quarta-feira, 2 de agosto de 2017

É preciso oferecer cinema ao povo

POR DOMINGOS MIRANDA
A cultura é um produto supérfluo? Esta é uma pergunta recorrente em momentos onde o que mais se fala é cortar custos no serviço público. Mas a bailarina Ana Botafogo, diretora artística do Balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que sofre na própria pele esta questão, esclareceu o assunto quando esteve em Joinville, no Festival de Dança. Para ela, “em tempos de crise, é a arte que sustenta o moral do povo sofrido”. E como todos sabem, Joinville é uma cidade onde o povão tem poucas alternativas de arte e lazer. O cinema, por exemplo, a cada dia que passa fica mais distante da massa.

A sétima arte ficou restrita às salas de exibição dos shoppings centers, com preços salgados para os trabalhadores. Um casal com dois filhos gastará em torno de R$ 100,00 numa única exibição de filmes. Os antigos cinemas se transformaram em igrejas ou simplesmente fecharam as portas. Há cerca de 10 anos o então vice-prefeito Rodrigo Bornholdt apresentou projeto de transformar as duas salas de cinema fechadas, onde hoje é o Big, em um cine popular, com ingressos a preços simbólicos. Era uma tentativa de oferecer arte às pessoas da periferia e que, infelizmente, não se concretizou.

Há experiências de sucesso neste sentido em outras capitais. Em Belém, no Pará, a prefeitura desapropriou o cinema mais antigo da cidade (que estava fechado) e começou a passar filmes de graça para a população. Em São Paulo, durante a gestão do prefeito Fernando Haddad, foram construídas 20 salas de exibição de filmes nos bairros. Não precisa dizer que a aceitação foi total. Há mais de duas décadas o grupo Titãs cantava a sua canção Comida: “A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte”.

Para enfrentar estes tempos bicudos há que se buscar alternativas políticas, mas não apenas isso. É preciso oferecer novas formas de entender a realidade. E nada mais adequado para esta questão do que o cinema. Há um século o mundo viu a maior transformação ocorrida numa sociedade com a Revolução Soviética. Uma das ferramentas usadas pelas lideranças comunistas para conscientizar o povo sobre os novos tempos foi a sétima arte. Não por acaso que neste período surgiram os maiores diretores de cinema do mundo, como Eisenstein, Dziga Vertov, Vsevolod Pudovkin e tantos outros.

Não seremos tão pretensiosos de propor uma revolução, mas levar cinema ao povo de Joinville fará uma grande diferença. Assistir filmes como Central do Brasil, O Carteiro e o Poeta, Cinema Paradiso, Diários da Motocicleta, As Vinhas da Ira ajudam a levantar o moral de quem está afogado em problemas. Oferecer cinema ao povo é mais do que lazer, é um remédio para a alma. Está nas mãos do prefeito dar este presente à nossa sofrida gente.

5 comentários:

  1. Domingos parabéns por abordar tão interessante tema.
    A arte é uma necessidade não só como alivio, mas principalmente por seu poder de expandir a mente de quem vai ao cinema. Quanto mais cinemas e pluralidade maior será a riqueza da população. Falando primeiramentne em termos culturais e sociais. Mas a abertura de salas de cinema movimentam a economia também. Tanto a criativa quanto a de lazer.

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    1. L.S. Alves, falta apenas vontade política para colocar em funcionamento um cinema popular em Joinville. As salas estão lá fechadas e os equipamentos também. Basta limpar o pó...

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  2. Depende do filme. Se for para passar essas bobagens tupiniquins bancadas com dinheiro do povo, nem de graça. A propósito, já está na hora de rever contratos da ancine e, principalmente, da lei rouanet que desembolsam milhões para artistas consagrados da esquerda em detrimento de pequenas peças teatrais, cameratas, corais e outras representações culturais. Agora vários "artistas" que mamaram na lei rouanet estão na casa do Caetano expressando o descontentamento deles através do "Fora Temer!". É para isso que os fundos, que deveriam privilegiar a cultura brasileira, servem: partidarizar e segmentar ainda mais a população. O artista que recebe $ dos fundos fica compelido a apoiar o governo que o beneficiou. Uma desonestidade sem fim!

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    1. Tem gente que, ao invés de somar forças para alcançar um objetivo, prefere arrumar uma desculpa para cair fora. Na história sempre tem um "se". Vamos conseguir a reabertura do cinema e aí lutaremos para ter uma programação digna.

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    2. Estranho é ver a pessoa atacar uma lei que precisa ser revista, mas ataca pelos motivos errados. Só pra saber o maior beneficiado com a Rouanet é a GLOBO, Um dos dez mais é o FHC, por meio do IFC.
      Florianópolis tem a sala de cinema do CIC e a do BADESC, fora a do SESC, mas essa Joinville já tem.
      O importante é reativar as salas e oferecer opções à população.

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