sábado, 11 de abril de 2015
sexta-feira, 10 de abril de 2015
Pare de ajudar em casa
Frequentemente, em conversas com amigos, conhecidos e até em
nossos ambientes de trabalho é relativamente comum ouvirmos a frase: “Eu me
preocupo com minha mulher, ajudo bastante em casa”, ou então “Tenho um bom
marido, ele me dá uma mão com as tarefas”.
Então, caro amigo te peço uma coisa:
Por favor pare agora. Pare de ajudar a sua mulher em casa.
Pare de dar uma mão. Apenas pare.
Bom, eu vou explicar o motivo. Nós mulheres somos
constantemente assediadas em virtude dos trabalhos domésticos. Tudo começa na
infância – e a projeção de tudo isso ainda na gravidez – quando somos ensinadas
que vassourinha, fogãozinho e bonecas são brinquedos exclusivamente femininos,
sempre voltados a tarefas e cuidados com o lar.
É claro que ensinar a criança a cuidar de seu próprio lar é
excelente, mas pera lá, nós não somos ensinadas, naturalizamos aquele serviço
como sendo exclusivamente nosso, e a partir daí criamos um processo de aceitação
e de negação da divisão das tarefas do outro:
_É coisa de mulher.
Ainda na infância, perdemos, antes mesmo de entender como
funciona o mundo, boa parte de nosso empoderamento enquanto mulheres, quando
nossos irmãos, primos e vizinhos meninos ganham legos, que estimulam a
criatividade, carrinhos que ensinam todo o processo de lateralidade e diversos
brinquedos que os ensinam a construir, demolir, refazer, desmanchar enquanto são
sempre condicionados a entender que todo o restante do processo de cuidado e
higiene são dados a nós por carma, o carma de ter sido lida pela sociedade
enquanto mulher.
Muitas de nós, ainda na infância aprendemos a lavar, secar,
guardar pratos e louças e no início da adolescência já temos ‘’que aprender a cozinhar se quiser
começar a namorar’’. Nossos sentimentos são condicionados a capacidade de
cuidar de um lar. Nosso vigor sexual está aliado a nossa ‘’sensibilidade’’ e a
capacidade de reprimir nossos desejos em prol do outro. Passamos a adolescência
fazendo enxovais que contém apenas utensílios e roupas para, adivinhem? O
cuidado com o lar.
No chá de panela enquanto na periferia ou nos altos
condomínios as mulheres em sua maioria estão fazendo brincadeiras vexatórias,
vocês homens (em uma relação heteronormativa é claro), estão fazendo despedidas
de solteiro. Em qualquer festa ou atividade que haja no mundo essas analogias
estarão presentes, em algum grau.
Mas você só está querendo ajudar certo? Errado.
Quando você se dispõe a ajudar a sua mulher você está
assumindo seu papel de privliegiado e beneficiando-se dele, tomando-se como um
ajudador e não de divisor de tarefas. As tarefas domésticas precisam ser
dividas de forma igualitária. Você meu amigo homem, não ajuda é casa, você é
tão responsável quanto ela nos afazeres domésticos, nos cuidados com os filhos,
na responsabilidades que necessitem de cuidados de higiene e limpeza fora de
casa.
É preciso que os
homens compreendam que já absorvemos e naturalizamos muitas dessas tarefas. Que
já nos acostumamos a fazer trabalho dobrado no emprego para ser reconhecida
como boa profissional. Que já nos acostumamos a ser a pessoa a fazer o café,
levar o salgado e lavar a louça nas festinhas que tem como objetivo descontrair
e esquecer o ‘’trabalho’’.
É necessário que nossos companheiros, maridos, amigos
entendam que não é natural que eles esqueçam artefatos de higiene, de limpeza,
comidas e outros cuidados. Não é engraçado o marido esquecer a papinha da
criança. Não é nada divertido quando ele deixa a comida queimar. É extremamente
estressante, porque só volta a lembrar que eles ‘’não nasceram pra fazer isso,
e tudo está dando errado porque estão tentando nos ajudar’’.
quinta-feira, 9 de abril de 2015
Para você que é chamado de coxinha, reaça, paneleiro...
POR VANDERSON SOARES
Este blog tem uma grande variedade de escritores e voluntários que todos os dias agraciam o intelecto de seus leitores com textos que refletem a atualidade de Joinville e do Brasil de um modo geral. Às vezes textos ácidos, irônicos, cheios de bons argumentos, que nos fazem pensar em como melhorar nossa sociedade. Uma boa parcela destes escritores são assumidamente de esquerda, outros mais ao centro, nenhum de extrema direita (ainda bem!).
Este
texto vai pender para a direita, mesmo que eu não seja de lá. Esta semana tomei
conhecimento de 2 informações e de um acontecimento que me incentivaram a vir
aqui hoje defender o ponto de vista da classe média:
1) A figura logo ao final deste texto, com uma
publicação de alguém desabafando que gerou milhares de compartilhamentos;
2) Sílvio Santos já foi quem mais contribuiu para o
Imposto de Renda, mesmo não sendo o mais rico do país;
3) Dilma passou, oficialmente, o poder de
articulação política para Temer
Ok, concordo que os 3 pontos são um pouco aleatórios e, talvez, aparentem ser desconexos, mas tem uma íntima ligação, que tentarei expor nas linhas abaixo.
Sobre a classe média. Muitos intitulam-na de coxinhas, reaças, retrógrados e afins. Não sou de direita, sou contra qualquer forma de preconceito, sou contra o ódio e sou a favor da igualdade de possibilidades a todos.
Defendo, em partes, as bolsas que este governo tem dado. Seus incentivos e, principalmente, a abertura do ensino superior para classes que antes tinham muito mais dificuldade para chegar lá.
O que não dá de concordar é que um cidadão de classe média, autônomo ou empresário de pequeno e médio porte seja intitulado dos nomes que falei acima, simplesmente por defender a sua realidade. A figura 1 explica um pouco do ponto de vista que quero defender.
Sem emprego gerado pelas pequenas e médias empresas de pessoas da classe média, não há emprego e assim, aqueles que financiaram sua casa no Minha Casa Minha Vida não poderão pagar suas parcelas. Se não há emprego, não pagarão as parcelas dos carros que compraram com aquela baixa do IPI, não conseguirão pagar as contas de luz que os condicionadores de ar necessitam.
Mas então você quer que os pobres continuem na masmorra e o pessoal da Casa Grande continue com seus benefícios? Não, claro que não. Sou a favor destas medidas, quando acompanhadas de estratégias sustentáveis. Agora, dá-se de tudo para um lado e colocam-se impostos sobre tudo do outro lado. A balança não se equilibra.
O governo, e os principais defensores da esquerda, atacam a classe média por irem contra algumas medidas, mas vejam, é a classe que mais trabalha e que mais produz e que, em troca, apenas recebe mais impostos pra pagar em troca de nada. Coloquei o item 2, sobre o Imposto de Renda do Sílvio Santos, para mostrar como o nossos sistema é incorreto.
No ano em que Sílvio Santos foi quem mais pagou Imposto de Renda ele nem sequer figurou entre os mais ricos do Brasil. Como pode isso? Se o Imposto de Renda é proporcional à renda, como pode o que não mais ganhou, ser o que mais pagou? O PT não estava no poder quando Sílvio foi quem mais contribuiu para o IR, mas não fez nada em seu governo para mudar isso. Continuou a esfolar a classe média e nem sequer mexeu no bolso de quem realmente tem dinheiro para contribuir. Ao invés de por em pauta a taxação das grandes fortunas, preferiu meter goela abaixo impostos para a classe média.
Repito, sou a favor de proporcionar a todos o mesmo ponto de partida. Todos tem direito a educação, saúde e alimentação adequada. Mas não apenas tirar de um lado e colocar no outro, sem pensar na sustentação destes projetos.
Entrando no item 3, quero dizer que Dilma fracassa mais a cada dia. No segundo mandato de Lula e em seu primeiro mandato, só fizeram dívidas, realizaram aquilo que defendiam como sendo o correto, mas não pensaram na continuidade disso. Não tinham cacife pra manter isso tudo.
Ok, concordo que os 3 pontos são um pouco aleatórios e, talvez, aparentem ser desconexos, mas tem uma íntima ligação, que tentarei expor nas linhas abaixo.
Sobre a classe média. Muitos intitulam-na de coxinhas, reaças, retrógrados e afins. Não sou de direita, sou contra qualquer forma de preconceito, sou contra o ódio e sou a favor da igualdade de possibilidades a todos.
Defendo, em partes, as bolsas que este governo tem dado. Seus incentivos e, principalmente, a abertura do ensino superior para classes que antes tinham muito mais dificuldade para chegar lá.
O que não dá de concordar é que um cidadão de classe média, autônomo ou empresário de pequeno e médio porte seja intitulado dos nomes que falei acima, simplesmente por defender a sua realidade. A figura 1 explica um pouco do ponto de vista que quero defender.
Sem emprego gerado pelas pequenas e médias empresas de pessoas da classe média, não há emprego e assim, aqueles que financiaram sua casa no Minha Casa Minha Vida não poderão pagar suas parcelas. Se não há emprego, não pagarão as parcelas dos carros que compraram com aquela baixa do IPI, não conseguirão pagar as contas de luz que os condicionadores de ar necessitam.
Mas então você quer que os pobres continuem na masmorra e o pessoal da Casa Grande continue com seus benefícios? Não, claro que não. Sou a favor destas medidas, quando acompanhadas de estratégias sustentáveis. Agora, dá-se de tudo para um lado e colocam-se impostos sobre tudo do outro lado. A balança não se equilibra.
O governo, e os principais defensores da esquerda, atacam a classe média por irem contra algumas medidas, mas vejam, é a classe que mais trabalha e que mais produz e que, em troca, apenas recebe mais impostos pra pagar em troca de nada. Coloquei o item 2, sobre o Imposto de Renda do Sílvio Santos, para mostrar como o nossos sistema é incorreto.
No ano em que Sílvio Santos foi quem mais pagou Imposto de Renda ele nem sequer figurou entre os mais ricos do Brasil. Como pode isso? Se o Imposto de Renda é proporcional à renda, como pode o que não mais ganhou, ser o que mais pagou? O PT não estava no poder quando Sílvio foi quem mais contribuiu para o IR, mas não fez nada em seu governo para mudar isso. Continuou a esfolar a classe média e nem sequer mexeu no bolso de quem realmente tem dinheiro para contribuir. Ao invés de por em pauta a taxação das grandes fortunas, preferiu meter goela abaixo impostos para a classe média.
Repito, sou a favor de proporcionar a todos o mesmo ponto de partida. Todos tem direito a educação, saúde e alimentação adequada. Mas não apenas tirar de um lado e colocar no outro, sem pensar na sustentação destes projetos.
Entrando no item 3, quero dizer que Dilma fracassa mais a cada dia. No segundo mandato de Lula e em seu primeiro mandato, só fizeram dívidas, realizaram aquilo que defendiam como sendo o correto, mas não pensaram na continuidade disso. Não tinham cacife pra manter isso tudo.
Hoje estamos assim:
- Levy manda e desmanda na
economia, de modo a conseguir pagar o rombo gerado nos últimos anos;
- Eduardo Cunha, do PMDB,
presidente da Câmara dos Deputados;
- Renan Calheiros, do PMDB,
presidente do Senado Federal;
- Michel Temer, do PMDB, Vice
Presidente da República e Dilma, ontem mesmo, deu a ele poderes para
articulação política;
- PT fez coligação com o PMDB para se eleger.
Agora eu te pergunto, você que defende com unhas e dentes o PT, Dilma e Lula. Qual é a sensação de esperar tanto tempo para estar no poder, fazer tudo aquilo que o partido defendia, não conseguir manter, endividar o governo e agora, paulatinamente, realizar uma renúncia branca, entregando o poder assim, oficialmente, ao PMDB, partido que o PT tanto atacou por tanto tempo?
A Ética dos Meios não se aplica na resposta. O PT fracassou e toda a sua história em defesa dos trabalhadores começa a cair por terra, suas teorias não mais são sustentáveis na prática, como diziam ser.
Agora eu te pergunto, você que defende com unhas e dentes o PT, Dilma e Lula. Qual é a sensação de esperar tanto tempo para estar no poder, fazer tudo aquilo que o partido defendia, não conseguir manter, endividar o governo e agora, paulatinamente, realizar uma renúncia branca, entregando o poder assim, oficialmente, ao PMDB, partido que o PT tanto atacou por tanto tempo?
A Ética dos Meios não se aplica na resposta. O PT fracassou e toda a sua história em defesa dos trabalhadores começa a cair por terra, suas teorias não mais são sustentáveis na prática, como diziam ser.
quarta-feira, 8 de abril de 2015
A condição feminina
Desde as manifestações do dia 15 de março, solitariamente tenho pensado sobre a trajetória da condição feminina, a qual envolve uma constante luta pelo rompimento de uma herança patriarcal, cuja transposição de valores seculares em busca da autonomia, revelou ter sido muito custosa e que deixou para sempre um relógio.
Os episódios de ódio manifestados nas ruas por tantas mulheres contra a pessoa da presidente Dilma balançaram minhas tão caras convicções sobre a conquista da autonomia feminina, expulsando-me da zona de conforto adquirida a partir da leitura de décadas de estudos publicados por pesquisadores.
Não estou me referindo à liberdade de se expressar ou participar de manifestações, uma iniciativa que considero legítima. Refiro-me à maneira de como se expressaram, de como se reportaram a uma mulher, independente do cargo que ocupa, que só por isso já deveria haver respeito, uma vez que a presidente representa o Estado.
A linguagem, os gestos, a brutalidade com que palavrões de baixo calão tão facilmente foram proferidos, deixaram-me perplexa porque era surreal cada cena, cada agressão verbal, revelando falta de ética na comunicação, sem contar com a falta de noção sobre política e história. Mas sobre isso prefiro nem comentar neste momento porque muitas delas talvez sejam vítimas de sua própria ignorância. E antes que alguém possa se irritar porque utilizei este conceito, sugiro uma visita em qualquer dicionário para entender que ignorante é aquele que ignora, que desconhece determinado assunto, portanto, não se trata de xingamento.
Envergonhada fiquei ao assistir tanta sandice desrespeitosa. Lembrei da feição do Angelus Novus do quadro de Klee, citado por Benjamin, que tentava se equilibrar diante dos ventos da destruição percebida, da constante catástrofe que o deixavam horrorizado, enquanto que os vencedores entenderam ter conquistado o futuro e que precisavam apenas de reformas para garantir o seu domínio.
Que a dominação masculina é um fato, sabemos. Que esta desigualdade de gênero foi construída historicamente, sabemos. Que as mulheres tiveram uma história de luta para vencer minimamente essa dominação e conquistar espaço no mundo do trabalho, da política, dos direitos, e que para isso muitas perderam a vida, também sabemos. Então, se foi uma luta constante para conquistar direitos e vencer a opressão masculina, se pela primeira vez uma mulher está no cargo máximo da representação política, como explicar que mulheres atacaram desrespeitosamente a pessoa de Dilma Roussef, presidente da República?
Como afirmou Simone de Beauvoir, “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Nessa trajetória de construção de seu ser, ela aprendeu o valor da submissão, da rivalidade, da fantasia. A sociedade lhe reservou um espaço privado, o papel de fêmea e a dependência de um poder masculino que ela aprendeu a admirar e se sentir segura com sua presença. Sustenta ainda a autora, que essa educação permitiu que a mulher desenvolvesse uma relação de solidariedade mecânica, não orgânica onde há a compreensão de um universo de realidades, mas apenas uma parte na qual ela se esforça com afinco para cumprir a função a que está incumbida. “Não somente ela ignora o que seja uma verdadeira ação, capaz de mudar a face do mundo, mas ainda perde-se no meio desse mundo como no coração de uma imensa e confusa nebulosa” (O segundo sexo, p. 365).
Beauvoir, ao escrever este livro, em meados do século 20, analisou a condição feminina no contexto dos valores burgueses. A condição de submissão fez da mulher uma prisioneira de sua própria vida. No entanto, já se passaram gerações, as conquistas são evidentes para além da vida privada, mas talvez o seu espírito ainda se encontre prisioneiro a uma tradição que concebe a figura masculina um sinônimo de segurança, de respeito e, assim, se explica essa atitude inconsciente de fazer xingamentos a uma mulher que não esteja neste círculo de submissão feminina.
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