quarta-feira, 9 de julho de 2014

Haters são cascas de ferida


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O leitor e a leitora sabem o que são haters? Se formos traduzir para o português, podemos denominá-los “odiadores”, palavra que sequer vem nos dicionários (mas é só uma questão de tempo). Fácil entender, né? Os caras são produto da revolução digital, que pôs as pessoas em rede – neste caso, em redes sociais – e as suas intervenções são sempre marcadas pelo ódio, em especial quando estão sob o anonimato.

Os haters são insignificantes demais para tratarmos o fenômeno como uma doença social. Tomo a liberdade de chamá-los “verrugas sociais”: desagradáveis, inconvenientes e um tanto asquerosos. Mas inofensivos. O único desconforto que podem causar é o mal-estar da sua desnecessária existência. Não chega a ser um problema, porque são fáceis de extirpar e muitas até desaparecem sozinhos.

O Urban Dictionary, também um produto destes tempos digitais, define o hater como “uma pessoa que simplesmente não consegue ficar feliz com o sucesso de outra pessoa. Então, faz questão de tentar expor uma falha nessa pessoa. Viver do ódio, o resultado de ser um hater, não significa que há inveja. O hater realmente não quer ser a pessoa que odeia, mas apenas tentar rebaixá-la”. Onde foi que vimos isso, anônimos?

Há coisas que denunciam um hater. A primeira delas é que os caras não se reconhecem como haters: como os loucos, que não admitem a própria loucura, os haters nunca percebem o fato de serem movidos pelo ódio. Há mesmo os que chegam ao delírio de pensar que estão a debater. Mas usam sempre o argumentum ad hominem (embora nada saibam de latim, claro). Nunca expõem ideias e limitam-se aos ataques pessoais.

O tratamento dos haters é um tema forte nas discussões internas aqui do blog. Tem gente que prefere descartar as mensagens de ódio e ataques pessoais. Sob esse aspecto tenho sido mais liberal, porque não elimino muitos comentários. Mas não é por ser mais democrático. É por vaidade. Acontece que, na maioria dos casos, os haters atacam pessoas que intimamente admiram. E eu gosto que eles me façam essa massagem no ego.

É como diz o velho deitado: “digital times, pixelated minds”.

terça-feira, 8 de julho de 2014

O critério fundamental

POR FELIPE SILVEIRA

Pensemos no cruzamento da rua Guanabara com a Florianópolis. Seja de onde vier para onde for, o pedestre não tem lugar seguro para atravessar a rua, já que algum dos semáforos sempre sinalizará que uma das vias estará aberta para carros. Pensemos também nos ciclistas que precisam pedalar na rua Procópio Gomes, onde os carros alcançam até 90 km/h, já que não há radares ou redutores de velocidade. Pensemos na rua Kurt Meinert, Monsenhor Gercino ou João Costa, com seus longos trechos com mato no lugar da calçada. Pensemos que os pedestres podem ser nossos avós, e os ciclistas nossos filhos e sobrinhos.

Pensar nas pessoas é o critério fundamental para pensar a coisa pública. Porém, não é essa a impressão que temos ao observarmos certas obras públicas e decisões políticas. Uma mudança no desenho viário, por exemplo, tem que fazer a cidade fluir, mas não pode ferrar a vida do cidadão do bairro. Um parque tem que ser bonito, mas ele tem que ser feito para as pessoas usarem e ocuparem. E nem comento como uma decisão como o aumento de tarifa do transporte coletivo representa uma sacanagem com o estudante e com o trabalhador.

Não podemos esperar, no entanto, que quem tome as decisões atualmente adote este critério. O deles é outro, intocável. O que temos que fazer é tomar as decisões para nós. Tirar esses caras de lá. Parar de acreditar neles. Só a gente vai pensar na gente na hora de tomar as decisões. Nos nossos avós e nas nossas crianças.

Não é tarefa fácil. Nem tem fórmula pronta. Eu, por exemplo, acredito em mudanças gradativas, mas respeito e apoio quem trabalha por algo mais imediato. Porque sei que tanto eu quanto eles pensamos nas pessoas.

Os outros nos convencem a pensar cada vez menos em nós e cada vez mais no limite do cartão de crédito, com aquilo que podemos comprar. Trocamos o sonho pelo consumo, bombardeados diariamente por uma necessidade fabricada.

Precisamos começar a pensar na gente. E mudar.

É possível.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Qual é a maior empregadora de Joinville?

POR JORDI CASTAN

Um Brasil eficiente se constrói desde a sua base. E a nossa base são os municípios. Faz bem o cidadão em estar cada dia mais atento à gestão que se faz dos recursos e dos meios da cidade. 

No caso de Joinville, o foco é - e deve continuar sendo - a administração municipal. É uma cidade em que a Prefeitura emprega diretamente mais de 12.000 funcionários. Isso significa que, grosso modo, de cada 40 joinvilenses um está empregado na administração municipal. O dado por si mesmo não teria maior importância se a população, de forma geral, estivesse satisfeita com a qualidade e a quantidade dos serviços públicos que recebe.

O que se vê, se escuta e se lê nas seções de cartas dos jornais locais é um forte descontentamento com a administração local. Há ainda que se acrescentar a este dado que Joinville é uma cidade industrial, com empresas de porte e padrão internacional, modelo de gestão e de eficiência. E que neste cenário a maior empregadora do município seja a prefeitura é significativo e preocupante. 

Vivemos numa cidade eficiente? Toda a estrutura pública esta funcionando com eficácia? Ou ainda há espaço para melhorar? Se fazemos caso ao que joinvilense manifesta, cada vez com mais afinco e clareza, veremos uma enorme insatisfação com os rumos que Joinville está tomando. O joinvilense está perdendo o medo a criticar a forma como a cidade é administrada. Também são cada vez mais comuns as cartas nos jornais, os comentários em programas de radio e os posts em blogs e nas redes sociais e a tônica é de crítica. E mais: criticas cada vez mais duras, mais consistentes, com conhecimento e bem fundamentadas. Não podem simplesmente ser desconsideradas. 

Um aspecto merece atenção redobrada: o inmenso tamanho da máquina pública que tem se convertido num gigantesco monstro de apetite insaciável, em muitos casos num fim em si próprio. Não há recursos suficientes para satisfazer o Leviatã que não para de crescer descontroladamente e que não responde a nenhum critério de eficiência conhecido e praticado pela sociedade.

O mais curioso é o atual prefeito ter sido eleito, em parte, pela sua imagem de administrador eficiente e com o discurso de trazer para a administração pública os melhores exemplos e conceitos da administração privada. O que está acontecendo? Os problemas econômicos não são escusa, pois as ideias são de graça e saber aproveita-las é a saída. Ou será que esta faltando competência?



sexta-feira, 4 de julho de 2014

60 virou 80

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Há muitos meses venho presenciando uma situação muito alarmante: a velocidade média das principais avenidas da cidade aumentou. Não, isso não ajuda na fluidez do trânsito e nem foi uma medida proposital por parte da Prefeitura. Isto é um reflexo da falta de radares de velocidade nas ruas de Joinville, após o imbróglio envolvendo a licitação para contratação de empresa especializada neste serviço.

É notório que uma parcela significativa dos motoristas anda, agora, sem preocupação pela cidade. Não há mais como passar por um semáforo no sinal vermelho e ser multado, muito menos andar a mais de 60 km/h e receber uma salgada multa pelos correios. Tá tudo liberado. A sensação é de que, nas principais avenidas da cidade, a velocidade máxima permitida passou de 60 km/h para 80 km/h, tamanha a liberdade que os apressadinhos e imprudentes de plantão possuem ao volante. Nas madrugadas a situação piora, e muito.

Quem sofre com esta situação são os pedestres e os ciclistas. Com a alta velocidade, o risco de acidentes aumenta, principalmente nas áreas onde as ciclofaixas não possuem infraestrutura adequada, ou onde a calçada é inexistente. O atrito entre automóveis e pessoas fica mais acirrado. Sinto na pele durante vários dias a dificuldade de atravessar as ruas, visto a grande velocidade dos automóveis. Imagine para as pessoas mais idosas, ou com alguma dificuldade de locomoção...

E, se analisarmos as manchetes de jornais, é comum encontrarmos a cada dia mais atropelamentos, capotamentos e acidentes que dificilmente existiam em ascendente escala na época dos radares. Pode-se concluir, desta maneira, que o radar por si só não é a única ferramenta de conscientização no trânsito, mas ajuda, apesar das constantes críticas sobre uma "fábrica de multas". A falta de controle aliada à má formação e a baixa consciência de coletividade nas entranhas de um mundo cada vez mais apressado, causa problemas urbanos incalculáveis, pois pessoas morrem e a qualidade de vida padece perante os motores aguçados.

A incompetência da atual gestão municipal, a qual deixa uma licitação parada há meses, sem resultados, faz uma simples placa de 60 km/h perder seu efeito, diante das circunstâncias. Os principais eixos viários da cidade precisam ser humanizados, somando-se ao controle de velocidade: calçadas decentes, ciclovias, canaletas exclusivas para transporte coletivo, iluminação pública de qualidade (outro grave problema), arborização e sinalização que organize as condutas dos agentes do trânsito. Cada um destes temas poderia render outro texto, infelizmente, mostrando o quão pobre é nossa cidade quando o assunto é mobilidade urbana.