POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Se eu quisesse escrever um livro
para ganhar dinheiro, não teria dúvidas: seria um livro de
auto-ajuda. Por quê? Ora, porque há por aí um monte de gente que baba na
gravata e anda louquinha para acreditar em qualquer besteira que se escreva. Há
uma espécie de
paulocoelhização da vida.
O que isso significa? Ora, muitas
pessoas acreditam que os problemas mais complexos podem ser resolvidos apenas
com frases feitas. É só ler esta que roda aí pelas redes sociais:
- Quando você quer alguma coisa,
todo o universo conspira para que você realize o seu desejo.
Viu como é fácil? É só desejar.
Ok… mas faz anos que eu desejo o fim do conflito do Darfur, uma vacina
para a AIDS, uma melhor distribuição de renda no planeta
e, claro, acertar na loteria do Euromilhões. E o que acontece? Nada. Parece que
o universo conspira ao contrário. Mas…
- As decepções,
as derrotas, o desânimo são ferramentas que Deus utiliza para mostrar a estrada.
Ah… como não percebi isso antes?
As prateleiras das livrarias estão infestadas dessas inutilidades que são os livros de auto-ajuda. E quanto mais flagelam a inteligência, maiores chances têm de se tornar bost-sellers. A fórmula dos textos é simples, simplória mesmo: é só usar uma linguagem bobinha, otimista e prometer soluções quase mágicas para obter riqueza, saúde, amor, felicidade ou até bom sexo.
- Uma vez feita a escolha é
preciso seguir adiante e confiar no seu
próprio coração.
Os livros de auto-ajuda são
escritos para os bovinos da classe média-mediana, pessoas
aparentemente educadas que na verdade não passam de analfabetos funcionais.
Os textos são alienantes e falam de um mundo sem dissenso, sem
política e, claro, sem sinal de
inteligência. É um mundo de
aluados, com mais ou menos dinheiro, para os quais os
problemas do mundo se resolvem com pensamento positivo. Se eu desejar
muito, eu consigo.
- Escuta o teu coração. Ele
conhece todas as coisas. Pois onde ele
estiver é onde está o teu tesouro.
O segredo do sucesso desse tipo de
obra (e aqui "obra" vem do verbo "obrar") é não exigir
muito do leitor. Tudo deve ser feito sem qualquer esforço, a começar pela
leitura do livro, que precisa ser rápida, fácil e sem qualquer coisa
que cheire a complexidade. O que esses livros pedem? Para ter uma
atitude mais positiva em relação à vida. Manter a mente focada apenas
nas coisas boas. Enfim, a típica lenga-lenga para dormitar pangarés.
- Todos os dias deus nos dá um
momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico
é o momento em que um "sim" ou um "não" pode mudar toda a
nossa existência.
É o que vivo a repetir. A única maneira de ficar rico com os livros de auto-ajuda é escrever
um. E acreditar que há tolos suficientes para fazerem dele um
bost-seller.
P.S. – As citações deste texto
foram tiradas da internet e, ao que parece, são de autoria do escritor
Paulo Coelho. Não tenho certeza: já tentei ler o cara, mas não aguentei.