sexta-feira, 29 de março de 2013

Um idiota entrevistando outro


POR FELIPE SILVEIRA

Danilo Gentili é um idiota. Não é recalque, não é falta de interpretação da piada e muito menos uma tentativa de censurar certo tipo de humor. Sou favorável a todos. O problema é que não é humor. É algo sem graça e que, quando arranca risadas, é pelo preconceito, pelo ódio, pelo racismo. A definição perfeita, pra mim, é a que li em um texto do Leandro Fortes publicado no site da Carta Capital:

“Não é um programa de humor, porque as risadas que eventualmente desperta nos telespectadores não vem do conforto e da alegria da alma, mas dos demônios que cada um esconde em si, do esgoto de bílis negra por onde fluem preconceitos, ódios de classe e sentimentos incompatíveis com o conceito de vida social compartilhada.”

Bom, ele falava do CQC, mas cabe bem ao Gentili e ao Rafinha Bastos, que eram as estrelas do programa no seu início e partiram pra projetos solos por razões distintas. Um pelo sucesso, outro pela “rejeição”.

Danilo Gentili tem, agora, um programa de entrevista. Imitação do Jô, que também é ruim, diga-se de passagem. E, assim como o Jô, faz política com seu microfone. Política travestida de piada, de comentário “inocente”, de espaço privilegiado e bolas levantadas para uns e perguntas difíceis para outros. Sustentando, assim, o status quo do poder, do privilegio, do preconceito, da violência.

Na noite de quinta-feira (28), Gentili entrevistou o deputado federal e pastor Marco Feliciano, alvo de protesto de todo o mundo civilizado por presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Sendo que essa comissão luta, justamente, para que a opinião de Marco Feliciano sobre tudo não prevaleça. Porque a opinião de Marco Feliciano faz mal.

Contrariando o velho conselho, deu-se ouvidos aos idiotas. Assim como o CQC sempre deu espaço ao Bolsonaro. Não é sem propósito. Não é à toa que programas de “humor” sejam a plataforma ideal para esses sujeitos. O programa de humor não tem o compromisso do jornalismo. Ele pode perguntar se o deputado é gay, pode tirar o deputado do sério com trocadilhos, porque ele não tá nem aí para a resposta do deputado. Ele quer a piada, e não a resposta.

Para o jornalismo o que importa é a resposta, e por isso é preciso fazer a pergunta certo. Para o humor o que importa é a piada, e ela se encerra no momento da pergunta. Pode dizer que é jornalismo, que só eles têm coragem de certas coisas, mas não é. E tá muito longe de ser.

Enquanto Gentili faz a pergunta-piada, InFeliciano dá a resposta que quer. Dá a sua tola versão para justificar o seu preconceito, o mal que faz. O público ri, ainda sob efeito da piada.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Secos e Molhados


O cão matou a criança. Vamos matar o cão?


O cão Zico está à espera do abate
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Hoje proponho um teste à sua capacidade de encarar dilemas e vou usar um caso que está a dividir opiniões aqui em Portugal. E sem mais delongas, vamos logo à apresentação dos fatos.

A coisa aconteceu na cidade alentejana de Beja. No início do ano, um cão pittbull matou uma criança de 18 meses. O cão pertence à família e o avô disse que a criança entrou na cozinha com a luz desligada e, ao tropeçar, caiu sobre o cão, provocando a agressão do animal. A família não apresentou qualquer queixa às autoridades.

Mesmo assim a polícia decidiu intervir e, segundo a lei, nesse tipo de situação o pittbull deveria ser abatido. As autoridades pegaram o bicho e levaram para um canil, onde ficaria até o momento do abate. Só que nesse ínterim os defensores dos direitos dos animais entraram em campo para impedir o abate do pittbull, que atende pelo nome de Zico.

O pessoal lançou uma petição online, que hoje tem mais de 60 mil apoiantes, e surgiram páginas de apoio ao cão no Facebook. Além de evitar o abate, também é pedido um tratamento digno para o aminal: “Sabemos que até ao final do processo, provavelmente o Zico não poderá sair do canil. No entanto, vamos tentar que ele possa pelo menos ser passeado e conviver com pessoas e animais (dentro do canil)”, diz a autora de uma página no Facebook.

Mas o que me levou a escrever este texto foi o fato de ter lido os comentários lá no Facebook. A discussão está acesa entre os que querem o abate e os que pretendem salvar o cão. Os argumentos são quase sempre os mesmos, mas tem muita gente a dar o seu pitaco.

O QUE VOCÊ ACHA? Você é a favor ou contra o extermínio do animal? Sendo de uma raça considerada perigosa, talvez essa fosse a solução mais sensata. Mas também devemos considerar o argumento de que não há cães violentos, apenas donos irresponsáveis. E isso permitiria poupar a vida do animal para reeducá-lo.

E agora passo a bola para o seu lado, leitor e leitora. Ah... mais um argumento para interferir na sua decisão. A mãe do menino morto disse que há mais de um ano pensava no abate do animal, por não ter condições de o sustentar. E você, leitor e leitora, de que lado está? 



quarta-feira, 27 de março de 2013

Por onde andam as humanas?


POR DOUGLAS LANGER

É com facilidade que ouve-se falar de Joinville como uma cidade industrial.

Boa parte dos moradores da cidade dedica sua vida às empresas do ramo presentes na região.

Aos estudantes, aqueles futuros filósofos, sociólogos, etc, sinto informar que, infelizmente as universidades da região buscam oferecer cursos que saciem os desejos da indústria.

Tudo é uma grande dialética, as universidades de carácter particular (que têm em sua essência a busca pelo lucro, o que é inegável) oferecem cursos que lhe tragam capital. As grandes empresas por sua vez, necessitam de força de trabalho capacitada para seu melhor funcionamento.

Como resultado, está lá o cadáver das ciências humanas em Joinville.

A sua possível salvação, o ensino público, mais precisamente, a esplendorosa universidade federal, vem a galope montada em uma tartaruga (provavelmente manca).

A consequência é a cidade afundada em um abismo de descaracterização do operário, do próprio estudante, enfim do cidadão enquanto ser humano e o seu travestir de ferramenta descartável, de número, de estatística. Ainda neste abismo está o desinteresse pela cultura, pela ética, pela política, e afinal, por si próprio.

Seria digno de piada (e de inocência), o fato de esperar que alguma universidade privada decida implementar na sua grade de curso, esta pobre vítima da falta de reconhecimento, a filosofia.

Seria um grande salto, se por um devaneio de uma destas instituições de ensino superior, em meio a essas matérias exatas, algumas interesseiras, positivistas, oferecessem a filosofia, tímida, porém presente, amedrontadora, desafiadora, presunçosa, disponível aos cidadãos.

Aos que veem um horizonte melhor, uma realidade melhor, que se recusa a participar da eternização da realidade atual (ajudando aos que deveras gostariam da realidade pausada no agora ou no século XVIII).

Aos que se recusam a aceitar esse entretenimento como arte. Aos que estão inquietos pelas constantes questões levantadas explicitamente ou ocultamente em si, em seus atos, ao seu redor, em fim, em todas as coisas e lugares.

Enquanto o momento da volta da filosofia, sociologia, não chega, aconselho a seus filhos, os pensadores, a lutarem por elas, pela sua valorização, pela sua construção aqui, em Joinville, ou comodamente, calar-se e ouvir o ranger de dentes, frequentes já hoje.

Douglas Langer é estudante de filosofia por insistência, rebelde com causa e mais um desses madrugas (segundo o liberalismo e seus familiares).

Tirando o pé do acelerador

POR FABIANA A. VIEIRA
Depois de uma semana instalada em Brasília já aprendi a primeira lição: atenção ao limite de velocidade. A cidade está repleta de pardais e em alguns trechos a velocidade permitida é 40 km/h. Ainda não presenciei nenhum acidente, mas já ouvi falar de coisas bárbaras originadas pelo excesso de velocidade aqui. Coincidentemente hoje saiu uma reportagem de Joinville dizendo que o número de multas por excesso de velocidade cresceu 15,18% de 2011 para 2012, segundo dados do Ittran, originando 63.178 multas aos apressadinhos.

Não sei até onde a aplicação de multas educa a sociedade para a conscientização da paz no trânsito. Na real, não educa. Em Brasília, por exemplo, são mais de 800 equipamentos de fiscalização eletrônica instalados, o que dá uma média de um para cada 1.698 carros. O número de pardais é maior do que o estado de São Paulo, que possui uma frota cinco vezes maior. Em Joinville são 40, com expectativa de aumentar para 100.

Mas já que a indústria existe, façamos a limonada. Como prevê o artigo 320 do Código de Trânsito Brasileiro, parte do dinheiro arrecadado deve ir para programas de educação (o código obriga que a verba deve ser aplicada exclusivamente em sinalização, engenharia de tráfego, policiamento, fiscalização e educação no trânsito). Em Joinville essas campanhas estão geralmente voltadas às crianças, como o programa Aluno-guia, por exemplo. Na minha opinião o Aluno-guia é um belo programa, mas há de se planejar novas campanhas educativas focando principalmente no público alvo, que são os motoristas. Taí uma boa tarefa para o pessoal da comunicação pensar, porque fala sério, fazer campanha para criancinhas é muito bonito, mas pouco eficiente para a solução do problema.

Talvez uma ideia seja ampliar o programa para adolescentes que estão prestes a fazer a carteira de habilitação e que veem na velocidade e no automóvel a identificação de poder, habilidade e status. A campanha deve envolver mais esses jovens, seja em debates, palestras, filmes, outdoors, propagandas na TV, peças de teatro e o que a criatividade permitir. Mesmo dentro da escola seria legal um bom bate-papo com os alunos para desmistificar a cultura do Carro x Poder na nossa sociedade. Outra alternativa é pensar mecanismos de comunicação para interagir efetivamente com os adultos. Conforme o diretor de trânsito de Joinville, a educação de adultos é mais complexa, difícil de mudar o comportamento. Ou seja, a tarefa não é mesmo fácil.

Pesquisando pela internet dá pra conferir belas campanhas educativas que ajudam a refletir sobre a paz no trânsito. Essa abaixo é do Rio Grande do Sul e foi veiculada no ano passado. Eu não sei qual o percentual do montante é destinado para essas campanhas, mas eu sei que elas são importantes e devem ser melhor aplicadas para sensibilizar os motoristas a tirar o pé do acelerador.