POR DOMINGOS MIRANDA
O poeta e dramaturgo alemão Brecht, escreveu em sua peça Galileu Galilei: “Pobre do povo que precisa de herói”. E, no início de outubro, mês das crianças e dos professores, morreu heroicamente, na cidade mineira de Janaúba, a professora Helley Abreu Batista, de 43 anos. Ela lecionava numa creche municipal e lutou bravamente com o vigia que colocou fogo em uma sala de aula lotada de crianças. Mesmo com o corpo em chamas, a professora se esforçou para tirar as vítimas do meio do incêndio. Helley teve 90% do corpo queimado e dez horas depois morreu no hospital. Era casada e deixou três filhos: de um, 11 e 13 anos.
Como sempre acontece nestas horas, a tragédia fez com que as autoridades enaltecessem, com razão, aquela professora reconhecida por suas qualidades profissionais e com uma coragem e solidariedade inimagináveis. Mas, neste país onde o que mais se destaca é o farisaísmo e a hipocrisia, há muito discurso e poucas medidas práticas. Basta ver que o piso nacional dos professores, em torno de R$ 2 mil, não é respeitado na maioria dos Estados. Por outro lado, juízes e procuradores formam uma casta de marajás que recebem até R$ 100 mil por mês, muito acima do piso constitucional. Utilizam os célebres penduricalhos para burlar a lei.
A sociedade, em grande parte formada por zumbis que não sabem fazer respeitar a cidadania, permite que tais aberrações continuem existindo como se não houvesse nada de anormal. Os mesmos governantes que alegam não ter recursos para pagar o piso dos professores, se calam diante dos salários estratosféricos dos juízes. O presidente Temer, no ano passado, sancionou um reajuste de 57% para o judiciário, uma categoria com os melhores salários do país. Quando há vontade política a coisa muda de figura. O Maranhão, um dos Estados mais pobres do Brasil e administrado por um governador comunista, decidiu pagar os melhores salários para os professores da rede estadual de ensino, com piso de R$ 5 mil.
Em outros países os professores são respeitados e valorizados, mas aqui, seguindo uma tradição histórica de nunca dar destaque à educação, eles são tratados como profissionais de segunda classe. Os mestres são desrespeitados pelo governo, pelos pais e pelos alunos. Inúmeras vezes os estudantes agridem os mestres e fica tudo por isso mesmo, em um silêncio vergonhoso do restante da população.
O médico e escritor Augusto Cury botou o dedo nesta ferida. Escreveu: “Os professores são heróis anônimos, fazem um trabalho clandestino. Eles semeiam onde ninguém vê, nos bastidores da mente. Aqueles que colhem os frutos dessas sementes raramente se lembram da sua origem, do labor dos que as plantaram. Ser um mestre é exercer um dos mais dignos papéis intelectuais da sociedade, embora um dos menos reconhecidos. Os alunos que não conseguem avaliar a importância dos seus mestres na construção da inteligência nunca conseguirão ser mestres na sinuosa arte de viver”.
Se a sociedade quer valorizar os professores, cobre dos seus governantes mais respeito a estes profissionais e exijam salários dignos para eles. Este será o primeiro passo para sairmos da indigência moral em que nos encontramos. Palavras duras, mas necessárias.
sexta-feira, 20 de outubro de 2017
quinta-feira, 19 de outubro de 2017
quarta-feira, 18 de outubro de 2017
Temer, o escravo de 594 almas
Com a infeliz declaração de que "só temos a comemorar", o atual Ministro da Agricultura e empresário do setor de agrotóxicos, Blairo Maggi, explicou o sentimento do governo federal sobre as novas regras que definem a fiscalização do trabalho escravo no Brasil. Mesmo que a Secretária Nacional de Cidadania, Flávia Piovesan, diga que é um "retrocesso inaceitável", não há como negar que o Brasil acabou por regularizar o trabalho escravo. As novas burocracias impostas, e comemoradas pelos grandes empresários urbanos e agrários, praticamente impedem qualquer investigação isenta ou denúncias frutíferas. Trabalhadores nacionais e estrangeiros, do campo e da cidade, especialmente pobres e crianças (crianças!), são os mais atingidos. Estamos pagando um preço quase inimaginável para o sustento de Temer no poder.
O nosso país ainda mantém muitas heranças do período colonial, e a escravidão é uma delas. Os negros possuem um passivo social gigantesco por causa disso, apesar de grande parcela da população negar e ainda acreditar no falso discurso da meritocracia. Ainda sustentamos nossos privilégios nesta lógica de séculos atrás. Por outro lado, os dados sobre trabalho mostram algo que pouco enxergamos: nos últimos dez anos, mais de 1.500 pessoas foram libertadas de condições assim, por todo o Brasil, em média. Para piorar, agora está tudo muito bem regulamentado, mesmo que o governo fale em "novas regras para a fiscalização".
Ocorre que a deturpação de direitos sociais pelo atual governo está virando rotina, especialmente como moeda de troca para o chefe do executivo se livrar de acusações contra o seu nome. Para se livrar do primeiro pedido de Impeachment, patrocinou o Congresso com emendas e medidas provisórias que beneficiaram os representantes setores do agronegócio, das igrejas e outros setores conservadores. Não por acaso, visto que a bancada desses ramos tem uma grande relevância na composição do Congresso. A regularização do trabalho escravo, lembremos, é uma estratégia para compor com a segunda acusação, a qual já tramita pela Câmara.
Sendo assim, temos um presidente que é o verdadeiro escravo, mas de 513 deputados e 81 senadores. Para se manter no poder, atende a todos os interesses de seus donos, nem que, para isso, tenha que cortar os nossos direitos. É uma luta desenfreada para realinhar conservadoramente o país. E ainda faltam a Previdência, bem como outras surpresas desagradáveis que logo virão. Com Supremo, com tudo.
terça-feira, 17 de outubro de 2017
O que fazer com o golpe?
Um olhar mais curto permite dizer que o golpe foi um sucesso. Afinal, o objetivo foi alcançado: derrubar Dilma Rousseff e levar os golpistas ao poder. Mas parece que não foi suficiente. Se é fácil tomar o poder, mais difícil é mantê-lo. E é aí que o sol queima o vampiro. Porque vai ficando evidente para os brasileiros, cada vez mais, que o golpe tinha o objetivo de proteger os corruptos. E não o contrário, como foi o discurso da época.
Em pouco mais de um ano, a ideia de que “não foi golpe” caiu de podre. Os “negacionistas” são cada vez mais raros e resumem-se aos amblíopes políticos. Diz a frase surrada que contra os fatos não há argumentos. E os fatos confirmam, no dia a dia, o que qualquer pessoa com dois dedos de testa já sabia e que, aliás, havia sido antecipado na frase do senador Romero Jucá: “tem que mudar o governo para estancar essa sangria”.
Os fatos vêm em catadupa. O mais recente foi protagonizado pelo operador financeiro Lúcio Funaro, que entregou Eduardo Cunha. Segundo a delação premiada, o ex-deputado teria recebido uma verba de R$ 1 milhão para comprar votos pela destituição de Dilma Rousseff. Alguém duvida? A patranha é tão evidente que que os advogados da ex-presidente já anunciaram o pedido de nulidade do processo de impeachment. Deve dar em nada, claro.
O golpe está a está a se esboroar e o atual Executivo é um bom retrato disso. O presidente está refém do próprio golpismo e dos fatos que isso acarreta: enfrenta a falta de credibilidade, é incapaz de convencer da sua legitimidade e, acossado por sérias denúncias de corrupção, tenta negociar a própria sobrevivência. Parece uma comédia, mas na realidade o país vive uma tragédia: o entreguismo tem sido uma marca destes tempos.
O Congresso Nacional, formado em sua maioria por corruptos dispostos a tudo, inclusive salvar o couro de Michel Temer, demonstra não ter escrúpulos. Mas tudo tem um preço, claro. Nem é preciso ir longe. Lembram das denúncias de corrupção no caso das propinas pagas pela JBS? Diz a imprensa que a operação “salva Temer” exigiu cerca de R$ 17 bilhões, em emendas e perdões de dívidas. Dinheiro do bolso de quem?
E por fim temos o Judiciário no fundo do poço. O poder de onde deviam emanar as garantias do estado de direito tornou-se um sorvedouro de dinheiro, um mundo à parte que flutua acima dos cidadãos comuns. O STF, por exemplo, é formado por deuses num Olimpo próprio. Não por acaso perdeu o respeito da população. E o pior: não consegue se livrar do estigma de estar superpolitizado (superpartidarizado, mesmo).
Mas há quem ainda espere pela estocada final: tirar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do caminho das eleições em 2018. Essa seria a segunda parte do golpe: evitar Lula e acabar com o PT. E mesmo que isso viesse a acontecer, ainda assim o golpe seria um fracasso. Porque os golpistas não conseguiram se tornar alternativa para ocupar esse vazio. Foram com muita sede à jugular da nação e com isso fecharam a tampa do próprio caixão.
Enfim, o que o golpe conseguiu foi transformar o país numa imensa distopia. Pobre Brasil.
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
Hackathon. Ou como a montanha vai parir um rato
POR JORDI CASTAN
A Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável promoveu o encontro "Hackathon Desenhos Urbanos Colaborativos - Desafio Join.Valle". Foi um momento para mostrar ideias criativas que permitam tornar a região central de Joinville mais interessante e humana. Os resultados devem ser apresentados ao prefeito Udo Döhler, em novembro.
O que parecia algo promissor, deu poucos frutos. Não há como não se decepcionar com as propostas apresentadas para revitalizar o centro da cidade. Falta ousadia, criatividade e coragem. Nenhuma das propostas é capaz de olhar para além da mesmice e da mediocridade instaladas no espírito desta Joinville que já foi e não é mais.
Gostaria de discorrer aqui sobre esse lindo exercício de diletantismo, de resultado mais que duvidoso. Propor ideias sem compromisso com a sua execução, sem envolver os atores e sem outro objetivo que discorrer sobre utopias desvinculadas de uma análise metodológica ou de um diagnóstico detalhado é pura perda de tempo.
As propostas divulgadas não passam de uma repetição dos belos projetos policromos e fantasiosos que têm sido apresentados ao longo dos anos. E que nunca tem saído do papel. Aliás, quando eventualmente são implantados se tornam uma caricatura do que tinha sido projetado. Há muitos casos que ajudam a comprovar este fato.
Os parques do Fonplata ou as obras do Rio Morro Alto são dois exemplos. A duplicação da avenida Santos Dumont e as obras de contenção das cheias do Ribeirão Mathias são exemplos mais recentes aos quais poderíamos acrescentar muitos outros, como as intermináveis obras das Ruas São Paulo ou Piratuba.
O estado de abandono de Joinville - e especialmente do centro - é não é o resultado das decisões equivocadas tomadas no passado. Pelo contrário, é mais resultado das decisões não tomadas ao longo do tempo. Pagamos um preço cada vez mais alto pela inação, pela falta de ação que nesta gestão esta vivendo o seu ápice. A mediocridade é contagiosa.
Vivemos numa época denominada VICA. Uma época que se caracteriza pela volatilidade de conceitos e valores, pela incerteza e pela complexidade. Uma época em que não há espaço para gestores com uma visão simplória, um tempo em que predomina a ambiguidade. Não ha espaço neste tempo para lideres autoritários, lineares, que se aferram a certezas e ainda acreditam que a terra seja plana.
A incapacidade de pensar a cidade de maneira consistente é a raiz dos males que assolam a Joinville destes tempos. Não espanta, portanto, que isso se reflita em eventos como o Hackathon. É um caso para lembrar o velho adágio: "a montanha vai parir um rato".
Quem tiver interesse em conhecer algumas propostas, clique (aqui) para ler no AN.
A Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável promoveu o encontro "Hackathon Desenhos Urbanos Colaborativos - Desafio Join.Valle". Foi um momento para mostrar ideias criativas que permitam tornar a região central de Joinville mais interessante e humana. Os resultados devem ser apresentados ao prefeito Udo Döhler, em novembro.
O que parecia algo promissor, deu poucos frutos. Não há como não se decepcionar com as propostas apresentadas para revitalizar o centro da cidade. Falta ousadia, criatividade e coragem. Nenhuma das propostas é capaz de olhar para além da mesmice e da mediocridade instaladas no espírito desta Joinville que já foi e não é mais.
Gostaria de discorrer aqui sobre esse lindo exercício de diletantismo, de resultado mais que duvidoso. Propor ideias sem compromisso com a sua execução, sem envolver os atores e sem outro objetivo que discorrer sobre utopias desvinculadas de uma análise metodológica ou de um diagnóstico detalhado é pura perda de tempo.
As propostas divulgadas não passam de uma repetição dos belos projetos policromos e fantasiosos que têm sido apresentados ao longo dos anos. E que nunca tem saído do papel. Aliás, quando eventualmente são implantados se tornam uma caricatura do que tinha sido projetado. Há muitos casos que ajudam a comprovar este fato.
Os parques do Fonplata ou as obras do Rio Morro Alto são dois exemplos. A duplicação da avenida Santos Dumont e as obras de contenção das cheias do Ribeirão Mathias são exemplos mais recentes aos quais poderíamos acrescentar muitos outros, como as intermináveis obras das Ruas São Paulo ou Piratuba.
O estado de abandono de Joinville - e especialmente do centro - é não é o resultado das decisões equivocadas tomadas no passado. Pelo contrário, é mais resultado das decisões não tomadas ao longo do tempo. Pagamos um preço cada vez mais alto pela inação, pela falta de ação que nesta gestão esta vivendo o seu ápice. A mediocridade é contagiosa.
Vivemos numa época denominada VICA. Uma época que se caracteriza pela volatilidade de conceitos e valores, pela incerteza e pela complexidade. Uma época em que não há espaço para gestores com uma visão simplória, um tempo em que predomina a ambiguidade. Não ha espaço neste tempo para lideres autoritários, lineares, que se aferram a certezas e ainda acreditam que a terra seja plana.
A incapacidade de pensar a cidade de maneira consistente é a raiz dos males que assolam a Joinville destes tempos. Não espanta, portanto, que isso se reflita em eventos como o Hackathon. É um caso para lembrar o velho adágio: "a montanha vai parir um rato".
Quem tiver interesse em conhecer algumas propostas, clique (aqui) para ler no AN.
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