POR FELIPE SILVEIRA
Danilo Gentili é um idiota. Não é recalque, não é falta de interpretação da piada e muito menos uma tentativa de censurar certo tipo de humor. Sou favorável a todos. O problema é que não é humor. É algo sem graça e que, quando arranca risadas, é pelo preconceito, pelo ódio, pelo racismo. A definição perfeita, pra mim, é a que li em um texto do Leandro Fortes publicado no site da Carta Capital:
“Não é um programa de humor, porque as risadas que eventualmente desperta nos telespectadores não vem do conforto e da alegria da alma, mas dos demônios que cada um esconde em si, do esgoto de bílis negra por onde fluem preconceitos, ódios de classe e sentimentos incompatíveis com o conceito de vida social compartilhada.”
Bom, ele falava do CQC, mas cabe bem ao Gentili e ao Rafinha Bastos, que eram as estrelas do programa no seu início e partiram pra projetos solos por razões distintas. Um pelo sucesso, outro pela “rejeição”.
Danilo Gentili tem, agora, um programa de entrevista. Imitação do Jô, que também é ruim, diga-se de passagem. E, assim como o Jô, faz política com seu microfone. Política travestida de piada, de comentário “inocente”, de espaço privilegiado e bolas levantadas para uns e perguntas difíceis para outros. Sustentando, assim, o status quo do poder, do privilegio, do preconceito, da violência.
Na noite de quinta-feira (28), Gentili entrevistou o deputado federal e pastor Marco Feliciano, alvo de protesto de todo o mundo civilizado por presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Sendo que essa comissão luta, justamente, para que a opinião de Marco Feliciano sobre tudo não prevaleça. Porque a opinião de Marco Feliciano faz mal.
Contrariando o velho conselho, deu-se ouvidos aos idiotas. Assim como o CQC sempre deu espaço ao Bolsonaro. Não é sem propósito. Não é à toa que programas de “humor” sejam a plataforma ideal para esses sujeitos. O programa de humor não tem o compromisso do jornalismo. Ele pode perguntar se o deputado é gay, pode tirar o deputado do sério com trocadilhos, porque ele não tá nem aí para a resposta do deputado. Ele quer a piada, e não a resposta.
Para o jornalismo o que importa é a resposta, e por isso é preciso fazer a pergunta certo. Para o humor o que importa é a piada, e ela se encerra no momento da pergunta. Pode dizer que é jornalismo, que só eles têm coragem de certas coisas, mas não é. E tá muito longe de ser.
Enquanto Gentili faz a pergunta-piada, InFeliciano dá a resposta que quer. Dá a sua tola versão para justificar o seu preconceito, o mal que faz. O público ri, ainda sob efeito da piada.