
POR AMANDA WERNER
“Quando eu era criança, não tive Blackberry,
Iphone, Ipad, eu brincava de esconde-esconde, polícia e ladrão...” Você já
leu este texto na internet? Não precisa ver na internet. Costumamos ouvir em
outros canais observações semelhantes: antigamente era melhor. O que, para
alguns, é quase um mantra.
Há muitas pessoas da minha idade venerando as
músicas dos anos oitenta – melhor fase da música! Como alguns o dizem. E,
presos à vitrola do passado, ouvem as novas músicas já na defensiva, sem se
permitir gostar.
Outros afirmam que vivíamos com mais qualidade
antes. E fico aqui me questionando, como poderia uma vida repleta de
preconceitos de todo o tipo, desigualdade racial e entre sexos, uma vida sem
internet, e nem ar condicionado, ser melhor do que a que vivemos hoje?
As pessoas eram mais felizes? Não sei, hoje existe
o Prozac. E antes, não tenho certeza de que a depressão era tão facilmente
detectada, e nem se havia tantos recursos para o tratamento.
Parafraseando Paulo Leminski, morria-se
praticamente de tudo. E tudo era melhor antigamente?
Mas o que nos faz olhar o passado com lentes de
algodão-doce? Talvez estejamos misturando o conceito de melhor com memória
afetiva. É muito fácil associar a juventude, onde tudo era novo e belo, com a
música que estava tocando no momento, ou com a época política que o país
atravessava. Mas estar preso à lembranças bonitas, ainda significa que você
está preso.
O mundo não era um lugar melhor antes. O risco de
acharmos que nada supera o que já passou, é que este pensamento pode
influenciar fortemente a maneira como tomamos decisões e passamos os nossos
dias. E, nos aprisionando no passado, negamos a plenitude que a vida nos
oferece.
Não é errado nos lembrarmos com carinho do que já
passou. Mas não significa que o que passou é o melhor. Boas coisas já foram
feitas, mas inúmeras outras virão. É só se permitir. E, como já disse um autor
desconhecido: feche a porta, mude o disco, limpe o armário. Deixe de ser quem
era, passe a ser quem é.