segunda-feira, 21 de outubro de 2013

É só um esporte...

Lutador Waldburger que ficou desacordado no Octogono e saiu de maca.
POR GABRIELA SCHIEWE
 
Eu pode ria começar dizendo que hoje não falarei de esporte, mas de qualquer outra coisa que você queira chamar esse UFC, ou melhor, MMA.

Neste fim de semana que passou, vimos, mais uma vez, cenas lamentáveis e que são amplamente divulgadas por todas as mídias como sendo o "esporte" da vez.

Esporte, no meu simplorio conhecimento esta diretamente ligado à educação e, no caso em tela, não consigo vislumbrar tal conexão, vez que duas pessoas que se encontram para um disputa em que se pode chegar a agressões físicas muito sérias, afetando sobremaneira a integridade física do oponente e que tal disputa só será penalizada quando um juiz, indicado pela organização, entenda que algum dos oponentes não possua mais condições mínimas de suportar mais golpes, ele irá paralizar a luta ou. quando o próprio envolvido na disputa assim o fizer.

Eu não tenho filhos, mas tenho sobrinhos e confesso que não gosto que estes assistam tamanha violência e, divulgada como esporte, do contrário irão entender que poderão praticá-lo com amigos ou colegas de escola.

Já falei isso aqui algumas vezes, as pessoas tem liberdade de escolher aquilo que irão praticar e como irão nominar isso, agora o que discordo e venho insistindo no assunto é como a mídia tem tratado esse MMA e divulgado como se fosse tudo normal.

Esses dias vi no meu twiter um comentário interessante do @nelsinhoneto que, no MMA não vale dedo no olho, mas o resto vale (já dizia Tim Maia).

Este é o brasileiro Cigano que lutou no UFC 166, neste fim de semana em que perdeu o combate e, assim que terminou a luta foi levado as pressas para o hospital.

A notícia do hospital e de seu empresário é que está tudo bem com ele.

Veja a foto e tire suas próprias conclusões.




Eu realmente financio o governo pra isso?

POR GILMAR DE AMORIM DA LUZ

Nessa semana, em um dia de chuva em Joinville, peguei um ônibus para ir trabalhar. Que ideia medíocre a minha!  Mas, como moro a 10  km do trabalho, fiquei sem opção. Ou era a pé (pela distância é inviável) ou de ônibus. Chegando no Terminal Norte, onde os alimentadores vão para as áreas mais afastadas da cidade, tive que pegar uma linha para o bairro da Zona Industrial Norte, que pelo nome se define como a área de empresas da cidade, e foi ali que comecei a pensar no problema.

Joinville é a maior cidade e o maior pólo industrial do estado de Santa Catarina. Temos empresas dos mais variados setores e nosso PIB sustenta mais de metade do estado com arrecadação de impostos. Temos portos nas cidades ao norte e ao sul que atraem cada vez mais empresas nacionais e estrangeiras a se instalarem aqui. Porém, nosso governo esqueceu que quem faz as empresas funcionarem - essas que tanto arrecadam impostos municipais, estaduais e federais - são os funcionários. Sem eles nada disso funcionaria. No entanto, para estes a cidade oferece trânsito caótico, infraestrutura urbana de péssima qualidade e transporte público do pior nicho.

Alguém pode me explicar como que uma empresa que ganhou a concessão para a prestação de um serviço público não deixa à disposição ônibus o suficiente para a demanda necessária? Parei para contar a quantidade de pessoas que esperavam pela única linha dedicada aos trabalhadores da Zona Industrial, em um único horário (já que o próximo era 25 minutos depois) e haviam mais de 100, sendo que a lotação máxima no ônibus era de 70.

Pagamos caro para um transporte de péssima qualidade, somos tratados como sardinhas dentro de uma lata lacrada e ainda temos que engolir cartazes dentro dos ônibus que temos ônibus novos e frota renovada e que a empresa pensa no cidadão?

A estes questionamentos me deram a seguinte resposta: Compre um carro.

E se eu não quiser comprar?! Tirando o fato não gosto de dirigir, ainda mais no trânsito de Joinville, por ter péssimos condutores, eu seria mais uma vítima de um transporte no qual pagamos caro para usar. Trabalhamos cinco meses (isso, cinco meses!) por ano somente para pagar impostos embutidos em produtos e serviços ao governo para o mesmo oferecer vias de qualidade, transporte de qualidade, educação de qualidade, saúde de qualidade.

Mas não! Temos que pagar para ter um plano de saúde cretino, pagar para ter uma educação meia boca (nossa melhor universidade está na posição 226ª no ranking mundial), pagar quase três reais para ter que passar raiva a bordo de uma lata de sardinha, pagar o carro mais caro do mundo (com R$ 40 mil se compra um Gol Rallye, produzido aqui e com impostos industriais daqui, enquanto em países desenvolvidos esse é o preço de um Camaro. Sim, o mesmo Camaro da música do cara que tá tirando onda num amarelo).

Qual é? O pior de tudo: não basta pagar tantos impostos. Ainda temos que pagar a Receita Federal, um tal de Imposto de Renda (!!!). Seria cômico se não fosse trágico, pois além de ter que pagar imposto na comida, no transporte, na saúde e na educação ainda temos que pagar imposto por estar trabalhando e gerando impostos ao governo.

Sinceramente, achei que com os protestos as coisas iriam mudar, mas mais um vez haviam muitas pessoas movidas por interesses próprios e sem nenhum foco do que pessoas dispostas a fazer algo em prol da sociedade, igualzinho nas câmaras, no Senado e em todo o Congresso. E mais uma vez em minha reflexão percebi que o governo é a cara do povo, desse povo que se diz ser a voz de Deus.

Tirem esse atributo dele (Deus). Pois ele não é ganancioso, corrupto, alienado e não tem o "jeitinho brasileiro" de se favorecer em tudo como o povo que diz ser a voz dele.

Com esse texto que refleti enquanto estava a bordo em um desses ônibus (sim, para alguma coisa passar raiva no ônibus foi útil) deixo a minha pergunta: Até onde iremos assim? Sinceramente, acho que não muito longe.

*Gilmar de Amorim da Luz é técnico de informática e piloto de helicóptero e escreveu voluntariamente para a seção Brainstorm.

Observação do editor: Sabemos que Joinville não é responsável por metade dos impostos arrecadados no estado, mas não quisemos alterar o sentido da fala do autor durante a edição.

sábado, 19 de outubro de 2013

Vinícius e o viagra

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Envelhecer parece ser sempre um trauma. Mas, de qualquer forma, traz coisas interessantes. No meu caso, uma delas é o prazer de ter visto Vinícius de Moraes ao vivo com o seu copo de uísque. Privilégio do pessoal mais rodado. Aliás, só para que saibam, ele estava em Portugal quando a ditadura baixou o AI-5 (coisa que só os da minha geração sabem).

Já escrevi textos e defendi, na academia brasileira ou mesmo portuguesa, uma ideia imprevidente: quem tem Vinícius não não precisa de Platão. É meio metafórico, é meio verdade. Há um filósofo brasileiro que define a filosofia com o ato de ver um palmo adiante do nariz. Vinícius ia mais longe: via um palmo adiante e ainda sentia os cheirinhos das fêmeas. E sabia que nunca houve melhor invenção que a mulher.

Mas agora, quando estamos a falar nos 100 anos de Vinícius, só me ocorre uma coisa. A grande chatice para a geração de Vinícius de Moraes e dos seus contemporâneos é que o viagra ainda não tinha sido inventado. Porque se o viagra existisse, tenho a certeza de que Vinícius ainda hoje andaria por aí a descobrir novas garotas. Em Ipanema ou Enseada.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Apartheid, a gente vê por aqui


POR CLÓVIS GRUNER

Não estou em Joinville para saber da repercussão – se houve – da nota publicada na edição de ontem (17/10), na coluna “Livre Mercado”, do jornalista Claudio Loetz. Nela, o vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos de Santa Catarina (ABRH/SC), Pedro Luiz Pereira, define o perfil ideal do trabalhador joinvilense:

“Em Joinville, considerando-se todos os tipos e portes de empresas, há vagas em aberto para aproximadamente 7 mil trabalhadores. A estimativa é do vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos em Santa Catarina (ABRH-SC), Pedro Luiz Pereira. O perfil ideal do trabalhador procurado é homem, branco, de 25 a 35 anos…”

Não é meu propósito julgar as razões do jornalista para publicar tal declaração sem, ao menos, problematizar seu teor. Trabalhei com Claudio Loetz há um par de décadas – sentávamos a uma mesa de distância na antiga redação de “A Notícia”, quando ainda batucávamos as hoje anacrônicas Remingtons. Enfim, sei de sua competência e retidão profissional; ele sabe o que escreveu e tenho certeza que tem igualmente consciência de suas implicações. Mas nunca é demais lembrar que a tal “objetividade jornalística” pode ser uma armadilha para quem escreve, mas às vezes também o é para quem concede a entrevista.

No seu texto, Felipe Silveira já fez as devidas ponderações desde o ponto de vista do jornalismo. Subscrevo tudo o que disse e, como ele, espero do jornal, do colunista mas, principalmente do autor da declaração, algum tipo de explicação – embora reconheça que nada, absolutamente nada do que ele diga irá desfazer o mal estar, nem tampouco mudar o quadro que sua fala tão bem sintetiza: o de que o racismo e o machismo são parte da cultura empresarial. Disso decorre que a aspirada igualdade de condições no mercado de trabalho tem limites muito claros e definidos: não é todo mundo que pode ocupar qualquer cargo, porque em se tratando dos empregadores joinvilenses, boa formação técnica e experiência profissional não são critérios suficiente.

Se já sabíamos que todos são iguais, mas uns são mais iguais que outros, a declaração de Pedro Luiz Pereira pinta em tons mais berrantes esta realidade. Não se trata, ao menos em Joinville, de convivermos com o fato de que algumas funções de destaque dentro dos organogramas empresariais sejam de acesso exclusivo aos homens brancos (e adultos); o vice-presidente da ABRH nos diz, com todas as letras, que dependendo do empregador a simples aspiração a um posto de trabalho, independente do cargo, é exclusiva de homens brancos e adultos.

UMA INCÔMODA INVISIBILIDADE – Mas se a nota provocou merecida indignação, a afirmação não é uma surpresa. Trata-se de uma invisibilidade que não é recente: basta revisar a historiografia local para constatar a ausência do negro e das mulheres na história da cidade. Se é compreensível – embora não necessariamente justificável – esta falta naqueles trabalhos de cunho mais memorialístico, não se pode dizer o mesmo de um Apolinário Ternes, cujo trabalho sempre alimentou a pretensão de ser uma alternativa aos textos seminais do “seo” Adolfo e da “dona” Ely, e que teve acesso privilegiado às fontes documentais da história local. As mesmas fontes de que se valeram historiadores e historiadoras que, mais recentemente, vem empreendendo um esforço considerável para mostrar que não apenas de homens brancos e adultos se fez a nossa história – e no caso em pauta, lembro e menciono especialmente os trabalhos de Denise da Luz e Janine Gomes da Silva.

Se há ainda quem coloque em dúvida a existência dos preconceitos de gênero e étnico na cidade, faça as contas: quantas mulheres estão na Câmara de Vereadores ou na diretoria da ACIJ? Mesmo morando em Curitiba, soube dos muitos comentários machistas feitos sobre Marinete Merss ao longo da gestão do ex-prefeito Carlito Merss, tudo porque ela nunca se resignou a ocupar o lugar que compete às “grandes mulheres”: ficar sempre à sombra dos “grandes homens”. E o que falar dos dois jogadores do JEC, constrangidos a serem revistados pela polícia porque um delegado achou-os em atitude suspeita? Afinal, eram dois negros com dinheiro, andando de táxi e jantando em um restaurante onde, assim como no mercado de trabalho, a entrada é franqueada principalmente para homens brancos. E se menciono aqui apenas aqueles exemplos mais claros e óbvios, não ignoro que a realidade é tão ou mais dura no que um amigo chamou de “Soweto catarinense”.

Tenho certeza que não faltará quem defenda ou justifique a fala do vice-presidente da ABRH/SC apelando à velha falácia de que ele apenas “expressou a realidade”. Ou pior: haverá quem, como no texto do Felipe Cardoso, publicado aqui no Chuva, argumentará recorrendo a números: se os negros estão em minoria quantitativa, dirão, nada mais “natural” que os empregadores privilegiem os brancos. É uma escolha. Mas ambos os argumentos aproximam-se daqueles utilizados pela maioria dos alemães quando, há quase um século, o Reich decidiu pela perseguição a outras “minorias quantitativas”, judeus principalmente. É a banalidade do mal, já nos ensinou Hannah Arendt, que fomenta a indiferença; e é a indiferença que faz florescer e legitima a intolerância, o preconceito e a violência.

O racismo e o machismo inegáveis de cada dia

Pelo visto, pra essa trabalhadora não tem vaga aqui...
POR FELIPE SILVEIRA

Talvez tenham sido poucos textos, mas não dá pra negar que a luta contra o racismo e a denúncia do quanto ele é presente em Joinville é uma das bandeiras do blog. Eu já escrevi alguns textos e sei que outros articulistas também (Clóvis e Baço, pelo menos). Além disso, tivemos um texto de Felipe Cardoso dos Santos, no Brainstorm, que foi pra lá de comentado e acessado. Da mesma forma, o machismo é tema deste blog.

O que mais me chamou a atenção em todas essas discussões e outras facebook afora foi a recusa que muitas pessoas demonstram de reconhecer que o racismo foi e ainda é muito forte nessa região. Mesmo quando ele é evidente nas propagandas da TV, nas abordagens policiais, nas disputas por emprego e, mais recentemente, nas páginas dos jornais.

Circulou, ontem (17 de outubro), um dos casos mais flagrantes desse absurdo. A coluna Livre Mercado, assinada pelo jornalista de economia Claudio Loetz, de A Notícia, traz a seguinte informação:

“Em Joinville, considerando-se todos os tipos e portes de empresas, há vagas em aberto para aproximadamente 7 mil trabalhadores. A estimativa é do vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos em Santa Catarina (ABRH-SC), Pedro Luiz Pereira. O perfil ideal do trabalhador procurado é homem, branco, de 25 a 35 anos…”

Chega a ser chocante ver essa “notícia” estampada no jornal, mesmo para quem sabe que essas são as condições do mundo real (entenda-se: não estou aceitando essa condição, estou dizendo que todos nós sabemos que o mercado de trabalho é racista e machista). É surpreendente porque houve algum tempo (recente, entre os anos 90 e 2000), em que o racismo não era declarado dessa forma nos jornais. Quem representava alguma instituição tinha algum pudor em falar e escrever esse tipo de coisa.

Diante disso, criei algumas expectativas:

1) Em relação ao público, tenho duas. Primeiro tô curioso pra saber quais serão as desculpas que vão arrumar para o racismo e machismo. Ou melhor, para negar que isso é machismo e racismo. A outra é saber como o público consciente vai lidar com isso. É preciso haver muita reclamação, muito debate, e isso é papel de todos nós.

2) Do jornalista Claudio Loetz, que tenho certeza que é um homem justo, e do jornal A Notícia eu espero uma reportagem sobre o machismo e o racismo no mercado e no ambiente de trabalho. Era isso que devia ser feito assim que chegou a informação à mesa. Era um flagrante, uma reportagem pra cá. Essa é a capacidade que o jornalista tem que ter.

3) Do autor ao qual a fala foi atribuída, Pedro Luiz Pereira, eu espero um honesto pedido de desculpas e ações que visem combater o racismo e o machismo dentro da sua organização, dentro do mercado de trabalho e consequentemente na sociedade.

Combater esses e outros preconceitos, assumir a culpa pelos erros históricos, promover ações para repará-los e não admitir que se repitam é um dever de cada um de nós.


P.S.: Vou falar sobre preconceito geracional em outro texto. Quero ler algumas coisas sobre o assunto antes.