POR ET BARTHES
terça-feira, 24 de abril de 2018
segunda-feira, 23 de abril de 2018
Lula continua preso
POR JORDI CASTAN
Lula segue preso e isso é bom para o Brasil e para acabar com a impunidade. Que um
condenado por crime comum, depois de ter recorrido até a segunda instância
tenha que cumprir a pena é bom e deveria ser o normal, porque mostra que a lei pode ser que
seja para todos. O que surpreende é que haja ainda gente que insista em que um
político preso é um preso político. O que surpreende é que haja gente que
acredite que Delcídio, Dirceu, Palocci, por citar alguns, mereçam seguir presos
e que só eles devam cumprir a pena, sem que o chefe da organização criminosa
que tomou o poder neste país tenha também que pagar por isso.
Há quem jure de pés juntos que Lula é uma ideia, há ainda
quem acredite que ele é na realidade um ectoplasma e que por isso não possa ser
encarcerado. Lula desperta paixões, tanto nos que mudaram de nome para homenageá-lo
e incorporaram o Lula ao seu nome de batismo, como os que vem nele um
ectoparasito que junto com sua quadrilha utilizou o poder para parasitar o
país.
A prisão de Lula é um passo no caminho do combate à corrupção,
um passo de gigante ao mostrar de forma clara que ninguém está acima da lei,
mas quando há tantos outros soltos, livres para ir e vir e pior ainda, livres
para se candidatar a um cargo eletivo no próximo outubro, a impressão final é
que a corrupção no Brasil não tem data para terminar, que está fortemente
enraizada na sociedade em todos os níveis e segmentos e que uma parte da população,
não é corrupta por princípios e sim por falta de oportunidade.
Espanta a virulência e a agressividade com que os acólitos adoradores
de Lula defendem com unhas e dentes seu corrupto de estimação. A participação
da maioria dos deputados, governadores e senadores, na sua maioria do PT em
atos públicos de apoio ao ex-presidente preso, tem sido ou serão pagos com
recursos públicos, o que é uma ilegalidade e uma imoralidade. Ainda que falar
de imoralidade entre gente de tão poucos e tão elásticos princípios seja uma
autentica perda de tempo. A maioria não sabem o que sejam princípios e os
poucos que sabem não os praticam.
É preocupante o nível de agressividade de lado e lado.
Preocupante que haja no judiciário um núcleo duro empenhado em que Lula não cumpra
a pena, a que tem sido condenado, preocupante que a desfaçatez seja a prática
comum na hora de argumentar e que fascista seja o adjetivo mais usado para
desacreditar ou atacar a quem pensa diferente. Não deveria ser necessário lembrar
que os mais acusam aos outros de fascistas são os que mais demostram um
comportamento fascista e autoritário.
Em tempo dois comentários sobre o circo em que estão querendo
converter a prisão de Lula. O primeiro que a legislação estabelece claramente
quem pode e quando pode visitá-lo, quem não respeita a legislação esta só
querendo chamar a atenção e buscando tumultuar. A segunda que governadores e senadores
que mostraram tanta rapidez em conhecer as condições da sala em que o
ex-presidente está preso não tem mostrado o mesmo interesse em conhecer as condições
dos presídios dos seus estados o que deveria gerar uma reflexão dos eleitores e
evidencia o caráter partidário e circense de estas visitas e movimentações.
Alias é bom lembrar que a sala que ocupa não é para que receba visitas e de entrevistas, presos devem seguir as regras do lugar em que estão encarcerados e receber amigos, dar entrevistas ou sair de passeio não são atividades permitidas para alguém que cumpre pena.
A cada dia que Lula passe preso, o mito se desfaz um pouco e
fica mais evidente que era só um ídolo de barro. Como disse Vargas Llosa nesta
semana passada, Lula não está preso pelas coisas boas que fez em quanto foi
presidente, está preso pelas coisas erradas que fez.
sexta-feira, 20 de abril de 2018
As Humanidades em disputa
POR CLÓVIS GRUNER
A manchete de segunda-feira (16), do caderno “Educação” da Folha de São Paulo, não deixa muita margem para dúvidas: “Filosofia e sociologia obrigatórias derrubam notas em matemática” soa como uma sentença, tamanha a certeza contida em uma única frase. O que vem depois tampouco ajuda. Trata-se de resultados parciais de uma investigação conduzida por dois pesquisadores do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Thais Waideman e Adolfo Sachsida, cujas conclusões finais ainda serão publicadas.
A manchete de segunda-feira (16), do caderno “Educação” da Folha de São Paulo, não deixa muita margem para dúvidas: “Filosofia e sociologia obrigatórias derrubam notas em matemática” soa como uma sentença, tamanha a certeza contida em uma única frase. O que vem depois tampouco ajuda. Trata-se de resultados parciais de uma investigação conduzida por dois pesquisadores do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Thais Waideman e Adolfo Sachsida, cujas conclusões finais ainda serão publicadas.
De acordo com o trabalho, a inclusão obrigatória das duas disciplinas no ensino médio, em 2009, prejudicou o desempenho dos estudantes em três outras – além de matemática, são citadas redação e linguagens, mas não se explica porque apenas a primeira virou manchete. Não é o único nem o maior problema da matéria. Ela omite, por exemplo, que um dos responsáveis pelo levantamento, Adolfo Sachsida, é conselheiro econômico de Jair Bolsonaro, o presidenciável que despreza não apenas as Humanidades, mas uma parcela da humanidade.
Os dados foram extraídos das notas do ENEM, o Exame Nacional do Ensino Médio, mas o texto não diz, entre outras coisas, se a pesquisa levou em conta as mudanças implementadas no exame – a estrutura das provas foi modificada e o uso do ENEM como critério de acesso à universidade foi gradativamente expandido desde sua criação, gerando entre outras coisas uma enorme ampliação no número de inscritos – foram cerca de 6,7 milhões no ano passado. Outras variáveis ficaram de fora, ao menos da reportagem, e elas são importantes em pesquisas dessa natureza.
Exemplos: as condições de ensino e das escolas eram adequadas? O número de professoras e professores suficiente e elas/es suficientemente preparadas/os? Quais métodos de ensino foram empregados? Havia a preocupação em integrar o ensino de matemática a outras disciplinas do currículo escolar? Fica a impressão de que os autores chegaram a conclusões que, se servem de argumento à guerra cultural, carecem de rigor analítico. Afinal – e isso se aprende em aulas de Sociologia –, correlações não implicam necessariamente em causalidade.
A ideologia como método – A pesquisa tem um viés clara e abertamente ideológico, e não me parece despropositado vê-la como mais uma peça arremetida contra o nosso campo. A ofensiva contra as Humanidades não é exatamente nova, mas recrudesceu nos últimos anos e escapou ao ambiente virtual, orientando e dando forma à políticas públicas na Educação, tais como a nova Base Nacional Curricular Comum e a Reforma do Ensino Médio. Ela se sustenta em basicamente duas premissas.
A primeira, a de que elas são um antro de “esquerdopatas”, doutrinadores que usam as salas de aula para macular ideologicamente jovens inocentes, sua “audiência cativa”. Brandido particularmente por trogloditas mentais para quem qualquer defesa dos Direitos Humanos ou das chamadas minorias é sintoma de “esquerdopatia” – como os anônimos comentaristas desse blog –, é o tipo de argumento que, de tão espúrio, não merece crédito, nem paciência. Mas há um segundo, ao menos aparentemente mais sofisticado, e que demanda alguma atenção: o de que não produzimos um “conhecimento prático”, e estamos em descompasso com as exigências do “mundo contemporâneo”.
A expressão, não raro, é empregada como eufemismo para “mercado”. Sob essa ótica, a produção e transmissão do conhecimento devem adequar-se, necessariamente, às exigências do “mundo prático” e estarem conectados ao “real”. Logo, disciplinas como Filosofia, Sociologia, História ou Geografia, além de consumirem, no ensino superior, recursos valiosos que poderiam ser investidos, por exemplo, em áreas como as engenharias, obrigam estudantes do ensino básico a aprenderem inutilidades ao invés de coisas realmente úteis, como matemática.
A tendência é objetar essa crítica argumentando que as matérias de Humanas produzem um “pensamento crítico”, objeção legítima, mas insuficiente. Primeiro, porque nem sempre fica claro o que se entende por “pensamento crítico”. Além disso, a existência por si só das disciplinas humanísticas não garante nada, porque é preciso levar em conta – assim como no caso da matemática – as condições de seu ensino. E nunca é demais lembrar, afinal, que Marco Antonio Villa é historiador.
Custamos muito pouco aos cofres públicos, afinal. E tampouco somos inúteis. Nas universidades, são principalmente os cursos de Humanas os responsáveis pela formação de novos docentes e por atividades de extensão, considerada a “prima pobre” da pesquisa, mas responsável pela integração e inserção da academia nas comunidades externas a ela. O conhecimento produzido também está disponível aos poderes públicos e ao mercado, que nem sempre sabem, ou querem, fazer dele um bom uso.
Disciplinas como a sociologia, a antropologia e a história são fundamentais para o desenvolvimento e implantação de políticas públicas de saúde, segurança, cultura e, óbvio, educação, entre outras. A agricultura e o desenvolvimento urbano precisam da geografia. A implantação e multiplicação de círculos de leitura, bibliotecas e outros espaços e aparelhos culturais serão precárias sem os profissionais de letras e filosofia. A preservação da memória e do patrimônio histórico e cultural não depende apenas de arquitetos, mas igualmente de historiadores. E o mercado, perguntarão alguns?
Há quem diga que fazemos e vendemos miçanga como ninguém. Mas nosso âmbito de atuação é maior. Lemos pouco no Brasil, mas parte significativa do pouco que se lê é fruto da comunidade de leitores formada pelo trabalho de estudantes e profissionais de Humanas. Além disso, não é nada negligenciável nossa contribuição em áreas tão distintas como a organização de arquivos, públicos e privados; a produção e consultoria cultural e museológica; o mercado editorial; a comunicação (tanto o jornalismo como a publicidade); o turismo; o design; a moda; a produção audiovisual e o desenvolvimento de games, entre outros.
Sim, há equívocos e distorções a serem corrigidos nas Universidades, no ensino e na pesquisa, mas isso não é exclusivo às Humanas. Também é preciso repensar os meios pelos quais as disciplinas são ministradas no ciclo básico, e embora já exista muita gente se dedicando a isso, é possível fazer mais. Mas os problemas não se resolvem retrocedendo. Nem, tampouco, com pesquisas que mal disfarçam sua orientação ideológica.
quinta-feira, 19 de abril de 2018
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