sexta-feira, 15 de abril de 2016

Um impedimento só não faz verão















POR SALVADOR NETO

Os brasileiros e brasileiras sofrem com uma crise econômica dura, amplificada pela crise política acelerada após a derrota do PSDB e aliados com seu candidato (?!) Aécio Neves. Ele perdeu para uma mulher, ex-guerrilheira, e isso deixou feridas não cicatrizadas. No Brasil a coisa é assim, dissimulada, mas é fato. Ele não admitiu a derrota para uma mulher. Simples assim. De lá para cá, sofrem os trabalhadores e trabalhadoras com esta briga sem fim, que acreditam na história da carochinha: se Dilma cair, tudo vai melhorar, vai mudar. É claro que não!

Já escrevi aqui no Chuva Ácida sobre o tema. Mas agora, quando deve acontecer a votação do impedimento da presidente Dilma Rousseff (ou seria impeachment, ou impitiman?) no final de semana, um processo que nasceu pelas mãos de Eduardo Cunha (PMDB) que tentou chantagear o governo e o PT para que não abrissem um processo contra ele na Comissão de Ética por... lavagem de dinheiro, corrupção, e outras coisas mais, é preciso gravar isso novamente. Afinal, há provas contra Cunha, contundentes, dinheiro na Suíça, mas o processo dele não anda. Mas contra a Presidente anda acelerado, insano, sem provas. A acusação não tem provas. E ponto.

Cunha, o corrupto, alia-se ao vice-presidente Michel Temer, ambos do PMDB, e conspiraram para derrubar o governo. Para isso contam com apoios em todos os partidos. Temer também já foi citado na Lava Jato. Não é segredo que a larga maioria dos deputados federais é investigada nos mais diversos tipos de processos, e com a aproximação da Lava Jato dos seus corruptores, partiram para o tudo ou nada.

Cid Gomes, que foi ministro relâmpago da Educação, disse tudo em discurso na Câmara dos Deputados em março de 2015. Ali havia 300 a 400 deputados achacadores. Todos, pelo que vemos hoje, filhos do... Cunha! E apadrinhados por Temer, que já se vê Presidente.


Com forte e histórico apoio dos grandes grupos de comunicação do pais, das entidades empresariais que financiam movimentos contra o governo, de parte da Policia Federal e MPF, e até da OAB – mais uma vez manchando a sua história – a população foi bombardeada com informações (??) dirigidas, de má fé editadas, tentando fazer crer que a presidente é criminosa. Não encontraram nada concreto, verdadeiro, e criaram as pedaladas, etc. Tudo historinha para inglês ver, e para enganar brasileiros que não acompanham a politica, não conhecem a história. E enganaram.

Escrevo antes da provável votação do processo de impedimento da Presidente, e sinto pena da nossa gente porque vamos cair, em caso de aprovação, nas mãos dos mais corruptos da nossa política. Temer, o traidor geral da República, e seu quase vice Eduardo Cunha. Uma dobradinha que vai entregar o resto do que temos no Brasil, além dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras tão duramente conquistados.

Mas o povo não consegue enxergar o objetivo final. Talvez até tenha que passar por isso para um novo aprendizado. O possível impedimento de Dilma não vai resolver os problemas do país. Quem vai mandar são os mesmos deputados achacadores, sob o comando dos grandes chefes.


Portanto minha gente, não haverá ganhadores entre nós aqui na planície. Há pessoas até bem intencionadas, chateadíssimas com a corrupção, a crise, mas sinto informar: um impedimento só não vai trazer o verão de volta. E tem um agravante: rasgarão a Constituição Federal, interrompendo um mandato conquistado no voto. E isso é grave para a nossa jovem democracia.

A saída é mudança total do sistema politico brasileiro, impedindo essa engrenagem nociva de financiamento de políticos por parte de empresas e empresários que transformou a nobre política na política de negócios. E eleições, no voto, pois é assim que se faz nas democracias, voto popular.


Não há Presidente e governo que resistam ao sistema atual, corrompido, velho, velhaco, falido. E a crise econômica não vai mudar com a derrubada de Dilma gente. Não se enganem. Impedidos ficaremos nós ainda mais com a possível chegada da dupla Temer-Cunha ao Planalto. E será tarde para chorar o leite derramado. Anotem e confiram.


É assim nas teias do poder...

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Não gosto. E pronto!

POR RAQUEL MIGLIORINI

Tenho minhas diferenças com o governador de Santa Catarina. Quase no meio do seu segundo mandato ainda não disse a que veio. E a falta de gestão no Estado salta aos olhos.  Você já tentou sair do Planalto Norte e viajar por estradas estaduais até o Oeste do Estado?

São necessárias algumas premissas: gostar de rali, ter carro com tração nas 4 rodas, fazer um bom seguro de vida, gostar de aventura e ter pouco apreço pela vida. Viajasse menos de helicóptero e o Sr. Colombo saberia do que estou falando.

A saúde tenta resgatar o abandono de anos, mas os recursos não são suficientes nem pra manter o que está precariamente funcionando.

Na parte ambiental, nunca houve restrições tão grandes aos Comitês de Bacias Hidrográficas e à FATMA como nesse desgoverno.

No quesito segurança, temos o fechamento de delegacias, falta de concurso para contratação de policiais, um dos piores salários do Brasil para policiais, aumento expressivo do número de homicídios, falta de viaturas. Isso pra ficar no básico.

EM JOINVILLE - Também tenho minhas diferenças com o prefeito de Joinville. Confesso que, por um curto período, acreditei que um empresário pudesse fazer parte da máquina funcionar. Ledo engano! Vamos à lista:

- Todos os comitês e Conselhos da cidade foram massacrados por essa gestão. A ordem é clara: vamos cumprir a lei mantendo os Conselhos, mas tudo será tratado no cabresto. E assim, Conselhos populares construídos com muita luta vão tendo seus recursos e direitos cerceados. Cultura, Saúde, Meio Ambiente, Turismo, Educação, todos apenas cumprindo o dever legal de existirem, sem dar voz a população.
- As questões ambientais sendo tratadas com descaso. O licenciamento ambiental visto como algo que impede o desenvolvimento da cidade. Projetos para conservação e melhoria das Unidades de Conservação, qualidade ambiental, combate aos maus tratos animais, arborização urbana, tudo engavetado. E não é por falta de recursos.
- Na saúde, onde era dito que faltava gestão, vemos um amontoado de tentativas e erros, falta de medicamentos, licitações atrasadas, postos fechados.

Diante de tudo isso, quero que o Governador e o Prefeito saiam. Não gosto deles e pronto. Não tente me convencer porque não quero escutar. Nunca quis que eles governassem o estado e a cidade onde moro. Sempre achei que pertenciam a partidos políticos que sugaram o país e que queriam o poder pelo poder. Tenho meus direitos como cidadã.

Nesse ponto alguns leitores já devem estar sacudindo a bandeira do Estado e do Município por cima da cabeça e gritando que os gestores em questão não estão sendo investigados por corrupção ou improbidade administrativa. Até aí, contra o governador de São Paulo há dezenas de denúncias e nada é apurado. As investigações são arquivadas para espanto de alguns e anuência de muitos. A presidente da república está sob investigação e nenhum crime foi encontrado. O que vemos é um problema de gestão, como os exemplos municipais e estaduais. Portanto, falta de investigação não significa lisura e excesso de investigação não gera crimes.


Quero que saiam. E pra isso,vou fazer das tripas e coração e usar todas as armas que tenho para que, nas próximas eleições, eles não consigam se reeleger ou colocar seus cupinchas. Porque, por mais que eu não goste de um governante ou do partido que ele representa, a democracia não pode sequer ser ameaçada, nem a vontade de um grupo se sobressair à vontade das urnas. Lutar sim, mas sem regredir.   

quarta-feira, 13 de abril de 2016

O que Guantánamo pode ensinar para as eleições municipais

POR THIAGO LUIZ CORRÊA
O mandato do presidente Barack Obama está chegando ao fim. Nos Estados Unidos costuma-se chamar o presidente em seu último ano de mandato de "lame duck" (pato manco). É como se ele estivesse lá apenas esquentando a cadeira para o próximo e seu poder de decisão e barganha já não fosse mais o mesmo. Mas ele não vestiu esta carapuça e está fazendo muito mais do que apenas manter o Governo Federal americano em banho maria.

No mês passado Obama esteve em Cuba. Oficialmente a agenda falava em reforçar a mensagem de cooperação e quebra das sanções americanas à ilha, mas todos sabiam que, bem no fundo, não passava de uma tentativa de que, de alguma forma a bola fosse levantada e sua apadrinhada Hillary Clinton conseguisse fazer uma média com os imigrantes cubanos que formam uma população bastante expressiva do público do sudeste dos Estados Unidos (que tradicionalmente possui mais afinidade pelos candidatos do Partido Republicano).

A visita de Obama a Cuba foi muito bem vista pela comunidade internacional, mas levantou alguns pontos um tanto delicados à atual administração americana. O presidente Obama vem prometendo o fechamento de Guantánamo desde a sua primeira campanha à presidência, em 2008. Oito anos se passaram e a prisão continua em funcionamento.

Obama mentiu? Não. Durante todo este período o fechamento de Guantánamo foi e voltou várias vezes para a mesa de negociação. Inclusive a situação melhorou bastante. A prisão que já chegou a ter 800 presos hoje enclausura "apenas" 91 pessoas.

São 91 presas sem ter passado por um julgamento. Alguns sequer possuem alguma acusação formal registrada, entre eles um iemenita detido há TREZE ANOS, oito deles em greve de fome sendo alimentado à força por uma sonda.

E o que eu ou você temos a ver com isso tudo?

Barack Obama pode ter a melhor das intenções, mas ele não governa sozinho. O fechamento da prisão extra-judicial depende também da boa vontade do Senado, onde ele não tem maioria. É claro que Obama sabia disso quando prometeu o encerramento das atividades em suas duas campanhas, mas preferiu jogar o jogo com as armas que tinha e utilizou essa bandeira como uma promessa, mesmo sabendo que bater o martelo não cabia apenas a ele.

O CASO BRASILEIRO - O mesmo aconteceu no Brasil, onde grandes projetos almejados pelo governo Dilma não vão para a frente devido à total falta de vontade política da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, onde Eduardo Cunha é capaz de passar o final de semana inteiro fazendo assembleias para acelerar o processo do impeachment de Dilma, mas está há meses com as reformas política e tributária encostadas. O mesmo vale para o Senado, que aproveita o momento em que todas as atenções estão voltadas para a instabilidade política e aprova em primeiro turno a isenção de IPTU para propriedades alugadas por igrejas.

Dilma não têm controle nenhum sobre esses acontecimentos. Qualquer tentativa de interferência seria inconstitucional, pois a presidenta não possui autoridade lá, está fora de sua jurisdição. Mas quando as más notícias estampam os jornais, o nome em letras garrafais é “Governo Dilma”, na hora da caça às bruxas não é o Renan Calheiros que tem um boneco inflável.

Estamos mirando no alvo errado e isso acontece porque não fomos devidamente ensinados sobre quais são as atribuições de cada cargo público e também não fizemos muito esforço para procurar descobrir. O resultado disso é que acabamos acreditando em promessas de campanha que não possuem nenhuma validade.

Lembre-se disso nessa eleição municipal quando aquele vereador aparecer na sua vizinhança prometendo asfalto na sua rua, pergunte-o como ele pretende cumprir essa promessa se um vereador não tem poder para executar obras. Pergunte ao seu candidato a prefeito quais são as medidas objetivas que ele pode tomar para deixar a cidade o mais próximo possível do previsto do seu plano de governo mesmo se no final das contas ele tiver uma Câmara de Vereadores que seja oposicionista a sua gestão.

O simples fato de perguntar esse tipo de coisa ajudará a esclarecer de quem são as responsabilidades e pode auxiliar na cobrança e fiscalização dos nossos representantes. Não se deixe iludir por propostas vazias, precisamos de propostas concretas e factíveis, mesmo que não tenham nada de mirabolantes. Não precisamos de Guantánamos à la Babitonga.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

A "tia do Fort Atacadista" e as drogas

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Todos tivemos conhecimento do episódio ocorrido no Fort Atacadista. Apanhada a furtar, uma mulher foi submetida a tratamentos degradantes. Num filme, funcionárias do supermercado obrigavam a mulher a comer um ovo cru. Em outra imagem, a mulher aparece numa câmara frigorífica, com as suas algozes a atirarem água gelada sobre ela.

O episódio transpôs as fronteiras de Joinville. As imagens se espalharam pelo Brasil – e até no exterior – através das redes sociais. A repercussão negativa levou a direção do supermercado a emitir uma nota à imprensa, informando que as funcionárias tinham sido demitidas por justa causa, bem como o chefe da segurança.

O que dizer? É barbárie. Nada a acrescentar. Mas em meio a toda a celeuma uma discussão passou batida: a questão das drogas. Tomo o exemplo do fac-símile (no final do post), que traz o seguinte texto: “A tia do caso do Fort Atacadista foi presa portando crack. Quando ela for solta, provavelmente vai precisar roubar novamente. E daí?”.

Mais abaixo, o autor da nota revela que o irmão também é usuário. E diz que não seria assim se ele tivesse tomado umas surras na época devida. É o tipo de mentalidade que ainda prevalece no Brasil, onde há uma estigmatização dos usuários de drogas: o lugar deles é a cadeia. Quando saem, voltam à má vida. E temos um ciclo vicioso (sem trocadilho).

As pessoas parecem estar desatentas: não será hora de falar em descriminalização do consumo de drogas? Não é chegado o tempo de começar a tratar a dependência química como doença e não como crime? A questão é séria demais para ser deixada na mão de moralistas, em especial os que pululam nas redes sociais.

Não sou especialista sobre o assunto. Se alguma “autoridade” tiver nessa discussão será pelo fato de viver em Portugal, onde o consumo de drogas (todas e não apenas a maconha ou haxixe) foi descriminalizado há 15 anos. E com sucesso. Mas atenção, para evitar confusões: descriminalizaram o consumo e não as drogas.

O modelo português é referência para outros países, mesmo os mais desenvolvidos. O que aconteceria à mulher do Fort Atacadista se ela estivesse em Portugal? Em vez de viver a entrar e a sair da cadeia, certamente estaria a receber tratamento médico. O país tem  cerca de 40 mil pessoas em tratamento e os resultados são positivos e mais que visíveis.

1.     Há menos mortes provocadas pelo uso de drogas menos doenças (overdoses, por exemplo).
2.     Tem diminuído o número de usuários contaminados com o HIV-AIDS, o que tira os custos governamentais com os tratamentos.
3.     Houve uma diminuição do consumo entre jovens na faixa etária dos 15 aos 19 anos.
4.     Sem ter que se preocupar em prender usuários, a polícia pode dedicar mais tempo a investigar traficantes e produtores.
5.     Sem prender usuários, diminuiu a população carcerária.
6.     Com as autoridades de saúde a ministrarem os tratamentos de forma gratuita, diminuíram os crimes de pessoas que tentam obter dinheiro para a droga. Seria, por exemplo, o caso da mulher do Fort Atacadista.

A questão é complexa e não cabe num simples texto de blog. Mas não há dúvidas de que o Brasil precisa de uma mudança de mindset: esquecer os preconceitos e os moralismos para tratar a questão das drogas como uma doença. O país só tem a ganhar com isso.


É a dança da chuva.






Passarinhos...não passarão.