quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Retrospectiva


POR VALDETE DAUFEMBACK

Há um ano escrevi um texto questionando a tal crise anunciada em coro nas redes sociais. À época era de muita tensão originada pela recém vitória eleitoral que reelegeu Dilma ao segundo mandato à presidência da República. Os ânimos estavam alterados. A oposição não admitia a derrota, era preciso disseminar o mais rápido possível ideias que desqualificassem o governo popular para desgastar a imagem da presidente. 

Naquele texto fiz menção às contradições da suposta crise, tendo em vista o movimento nas rodovias, nas praias, nos aeroportos, nos shoppings, restaurantes, enfim, a desenfreada compulsão pelo consumo estava em toda parte, que em nada se parecia com uma situação de crise. Recebi muitas críticas e reprovação por discordar da profecia apocalíptica da crise no Brasil. 

O ano se passou. Foram trezentos e sessenta e cinco dias vividos com a sensação de elevação desse número a um potencial geométrico, considerando o peso do ódio que se espalhou como instrumento contra tudo o que se assemelhasse a direitos humanos e à política distributiva de renda. Linchamentos físicos e políticos foram aceitos e recomendados. A sociedade passou a ser dividida entre pessoas “de bem” e de outras categorias. Às “de bem” foi recomendado o porte e uso de armas para se protegerem do “mal”, daqueles “suspeitos” que não foram agraciados pela talentosa meritocracia. 

Pobres, negros e homossexuais foram agredidos gratuitamente, muitas vezes com o aval da grande mídia que mostrou ser competente na prestação de um desserviço à sociedade. Intencionalmente, não raras vezes, meios de comunicação publicaram matérias incriminando personagens políticas para, posteriormente, pedir desculpas pelo deslize de informação infundada, ou por imagens que foram trocadas “acidentalmente”. 

Tentando isolar a situação “da crise” ao Brasil sem analisar o contexto mundial, os donos do poder econômico arrastaram, sob sua influência, uma quantidade de analfabetos políticos para fazer coro frente a práticas inventivas e difamatórias de natureza partidária, provocando agressões a cidadãos em lugares públicos e ou privados. 

Mais um ano se iniciou e a compulsão pelo consumo se repete da mesma forma. Milhares de pessoas se deslocam e lotam praias, clubes, aeroportos, rodovias, centos de compras contrariando o agouro de comunicadores da grande mídia que, mesmo reconhecendo este fenômeno repetem como mantra: “apesar da crise”, “apesar da crise”. Fico a imaginar que como brasileiros somos excêntricos, pois quem diante de uma crise viveria neste paraíso de consumo? 

Lembro muito bem dos anos de 1990 quando o país atravessou uma crise econômica em que vinte e cinco por cento dos joinvilenses estavam desempregados ou não conseguiam o primeiro emprego. Praia, viagem, compras? Nada disso, nem pensar! Lideranças comunitárias, sindicais e religiosas passavam sábados e domingos em reuniões em sede de sindicatos a fim de encontrar saídas à situação dos trabalhadores. Lembro do slogan da campanha de FHC para as eleições do seu segundo mandato: “Quem venceu a inflação vai vencer o desemprego”. Que nada! Somente no ano de 2003 para frente é que a situação mudou. Sejamos coerentes com a memória histórica!

7 comentários:

  1. Mas essa mulher é uma gênia!

    Ainda bem que você estava certa, a economia está indo de vento em poupa!

    Olha, eu, se fosse você, iria me candidatar aos cargos:

    1) de economista no banco Santander ou;
    2) roteirista adjunta nos filmes de Ridley Scott.

    Parabéns pela brilhante explanação.

    Eduardo, Jlle

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  2. 42 graus celsius, sem dinheiro para comprar um ar-condicionado, mesmo com ar-condicionado em casa, sem dinheiro para pagar a conta de luz que aumentou 74% em um ano, com praias a algumas dezenas de quilômetros e essa senhora espera que os brasileiros morram esturricados dentro de suas casas nos poucos dias de férias de final de ano enquanto uma dondoca esquerdista paga de santa na casa de praia com o maridão.

    E no final ainda pede coerência...

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  3. Gilberto Moreira da Silva21 de janeiro de 2016 às 11:54

    Só faltou a articulista mencionar que não houve a sangria na Petrobras, que não houve o mensalão lá atrás. Tomar por parâmetros o direito ao lazer que todo cidadão possui como indicador de crise me soa patético, ou pior, soa tão estelionatário como a campanha que reelegeu a Sra. Dilma.

    Vivemos sim uma crise que mal começou. Crise política, crise econômica e sobretudo a crise mais grave: a moral. A situação é tão caótica que o apedeuta chefão de tudo isso se diz mais honesto que qualquer um de nós que trabalhamos duro para pagarmos 4 meses de impostos por ano de nosso suor para bancar estes políticos nefastos e este Estado combalido.

    Lamentável mesmo é ver pessoas formadoras de opinião não enxergar um palmo abaixo de seu umbigo e publicar toda a sorte de asneiras sem fundamentação que as sustente.

    Definitivamente parei com essa gente.

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  4. 1,5 milhão de vagas de trabalho fechadas, dólar a R$ 4,17, pior desempenho desde 1992, desde a década de 30 do século passado o Brasil não tem duas recessões seguidas, uma que ocorreu em 2015 e outra que está ocorrendo em 2016. O pior é que tudo isto poderia ser evitado se a sua presidente deixasse a soberba de lado e retornasse ao modelo econômico até então usado até 2009. Dilma Rousseff dobrou a aposta e agora os brasileiros, principalmente os pobres, estão pagando por sua estupidez. O que foi conquistado a duras penas em 20 anos, perdeu-se em 5 anos.

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  5. De fato como você sabiamente pontuou: "os analfabetos políticos são arrastados". É o que vemos. Claro que uma crise existe e ela é pontual, como em todo capitalismo, enquanto determinados setores perdem, outros tantos lucram. Não existe unanimidade. Enquanto setores perdem com a alta do dólar (chegou a incríveis R$4,10), muitos outros estão pulando de alegria com isso. Vale lembrar que nosso litoral de SC está sendo influenciado por uma mudança política vivida no país vizinho: a Argentina. Nossas praias estão recebendo uma quantidade razoável de "hermanos", que redescobriram o caminho de cá. Embalados pela alta do dólar que os ajuda, estão gastando suas economias em serviços em nosso estado, ou seja, arrecadação de impostos é sempre bem-vinda.
    Já quanto à crise específica, não vejo ela como sendo econômica, e sim política. Há sim crise de identidade partidária, crise de identidade social, crise de coerência. E isso não se aplica somente aos políticos e sim à sociedade hipócrita em que vivemos. Comumente apontamos o dedo para o vizinho enquanto outros quatro estão apontados para nós mesmos. O dia a dia nas comunidades e empresas tem se mostrado muito mais corruto e corrompido do que nosso meio político. Mas culpar o vizinho, achar um bode expiatório para nossos problemas e frustrações é o caminho mais fácil. Façamos uma reflexão honesta sobre o que estamos dizendo e fazendo para então começar 2016 com o pé direito e fazermos boas escolhas em outubro deste ano!

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  6. Governo popular é aquele que tem muita popularidade?

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