POR JORDI CASTAN
Poucos dias atrás, um grupo de representantes de associações
de moradores esgrimiam estudos técnicos que mostravam os problemas que
representará para Joinville a aprovação da LOT na forma como esta proposta. Bem
embasados, argumentavam com dados e de forma consistente, mesmo que os poucos
vereadores presentes estivessem mais interessados nos seus telefones que em
escutar com atenção. O vereador X consciente que até agora não tinham
sido apresentados qualquer tipo de estudos técnicos por parte do Executivo e
que a Câmara não tinha mostrado o menor interesse em tomar conhecimento do
impacto que a LOT poderia ter, convidou as associações de moradores para uma
reunião no seu gabinete. Acabou ficando curioso por conhecer melhor os estudos
que mostravam que não há infraestrutura de saneamento básico nem viária. Quis se
aprofundar no tema da altura das escadas do Corpo de Bombeiros e conhecer como
a falta de sol e ventilação tem uma relação direta com a saúde das pessoas.
Na semana seguinte, atendendo ao seu convite, os
representantes de quase uma dezena de associações se apresentaram no seu
gabinete e reforçaram sua argumentação. Mostraram mapas, desenhos e gráficos
que avalizavam os seus argumentos. Quanto mais a reunião avançava, mais o
vereador ia se enfronhando no tema e concordando com a lógica do grupo. Quando
parecia que estava convencido e o grupo acreditou que tinham ganhado um aliado
que apoiaria sua luta, um dos representantes viu a oportunidade e perguntou:
- Então, você apoia nossa causa? Veja que representamos uma
quantidade significativa de votos.
O vereador X olhou para o grupo e respondeu:
- Eu até concordo que os seus estudos são convincentes, bem
elaborados e consistentes. Reconheço que o executivo não apresentou nenhum
estudo técnico que nos permita avaliar o impacto que terá para Joinville a
aprovação desta LOT. Vocês me lembraram a história dos produtores de arroz e o
Papa.
E calou-se. Fez-se um longo silêncio. Todos se entreolhavam
sem saber o que dizer. Nenhum dos presentes conhecia a historia do Papa com os
produtores de arroz. Até que alguém, mais atrevido, perguntou:
- Qual é a história?
- Um grupo de produtores de arroz estava perdendo mercado,
as vendas estavam cada vez piores e o negócio ia de mal a pior. Para reverter a
situação, contrataram uma empresa de marketing que apresentaria um plano para
recuperar as vendas. Quando apresentaram a sua proposta, lembraram que se
consumia mais pão que arroz, lembrou também que na Bíblia o pão simbolizava o
corpo de Cristo, que era uma poderosa ferramenta de vendas, que todos os
cristãos consumiam pão e que poderia ser feito o intento de trocar o pão pelo
arroz na Bíblia. Que não seria fácil, mas que poderia se intentar. Depois de muito debate decidiram organizar uma
visita ao Vaticano, não sem antes promover uma contribuição significativa para
as obras de caridade da igreja. Acreditando que uma boa contribuição seria um
bom argumento para convencer a sua Santidade. Agendada a audiência e depois de
serem recebidos pelo secretário pessoal do Papa, o próprio Papa adentrou na
sala e os recebeu com cordialidade. Escutou seus argumentos e quando os
representantes dos produtores de arroz consideraram que tinham conseguido
sensibilizar o Papa, fizeram a sua proposta:
- Trocar o pão por arroz na próxima edição da Bíblia e fariam
uma doação de dois milhões de dólares para as obras sociais da Igreja.
O Papa escutou com serenidade e rompeu o silêncio com uma
gargalhada.
- Vocês não tem noção de quanto doa a Associação de Padeiros
para as obras sociais da Igreja.