noção de raça ariana e porque o
nazismo não era um movimento de esquerda.
Em um dado momento, para enfatizar seu ponto
de vista e o que o separava do marxismo e dos bolcheviques, o líder alemão
sentencia: “Nós poderíamos ter nos chamado de Partido Liberal”. Como
historiador, posso assegurar que Hitler estava equivocado: não há muito de
liberal ou do liberalismo no Partido Nazista. Por outro lado, e os
comentaristas anônimos desse blog não cansam de me lembrar, a palavra de um
historiador, no Brasil de hoje, não vale nada.
terça-feira, 18 de setembro de 2018
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