terça-feira, 16 de agosto de 2016
Os noruegueses, esses comunistas, querem o nosso petróleo
O leitor e
a leitora já foram à Noruega? É um destino que vale a pena, apesar de ser um
dos mais caros do mundo. Tem incríveis belezas naturais, gentes simpáticas e,
claro, um padrão de vida de fazer inveja. Mas há um fator que faz toda a
diferença: graças ao petróleo, o país tornou-se um dos mais ricos do mundo. E
com muita grana para investir na economia mundial, inclusive no Brasil.
A Statoil,
empresa do setor de extração de gás natural e petróleo, adquiriu, há poucas
semanas, a participação da Petrobrás no campo de Carcará, no pré-sal da Bacia
de Santos. E novos investimentos devem surgir nos próximos tempos. Talvez
esteja aí um exemplo interessante para mostrar por que a Noruega é rica e o
Brasil continua na lista dos países que demoram a arrancar para o desenvolvimento.
A Noruega
tem dinheiro de sobra. O capital vem, sobretudo, dos negócios com o petróleo. A
descoberta de enormes jazidas, nos anos 70 do século passado, fez com que o
país se tornasse um dos maiores exportadores mundiais. E sabem qual foi a
estratégia dos noruegueses? Destinar parte da grana do petróleo para o Estado,
que assim pode investir no desenvolvimento de outros setores da economia.
E o Brasil?
O pré-sal deveria destinar o dinheiro para a educação e saúde. Mas isso é coisa
de comunista. E o desmonte do pré-sal já começou. Suprema ironia, o pontapé
inicial foi dado justamente com uma empresa norueguesa. Ou seja, o Brasil ajuda
a enriquecer ainda mais os noruegueses e ao mesmo tempo fica mais pobre. Não
foi por falta de alerta: os entreguistas do governo interino estão a hipotecar
o futuro do país.
O script do
novelão entreguista é simples:
- Em
2011, a Wikileaks revela as conversas entre José Serra e a Chevron sobre o
pré-sal.
- Em
2014, começa a fase mais visível da Operação Lava Jato.
- Com
os escândalos revelados, a Petrobras é desmoralizada perante a opinião pública.
- Em
2015, o senador José Serra entra com um projeto que muda as regras do pré-sal.
- Em
dezembro de 2015, o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aceita o início
do processo de impeachment contra Dilma Rousseff.
- Em
fevereiro de 2016, o projeto de lei de José Serra é aprovado no Senado.
- Maio
de 2016. Dilma é afastada e a imprensa internacional denuncia o golpe.
- Ainda
em maio, o senador golpista José Serra assume o ministério das Relações
Exteriores.
- Em
julho de 2016 a Statoil anuncia a compra de 66% do bloco BM-S-8, no campo de
Carcará.
Os anéis
estão a ser entregues. Mas a sanha dessa gente não se importa de entregar até os
dedos. E dorme a pátria tão distraída. Não tem panela nem camisa amarela. Aliás,
se você, leitor e leitora, está com um desejo incontido de me chamar “comunista”,
fique à vontade. Porque eu sou comunista como os noruegueses, esses esquerdopatas
que ousam socializar a riqueza.
É a dança
da chuva.
Estátua de Ibsen em frente ao Teatro Nacional, em Oslo |
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
O Papa e a LOT
POR JORDI CASTAN
Poucos dias atrás, um grupo de representantes de associações
de moradores esgrimiam estudos técnicos que mostravam os problemas que
representará para Joinville a aprovação da LOT na forma como esta proposta. Bem
embasados, argumentavam com dados e de forma consistente, mesmo que os poucos
vereadores presentes estivessem mais interessados nos seus telefones que em
escutar com atenção. O vereador X consciente que até agora não tinham
sido apresentados qualquer tipo de estudos técnicos por parte do Executivo e
que a Câmara não tinha mostrado o menor interesse em tomar conhecimento do
impacto que a LOT poderia ter, convidou as associações de moradores para uma
reunião no seu gabinete. Acabou ficando curioso por conhecer melhor os estudos
que mostravam que não há infraestrutura de saneamento básico nem viária. Quis se
aprofundar no tema da altura das escadas do Corpo de Bombeiros e conhecer como
a falta de sol e ventilação tem uma relação direta com a saúde das pessoas.
Na semana seguinte, atendendo ao seu convite, os
representantes de quase uma dezena de associações se apresentaram no seu
gabinete e reforçaram sua argumentação. Mostraram mapas, desenhos e gráficos
que avalizavam os seus argumentos. Quanto mais a reunião avançava, mais o
vereador ia se enfronhando no tema e concordando com a lógica do grupo. Quando
parecia que estava convencido e o grupo acreditou que tinham ganhado um aliado
que apoiaria sua luta, um dos representantes viu a oportunidade e perguntou:
- Então, você apoia nossa causa? Veja que representamos uma
quantidade significativa de votos.
O vereador X olhou para o grupo e respondeu:
- Eu até concordo que os seus estudos são convincentes, bem
elaborados e consistentes. Reconheço que o executivo não apresentou nenhum
estudo técnico que nos permita avaliar o impacto que terá para Joinville a
aprovação desta LOT. Vocês me lembraram a história dos produtores de arroz e o
Papa.
E calou-se. Fez-se um longo silêncio. Todos se entreolhavam
sem saber o que dizer. Nenhum dos presentes conhecia a historia do Papa com os
produtores de arroz. Até que alguém, mais atrevido, perguntou:
- Qual é a história?
- Um grupo de produtores de arroz estava perdendo mercado,
as vendas estavam cada vez piores e o negócio ia de mal a pior. Para reverter a
situação, contrataram uma empresa de marketing que apresentaria um plano para
recuperar as vendas. Quando apresentaram a sua proposta, lembraram que se
consumia mais pão que arroz, lembrou também que na Bíblia o pão simbolizava o
corpo de Cristo, que era uma poderosa ferramenta de vendas, que todos os
cristãos consumiam pão e que poderia ser feito o intento de trocar o pão pelo
arroz na Bíblia. Que não seria fácil, mas que poderia se intentar. Depois de muito debate decidiram organizar uma
visita ao Vaticano, não sem antes promover uma contribuição significativa para
as obras de caridade da igreja. Acreditando que uma boa contribuição seria um
bom argumento para convencer a sua Santidade. Agendada a audiência e depois de
serem recebidos pelo secretário pessoal do Papa, o próprio Papa adentrou na
sala e os recebeu com cordialidade. Escutou seus argumentos e quando os
representantes dos produtores de arroz consideraram que tinham conseguido
sensibilizar o Papa, fizeram a sua proposta:
- Trocar o pão por arroz na próxima edição da Bíblia e fariam
uma doação de dois milhões de dólares para as obras sociais da Igreja.
O Papa escutou com serenidade e rompeu o silêncio com uma
gargalhada.
- Vocês não tem noção de quanto doa a Associação de Padeiros
para as obras sociais da Igreja.
sexta-feira, 12 de agosto de 2016
Neutralidade para que lado?
POR LIZANDRA CARPES
Vamos mais
uma vez trazer à tona o Projeto de Lei Ordinária (PL) 221/2014, a “Escola Sem
Partido” ou, como mais lhe é apropriado, a “Lei da Mordaça”. O rebento mais
ilustre da vereadora de Joinville, pastora Leia, passou novamente pela Comissão
de Educação, na última terça-feira.
Documentos
importantes foram repassados à relatoria da Comissão que será realizada pelo
vereador Odir Nunes: o parecer do Conselho Municipal da Educação (CME), o
parecer Jurídico da Câmara de Vereadores de Joinville (CVJ) e uma nota técnica
do Ministério Público Federal (MPF).
O parecer
do CME foi contrário ao PL e ressalta o entendimento de que o documento fere a
Constituição no que tange à liberdade de expressão e direito à Educação. O
parecer jurídico da CVJ conclui que o PL possui vícios de “inconstitucionalidade
e ilegalidade”, palavras grifadas em caixa alta no documento.
A nota
técnica do MPF faz a seguinte afirmação: “Enfim, e mais grave, o PL está na
contramão dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil,
especialmente os de ‘construir uma sociedade livre, justa e solidária’ e de
‘promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação’”.
Organizações
estudantis, sociais e sindicatos estiveram presentes para, mais uma vez,
mostrar a repulsa a este projeto. As contrariedades constitucionais da “Lei da
Mordaça” são muitas. Passam inicialmente pela linguagem, quando impõe que um
ser humano aja com neutralidade. Desdobram-se pela incoerência ao firmar que
conteúdos que possam estar em conflito com as convicções morais, religiosas ou
ideológicas dos estudantes ou de seus pais ou responsáveis não podem ser
estudados em sala de aula. E é claramente leviano quando permite denúncias
anônimas de professores, colocando-os na berlinda da interpretação de quando
seus alunos se sentirem violados por algum tema das disciplinas obrigatórias em
sala de aula.
Interessante
perceber a orquestração de como se movimenta nacionalmente tal projeto e a
“neutralidade” de seus propositores. Apresentado ao Ministério da Educação por
Alexandre Frota e o ex-pastor Marcello Reis, fundador do Revoltados Online e um
dos líderes de atos pró-impeachment, ou seja, nada neutros.
Escola Sem
Partido é um nome que soa “doce” em tempos de repulsa e propagação de ódio
partidário, ou seja, manipulado para que a sociedade engula um veneno letal e
amargo para a defesa de direitos sociais uma vez que visa amordaçar ainda mais
o sistema educacional.
quinta-feira, 11 de agosto de 2016
Gozando com a medalha alheia
POR FILIPE FERRARI
Caso você não tenha estado em animação suspensa na última semana,
com certeza acompanhou a vitória da judoca brasileira Rafaela Silva, que lhe
garantiu o primeiro ouro brasileiro nas Olimpíadas do Rio.
Foi um feito que realmente emociona, principalmente por conta da
trajetória da atleta, que foi qualificada enquanto “épica” pela BBC Brasil, e
que é um grande exemplo de superação, principalmente depois do resultado da
judoca em Londres, e dos ataques racistas que ela sofreu por conta disso. A
história de Rafaela realmente é uma história de superação, nos mais diversos
sentidos.
Entretanto, ao invés da pura e simples comemoração, o que se seguiu
nas redes sociais foi uma guerra ideológica de apropriação da trajetória da
atleta. De vencedora do racismo, a bolsista do governo, passando pelo apoio
inefável do exército, até mesmo a exemplo da mais fatídica meritocracia que
pode existir nesses nossos ermos tupiniquins.
Essa reação à vitória de Rafaela é um reflexo da radicalização pela
qual o Brasil bem passando. Direita, esquerda, centro, acima e abaixo tentam,
de alguma forma, utilizar-se da luta e da trajetória de alguém para reafirmar
conceitos e discussões políticas rasas que tem preenchido cotidianamente as
timelines alheias.
Independente do olhar que se lance sobre a trajetória de Rafaela,
importante seria pensar o porque tal trajetória ainda é digna de nota dentro de
um país rico como o nosso, e pensar em maneiras de proporcionar caminhos nos
quais ninguém mais precise ser exemplo, ser discurso a ser encampado por
correntes ideológicas mais preocupadas em satisfazer o próprio ego do que
realmente proporcionar transformações.
Em todo esse quiproquó online, que menos se notou foi o sorriso e a
satisfação da mulher humilde, negra, sargento, atleta, moradora da Cidade de
Deus, da qual desconhecemos talvez 99% da sua história de vida. A alegria foi
ofuscada pelo emparelhamento político e ideológico radicalizado que vem
fincando raízes cada vez mais profundas na realidade brasileira.
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