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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Verde em Joinville: agora tem... agora não tem mais



POR JORDI CASTAN
Etienne P. Douat, leitor fiel deste espaço, me intimou a escrever sobre o verde urbano. Não vou aqui discorrer sobre dados e estatísticas para dizer que temos pouco verde. Mas vou me socorrer de dados apresentados pelo engenheiro agrônomo Gilberto P. Gayer, outro leitor deste blog, para quem os indicativos de referência de área verdes existentes são questionáveis.
Para o IBAMA/FATMA seria de 8 m² por habitante (indicativo usado para calcular as áreas verdes previstas nos licenciamentos ambientais de loteamentos e condomínios).
Já a Organização Mundial de Saúde (OMS) indica um mínimo de 12m² por habitante, mesmo sem ser clara a metodologia aplicada para chegar a este número.
“De qualquer forma, adotando o que a OMS define, em Joinville deveríamos ter um mínimo de 6 milhões de m² de área verde. 
Há quem diga que temos algo próximo de 80 m² por habitante, o que seria espantoso.
Porém, se considerarmos os mangues, rios, margens de baías e lagoas, cumes de morros e encostas mais íngremes, todos estes já são garantidos por lei federal (por enquanto).
Acrescenta-se os vazios urbanos que são privados e podem sumir a qualquer instante.
E sobra muito pouco. As cotas 40 são espalhadas e privadas.
Por isto há a necessidade de políticas de criação de Unidades de Conservação (como a ARIE do Boa Vista e Iririú), e principalmente de arborização urbana”, diz Gayer.
A EMOÇÃO DO VERDE - Não tem como não se emocionar ao chegar a Joinville pela primeira vez. Eu continuo me emocionando quando a chegada é por avião. Sobrevoar a Baia da Babitonga, a Lagoa de Saguaçu e as áreas de mangue é um espetáculo. As áreas remanescentes de verde nos morros do Boa Vista e do Iririú e a vista do verde intenso da Serra do Mar não podem deixar a ninguém indiferente.
Se a chegada é por carro, seja pela BR- 376 ou pela SC- 301, descendo de Curitiba ou de Campo Alegre, a impressão não é menos intensa. Esta impressão nos deixa com a percepção que Joinville é – ou deve ser – a capital internacional do verde e que contamos com percentuais de verde invejáveis para cada cidadão.
Mas estes dados, como tantos outros que nos são apresentados a cada dia, para nos convencer disto ou de aquilo, podem ser incluídos numa teoria científica bem consolidada, a “Teoria do Frango”. O estudo prova que se eu comi dois frangos e você nenhum, na média cada um de nos comeu um frango.
A maioria das áreas verdes que um turista poderia observar ao sobrevoar Joinville, na metade da década de 90, já não existe mais. As áreas foram desmatadas, ocupadas, urbanizadas e continuam a ser com intensidade e velocidade cada vez maior. O avanço da urbanificação sobre as áreas rurais tem o estímulo descarado do poder público em nome do desenvolvimento.
Gosto de citar, um caso emblemático do Rio de Janeiro, o Morro da Viúva as margens da enseada de Botafogo.

 Além da imagem que ilustra este post, e que mostra o Morro da Viúva rodeado por uma muralha de prédios. Duas imagens uma anterior a construção do aterro do Flamengo e a outra bem atual, servem para evidenciar a ameaça real que os nossos morros sofrem, com bandos de aloprados gananciosos estimulando o adensamento e a verticalização em volta dos morros do Boa Vista e Iririu.

ECOCHATOS E DESOCUPADOS - O verde preservado pela legislação federal, como os topos de morro, os manguezais e as margens de rios e lagoas, são espaços de preservação permanente e não podem ser considerados espaços para o lazer urbano, não atendem a estas necessidades. No caso de Joinville o avanço criminoso feito sobre os rios, as suas margens e os fundos de vale exigirá pesados investimentos públicos. Segundo os números apresentados pelo poder público, pouco mais de R$ 1 bilhão. Desnecessário dizer que estes recursos não existem e não devem aparecer facilmente.
O verde por habitante deve ser considerado pelo conjunto de praças e parques, por um lado, e pela soma do patrimônio que representa a arborização urbana do outro. Joinville tem perdido, de acordo com os dados do próprio poder público, mais de 40% das árvores que existiam nas vias públicas na década de 90. E além de não terem sido repostas as perdas, tampouco tem continuado o plantio.

O problema principal pode ser a percepção muito forte de que há um enorme estoque de verde urbano. De que esta é uma das cidades que mais perto está do paraíso. E também de os defensores da preservação da qualidade de vida representada pelo verde são uma minoria absoluta de ecochatos e desocupados.



O discurso desenvolvimentista dos talibãs do tijolo aproveita bem esta percepção da maioria. E é por isto que o verde que você já viu, hoje não vê mais. Como por arte mágica, ele está desaparecendo. Mas, ao contrário, das apresentações de mágicos e ilusionistas, ele não reaparece em outra parte do cenário.