POR ET BARTHES
Acha que consegue saltar? Mas uma altura superior a dois metros. E com esta técnica pouco ortodoxa?sábado, 29 de junho de 2013
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Homenagem aos lutadores
POR FELIPE SILVEIRA
O momento é de análise, né? Fora as astrológicas, confusas e apressadas dos primeiros dias, pipocaram na internet, nos últimos dias, algumas mais densas. Eu, particularmente, recomendo a do meu mestre Samuel Lima (foi meu professor de Jornalismo no Bom Jesus/Ielusc antes de ir para a Universidade de Brasília - UnB), publicada no Observatório da Imprensa (aqui), e a da socióloga Marilena Chauí, que dispensa apresentações (aqui). Então, aproveitando o momento, vou fazer a minha também (leiam os deles depois de ler e comentar o meu, por favor).
Sem ser tão denso e um pouco mais personalista, quero antes destacar e parabenizar meus amigos do Movimento Passe Livre (MPL) e de esquerda em geral. Não exatamente por colocar cinco mil pessoas na rua para lutar pelo direito ao transporte coletivo. Quero parabenizar pela luta de quase dez anos aqui em Joinville. Pelas reuniões com apenas três pessoas. Por não terem “arregado” depois de ser preso e de perder emprego por causa da luta. Por terem sido expostos de maneira violenta na TV por apresentadores retardados. Por terem familiares perseguidos por capangas de vocês sabem quem.
Foram muitos os sacrifícios dessa galera e aqui citei só alguns exemplos. Porém, durante a semana pensei muito nisso. Queria encontrar os amigos para dizer isso, dizer que o sacrifício deles foi muito importante para o que está acontecendo e para o que vai acontecer. Quem ler isso aqui vai saber se é pra si ou não. Destaquei o papel desses caras no começo do texto porque também faz parte da análise.
Apesar de comemorar os resultados até aqui, essa luta está apenas começando. O tema passou a fazer parte da pauta, para a população e para o governo. E falta a mídia fazer a sua parte também. Acredito, no entanto, que o movimento em prol do direito de ir e vir e contra a exploração do transporte público sai muito fortalecido.
Não acredito que o movimento anti-corrupção e outros do tipo saiam da mesma forma dessa luta. Eles pegaram carona e vão descer no primeiro ponto. Até porque a corrupção não é algo que tenha exatamente uma solução. A pauta anti-corrupção, em si, não existe. Algumas medidas podem atenuar, mas o buraco é bem mais embaixo.
Já o movimento em prol do transporte verdadeiramente público, gratuito e de qualidade depende de ações e de coragem. E eu volto aqui a destacar a coragem de todos que estão nessa luta há anos, principalmente aqueles que fizeram e fazem grandes e pequenos sacrifícios por isso. Esse post é apenas uma homenagem pra vocês e um desejo de boa luta na que vem pela frente.
quinta-feira, 27 de junho de 2013
PEC 37. Não há o que comemorar.

Depois daquela cena toda que vi na noite de terça-feira no plenário da Câmara dos Deputados, tive uma certeza. O povo gosta mesmo é do espetáculo.
Sim, por mais que todas essas manifestações tragam um quê de indignação, fica claro que o povo estava só esperando uma amostra da competência dos nossos representantes. E eles responderam bravamente.
Mas a verdade é que essa pauta não será a salvação para o fim da corrupção. Aliás, o arquivamento da PEC 37 não vai fazer nem cócegas nesse assunto.
A sensação é que foi uma vitória acachapante contra a corrupção, mas a realidade é que tudo ficou como já estava. Ou seja, o poder de investigação criminal não é exclusivo da Polícia Federal, nem do Ministério Público. Aliás, o Ministério Público nunca teve essa prerrogativa. Para ter essa legitimidade terão que regulamentar isso ainda, através de um projeto de Lei Complementar (parece que já está tramitando no Congresso).
O Congresso, que de bobo não tem nada, precisava dar uma demonstração de que entendeu o recado das ruas e pegou uma das principais reivindicações para mostrar que está alinhado com o povo. E por que escolheram bem a PEC 37? Porque a PEC 37 poderia ser arquivada sem danos para ninguém.
Não mudou absolutamente nada, nem mudaria se fosse aprovada, pois certamente o MP não deixaria de investigar, como hoje já faz sem nenhuma determinação constituinte para isso. A Constituição assegura ao MP a possibilidade e o dever de acompanhar a investigação da polícia. Na prática as coisas são assim: a polícia investiga. o MP acusa, o advogado defende e o juíz ou juri julga.
Eu fico me perguntando porque o povo abraçou com tanta força essa causa. Na verdade tudo não passava de uma disputa entre delegados da Polícia Federal e promotores do Ministério Público. Daí veio um lobby gigantesco intitulado PEC da Impunidade. Aliás, quem foi o marketeiro gênio que pensou nisso? E mais ainda, quanto será que custou essa campanha da PEC da Impunidade? Camisetas, panfletos, parafernalhas. Quem pagou? Quem poderia investigar isso?
Mais do mesmo, fico com a sensação de que o povo finge que exerceu sua cidadania, o Congresso finge que trabalhou alinhado com a opinião pública, a imprensa finge que fez seu papel esclarecedor e o gigante finge que acordou!
E agora, José?
POR CLÓVIS GRUNER
Não pensei em nenhum teórico ou cientista político em especial nestas últimas duas semanas; foi Drummond quem me ocorreu. Nos primeiros dias, ainda eufórico com as manifestações, lembrei de “Mãos dadas” e de sua resistência muito gauche em ser o “poeta de um mundo caduco”. À medida que a semana e as dúvidas avançaram, lembrei de “José”, aquele sem nome, que zomba dos outros, que ama e protesta, que marcha sem saber ao certo o porquê ou para onde.
Ainda é cedo para fazer um balanço das manifestações sem correr o risco de ser desmentido pelas ruas. Se a história é um conhecimento provisório, ainda mais efêmera é uma história que tenta apreender o agora, o tempo presente. Assumido o risco, rascunho algumas considerações acerca dos desdobramentos mais imediatos de uma movimentação que, iniciada para reivindicar a revogação de aumentos nas passagens do transporte público, extrapolou em alguns poucos dias sua demanda original. Do que li e ouvi, três temas me chamaram especialmente a atenção. De um lado, o temor que se espalhou principalmente pelas redes sociais, de que a mobilização popular estaria a ser manipulada para forçar uma crise institucional com vistas a uma tentativa de golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. Na esteira da tal ameaça golpista, discutiu-se exaustivamente o caráter difuso e disperso das mobilizações, sua falta de rumo, a ausência de um “foco” e, por fim, a tão propalada “guinada conservadora”. Mas como diria Jack: vamos por partes.
ALGUÉM VIU UM GOLPE POR AÍ? – Um espectro rondou parte da esquerda nos últimos dias:
a mobilização, principalmente virtual, em torno ao “Fora, Dilma!”, interpretado
por muitos como indício da gestação de um golpe a comprometer nossa ordem
democrática e institucional. Houve quem, inclusive, compara-se as manifestações
à “Marcha da família com Deus pela liberdade”, resposta de uma classe média
conservadora, já aquela época cansada, ao que considerava uma ameaça comunista
urdida nos gabinetes do governo João Goulart. Embora acredite que não sejam
poucos os setores que certamente festejariam um golpe e a deposição
de Dilma Roussef – basicamente, os mesmos cansados de sempre – não acredito
que estejamos à beira de um. O golpe é paranoia de
petistas que, desacostumados com as ruas, agora as temem, confortavelmente
sentados em seus gabinetes e bibliotecas. Aliás, vale registrar que não lembro
de nenhum dos agora alarmados governistas acusando golpismo quando a UNE foi às
ruas e, portando faixas e cartazes com “Fora FHC”, pediu o impeachment de um
presidente também eleito democrática e legitimamente.
O contexto era outro e a UNE não
contava com o apoio da imprensa e da mídia? Vá lá. Mas ainda acho que a
esquerda institucionalizada e governista superestima o poder das mídias
tradicionais. Apesar dela e da verdadeira campanha de ódio movida contra Lula,
por exemplo, ele se reelegeu em 2006 – em plena crise do chamado “Mensalão” –, elegeu Dilma
em 2010 e Haddad prefeito de São Paulo no ano passado, apesar da ampla
e oportuna cobertura midiática do julgamento do “Mensalão”. Além disso, e apesar das
muitas ressalvas ao pronunciamento da presidenta, até onde minha memória
alcança esta foi uma das primeiras vezes que um mandatário se dirigiu à nação em um momento de crise usando coerentemente as prerrogativas do cargo: Lula
teria colocado uma camiseta do MPL, um boné do MST e organizaria um comício;
FHC chamaria os manifestantes, assim como os aposentados, de vagabundos; Itamar
Franco aproveitaria o barulho para tomar um chopinho ao ar livre com os estudantes. Dilma falou como presidenta, o que pode não significar muita coisa
a médio e longo prazos (não há, afinal, garantias de que será cumprido tudo o que foi anunciado), mas serviu, naqueles dias, como uma resposta oficial –
e insisto no “oficial” – às demandas das ruas. Sobre a convocação de um plebiscito para a reforma política, proposta apresentada pelo governo depois de recuar da constituinte, há ainda muito a esclarecer.
UMA DEMOCRACIA SEM PARTIDOS – Falou-se demais, a meu ver, sobre as
muitas “caras” das manifestações, a falta de foco e de objetivos claros, sobre quem
se apropriou de que e com que fins. Ora, essa dispersão não é apenas um traço intrínseco
às democracias, mas é em grande medida uma resposta a um crescente
distanciamento entre o governo e os movimentos sociais. Pode-se acusar e mesmo ridicularizar a presença de grupos e
indivíduos de direita, a levantar bandeiras genéricas, quando não mesmo
oportunistas – nas redes sociais criou-se, para designá-los pejorativamente, a designação“coxinhas”.
Mas não se pode perder de vista que nos últimos anos as políticas e decisões do
atual governo, via de regra, foram tomadas unilateralmente, não raro
contrariando e negligenciando reivindicações de parcelas significativas da sociedade. Se
a opção de Lula foi incorporar muitas das demandas sociais à esfera do Estado,
com o que isto acarreta de bom e ruim, a de Dilma foi simplesmente virar-lhes
as costas, recusando reconhecer a legitimidade dos movimentos sociais como interlocutores
do governo.
Como o governo, também os partidos
políticos foram colocados em xeque. Em sua defesa, não faltou quem afirmasse que
não se constroi uma democracia sem partidos. Pode ser. Mas também não se
constroi uma democracia apenas com eles, nem se a consolida quando a maior
parte dos partidos já não representa as vontades e demandas de um número
expressivo de cidadãos: hoje, no Brasil, a maioria dos partidos se encontra tão
distante da dinâmica e da realidade das ruas e dos movimentos sociais, que os eleitores não apenas
se veem incapazes de diferenciar uns e outros, como não se sentem
representados pela maioria deles. É o caso de aboli-los? Não. Mas torço para
que as manifestações dos últimos dias não apenas os obriguem a
repensarem sua relação com os cidadãos, marcada quase sempre pelo oportunismo
eleitoreiro. Mas, principalmente, torço para que a energia das ruas sirva para
fortalecer mecanismos mais diretos de participação democrática, criando e qualificando novas alternativas para o debate público.
O AVANÇO CONSERVADOR – Em 2010, durante o segundo turno das
eleições presidenciais, um amigo me perguntou o que eu achava do clima tenso daqueles dias. Respondi algo como: “estamos em
uma guerra. Não chegou o momento do enfrentamento, mas eu não tenho
dúvidas que estamos em uma guerra”. Ainda
não tínhamos Malafaia nem uma tal psicóloga cristã a espumar o ódio contra as
minorias, gays em especial; ainda não tínhamos Marco Feliciano na presidência
da Comissão de Direitos Humanos e Minorias; foi antes da desocupação de
Pinheirinho; da militarização dos morros cariocas; foi antes de Belo Monte e da
violência crescente contra as comunidades indígenas. Mas havia alguma coisa no
ar, e não eram aviões de carreira.
Uma ex-orientanda me chamou a atenção para o equívoco conceitual e histórico de falar em um “avanço fascista”, preferindo a ele o termo “conservador”. Concordo. E tal avanço existe? Acho que sim. Ele é novo? Acho que não. Ele já estava por aí há três anos, quando praticamente todo o debate eleitoral do segundo turno foi pautado pela agenda conservadora e assistimos a candidatura de José Serra e o PSDB aderirem aos grupos fundamentalistas, ao passo que Dilma Rousseff e o PT se mostravam incapazes de oferecer uma alternativa verdadeiramente progressista. Temerosos de confrontar os grupos religiosos, Dilma e o PT sinalizavam já o rumo que o governo tomaria depois da candidata eleita. Sejamos francos: se se pode responsabilizar em grande medida José Serra e o tucanato pela força política que tem hoje estes grupos; se eles começaram a história, Dilma e o PT não são menos responsáveis, porque a continuaram.
O que assistimos nos últimos dias não é, a meu ver, fato novo. O avanço conservador chegou às ruas, o que o torna mais visível e certamente mais ameaçador, porque ele traz consigo a intolerância, o autoritarismo e o ódio, além da violência. Mas ele não apareceu agora, nem é uma invenção ou consequência da movimentação das últimas semanas. A tendência agora, acredito, é o paulatino esvaziamento das manifestações. Pautas conservadoras e oportunistas não sobrevivem e prosperam, menos porque incapazes de encontrar ressonância, e mais porque ir às ruas depende de capacidade de mobilização e esforço, o que não é exatamente a especialidade da nossa direita, ainda muito cansada. Além disso, os movimentos e reivindicações sociais não podem viver apenas em função de passeatas: se há temas que pedem a ocupação das ruas, há aqueles que precisam encontrar ou construir outras alternativas de mobilização.
Por outro lado, a retomada da
“normalidade” não significa, necessariamente, o fim do enfrentamento, que
continuará a se dar por outros meios, também nas ruas, mas não apenas nelas. Afinal,
não estamos mais em 2010, e agora temos Malafaia e aquela psicóloga a estimular
o ódio; uma bancada evangélica que elegeu Marco Feliciano à presidência da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias; tivemos a desocupação de Pinheirinho;
a militarização dos morros cariocas; temos Belo Monte e a violência crescente
contra as comunidades indígenas. Temos uma direita raivosa e ressentida e um
governo refém do monstro que ajudou a criar. Se eu acreditava que em 2010
estávamos em uma “guerra fria”, acho que a partir de agora é necessário
estarmos prontos para os muitos enfrentamentos que virão.
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