quinta-feira, 16 de julho de 2015

O Papa Francisco me representa


VALDETE DAUFEMBACK NIEHUES

Após participar de uma reunião com o objetivo de elaborar um documento que irá representar os anseios dos moradores do Jardim Paraíso em audiência pública sobre segurança, saí do local com a sensação de estar lendo em texto de Marx sobre o fim do capitalismo motivado pelas suas contradições. O acúmulo de informações e os silêncios velados em razão do medo atentam para um olhar observador de quem não consegue se apropriar inteiramente das intenções geradoras da violência que fazem refém a sociedade e a divide por um discurso que classifica seres humanos em “bandidos” e “cidadãos do bem”, em que o primeiro pode ser eliminado em beneficio do segundo.   

Ao me expressar sobre a sociedade nestes tempos de valorização da meritocracia e de atribuição à falta de moral familiar como responsável pelo aumento da violência urbana, corro o risco de ser mal interpretada porque não consigo entender esse olhar desviante da realidade que aponta negativamente para as pessoas mais vulneráveis e mais expostas às conseqüências deste sistema demente e perverso que concentra a renda e espalha miséria pelo mundo. Quanto mais o capitalismo exclui, considerando que esta é uma de suas funções, mais nos tornamos expostos aos riscos de toda natureza, nos defendendo daqueles que imaginamos ser nossos inimigos, dos quais supostamente poderemos sofrer agressões físicas ou patrimoniais, ou por discriminação pelo fato de não possuirmos um capital econômico ou cultural que nos coloque no rol da meritocracia. 

Neste sistema resta pouco espaço para a solidariedade e cultivo dos laços comunitários. Estamos nos distanciando de uma experiência pautada em interesses coletivos e abraçando uma nova perspectiva marcada por uma relação de interesses de grupos identitários que se fecha em círculos e, por vezes, dotados de sentimentos de intolerância. 

O próprio ecumenismo que tanto se prezou há décadas sucumbiu diante da arena do mercado religioso. Igrejas disputam a fidelidade de seu público, individualizando as almas, a fé e as ações. O seu caráter religioso de “ser no mundo” foi destituído ao convergir à inércia de “estar no mundo”, que significa não interagir com a comunidade, mas que assimila tão somente um fim em si mesmo.  

Na administração pública desenhou-se um trabalho de atendimento em rede, o que efetivamente não aconteceu. Quem precisa dos serviços públicos em vários órgãos sabe do que estou me referindo. E então acabamos nos acostumando e naturalizando a maneira de ser no atendimento porque acreditamos que o melhor a fazer é adequar as necessidades da população aos meios de que dispomos de acordo com o que o Estado oferece, ou seja, ousamos pouco e cada vez menos em matéria de direitos. 

Temos dificuldades em compreender o significado de segurança pública e por isso reivindicamos o controle da violência com a construção de mais cadeias, presídios, redução da maioridade penal, enquanto negligenciamos a necessidade de investimento em políticas públicas que visem à prevenção da violência. 

Investimentos em educação são considerados gastos e não como atributos de prevenção. O modelo de escola que temos já não serve mais para educar nossas crianças. Fizemos um processo inverso de eficiência em educação, uma vez que fechamos as unidades escolares de pequeno porte e transformamos as escolas urbanas em verdadeiros depósitos de crianças, sem as mínimas condições de sustentabilidade. As crianças já não sabem mais o que é pisar na grama, descansar à sombra de uma árvore, apreciar um canteiro de flores. Com aparência cinza, o pátio escolar se revestiu de concreto e brita, provocando stress porque o ambiente não oferece condições para os alunos praticarem brincadeiras que liberem energias e estimulem a criatividade. 

Quando a violência urbana desperta nossa atenção só conseguimos enxergar o tempo imediato e alegamos como causa a desestruturação das famílias, a falta de religiosidade, os métodos de ensino. Porém, praticamente não ouvimos mais vozes ecoarem sobre um dos reais motivos deste desacerto e com isso tenta-se tratar da febre e não de suas causas. 
Refiro-me a este modelo de capitalismo de rapina que não sossega enquanto não estrangular suas vítimas, conforme denunciado pelo Papa Francisco.  

Precisamos agir com coragem para não aceitar apenas as poucas ferramentas de que dispomos para atuar na prevenção da violência. Precisamos ser ouvidos, mas para isso temos que agir em rede, com entrelaçamento de ideias, de atitudes, de solidariedade e não permitir que sejamos fantoches suspensos em cordões a obedecer ao comando do articulador das forças produtivas destruidoras. 

quarta-feira, 15 de julho de 2015

E-mail denuncia funcionária fantasma na Câmara

POR CHUVA ÁCIDA

Nesta terça-feira, alguns órgãos de comunicação de Joinville, incluindo o Chuva Ácida, receberam uma denúncia supostamente com origem dentro da Câmara de Vereadores. Um e-mail - assinado com nomes provavelmente fictícios -, acusa o vereador Levi Rioschi de ter uma funcionária fantasma, de nome Edna Abílio Alves (vejam o fac-símile do e-mail).

É possível acreditar na veracidade da denúncia? É uma resposta que a comunidade terá quando forem feitas as devidas apurações. O e-mail enviado ao Chuva Ácida também tinha como destinatários o Ministério Público e o presidente da Câmara de Vereadores.

Mesmo sendo um espaço de opinião - e não de jornalismo - o blog checou as informações e verificou que há duas formas de saber se os assessores estão fazendo seu trabalho na Câmara.
- Quando o assessor é de apoio operacional e/ou externo, ele deve apresentar relatórios mensais sobre suas atividades. E estes relatórios devem constar no Portal da Transparência.
- Se o assessor é de gabinete, ele deve assinar o livro ponto.

Uma verificação permitiu saber que a funcionária em questão foi de fato nomeada no gabinete do vereador Levi Rioschi em abril deste ano. Porém, não se encontram relatórios em seu nome no Portal da Transparência. Uma ligação para o gabinete do vereador permitiu conferir, através da sua assessoria, que ela é de apoio externo.

Eis o problema. Se ela é de apoio externo, então deveria apresentar os relatórios. Mas surge outra questão: é difícil encontrar alguém na Câmara que conheça a assessora. Fontes que preferem não se identificar revelam ainda que ela reside em Florianópolis.

Resta esperar pelos procedimentos adotados pela Câmara de Vereadores ou pelo Ministério Público para a averiguação dos fatos. Caso a denúncia seja comprovada, o assunto é grave e ganha relevância. Caso nada seja confirmado, então estaremos frente a uma tentativa de prejudicar o vereador, o que também seria grave.

O  “e-mail/denúncia”  faz ainda uma outra revelação mais séria, mas como carece de informação (double check, de acordo com as regras do jornalismo) essa parte aparece distorcida no fac-símile.











Tebaldi para prefeito? Udo Dohler novamente? Mariani na liderança do PMDB? PPS rachado?

POR VANDERSON SOARES


             


Falta pouco mais de um ano para as eleições municipais e as peças começam a se mexer no tabuleiro. Ainda timidamente, aquela troca de olhares de esguelha, aquele começo de namoro, as estratégias começam a se apresentar.


            Udo Dohler demonstra claramente sua intenção em continuar no gabinete central da prefeitura. Até parece mais leve e solto com a morte do Senador Luiz Henrique. Participa das reuniões do partido ativamente, começa a posar para fotos com o público, indícios que prepara seu terreno para 2016. A oposição está forte contra ele, principalmente porque não cumpriu nem 1/4 do que prometeu. Talvez tenha percebido que existem abismos de “gestón” entre o poder público e o privado.


            Além disso, fontes peemedebistas alegam que tem largo material de fogo contra Kennedy e que não pouparão forças em usar estes recursos. Desta vez não teremos LHS comandando a campanha e isso é motivo de muita expectativa, afinal, será que ele ensinou alguém a jogar o jogo como ele?

Ainda sobre o PMDB, Mariani parece querer ocupar o título de cacique do partido no estado. Sem LHS, a vaga está aberta e ele demonstra intenção de ocupar a cadeira. Minha opinião é que isso não vai colar e que o partido ficará mais fraco estadualmente. Muitos esperam ocupar o lugar que LHS construiu, mas poucos demonstram metade de sua habilidade política.

Já no PPS, o clima é de rachaduras e trincas em todas as paredes. O motivo destas trincas é, principalmente, devido a pedidos de cargos e parece que nos próximos dias teremos um belo golpe. Até acho que o golpe virá em virtude da LOT, pois sabem que o principal vereador do PPS é presidente da Comissão de Urbanismo e demonstra não ter um pingo de interesse em aprovar tudo nas pressas, como o executivo quer. Não me admiraria, por exemplo, se Maycon César fosse expulso do PPS. Seria, no mínimo, cômodo. O que talvez não saibam é que a presidência das comissões não muda com uma possível expulsão.  
            
Já no PSDB, o clima ainda é incerto. Embora Ivandro tenha sido anunciado como pré-candidato, tudo indica que nas vésperas da eleição, Tebaldi venha a ser o verdadeiro candidato. Sofrerá fortemente com a questão ficha suja, mas creio que estará mais preparado para se defender. Da última vez, foi pego meio no pulo e acabou por jogar a toalha sem muita luta. Minha opinião é que o PSDB precisa oxigenar novas lideranças. Sempre Tebaldi, Bisoni, Dalonso e Peixer como líderes já está ficando maçante. 
                
De toda forma, as peças começam a se movimentar e tudo indica que teremos muito espetáculo até as eleições.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Sobre psicofobia e "loucos".

POR PEDRO HENRIQUE LEAL

Essa era uma discussão que eu havia planejado para outro momento, à ocasião dos comentários de Luiz Carlos Prates quanto a pessoas com depressão. O tempo passou, o texto não saiu, e o assunto esfriou. Mas ainda merece ser notada.

Estima-se que 23 milhões de brasileiros sofram com distúrbios psiquiátricos. Destes, cinco milhões tem transtornos graves. Um em cada 10 brasileiros precisa de atendimento em saúde mental. E, ainda assim, impera o preconceito e a caricatura contra o “louco”, e um misto de ignorância e má vontade quanto ao sofrimento dessas pessoas.

Em abril deste ano, o jornalista e formador de opinião Luiz Carlos Prates externou o desprezo contra pacientes psiquiátricos em sua forma mais grotesca. Em comentário quanto ao suicídio do co-piloto da Germanwings, Andreas Lubitz, que levou consigo 150 passageiros, Prates definiu “todo depressivo como um agressor”. Em sua fala, chamou pacientes com depressão de “covardes existenciais” que merecem “desprezo”.

A posição de Prates não era (e nem deixou de ser) uma exceção. Depressivos são constantemente vistos como covardes com “problemas de atitude”, que só precisam “encarar a vida de forma mais positiva”. Por ignorância, o problema grave da depressão é confundido com tristeza, e a doença é tratada como “um estado emocional” do qual “é só querer sair”.

Eu sofro de depressão clínica. Queria eu que depressão fosse uma questão de “estar triste”, pois estar triste seria sentir alguma coisa, e não um completo "vazio existencial", um tipo de "tristeza" que só merece ser chamada assim por que nenhuma outra emoção se aproxima - ou pior, as fases de total apatia, em que não se sente nada. Queria eu que fosse só “ter pensamento positivo” e “se alegrar”. Afinal, é assim que todas as doenças funcionam, não é? É só você tentar não estar doente que passa. Não é assim que é com todas as outras?

Não só isso, mas não se compreende que pessoas com depressão não estão necessariamente na fossa 100% do tempo, ou que muitas escolhem fingir que estão bem para não serem pressionadas a “ficarem melhor”. No mês passado, o INSS cortou os benefícios de uma mulher com depressão grave após essa postar “fotos felizes” no Facebook. No entender do perito, “uma pessoa com um quadro depressivo grave não apresentaria condições psíquicas para realizar passeios e emitir frases de otimismo”, segundo reportagem da Folha de S. Paulo. Enquanto isso, milhões de depressivos se esforçam em parecerem felizes - o que se aplica em especial às redes sociais. Danado se fica mal, perdido se finge estar bem.

ESQUIZOFRÊNICOS - Mas outros distúrbios psiquiátricos tem tratamento ainda pior. Por todo o estigma passado por depressivos, estes ao menos não tem a sina de “loucos” e “violentos” como, por exemplo, os esquizofrênicos. Termo por sinal que há muito já se naturalizou como insulto. A imagem do esquizotípico é a de uma pessoa violenta e “louca”, dada a surtos e “que houve vozes”. Apesar disso, apenas 5% dos esquizóides tem histórico de violência e, no Brasil, 45% já tentou o suicídio. 10% das mortes de esquizofrênicos no país são por suicídio. Nos EUA, um terço dos moradores de rua são esquizofrênicos. E ainda impera a visão de que os portadores desse tipo de distúrbio são “perigosos” e “devem ser isolados da sociedade”. Bipolares e esquizofrênicos são alvos de violência com uma frequência duas vezes e meia maior que “pessoas normais”.

Da mesma maneira que com depressivos, é esperado que um estes “performem a doença”; quando foi apontado que o traficante Rodrigo Gularte não poderia ser executado pela justiça da Indonésia por ser esquizofrênico, houve quem dissesse que isso era uma mentira por motivos que iam de “é esquizofrênico mas vai pro exterior” à “diz que é esquizofrênico, mas comer cocô não come”.

Os preconceitos contra pacientes psiquiátricos e a ideia recorrente de que estes são “uma ameaça” estão entre as formas de discriminação mais naturalizadas da sociedade. A psicofobia ainda é vista como “justa”, “compreensível” e “aceitável”. Afinal, essas são pessoas loucas e perigosas, quem pode me dizer que não vão matar a qualquer instante? Enquanto isso, contrariando o senso comum, pesquisas na área de psiquiatria apontam que pacientes mentais tem mais chance de serem vítimas de violência do que agressores - e que a maior parte das pessoas violentas não sofrem de doenças mentais. Mas o que se houve, se vê, se lê e se assiste nos cinemas e televisões é que são perigosos, violentos, e uma “bomba relógio” esperando para explodir. Até quando?