POR CLÓVIS GRUNER
Os temas políticos pautaram o Chuva Ácida ao longo da semana.
Um bom sinal, pois mostra que o blog está a cumprir seu papel, consolidando-se
como um espaço alternativo de informação e discussão em uma cidade onde o
debate de ideias sempre foi irritantemente frágil e a circulação de notícias está praticamente monopolizada por um único grupo empresarial. O texto do presidente
do PT, Írio Correa, comprova isso. Houve choros e ranger de dentes,
comme d'habitude. Bobagem: o Chuva nasceu plural e aberto,
princípio claramente descrito no
post que o inaugurou. Além
disso, as ressalvas a Udo Döhler são justificadas e necessárias, embora não cheguem
a me surpreender: não aprendemos ainda que um sobrenome alemão e uma carreira como empresário não fazem necessariamente um bom prefeito.
Dos mais de 50 comentários contabilizados, o da Maria Elisa
Máximo – ex-colaboradora do Chuva – se destaca. Lúcida, ela cobra do presidente
petista – e, por extensão, do partido – aquilo que o título prometeu,
mas não entregou: autocrítica. Além de apontar a necessidade de uma avaliação
crítica do governo Carlito ainda a ser feita pelos petistas, lista alguns dos
muitos equívocos cometidos ao longo dos últimos quatro anos. Subscrevo todos. O
que ela cobra provavelmente já foi feito internamente, e quem já militou no PT –
como eu – sabe que as tais “autocríticas” podem ser tensas e mesmo traumáticas.
Mas o momento é outro, e uma discussão interna, por exaustiva que tenha sido, não
basta.
Desta vez o PT não está a tratar apenas de mais uma derrota
eleitoral. No pleito de 2012 perderam-se quatro anos de governo certamente por
conta de inúmeros fatores externos – que vão da falta de uma maioria sólida no
legislativo à oposição hostil de boa parte dos meios de comunicação. Mas uma
avaliação séria e madura não poderia deixar de levar em conta os equívocos do próprio
governo e de sua base aliada. O PT tinha a obrigação de dialogar com a
sociedade e especialmente com seus eleitores, e o presidente do partido perdeu
uma ótima oportunidade de começar a fazê-lo.
ASSUMIR OS ERROS – Sei que não é usual políticos criticarem
a si e suas gestões. Se fosse, não teríamos o senador Luiz Henrique ocupando há
anos um espaço privilegiado nas edições dominicais de A Notícia apenas e tão somente
para desfilar seu monumental ego. Mas não é demais lembrar que no caso do PT
joinvilense e de Carlito foram mais de duas décadas de oposição, pleiteando a
oportunidade de governar a cidade. Responsabilizar a oposição e os meios de
comunicação pelo fracasso não é o suficiente – aliás, o partido esperava o que
por parte de uma oposição orquestrada pelo maior inimigo político do
ex-prefeito? E dos comunicadores e veículos locais, historicamente hostis ao
partido? Condescendência e simpatia?
A dificuldade em assumir a cota de responsabilidade já aparecia
na
entrevista que Carlito concedeu no final do ano passado. Segundo ele,
seu único erro foi não ter obtido maioria na Câmara de Vereadores. E chega a responsabilizar Adilson Mariano pela rejeição ao governo. Mas
há de se perguntar: os vereadores da oposição, os meios de comunicação ou
Adilson Marino podem ser responsabilizados pela falta de transparência e pela
dificuldade de diálogo com os movimentos sociais? As estratégicas equivocadas
de comunicação, confiando uma área estratégica do governo, em especial a de um
governo hostilizado pelas mídias e comunicadores, a um grupo despreparado e –
como bem observou a Maria Elisa – muitas vezes covarde, foram escolhas de quem? E pelas alianças espúrias,
o troca-troca partidário, as nomeações tecnicamente duvidosas, quem se
responsabiliza? E pelo apoio a Kennedy Nunes no segundo turno, quando seria
muito mais digno e coerente com a história do partido declarar-se neutro
e liberar os votos de militantes e demais eleitores?
Eu trabalhei na assessoria de imprensa da campanha de 1996,
e lembro como o monopólio do transporte público era um tema fundamental. Foram
quatro anos e absolutamente nada, além do aumento nos preços das passagens, mudou. A gestão petista foi subserviente aos interesses monopolistas exatamente como foram as anteriores e continuarão
a ser a de agora e as que vierem depois, e o transporte público em Joinville segue caro e
ineficiente. Igualmente fundamental era o discurso de valorização e diálogo com
os funcionários públicos, e não foi o que se viu na greve de 2011, quando o tratamento
dispensado ao sindicato e aos servidores foi, mais que arrogante, autoritário.
É ingenuidade achar que o PT um dia voltará a ser o que era.
Ninguém é governo impunemente. Mas o partido precisa decidir o que ele pretende
ser – por exemplo, não dá para se dizer
oposição ao governo mas autorizar
que seus
vereadores se declarem independentes em relação a esse mesmo
governo. Avaliar e aprender com os erros são bons exercícios; eles ajudam a ponderar
e planejar as possibilidades de futuro. Mas, antes, é preciso admiti-los.