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segunda-feira, 17 de julho de 2017

Joinville é uma cidade governada pelo achismo



POR JORDI CASTAN

Alguém realmente acredita que quando foi alterada a circulação frente ao Mercado Público, os decisores sabiam o que faziam? Ou que, quando da aprovação da LOT, alguém apresentou os estudos técnicos que avalizem as decisões tomadas pelos técnicos do extinto IPPUJ, da Câmara de Vereadores e dos próprios vereadores? Ou do aumento escandaloso da COSIP?


Os prazos de execução das obras públicas, os custos dos projetos ou a falta de relação entre o projetado e os resultados alcançados são exemplos de ignorância supina. E fica a pergunta: por que Joinville não levanta cabeça?

Com certeza há muitas razões para que Joinville esteja no atoleiro em que está metida. Uns dizem que a cidade anda em círculos. Outros que anda para trás, como os caranguejos. A verdade é que a cidade não sobrevive à comparação com cidades próximas em muitos quesitos, como segurança, mobilidade, qualidade de vida, saúde ou qualquer outro que utilizemos.

Assumo o risco de ser simplista demais, de reduzir o debate a um único critério. Mas mesmo assim vou propor uma análise sobre o processo de decisão municipal. É importante esclarecer que este processo de decisão e de tomada de decisão não é novo. Vem sendo praticado faz décadas e o resultado é que sem estudos, sem informações precisas e sem conhecimento adequado, as decisões tomadas pelos gestores municipais são puro achismo. 

O resultado não é o previsto, porque Joinville está cada dia pior. Um gestor precisa tomar decisões a cada dia. E, grosso modo, podemos dizer que há três processos que envolvem a forma de decidir. 

1. Há decisões das que sabemos os resultados. Esse é o jeito melhor e mais simples de tomar decisões. Se solto a bola que tenho na mão ela cairá no chão, não tem erro. O resultado da decisão é conhecido e não é preciso ser um Isaac Newton para saber.

2. Há aquelas em que os resultados são desconhecidos, mas as probabilidades são conhecidas. Em esse caso há um risco inerente à decisão que estamos tomando. É como entrar num casino e apostar, pois sabemos quanto estamos apostando e quais as probabilidades. Não há surpresas e não há resultados que possam ser alterados por uma terceira pessoa.


3. Finalmente há aquelas em que os resultados são desconhecidos, assim como as probabilidades. Isso é incerteza. É não saber o que vai acontecer como resultado das decisões que acabamos de tomar. É essa incerteza a que tem pautado as decisões tomadas em Joinville e que estão  transformando a cidade no que é hoje.

Os gestores acreditam que tomam suas decisões baseados no segundo modelo. Mas o fato é que estão prisioneiros do terceiro modelo, o da incerteza. Porque acham que estão tomando as decisões a partir do conhecimento as probabilidades, mas na verdade não as conhecem. Porque as ignoram, não têm a menor ideia de qual será o resultado e tampouco das probabilidades envolvidas.

Joinville poderia até se desenvolver se as decisões fossem tomadas a partir do risco, se houvesse um coeficiente de risco e os nossos gestores e os técnicos que os subsidiam e os abastecem com informações corressem riscos, riscos calculados, riscos conhecidos, riscos que a cidade pudesse correr.


Mas Joinville está gerenciada desde a ignorância, desde o desconhecimento, desde o mais puro achismo.  A cidade segue à deriva comandada por uma tripulação sem bússola, sem cartas náuticas e por comandantes que insistem teimosamente em sinalizar o rumo da barca sem conhecimento e guiados pela pertinaz ignorância. Por isso Sêneca esta mais atual que nunca: “Não há bons ventos para quem não sabe aonde vai”.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Há uma certeza: Joinville está no atoleiro do qual é difícil sair


POR JORDI CASTAN
A certeza nos apequena. São as duvidas que nos desafiam e nos fazem crescer. Pode estar aí uma boa explicação para o momento atual que vive Joinville. A cidade está apequenada, desnorteada, sem saber para onde ir, nem como sair do atoleiro em que está metida. O desenvolvimento de qualquer cidade é dinâmico, as mudanças constantes e surgem a cada dia situações que não existiam antes.

O novo é desconhecido. E, por princípio, o administrador público deve trabalhar a partir do que conhece para resolver o que não conhece. Joinville não é diferente de qualquer outra cidade. Seu crescimento desordenado é o resultado das certezas dos seus dirigentes e não das suas incertezas. A persistência em manter modelos conhecidos, mas ultrapassados, impede o desenvolvimento e o aprendizado. A teimosia, neste caso, tem um efeito perverso sobre a cidade e os cidadãos.

O bom administrador é aquele que tem a humildade de reconhecer que não sabe. O administrador certo de que tem todas as respostas é o que tem maior possibilidade de cometer mais erros. Porque isso o impede de escutar, refletir e, a partir deste ponto, aprender. É evidente que conviver com a ideia de “não saber” não é tarefa fácil numa sociedade que valoriza em excesso a segurança das certezas. A humildade permite reconhecer o que não sabemos. A arrogância faz o contrário, pois quem acredita que tudo sabe acha que não precisa aprender.

Isso explica por que políticos precisam recitar, com inventivo fervor e frequência insuportável, slogans curtos com que apregoam as suas certezas. Precisam mostrar que “sabem”, transmitir as suas certezas aos eleitores. E com este pouco que sabem, têm o suficiente para se lançar a administrar cidades e países. A verdade dessas pessoas está reduzida as poucas frases feitas que são recitadas diariamente. Não querem e não podem ser confrontados com informação divergente, porque são incapazes de lidar com dúvidas e incertezas e arrogantes demais para reconhecer a sua própria ignorância.

O risco desta estulta certeza é o de não entender que a sociedade para crescer e se desenvolver precisa colocar em dúvida suas certezas, de forma constante. O conhecimento que não provoca novas ideias e não abre novas perspectivas fenece rápido. É preciso manter a tensão que provoca o desenvolvimento. Viver num mundo de certezas representa um risco letal para uma sociedade.

A Joinville dos últimos anos parece estar submersa nesta espiral de certezas e ter perdido a capacidade de aprender. Neste quadro, a única certeza é a de que se reconhecermos que “não sabemos”. Ou, ainda, que as propostas apresentadas não são as únicas possíveis. Que pode haver outras melhores, mais econômicas e mais fáceis de implantar que as atuais. Isso pode nos levar mais longe que nos manter estultamente aferrados às nossas certezas.