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Montagem da página Anarcomiguxos III, ironizando o discurso da direita sobre meritocracia |
POR FELIPE SILVEIRA
Findo o processo eleitoral, a discussão política segue mais viva e louca do que nunca. A coisa está tão louca que a direita tá na rua, e olha que nem é no stammtisch. Assim, diante das circunstâncias penso que temos uma tarefa muito importante pela frente, que é jogar duas coisas na fogueira: água e gasolina.
Água no sentido de termos que acalmar alguns ânimos. Sobretudo os golpistas. Não dá pra exigir vergonha na cara desse pessoal, mas dá pra dar uma sacudida e ver se conseguimos trazer alguns de volta pra Terra. Sejamos didáticos e calmos com os próximos, irônicos com outros perdidos e ignoremos os malucos. Que sumam por falta de plateia.
Já a gasolina tem que ser jogada sobre cada movimento e manifestação de oposição ao sistema de opressão que está aí e vai muito além de qualquer governo, embora os governos sejam o braço forte do sistema. Assim, cada pixo, cada texto, cada debate, cada reunião do movimento social ou da associação de bairro, cada fala de resistência se torna, neste cenário, ainda mais significativa.
O mundo é muito tranquilo apenas para alguns poucos. Nós, aqui embaixo, apenas nos acostumamos. Nos acostumamos a trabalhar uma hora a mais, nos acostumamos a morar em bairros cada vez mais distantes, nos acostumamos a demorar mais de uma hora pra chegar em casa num ônibus lotado sem segurança e lugar pra sentar, nos acostumamos a trabalhar algumas horas a mais, a estudar apenas para conquistar uma promoção.
Nos acostumamos a tomar porrada, com o abuso de autoridade, com o assassinato e com a tortura. Nos acostumamos com o racismo, com a homofobia, com o machismo e com a xenofobia. E os reproduzimos. Nos acostumamos a pagar caro e a não ter opção.
Mas, mesmo acostumados, seguimos queimando por dentro, lentamente, até que uma hora estejamos prontos para explodir. E nesta hora coisas importantes podem acontecer. Por isso que a gasolina é importante.