quinta-feira, 16 de outubro de 2014

16 de outubro: comemorar o fim da fome

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
16 de outubro de 2014. Antes de falar neste dia histórico, faço uma recomendação. Não leia se você  você que não está nem aí para a pobreza ou a fome. Ou se acha que no tempo dos senhores emplumados é que era bom. O texto  é escrito apenas para pessoas que se importam. Ou seja, pessoas que são solidárias com os mais fracos e hoje, pela primeira vez na vida, vão poder comemorar o Dia Mundial da Alimentação com a fome estrutural tendo sido erradicada do Brasil.
O fato é que estamos a falar de uma revolução. Porque no Brasil havia uma revolução simples de realizar: fazer com que todos os brasileiros tivessem refeições à mesa diariamente. Muitos não lembram – ou sequer sabem – mas houve um tempo em que ler “Geografia de Fome”, de Josué de Castro, era uma obrigação acadêmica. A fome era uma vergonha nacional. De décadas.
Mas a revolução aconteceu. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) apresentou, há algumas semanas, o seu mapa da fome. E o Brasil não está lá. Ou seja, está a vencer a guerra contra o anacronismo da fome estrutural. É um momento histórico. Mas por que não há grandes reportagens na imprensa? Por que os brasileiros não estão a celebrar? O silêncio é gritante (perdoem o trocadilho).
A notícia foi recebida com indiferença e quase não repercutiu. Talvez por causa da proximidade das eleições e dos interesses específicos. Uns consideram conveniente olhar para o lado e fingir que nada houve. Outros talvez não tenham sabido capitalizar uma notícia tão positiva. Aliás, vi o extremo ridículo: um “jornalista” a culpar o governo por, nos últimos 12 anos, ir “da erradicação da fome à epidemia de obesidade”. Hã!?!?
A notícia é boa, mas o combate à fome não deixa de ser uma prioridade. De acordo com o relatório da FAO, há 3,4 milhões de pessoas (1,7% da população) que ainda não se alimentam de maneira suficiente todos os dias. E saco vazio não para em pé. Mas a saída do Brasil da lista dos países incapazes de prover a segurança alimentar dos seus cidadãos é motivo de otimismo. Até porque permite projetar novas “revoluções”.

O Brasil vive um momento de transição. Vamos esperar pelo veredito das urnas e ver o rumo que o País vai tomar. Se vai investir nas políticas sociais ou se vai trilhar os caminhos neoliberais. De qualquer forma, a revolução do arroz e feijão já aconteceu e agora podemos avançar em direção ao vaticínio daqueles músicos titânicos: “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

É como diz o velho deitado: "A fome é má conselheira".

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Empresário vota no PT?

POR GUSTAVO ANDRÉ GUTZ


Recebi alguns questionamentos nos últimos dias. Um deles foi que era uma incongruência eu ser empresário e nessas eleições estar apoiando o PT. Resolvi elencar alguns dos motivos, sendo alguns ligados à área de Tecnologias da Informação.

1) Pequenas e médias empresas renovaram seu parque de informática utilizando-se da MP do Bem para Equipamentos de Informática (desoneração de impostos) e financiaram via Cartão BNDES em 24 vezes. Hoje tablets, computadores e smartphones são vendidos com isenção de PIS e COFINS.

2) Bancos públicos (Caixa e Banco do Brasil) emprestam dinheiro para compra de veículos e equipamentos, e trocam recebíveis (boletos e compras no cartão) com juros abaixo do mercado. Isso não significa que operam com prejuízo, mas sim que emprestam com juros menos escorchantes que os bancos privados.

3) A fábrica da BMW em Araquari só foi transformada numa realidade porque o Governo Federal editou o pacote INOVAR-AUTO, possibilitando a empresa também se beneficiar da redução de impostos na venda de seus carros.

4) Várias empresas da área de TI receberam aportes do BNDESPAR e puderam aumentar seu corpo local e ainda poder atuar no exterior.

Devido a essas políticas destinadas ao crescimento das micros, pequenas e médias empresas, vejo um futuro ainda melhor com a continuação do governo atual. No debate entre o atual ministro da Fazenda e o indicado por Aécio não vislumbrei nas palavras de Armínio Fraga que essas políticas serão continuadas caso o PSDB vença. Pelo contrário, ele sinalizou a redução da participação dos bancos públicos nos investimentos.

Fontes:
MP DO BEM: http://info.abril.com.br/noticias/mercado/governo-prorroga-mp-do-bem-ate-2014-16122009-42.shl
Cartão BNDES: http://conhecer.cartaobndes.gov.br/
Bancos Públicos: http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2012/07/selic-cai-para-8-ao-ano-e-bancos-publicos-reduzem-taxas-de-linha-de-credito
INOVAR AUTO: http://www.novidadesautomotivas.blog.br/2013/02/bmw-e-habilitada-no-inovar-auto-e.html
BNDESPAR: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Sala_de_Imprensa/Noticias/2013/mercado_de_capitais/20130208_linx.html

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

As pirações políticas.


Violência, postes e cachorros

POR JORDI CASTAN

O Brasil é hoje um dos países mais violentos do mundo. Entre as 50 cidades mais violentas do mundo, quase duas dezenas são brasileiras. Aliás, praticamente todas se encontram no hemisfério sul e em países em desenvolvimento. Assusta o nível de violência a que a sociedade brasileira tem se habituado.

É difícil acreditar que este aumento da violência não tenha uma resposta firme da sociedade. Há uma insensibilidade e uma aceitação desta situação, que ganha corpo a ideia que a violência é irreversível e está fora de controle e por isso o Estado não tem condições ou meios de enfrentá-la.

Não há dia em que a imprensa não noticie algum homicídio, assalto, roubo ou a destruição de patrimônio público. Há uma banalização da violência e isso faz com que a sociedade deixe de reagir e acabe anestesiada frente à brutalidade quotidiana. Como resultado, deixamos de acreditar nas polícias e na Justiça e já nem denunciamos crimes menores Um fato que, entre outras coisas, distorce as estatísticas e falseia dados e indicadores, criando a ilusão de normalidade... até que alguém conhecido seja a próxima vítima.

O Brasil tem mais homicídios por arma de fogo que países como os Estados Unidos, aonde a venda e possessão de armas de fogo é livre. O Brasil tem mais mortos por violência que a maioria de países com conflitos armados declarados, incluindo estados em guerra aberta e isso em quanto o país enfrenta uma situação de declarada "normalidade". 

Saúde, educação e segurança deveriam ser pauta obrigatória em qualquer processo eleitoral. Mas no Brasil estes temas ficam fora de um debate sério. A corrupção, o mau uso do dinheiro público e os escândalos que envolvem figuras públicas, em todos os níveis da administração, fazem que o combate a insegurança e à violência deixem de ser prioridade. Pior ainda. Recentemente foi noticia o caso um aposentado preso por disparar para se proteger, dentro da sua residencia, da ação de um criminoso. Essa história é tão comum no Brasil quanto poste mijando no cachorro.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

BRANCO

POR CHARLES HENRIQUE VOOS


No primeiro turno destas eleições, conforme manifesto feito aqui no Chuva Ácida, votei na candidata do PSOL. Os motivos estão todos expostos naquele texto e pretendo segui-los. Sendo assim, creio que seja o momento de dizer o porquê do meu voto em branco no próximo dia 26.

O voto em Luciana no primeiro turno foi também um voto de protesto contra os três grandes da eleição - Dilma, Marina e Aécio, os quais monopolizaram a maioria dos debates nos últimos meses. São, também, candidatos que não representam uma "nova política". Independente de quem chegasse ao segundo turno, daria no mesmo.

Com a ida de Dilma e Aécio para o segundo turno, chegou a hora de tomar uma posição coerente com tudo aquilo que defendo. É evidente que o voto no PSDB de Aécio representa um retrocesso, não somente pelas lembranças de Fernando Henrique Cardoso, mas também por tudo o que este partido vem fazendo na história recente do Brasil em São Paulo, Minas Gerais, no Congresso Nacional e em Joinville, principalmente. 

Votar no PSDB de Aécio é concordar com o mensalão mineiro, com a falta de água em SP, com o cartel do metrô, com a intransigência da polícia nas áreas de ocupações irregulares, e todo o conservadorismo que marca os parlamentares tucanos em Brasília. Não consigo concordar com isto e nem com a filosofia dos seus aliados: Bolsonaro, Malafaia, Marina, e tantos outros. Puxando para a questão urbana, tema no qual me dedico a anos, votar em Aécio representa aceitar todo o esquema montado pelas grandes empreiteiras em prol dos tucanos nos últimos anos. É sabido sim que, quanto mais uma empreiteira injeta dinheiro em campanhas e em diretórios partidários, mais as cidades são formatadas em prol de interesses empresariais. 

E em Joinville tivemos secretário da saúde do PSDB preso por corrupção.

Somado a tudo isto, não podemos esquecer os 27 motivos para não votar em Aécio, link que faz sucesso na internet. 

Sobre a Dilma, preciso reconhecer todos os seus avanços no combate à desigualdade, combate à fome e à miséria. O Brasil tem políticas públicas reconhecidas mundialmente pela ONU e por entidades reconhecidas no estudo da desigualdade, como a Oxfam. Seria burrice de qualquer cidadão brasileiro não reconhecer este avanço. Por outro lado, e voltando à questão urbana brasileira, o governo Dilma representa o mesmo retrocesso que o seu oponente tucano. 

Os recentes incentivos às indústrias automobilísticas rasgam todos os preceitos estabelecidos no Estatuto das Cidades, juntamente com o que mais moderno vem se fazendo nos países desenvolvidos: a abolição do automóvel e o incentivo aos modos coletivos e/ou aos modos não-motorizados. Para dar suporte ao projeto da Copa do Mundo, o governo petista se aliou às grandes empreiteiras, diretamente interessadas na construção de novos estádios e suas respectivas obras de apoio (avenidas, pontes, infraestrutura para o transporte coletivo, etc). Ao mesmo passo que isso acontecia, milhares de famílias foram despejadas de suas casas sem o devido tratamento (segundo a BBC Brasil, mais de 250 mil pessoas foram afetadas). 

Por manter uma linha de coerência, creio que o ideal para quem defende a questão urbana brasileira seja, sim, o voto em branco. Antes que o leitor mais desavisado possa pensar que esta posição caminha rumo a uma neutralidade, antecipo o engano: é um posicionamento claro de que nem Dilma e nem Aécio me representam. Creio, por fim, que os dois também não representem as verdadeiras necessidades da política urbana brasileira. Independente de quem ganhar, as cidades serão as principais prejudicadas e, em consequência, os seus moradores.