POR JOSE ANTÓNIO BAÇO
Gente, estes últimos dias têm sido muito bons. É que
aqui na terrinha tivemos dois feriados nas duas últimas semanas e amanhã vem
outro (para todos nós). Que crise, que nada. Têm sido tempos de relax, de dolce far niente e de manter o cérebro a vadiar. Mas acontece que
cabeça vazia é a oficina do diabo. Aliás, foi São Jerônimo quem avisou, por
outras palavras:
- Trabalha em algo, para que o diabo te encontre
sempre ocupado.
Mas em meio a essa malemolência toda, Batman e
Robin, os meus dois neurônios bêbados, ficaram a ter ideias estranhas.
- Huuummm. O
trabalho é aquela coisa chata que acontece no meio da diversão.
Bem... a esta hora imagino que haja leitores e leitoras a
torcer o nariz e a me chamar de vagabundo (pode ser, mas sou um vagabundo que
trabalha muito). E não deixa de ser irônico que as pessoas nunca questionem o
trabalho, que em outros momentos da história já foi visto como uma maldição,
uma vergonha. É só lembrar que os nobres, antes da queda do feudalismo, tinham
pavor a pegar no duro.
O leitor sabe, por exemplo, de onde surgiu
aquele hábito dos ricos, que esticavam o dedo mindinho sempre que seguravam uma
xícara? Era um forma de mostrar que eram diferentes dos trabalhadores que, por
terem as mãos grossas e calejadas do trabalho, não conseguiam estender o tal
dedinho. Viu? Cabo de enxada também é cultura.
UM DEFUNTO
NA SOCIEDADE - Para que o leitor não fique aí a imprecar contra
a minha pessoa, não sou apenas eu a questionar o trabalho. E apresento aqui um
excerto de um texto de Paul Lafargue, genro de Karl Marx (o velho barbudo, por
sinal, achava que a emancipação do homem viria justo pelo trabalho):
- Uma
estranha loucura se apossou das classes operárias das nações onde reina a civilização
capitalista. Esta loucura arrasta consigo misérias individuais e sociais que há
dois séculos torturam a triste humanidade. Esta loucura é o amor ao trabalho, a
paixão moribunda do trabalho.
Aliás, Lafargue relembra que o trabalho foi um
castigo de Deus, com aquela coisa do “suor do teu rosto”. Não concorda? Pois
fique a saber que há opiniões piores. E atuais. O Grupo Krisis, por exemplo,
diz que o trabalho é um defunto que domina a sociedade.
-
A produção de riqueza desvincula-se cada vez mais, na sequência da
revolução microeletrônica, do uso de força de trabalho humano - numa escala que
há poucas décadas só poderia ser imaginada como ficção científica. Ninguém
poderá afirmar seriamente que este processo pode ser travado ou, até mesmo,
invertido. A venda da mercadoria ‘força de trabalho’ será no século XXI tão
promissora quanto a venda de carruagens de correio no século XX.
Os homens do Krisis pegam pesado. E dizem também que “quanto mais fica
claro que a sociedade do trabalho chegou a seu fim definitivo, tanto mais
violentamente este fim é reprimido na consciência da opinião pública”. Ooops!
Não adianta. Esqueçam essa coisa de pleno emprego, porque é sol de pouca dura. Quem
viver verá.