quinta-feira, 9 de março de 2017
Como será Joinville em 2040?
POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Infelizmente, a cidade de Joinville sempre foi muito previsível. Quando seus comandantes e gestores quiseram ser ousados foi para manter a ordem e a lógica conservadora. Ou seja, para corrigir os rumos em prol da mesmice. Assim, é muito fácil fazer uma previsão de como estaremos em 2040. Os mandatários locais são os mesmos e circulam há décadas pelos mesmos espaços. Esqueçam essa história de 2020, 2025, 2030 ou qualquer coisa assim porque em 10 anos pouca coisa estrutural mudará, ainda que pese a velocidade da inovação tecnológica e seus impactos na sociedade. Ao falar de cidades, preciso lembrar que as suas rupturas são muito mais lentas, que merecem grandes investimentos e uma mudança de vários paradigmas, e isso está muito longe de termos por aqui, convenhamos.
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Bilbau, na Espanha, é um exemplo de como o arrojo transformou a cidade (e seus habitantes) em 15 anos |
Com isso, e somado a algumas políticas ultrapassadas de mobilidade urbana, pouco mudaremos para melhor em nossa forma e conteúdo. A Joinville do futuro terá suas periferias aprofundadas, com um distanciamento ainda maior da "cidade oficial", esta acessível apenas para os mais ricos. Surgirão novos bairros e novas localidades ainda mais distantes do centro e muito mais pobres. Por mais que os governos invistam em segurança, uma cidade desigual só tende a aumentar o número de crimes violentos. Copiamos um modelo perfeito que levou à destruição da qualidade de vida das grandes metrópoles brasileiras.
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Já Elvis! |
Joinville não se desenvolve. Rasteja. Mendiga. Chafurda. Contenta-se com pouco. Retrocede. E só os de sempre saem ganhando.
Eu não tenho dúvidas que as estruturas da cidade de Joinville serão as mesmas que temos hoje. Se não houver nenhuma mudança drástica, certamente elas serão ainda piores, porque o modelo adotado por aqui já deu errado em várias outras localidades. Ainda temos a mesma cara, os mesmos valores e as mesmas opções de 30 ou até mesmo 40 anos atrás. Como acreditar que, nos próximos 20, a cidade será diferente, e com a projeção de 900.000 habitantes de brinde?
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Cenas como essa, do Juquiá, continuarão existindo |
Os poucos lutadores que restaram são limitados por uma grande barreira invisível e que está presente nas almas e consciências daqueles que mandam. Segundo um empresário local, "gente assim não há de prosperar por aqui". Morreremos no mesmo quintal sujo e hostil de outras primaveras?
quarta-feira, 8 de março de 2017
O ecofeminismo, os ciclos e Dona Iraci
POR RAQUEL MIGLIORINI
Hoje é comemorado mundialmente o Dia da Mulher. O Google nos lembra disso, as manchetes de jornais, mensagens nas redes sociais, e inúmeros “parabéns”. Como em todos os anos, tenho a sensação que corre uma história paralela a esse dia e que as homenagens do dia 08 de Março foram criadas para ofuscar essa outra face. Uma parte importante do dia de hoje é a luta das mulheres pela igualdade, respeito, valorização e, principalmente, pela liberdade dos grilhões que nos aprisionam em papéis determinados por homens e perpetuados culturalmente pela maioria das mulheres. E essa luta é longa e árdua.
Mas a história paralela nos mostra que é preciso a luta pelo feminino, que foi desvalorizado pela cultura contemporânea por ser associado à fraqueza, desespero, histeria, etc. E ele é exatamente o oposto disso. Um movimento que retrata bem o que quero dizer é o Ecofeminismo, que mostra o quanto homens e mulheres podem se ligar à Natureza se deixarem o feminino transbordar.
As mulheres perceberam isso mais cedo por terem ciclos, como os ciclos ambientais, e também porque a elas coube o cultivo da terra por milhares de anos. Ao migrarem para as cidades, trouxeram os jardins e as hortas urbanas para suas casas. O equilíbrio ambiental é entendido pelo feminino como fundamental para a qualidade de vida familiar. A preservação da Natureza, para o feminino, contrapõe o masculino que só vê no ambiente natural um local de exploração e dominação, com o único objetivo de conseguir dinheiro e poder. Dominar a natureza e as mulheres passa a ser sinônimo.
Em Joinville temos excelentes exemplos de mulheres que tiram o sustento de suas famílias em trabalhos que minimizam os impactos ambientais. Uma grande mulher é a Dona Iraci, do Paranaguamirim, que começou a primeira cooperativa de materiais recicláveis. Essa mulher conseguiu a construção de uma horta para os moradores locais e a cooperativa gerou renda para mais de dez famílias. A sabedoria dessa mulher e a forma feminina de ver o mundo é cativante. Outros exemplos são vistos na área rural, onde mulheres transformam a colheita de suas lavouras em produtos coloniais de excelente qualidade ou ainda, mulheres que tecem em conjunto para completar a renda familiar.
A luta paralela ao dia de hoje deve mostrar o quanto as mulheres tem se afastado da natureza e com isso se deixam dominar por um lado masculino muito forte, competindo de forma agressiva e devastando o Meio Ambiente com um consumo desenfreado. Em contrapartida, homens que afloram o feminino cuidam da terra, do ambiente natural, dos animais humanos ou não.
Talvez, quando as desigualdades diminuírem, quando os corpos das mulheres não forem mais violentados, quando a valorização for pela vida, independente do sexo, chegaremos perto do equilíbrio entre o feminino e o masculino e entre o ser humano e o ambiente natural.
Hoje é comemorado mundialmente o Dia da Mulher. O Google nos lembra disso, as manchetes de jornais, mensagens nas redes sociais, e inúmeros “parabéns”. Como em todos os anos, tenho a sensação que corre uma história paralela a esse dia e que as homenagens do dia 08 de Março foram criadas para ofuscar essa outra face. Uma parte importante do dia de hoje é a luta das mulheres pela igualdade, respeito, valorização e, principalmente, pela liberdade dos grilhões que nos aprisionam em papéis determinados por homens e perpetuados culturalmente pela maioria das mulheres. E essa luta é longa e árdua.
Mas a história paralela nos mostra que é preciso a luta pelo feminino, que foi desvalorizado pela cultura contemporânea por ser associado à fraqueza, desespero, histeria, etc. E ele é exatamente o oposto disso. Um movimento que retrata bem o que quero dizer é o Ecofeminismo, que mostra o quanto homens e mulheres podem se ligar à Natureza se deixarem o feminino transbordar.
As mulheres perceberam isso mais cedo por terem ciclos, como os ciclos ambientais, e também porque a elas coube o cultivo da terra por milhares de anos. Ao migrarem para as cidades, trouxeram os jardins e as hortas urbanas para suas casas. O equilíbrio ambiental é entendido pelo feminino como fundamental para a qualidade de vida familiar. A preservação da Natureza, para o feminino, contrapõe o masculino que só vê no ambiente natural um local de exploração e dominação, com o único objetivo de conseguir dinheiro e poder. Dominar a natureza e as mulheres passa a ser sinônimo.
Em Joinville temos excelentes exemplos de mulheres que tiram o sustento de suas famílias em trabalhos que minimizam os impactos ambientais. Uma grande mulher é a Dona Iraci, do Paranaguamirim, que começou a primeira cooperativa de materiais recicláveis. Essa mulher conseguiu a construção de uma horta para os moradores locais e a cooperativa gerou renda para mais de dez famílias. A sabedoria dessa mulher e a forma feminina de ver o mundo é cativante. Outros exemplos são vistos na área rural, onde mulheres transformam a colheita de suas lavouras em produtos coloniais de excelente qualidade ou ainda, mulheres que tecem em conjunto para completar a renda familiar.
A luta paralela ao dia de hoje deve mostrar o quanto as mulheres tem se afastado da natureza e com isso se deixam dominar por um lado masculino muito forte, competindo de forma agressiva e devastando o Meio Ambiente com um consumo desenfreado. Em contrapartida, homens que afloram o feminino cuidam da terra, do ambiente natural, dos animais humanos ou não.
Talvez, quando as desigualdades diminuírem, quando os corpos das mulheres não forem mais violentados, quando a valorização for pela vida, independente do sexo, chegaremos perto do equilíbrio entre o feminino e o masculino e entre o ser humano e o ambiente natural.
terça-feira, 7 de março de 2017
Dia das mulheres: da luta ao consumo
Notamos desde as flores e chocolates, até as campanhas de cosméticos que a data vem ganhando uma significação capitalista esvaziada de seu verdadeiro teor. O 8 de março começou a ser explorado de forma comercial no inicio da década de 90. Muito diferente do real sentido concebido em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, na Dinamarca. A resolução propunha a criação de uma data anual para o debate dos direitos da mulher, e o objetivo era refletir sobre as lutas femininas e dessa forma obter suporte para conquistar o sufrágio universal.
Os Feminismos devem ser entendidos como movimentos sociais e populares que estão em luta, denunciando as diversas formas de opressão contra as mulheres, principalmente na lógica social que combina patriarcado e capitalismo. Este se fundamenta no incentivo ao consumo orientando a vida e as relações de poder, sendo fácil perceber a expansão da mercantilização em todas as suas dimensões. Sentimos este impacto especialmente com a exploração do corpo das mulheres e ao incentivo aos ditos papéis sociais, instituídos socialmente para as mulheres em “lugares domesticados” e inferiorizados.
Como exemplo, podemos citar a atual campanha da livraria Saraiva que lançou recentemente uma campanha para a “comemoração” desse dia de luta, promovendo 50% de desconto na compra de livros. Entretanto, o site da livraria disponibiliza apenas alguns títulos e temas específicos: “Os livros foram divididos nas categorias femininas: com atitude, românticas, que se cuidam, fashionistas, religiosas, que gostam de dançar, que fizeram história, mamães, de negócios, organizadas, geeks, conectadas, que curtem boa música ou que amam filme com pipoca”. Afinal de contas é assim que somos vistas, como cuidadoras, vaidosas e mães, com gêneros literários relacionados ao que se chama de “universo feminino”. O desconto não é válido para as áreas de exatas como Contabilidade e Engenharias, nem de saúde como as Ciências Biológicas, Medicina e muito menos Tecnologia. Fica claro o lugar da mulher e a ótica do consumo feminino pelas marcas.
Conquistamos muito na ordem jurídica, mas ainda nos falta tanto para o real sentido de equidade social e a sua vivencia de forma plena. E contra esse esvaziamento do real sentido da data, pela crescente violência contra as mulheres e as perdas de direitos conquistados, iremos parar no dia 8 de março.
É imatura e arcaica a forma como as marcas dialogam com as mulheres. Falta consultoria de gênero, estratégias que dialoguem com a equidade de gênero.
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