quarta-feira, 21 de outubro de 2015
Joinville é a segunda melhor, mas o segundo lugar não é suficiente
Calma, não estou falando aquela besteira que gente escrota diz sobre competições, de que o segundo é só o primeiro dos perdedores. Quero dizer que não é suficiente ser considerada a segunda melhor cidade do país enquanto somos escandalosamente injustos e desiguais. Por outro lado, negar que Joinville esteja entre as melhores, no comparativo, também me parece injusto. Negar seria não reconhecer o privilégio de viver em uma cidade como a nossa.
Joinville foi privilegiada economicamente por décadas e décadas. É uma cidade industrializada, com empregos, universidades. Na ditadura civil-militar, empresas da cidade receberam muita grana do Estado, gerando um enriquecimento às elites e um esvaziamento do campo. As pessoas foram deixadas de lado para gerar enriquecimento privado.
A cidade é um resultado disso e um prêmio não dá conta das contradições que ela apresenta. Não dá pra comemorar o segundo lugar em uma cidade com saúde precária, superexploração de trabalhadores, transporte público zoado e caro, uma imensidão de ruas de barro, centenas de animais abandonados que o munícipio não dá conta de cuidar, rios poluídos por empresas, saneamento básico que apenas recentemente começou a ser implantado, universidades públicas voltadas apenas às engenharias, universidades privadas que custam o olho da cara dos estudantes, educação pública que não dá conta de educar crianças e jovens, incentivo de desenvolvimento à cultura no chão. Entre outras coisas.
Comemora quem vive numa bolha. Quem tem asfalto na frente de casa, quem ganha vários salários mínimos (na indústria e no comércio o salário médio não chega a dois), quem tem grana para frequentar a via gastronômica, a arquibancada coberta e os teatros globais que de vez em quando aparecem no Teatro Juarez Machado. Comemora quem paga colégio particular e cursinho para os filhos estudaram nas universidades federais em Floripa ou em Curitiba. Parecem muitos, mas são poucos.
Um debate primordial
Um dos maiores dilemas de quem lida com Direitos Humanos, com promoção da igualdade, da justiça e da ideia de uma sociedade melhor, é como chegar às pessoas que não compartilham da mesma ideia. Parece que ficamos falando para nós mesmos, jogando pra torcida, ou, o que é pior, brigando entre nós.
Para mudar isso, acredito que um debate seja fundamental: como usar a comunicação social para isso. Enquanto defensores e defensoras dos direitos humanos conversam com meia dúzia de pessoas, a programação das TVs e rádios, que são concessões públicas, chegam aos milhões de brasileiros diariamente, dia e noite. É preciso exigir que elas façam a sua parte. Marcelo Rezende, Datena, Geraldo Brasil, RBS, Gugu, Xuxa, Pânico, Hélio Costa, Nilson Gonçalves e muitos outros promovem, todos os dias, a desigualdade. Alimentam o ódio e o egoísmo na sociedade. Se continuar assim, não há esperança.
Cura do câncer
O debate sobre a fosfoetanolamina está mais polarizado que a política no Brasil. Pessoal que é contra acha que todo mundo quer que simplesmente se distribua a droga. Não, senhoras e senhores, tem uma parcela que quer a ampliação e finalização das pesquisas.
terça-feira, 20 de outubro de 2015
O capitalismo falhou... rotundamente
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Capitalismo e capitalistas é o tema. E nada
mais oportuno que começar pelo investidor Martin Shkreli, um dos casos mais
recentes de sucesso do capital lá para as bandas de Wall Street. O que o tipo tem de tão especial para ser um expoente (à luz do capitalismo)? Ora, o sucesso está
associado ao dinheiro. E, aos 32 anos, Martin Shkreli é um capitalista que faz
dinheiro, muito dinheiro. Importam os meios usados?
Eis a fórmula do sucesso do investidor norte-americano. Há pouco tempo, ele criou a
Turing Pharmaceuticals, da área de medicamentos, e comprou a patente da droga
pirimetamina, usada no combate a doenças como a AIDS e a malária, por
exemplo. Até aí tudo normal. Mas o capitalismo existe pelo lucro. E para lucrar o máximo e o mais rápido possível, Shkreli não perdeu tempo: aumentou o preço do remédio, de modestos US$ 13,50 para exorbitantes US$ 750.
Eis a pergunta: há algo errado, do ponto de
vista dos capitalistas? Não. O cara vislumbrou a oportunidade (é meritocracia),
investiu (é empreendedorismo), deu um novo rumo ao negócio (é inovação). E
lucrou... sem gastar uma gotinha de suor. Ou seja, o homem fez apenas o que
todo bom capitalista faz. Sem dilemas éticos. Aliás, imagino que os defensores do capital achem normal e não vejam falta de escrúpulos no episódio. Mas...
O capitalismo é um sistema legal, social, econômico
e, sobretudo, cultural. Mas há uma coisa que definitivamente não
é: ético. Nunca foi, nunca será. E quanto mais muda, mas vai em outro sentido: o velho capitalismo de terra e trabalho, que também nunca andou de mãos dadas com a ética, foi ultrapassado. Ou seja, morreu aquele modo de
produção original: tirar da terra, transformar pela força de trabalho humana e
vender no mercado com mais-valia.
Hoje o capitalismo é sustentado pela cultura
do dinheiro e do individualismo. Os resultados práticos? O dinheiro faz dinheiro, sem haver
trabalho. E foi nesse sistema de cassino que surgiram os famosos “lobos de Wall
Street” (que têm seus similares em todo o mundo), conhecidos pela ganância e o
foco exclusivo no dinheiro. Parece ser o caso do investidor norte-americano na compra da patente. O problema é que esse tipo de sistema sem ética leva o mundo a um caminho muito perigoso.
O resultado de décadas de capitalismo
financeiro tem sido um autêntico desastre: 0,7% da população adulta detém precisamente
45,2% da riqueza mundial. Nessas condições, é estranho ver defensores do
capitalismo entre os 99,3% restantes. É a prova provada de que o capitalismo fracassou. Mas é aí que entra a cultura. A grande
vitória do capitalismo é no plano cultural. Ou seja, é fazer acreditar na sua superioridade, mesmo quando os números mostram que o contrário. E de forma acachapante.
E, para terminar, um aviso aos leitores anônimos:
não venham escrever comentários essa conversa de que por criticar capitalismo a
pessoa tem que ir para a Coreia. Nem vou discutir. Isso só vai demonstrar que vocês têm um QI
muito inferior ao de um símio. Melhor que voltem para as árvores.
É a dança da chuva.
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
Teremos que esperar outros 30 anos?
POR JORDI CASTAN
Ninguém acredita mais na Joinville do futuro. Mas insiste em querer a Joinville do presente.
Os problemas que atrapalham a Joinville de hoje não se resolverão daqui 30 anos, porque requerem soluções hoje. Mas o que encontrarão os
joinvilenses daqui três décadas?
Nesta Joinville fantasiosa, em que não se resolvem os problemas de hoje por conta de estar preparando a cidade do futuro, estamos vivendo o contrassenso de não ter nem uma nem outra. A Joinville de hoje é definitivamente um navio navegando a esmo, sem rumo. A Joinville de amanhã é uma quimera que existe unicamente em alguns gabinetes, em vídeos promocionais e em desenhos fantasiosos.
Não há nenhum projeto concreto de como será ou como poderia ser esta cidade. Nenhum documento permite que conheçamos essa Joinville melhor, mais moderna, inovadora, socialmente mais justa, próspera e feliz que todos almejamos. Essa ideia de prometer uma vida melhor num futuro, para justificar os sacrifícios e o sofrimento que experimentamos nesta, soa a conversa de mercador de ilusões.
Quando, em 1973, Joinville elaborou seu plano diretor, a cidade projetou um futuro que permitia sonhar. Avenidas duplicadas, infraestrutura adequada, grandes parques. De tudo aquilo pouco ou quase nada foi feito e já lá vão mais de 40 anos. A duplicação da Ottokar Doerfel, a construção da Almirante Jaceguay, o alargamento das ruas Blumenau e João Colin, a duplicação da Marques de Olinda, por citar apenas algumas. São obras de infraestrutura que, se executadas, teriam feito de Joinville uma cidade mais moderna e melhor preparada para se desenvolver. Até um parque linear ao longo do Rio Cachoeira estava previsto. Nada foi feito e ninguém parece muito preocupado com isso.
À falta de um projeto de cidade para o futuro, temos o direito a sonhar com uma outra Joinville. Postos a sonhar poderíamos sonhar com uma cidade sustentável, eficiente, plural, diversa, inclusiva e inovadora. Uma cidade verde, que invista em prevenção em lugar de gastar em correção. Com educação em período integral, com parques públicos de qualidade, com infraestrutura adequada para o seu desenvolvimento.
Hoje o máximo a que podemos aspirar é um binário aqui e outro ali. Com sorte talvez um dia se conclua a obra do mirante e o arremedo de duplicação da avenida Santos Dumont. Das pranchetas do IPPUJ sairá nada melhor que isso. Nem das cabeças dos nossos governantes devemos esperar muito mais. Assim a Joinville dos próximos 30 anos deverá ser uma cidade remendada, apequenada, que desistiu do futuro sem nem sequer ter passado por um presente digno.
Nesta Joinville fantasiosa, em que não se resolvem os problemas de hoje por conta de estar preparando a cidade do futuro, estamos vivendo o contrassenso de não ter nem uma nem outra. A Joinville de hoje é definitivamente um navio navegando a esmo, sem rumo. A Joinville de amanhã é uma quimera que existe unicamente em alguns gabinetes, em vídeos promocionais e em desenhos fantasiosos.
Não há nenhum projeto concreto de como será ou como poderia ser esta cidade. Nenhum documento permite que conheçamos essa Joinville melhor, mais moderna, inovadora, socialmente mais justa, próspera e feliz que todos almejamos. Essa ideia de prometer uma vida melhor num futuro, para justificar os sacrifícios e o sofrimento que experimentamos nesta, soa a conversa de mercador de ilusões.
Quando, em 1973, Joinville elaborou seu plano diretor, a cidade projetou um futuro que permitia sonhar. Avenidas duplicadas, infraestrutura adequada, grandes parques. De tudo aquilo pouco ou quase nada foi feito e já lá vão mais de 40 anos. A duplicação da Ottokar Doerfel, a construção da Almirante Jaceguay, o alargamento das ruas Blumenau e João Colin, a duplicação da Marques de Olinda, por citar apenas algumas. São obras de infraestrutura que, se executadas, teriam feito de Joinville uma cidade mais moderna e melhor preparada para se desenvolver. Até um parque linear ao longo do Rio Cachoeira estava previsto. Nada foi feito e ninguém parece muito preocupado com isso.
À falta de um projeto de cidade para o futuro, temos o direito a sonhar com uma outra Joinville. Postos a sonhar poderíamos sonhar com uma cidade sustentável, eficiente, plural, diversa, inclusiva e inovadora. Uma cidade verde, que invista em prevenção em lugar de gastar em correção. Com educação em período integral, com parques públicos de qualidade, com infraestrutura adequada para o seu desenvolvimento.
Hoje o máximo a que podemos aspirar é um binário aqui e outro ali. Com sorte talvez um dia se conclua a obra do mirante e o arremedo de duplicação da avenida Santos Dumont. Das pranchetas do IPPUJ sairá nada melhor que isso. Nem das cabeças dos nossos governantes devemos esperar muito mais. Assim a Joinville dos próximos 30 anos deverá ser uma cidade remendada, apequenada, que desistiu do futuro sem nem sequer ter passado por um presente digno.
sábado, 17 de outubro de 2015
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