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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Meninos não choram

POR CLÓVIS GRUNER
Um edital de concurso público que selecionará 16 cadetes para a Polícia Militar do Paraná virou notícia nacional na segunda (13). É que entre os critérios da avaliação psicológica, responsável por analisar se os candidatos têm o perfil adequado para a função, aparecia “Masculinidade”, entendida como a “capacidade de o indivíduo em não se impressionar com cenas violentas, suportar vulgaridades, não emocionar-se facilmente, tampouco demonstrar interesse em histórias românticas e de amor”.

Ainda segundo o edital, a “masculinidade” do candidato ou da candidata – já que, ironicamente, a seleção é aberta também a mulheres – deveria ser apresentada em grau maior ou igual a regular. Com a repercussão, a PM paranaense decidiu retificar o edital, substituindo o critério por “Enfrentamento”, descrito mais sucintamente como a “capacidade de o indivíduo em não se impressionar com cenas violentas, suportar vulgaridades e de não emocionar-se facilmente”.

Em “História das lágrimas”, a historiadora francesa Anne Vincent-Buffaut mostra como um certo padrão de masculinidade é forjado e naturalizado principalmente ao longo do século XIX. Em substituição ao aristocrata dos séculos anteriores, de quem se esperava, além de alguma vaidade, a capacidade de externar sentimentos, o homem burguês do oitocentos é duro, frio e refratário às emoções.

Não se interessar por “histórias românticas e de amor”, leituras por demais femininas, era parte desse novo padrão de masculinidade, talhado para um espaço público representado como um lugar de disputa e de constante concorrência. Mas essa associação obtusa entre masculinidade e agressividade, ainda que grave, me parece o menor dos problemas. Mais delicada é a concepção de polícia que ela revela e, por consequência, aquilo que o governo espera dos novos policiais.

Precariedade e desumanização – Nesse sentido, tão significativa e preocupante como a “masculinidade”, é a baixa exigência para critérios como “Amabilidade” (“Capacidade de expressar-se com atenção, compreensão e empatia (...) buscando ser agradável, observando as opiniões alheias, agindo com educação e importando-se com suas necessidades”); “Liberalismo” (“Capacidade de abertura para novos valores morais e sociais”) ou “Busca por novidades” (“Capacidade de vivenciar novos eventos e ações”), por exemplo.

A rigor, o edital de agora reverbera a intenção, que não é nova, de que policiais militares sejam focados em seguir comandos sem considerar a natureza da ordem – como, por exemplo, massacrar docentes e discentes em praça pública: em 2012, ao rejeitar a exigência de curso superior para ingresso na PM, o governador Beto Richa associou a formação universitária a um possível aumento na insubordinação. Estamos a falar de um governante que já manifestou inúmeras vezes seu desprezo pela educação, mas sua fala encontrou resistência mesmo entre alguns oficiais.

Não se trata, obviamente, de uma concepção restrita ao governo paranaense. O modelo militarizado, herança da ditadura e consagrado pela constituição de 1988, é um dos responsáveis pela criação de uma das mais violentas polícias do mundo. Uma truculência, inclusive, que não se traduz em resultados: apesar dos gastos exorbitantes em segurança pública – em 2016 foram 81 bilhões de reais investidos –, seguimos assistindo a escalada enorme das muitas formas de violência.

A policial é uma delas. E não há sinais de recuo, entre outras coisas porque os governos e muitos eleitores, além de um certo candidato, esperam da polícia que ela defenda, principalmente, a segurança do Estado e promova uma guerra constante contra direitos e liberdades que deveria, justamente, garantir. A desumanização dos policiais, que começa com os baixos salários e as condições precárias de trabalho, e se desdobra na exigência de que se comportem como sociopatas, não é acaso ou deslize. É um projeto.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Aos professores, o meu abraço e solidariedade

POR SALVADOR NETO

Não há como deixar de se indignar com tamanha violência da polícia militar do Paraná na repressão ao movimento democrático dos professores daquele estado, cenas que vimos mais em redes sociais, sites e blogs noticiosos alternativos. 

Mais do que se indignar, é preciso repudiar, denunciar, cobrar providências imediatas de autoridades competentes contra essa vergonha que lembra os tempos da ditadura militar no Brasil! Senhor governador Beto Richa (PSDB), deputados estaduais do Paraná, vocês envergonham o país!

Será que o “jeito de governar” do senhor Beto Richa advém dos conhecimentos que aprendeu nos bancos escolares nas escolas paranaenses? Os professores incutiram em sua mente que bater é melhor que educar? Espancar é melhor que ensinar? Tocar cachorros ferozes e atirar em pessoas indefesas fez parte do seu currículo escolar? Todos os deputados estaduais paranaenses foram “formados” por professores para enganar o povo e votar contra seus interesses?

Outra questão: será que na escola que Beto Richa e seus deputados estaduais, secretários, assessores, puxadores de saco estudaram o mantra foi “mentir é melhor que assumir?” A sociedade paranaense aprova e dá apoio à repressão militar violenta quando há um manifesto descontentamento contra atos e ações de governo que desejam, à base de cassetete, bala de borracha, gás lacrimogênio, cães raivosos, calar reivindicações justas contra retirada de direitos de uma categoria fundamental para essa mesma sociedade?

E o que dizer da mídia nativa, defensora da casa grande e senzala, que insiste em esconder descaradamente os atos violentos, ditatoriais e ilegais do governador Beto Richa, seus secretários e deputados estaduais, buscando manobrar a massa e opinião pública contra os “perigosos” professores que educam, orientam, formam e amam seus alunos? Outra vergonha que necessita ser denunciada permanentemente. Nossa mídia casa grande e senzala é também outra vergonha, pois omite, manipula e esconde fatos, criando outros fatos para o consumo dos incautos cidadãos.

Só para lembrar os digníssimos leitores do Chuva Ácida: enquanto se preenchem horas e horas, centímetros e centímetros de jornais, espaços digitais importantíssimos para a boa informação dos cidadãos, outros temas correm livremente sem a devida cobertura e denúncia. Que interesses movem grandes mídias a “não olhar” para tais temas com o vigor que merecem? A quais objetivos essas medidas atendem?

Vejam: matérias como a terceirização que acaba com os direitos dos trabalhadores duramente conquistados com a CLT; o fim da marcação obrigatória nos rótulos de produtos transgênicos; o aumento de verbas dos parlamentares, os desvios de função de recursos públicos entre outros temas fundamentais, passam sem qualquer “berro” da sociedade, inerte, abobalhada e alienada por meios de comunicação que não tem interesse público, mas interesses dos seus públicos como base para as pautas diárias.

Senhor Beto Richa, governador do Paraná, senhores secretários de Estado, senhores deputados, e assessores flagrados aplaudindo a barbárie cometida contra os professores, esses sim cidadãos respeitáveis, vocês devem desculpas públicas aos mestres. Vocês tem duas opções: ou pedem desculpas e se redimem por seus atos ao povo paranaense, em destaque aos professores, ou renunciem aos seus mandatos e cargos.
Quando o homem público desonra a categoria que o formou, qualificou e preparou para a vida, o caminho é fazer um mea culpa, mudar atitudes e atos, e reformar o caminho. Caso contrário, prestará um grande serviço a uma categoria fundamental para a formação do povo, e também para a sociedade se “pedir para sair”. 

Senhor Beto Richa, governador do Paraná e seus deputados estaduais, peçam para sair! Toda a honra e toda a glória aos valorosos professores do Paraná e também aos policiais militares que, ao se negarem a bater nos mestres, mostraram que aprenderam na escola que professor merece valor.