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terça-feira, 29 de abril de 2014

Trabalhar dá muito trabalho


POR JOSE ANTÓNIO BAÇO

Gente, estes últimos dias têm sido muito bons. É que aqui na terrinha tivemos dois feriados nas duas últimas semanas e amanhã vem outro (para todos nós). Que crise, que nada. Têm sido tempos de relax, de dolce far niente e de manter o cérebro a vadiar. Mas acontece que cabeça vazia é a oficina do diabo. Aliás, foi São Jerônimo quem avisou, por outras palavras:

       - Trabalha em algo, para que o diabo te                                encontre sempre ocupado.

Mas em meio a essa malemolência toda, Batman e Robin, os meus dois neurônios bêbados, ficaram a ter ideias estranhas. 
-       Huuummm. O trabalho é aquela coisa chata que acontece no meio da diversão.

Bem... a esta hora imagino que haja leitores e leitoras a torcer o nariz e a me chamar de vagabundo (pode ser, mas sou um vagabundo que trabalha muito). E não deixa de ser irônico que as pessoas nunca questionem o trabalho, que em outros momentos da história já foi visto como uma maldição, uma vergonha. É só lembrar que os nobres, antes da queda do feudalismo, tinham pavor a pegar no duro.

O leitor sabe, por exemplo, de onde surgiu aquele hábito dos ricos, que esticavam o dedo mindinho sempre que seguravam uma xícara? Era um forma de mostrar que eram diferentes dos trabalhadores que, por terem as mãos grossas e calejadas do trabalho, não conseguiam estender o tal dedinho. Viu? Cabo de enxada também é cultura.

UM DEFUNTO NA SOCIEDADE - Para que o leitor não fique aí a imprecar contra a minha pessoa, não sou apenas eu a questionar o trabalho. E apresento aqui um excerto de um texto de Paul Lafargue, genro de Karl Marx (o velho barbudo, por sinal, achava que a emancipação do homem viria justo pelo trabalho):

-       Uma estranha loucura se apossou das classes operárias das nações onde reina a civilização capitalista. Esta loucura arrasta consigo misérias individuais e sociais que há dois séculos torturam a triste humanidade. Esta loucura é o amor ao trabalho, a paixão moribunda do trabalho.

Aliás, Lafargue relembra que o trabalho foi um castigo de Deus, com aquela coisa do “suor do teu rosto”. Não concorda? Pois fique a saber que há opiniões piores. E atuais. O Grupo Krisis, por exemplo, diz que o trabalho é um defunto que domina a sociedade.

-       A produção de riqueza desvincula-se cada vez mais, na sequência da revolução microeletrônica, do uso de força de trabalho humano - numa escala que há poucas décadas só poderia ser imaginada como ficção científica. Ninguém poderá afirmar seriamente que este processo pode ser travado ou, até mesmo, invertido. A venda da mercadoria ‘força de trabalho’ será no século XXI tão promissora quanto a venda de carruagens de correio no século XX.

Os homens do Krisis pegam pesado. E dizem também que “quanto mais fica claro que a sociedade do trabalho chegou a seu fim definitivo, tanto mais violentamente este fim é reprimido na consciência da opinião pública”. Ooops!

Não adianta. Esqueçam essa coisa de pleno emprego, porque é sol de pouca dura. Quem viver verá.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Continuo a não gostar de Daniela Mercury


Na internet, imagem  compara Daniela e Joelma

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
É legal ver a Daniela Mercury assumir uma relação homoafetiva. Mas isso não vai fazer com que eu comece a gostar dela. Nem da pessoa e nem da música. E digo isso mesmo sabendo que, com o anúncio dessa relação, ela virou uma espécie de queridinha da esquerda e da semi-esquerda.

Que fique clara a minha posição. Homo ou hetero, acho ótimo que as pessoas assumam as suas paixões. E que não cedam aos preconceitos dos homofóbicos, porque em civilização as pessoas devem mandar no próprio corpo e exercer a própria sexualidade sem tabus. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Não gosto de Daniela Mercury. E a birra vem desde 2006, quando ela fez uma turnê por Portugal e começou a insistir na tecla política. O que incomodou? É que foi tudo muito gratuito e deliberado. Parecia mesmo que ela estava a tentar arranjar manchetes de jornal. Ninguém perguntava sobre política, mas ela respondia. Aliás, escrevi sobre isso no AN.

A ideia com que fiquei: ela estava a passar uma imagem muito feia do Brasil.  Ah... o alvo era o então presidente Lula da Silva, que disputava a reeleição. Numa entrevista ao jornal Correio da Manhã, ela disse que “é muito importante que os brasileiros não votem em Lula da Silva, como punição por tudo o que aconteceu nos últimos anos. Não me cansarei de o pedir aos meus conterrâneos, em todos os meus shows”.

E antes que a Reaçolância se assanhe, quero dizer duas coisas: 1. ela tem o direito de não gostar do ex-presidente; 2. ela também malhou em Fernando Henrique Cardoso. O problema, volto a repetir, é que o seu discurso depreciativo serviu para pintar um quadro muito feio do Brasil. Quem acompanhou as notícias ficou com a ideia de que o país é uma república das bananas, uma terra em lei.

Cheguei mesmo a suspeitar que fosse uma estratégia de marketing. Afinal, não vamos esquecer que ela já andava numa espécie de ocaso artístico. Aliás, agora que assumiu uma relação com outra mulher não duvido que a sua carreira vai ganhar um novo fôlego. Já vi uma pessoa a dizer que nunca ligou para a música dela, mas agora ia ficar mais atenta. Acontece.

MINHA ESPOSA - Tem outra coisa para a qual pouca gente ligou mas que me provoca comichão. É o uso da expressão “minha esposa”. Sem querer iniciar uma discussão linguística, o fato é que esposa é uma palavra cheia de significado ideológico, que vem da sociedade do macho e aponta para a mulher feita para crianças, cozinha e igreja (os três “k” de Karl Marx: kinder, küche, kirche).

A palavra esposa aponta para a mulher submissa. E é uma forma encontrada para tentar anular a mulher sexuada, capaz de reivindicar a autonomia, a autodeterminação e o direito ao orgasmo. Pode ter sido apenas um deslize linguístico de Daniela Mercury, mas também pode ser um sintoma de conservadorismo.

Por fim. Ela assumiu uma relação homoafetiva? Perfeito. Ela é agora um nome a ser usado pelos opositores de Marco Feliciano? Perfeito. Ela representa o oposto dessa idiota chamada Joelma? Perfeito. Mas não vou nesse oba-oba. Enquanto ela não mostrar que tem consistência política, com ações que inspirem confiança, continuarei com um pé atrás.

Como já disse um velho professor: abrir as pernas é facil, abrir a mente é outra coisa.

P.S. Por favor, você que é homofóbico, não entenda isto como uma adesão à sua posição. Porque estou muito longe disso.