sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Terrorismo do Exército mata na OAB

POR DOMINGOS MIRANDA
O Exército já prestou serviços gloriosos ao Brasil, tais como a campanha do Tenentismo, para moralizar a política, a participação na Segunda Guerra Mundial e as forças de paz em vários países. No entanto, houve períodos em que muitos de seus integrantes mancharam para sempre a instituição com a prática de torturas nos quartéis e atos de terrorismo. Um destes fatos vergonhosos aconteceu no dia 27 de agosto de 1980, quando uma carta-bomba explodiu na sede do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), matando a secretária da entidade, Lyda Monteiro da Silva. Quatro militares do Centro de Investigações do Exército (CIE) estavam envolvidos na ação.

Na época do atentado, o Brasil vivia em plena ditadura e muitos militares da “linha dura” não aceitavam a chamada abertura política. Em 1979, a anistia colocou em liberdade os presos políticos e permitiu o retorno dos exilados. Todos os setores oposicionistas sofriam nas mãos destes descontentes de farda. Em 1980, o bispo de Nova Iguaçu, dom Valdyr Calheiros, e o jurista Dalmo Dalari foram sequestrados e barbaramente espancados. A OAB denunciava estes desmandos e foi colocada no alvo dos facínoras fardados.

A carta-bomba destinada ao presidente da OAB, confeccionada pelo sargento Guilherme Pereira do Rosário, foi entregue pessoalmente pelo sargento Magno Cantarino Motta, codinome Guarany.  Quem coordenou a ação terrorista foi o coronel Freddie Perdigão Pereira. Uma servente da OAB foi testemunha ocular da entrega da carta e, somente 20 anos mais tarde, confirmou o responsável pela entrega: Guarany. As investigações feitas na época não deram em nada e nenhum culpado foi punido.

Lyda Monteiro da Silva abriu a correspondência destinada a Eduardo Seabra Fagundes, presidente da OAB, quando ocorreu a explosão. A secretária teve um braço arrancado e outras mutilações pelo corpo. Morreu na ambulância, a caminho do hospital. No mesmo dia houve outros atentados no Rio: no gabinete do vereador  Antônio Carlos de Carvalho (com cinco pessoas feridas) e na sede da sucursal do jornal Tribuna Operária (do PCdoB). No ano seguinte aconteceu um outro atentado que fracassou, durante as festividades do 1º de Maio, no Riocentro, com a presença de mais de 10 mil pessoas. A bomba explodiu no colo de um sargento e feriu gravemente um capitão, ambos estavam no interior de um carro Puma.

Era um período de grande intranquilidade. Bombas explodiam em bancas que vendiam jornais alternativos, verdadeiras operações de guerra eram montadas para tentar enfraquecer as greves operária, seu líderes eram presos e tentaram calar a Igreja Católica (tomaram dela a sua rádio).  De janeiro de 1980 a abril de 1981, a “tigrada”, como era conhecido o grupo radical do Exército, realizou 74 ações terroristas. Elio Gaspari, em seu livro “A ditadura acabada”, afirma  que  “a Comunidade de Informações, que trabalhava em seu benefício, não desvendara um só dos atentados que ocorriam no país”.

Nos dias atuais causa calafrio quando vemos um ex-capitão, que em 1987 ameaçara colocar bombas nos quartéis por causa dos baixos soldos, figurar em segundo lugar nas pesquisas como candidato a presidente da República. Não devemos descuidar das serpentes, quando menos se espera, elas podem nos picar. Terrorismo nunca mais.s

4 comentários:

  1. Ah, quer desenterrar a história, mas só os pés do cadáver?
    Nããão, desenterre o corpo todo!

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    1. Então vamos desenterrar mais um pedaço do cadáver. Em 1968, o ministro da Aeronáutica,João Paulo Burnier, arquitetou um plano terrorista conhecido como Caso Para-Sar ou Atentado ao Gasômetro. Ele consistia em empregar o esquadrão de resgate Para-Sar na detonação de explosivos em diversas vias públicas do Rio de Janeiro, atentados esses com potencial para provocar milhares de mortes e que seriam atribuídos a movimentos de esquerda. Na fase secundária da missão, o clima de caos proporcionado pelas tragédias seria usado para encobrir o sequestro e assassinato de quarenta figurões da política brasileira, entre eles Carlos Lacerda, Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek.

      O plano acabou abortado após a denúncia do oficial do Para-Sar Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, que se recusou a cumprir as ordens de Burnier e levou o caso a seus superiores. Na sindicância resultante aberta pelo brigadeiro Itamar Rocha, 37 testemunhas comprovam a acusação. Burnier, no entanto, negou ter planejado o crime, sendo absolvido após o processo chegar aos gabinetes do ministério da Aeronáutica e da presidência da República. Itamar e Sérgio, por sua vez, acabaram afastados dos quadros da Aeronáutica.

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    2. Lembrando q Carlos Lacerda, Juscelino e Jango "morreram" num período de 9 meses...entre março de 76 e janeiro de 77.

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  2. A direita usa um marketing manipulativo e de alto risco: afirma que trará a segurança de volta. É a expectativa mais esperada por toda a classe média: poder voltar a circular com "razoável" liberdade. Logo, o apelo protetivo pode funcionar. Apelo que é também "cuidador", este marketing do "cuidar" tem enchido muitas Igrejas de fiéis. E, assim como a serpente bíblica, a sedução da classe política de direita se apresenta como cosmogênica. É preciso atenção !

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