POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Quando li que o
rio Cachoeira tinha ficado vermelho – e sabendo da origem do vazamento da tinta – fiquei a
pensar: isso vai ter repercussões na corrida para a prefeitura. Achei mesmo que
o incidente ia complicar a vida de Udo Dohler, cuja candidatura insiste em não decolar. Imaginei protestos de ambientalistas, eleitores a exigirem ações do poder
público e os opositores a apontarem o dedo ao candidato. Pensei mesmo num
Cachoeiragate.
Ok... confesso que
tinha uma curiosidade pessoal. Enquanto marketeer fiquei tentando imaginar as decisões do gabinete de crise de Udo Dohler. Um monte de gente reunida, avaliando os danos para a candidatura, as medidas para evitar o desgaste
da imagem, os timings das decisões (gestão de crise foi uma das cadeiras que
mais gostei na universidade). Mas a montanha pariu um rato. Puf!!! Foi como se
nunca tivesse acontecido.
É preciso deixar
claro que Udo Dohler tem pouca coisa a ver com o acidente. Até porque acidentes,
como o próprio nome diz, são imprevistos. Mas estamos a falar de política. Então, era natural que o caso tivesse causado alguma mossa na sua candidatura. E o silêncio em torno do assunto permite levantar algumas teorias:
1. A comunicação
dos opositores é fraquinha.
2. É cedo para abrir as hostilidades. Como a
candidatura Udo-Coelho ainda não assusta, o pessoal decidiu não levantar a
lebre para não dar tempo de antena.
3. Os políticos
são todos compadres e ninguém quer bater em ninguém.
4. E, por fim, a
mais provável: ninguém se importa se o Cachoeira muda de cor. É que o rio já
teve o seu atestado de óbito assinado há muito tempo e não há gente disposta a
acender velas para esse defunto.
É triste, mas parece
que ninguém liga para o rio. É só lembrar que o Cachoeira foi sendo poluído
durante décadas, enquanto as pessoas tapavam o nariz e assobiavam para o lado.
Aliás, li um relatório que analisava a incidência de coliformes fecais num
trecho específico: a medida de referência era o máximo de 20 mil e o rio tinha um
valor total de 3 milhões (NMP/100ml). Que merda! Aliás, não deixa de ser uma triste ironia: parece
que os cidadãos só se preocupam com o Cachoeira quando ele provoca enchentes.
O fato é que os
temas ecológicos não mobilizam as massas. Ou você lembra de algum político que
tenha caído em desgraça por desrespeitar a natureza? O eleitor é chegado mesmo
num escândalo sexual. Bill Clinton acende o charuto com a estagiária na Sala
Oval. O povão se liga. Itamar Franco aparece ao lado da modelo sem calcinha. O
povão se liga. Lugo espalha a semente por todo o Paraguai. O povão se liga. O
rio ficou vermelho. Ninguém quer saber.
Não tem
Cachoeiragate para esquentar a campanha. Então, vamos ter que esperar por algum acontecimento que os eleitores levem a sério. Afinal, nas últimas eleições aprendemos que o simples gesto de pedir material de escritório emprestado pode afundar uma candidatura.