terça-feira, 1 de setembro de 2015

O velho e conhecido “negacionismo”


POR FELIPE CARDOSO

Recentemente, foi publicado em vários veículos de comunicação e acabou viralizando na internet a notícia de que o neurocientista americano Carl Hart foi barrado por seguranças em um hotel de São Paulo, na noite de sexta-feira.

Em um vídeo publicado nesse sábado no site "Fluxo", Hart negou ter sido barrado. O neurocientista afirmou que, depois de chegar ao hotel, foi abordado por organizadores do evento em que palestraria. Os organizadores pediram desculpas a ele, porque, quando entrou no hotel, um segurança teria se aproximado para abordá-lo por “não parecer alguém que devia estar ali”.

“Não vi nada disso, mas a reportagem sobre o episódio viralizou e muitas pessoas vieram me pedir desculpas pela internet por causa do ‘comportamento dos brasileiros’”, afirma Hart.

Mesmo que o palestrante tenha questionado e apontado um grande racismo existente no Brasil, inclusive no local em que estava palestrando, parece que a confirmação de que o ato racista não aconteceu ganhou mais destaque. Acabou dando brecha para que os que não se importavam com a pauta da questão racial liberassem e destilassem mais ódio e encorajou mais racistas a praticarem mais atos. Mas, pior que isso tudo, deu mais espaço para que o velho e conhecido “negacionismo” brasileiro voltasse à tona.

“Viu só? Não somos racistas. Isso é coisa da cabeça das pessoas. Vamos continuar mantendo e propagando o racismo.”

Analisado de outra forma, podemos perceber, por meio do ocorrido, a maneira com que nós brasileiros enxergamos o racismo, achando que ele só acontece por meio da discriminação, de pessoa para pessoa. Não conseguimos observar que é um problema estrutural, cultural, social, político e econômico que está enraizado em nosso país. Como Hart afirma, “o racismo estrutural brasileiro não recebe qualquer destaque, nem indignação pública, quando dirigido a pessoas sem o destaque ou a posição que ele ocupa”.

Não precisamos de campanhas como #SomotodosMaju quando casos de discriminação atingem pessoas negras em destaque ou com uma posição financeira e profissional "superior" dos demais negros. Precisamos, de fato, ir na raiz do problema para conseguir acabar de vez com o racismo, para que todos os negros e negras não sofram mais com as opressões e as humilhações.

O problema brasileiro é o racismo, que foi construído e propagado há séculos. Para superá-lo, precisamos afirmar que ele existe e, assim, juntarmos força para combater e eliminá-lo.

Não é negando um problema que vamos escapar dele. É preciso coragem para encarar e superá-lo.

Para encerrar, devemos seguir o conselho do neurocientista Carl Hart:

“Por fim, o Brasil tem problema sério de discriminação racial. A indignação demonstrada neste momento deveria ser demonstrada também em relação ao tratamento dado a negros neste país. Precisamos apoiar quem vive à margem da sociedade e usar esta energia (de indignação) para algo bom.”

10 comentários:

  1. Quando gravava um filme na Itália, um renomado cantor brasileiro, negro, contou que foi brutalmente discriminado naquele país. O jornalista perguntou como ocorrera a discriminação racista contra o cantor. O mesmo respondeu que muitos mendigos (que furtam, espancam, causam problemas) costumavam levar seus pertences em carrinhos de supermercados ou de bebês. Pois bem, certo momento, o citado famoso cantor brasileiro estava a observar os instrumentos musicais em uma vitrine acompanhado de seu filho bebê num carrinho. Ao tentar entrar o vendedor prontamente disse que o carrinho não poderia atravessar a porta antes de perceber a criança em seu interior.

    Contanto essa história, de forma superficial, poderíamos julgar o vendedor por racista, mas na verdade ele foi simplesmente preconceituoso. Tanto quanto eu, você ou qualquer um é.

    Vestimenta, adornos e trejeitos um pouco diferentes já abrem caminho para o preconceito. Apontar o dedo e identificar qualquer ato preconceituoso como racista, só diminui a importância do julgamento.

    Eduardo, Jlle

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    1. Preconceito todos nós temos, sempre julgamos algo ou alguém na nossa cabeça. A partir do momento que falamos passa a ser discriminação. E o racismo, se você leu o texto, falo que é um problema estrutural, social, político, cultural e econômico, em que uma raça se intitula superior as outras. E no mundo em que vivemos percebemos que raça se sobrepõe a outras por meio dos detentores dos meios de produção, comunicação, educação, política... São, em sua maioria, homens e brancos.

      Por isso digo que a visão do brasileiro de racismo é errada ao achar que acontece apenas de pessoa para pessoa, com casos de discriminação. Envolve muito mais. Envolve as desigualdades sociais, as maiores vítimas de crimes e chacinas, a maioria pobre, a maioria nos presídios, a maioria sem moradia, a maioria privada de direitos, os que têm e os que não têm, os representantes e os representados, os poderosos e os oprimidos. A cor deles demonstra o racismo. Basta uma pesquisa rápida para perceber isso.

      O racismo é profundo e pode sim ser visto em pequenas ações discriminatórias, como esse fato relatado pelo cantor brasileiro, por mais que você queira negar, foi um caso de discriminação/exclusão, oculto com a velha desculpa de "segurança", como os casos dos rolezinhos, como os vários casos de perseguição de seguranças a clientes negros nas lojas, como os casos de revista feita por vendedores em clientes negros... Dentre tantos outros casos que podemos relatar aqui, mas você vai comprovar a veracidade do meu texto negando tudo isso. "Não, não, não e não". O velho e conhecido "negacionismo".

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    2. “Raças” humanas. Termo muito perigoso. Seriam raças como têm os caninos, felinos, bovinos?

      Hitler afirmava a existência de uma raça ariana superior. Ele estava correto quanto a divisão da população humana em raças?

      Eduardo, Jlle

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    3. "Raças" no sentido sociológico. Entendendo que o conceito "raça" pode organizar a vida social das pessoas, sendo responsável pela criação e manutenção de um sistema de desigualdade social, por exemplo. Enfim, talvez se você tiver um pouco de boa vontade talvez entenda. O que acho muito difícil.

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    4. "Enfim, talvez se você tiver um pouco de boa vontade talvez entenda." Sério Felipe? Sério MESMO? Você pedindo boa vontade pra entender? Morro eu não vejo tudo...

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    5. "raças no sentido sociológico", pq ainda perco meu tempo...

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    6. Pois é, ainda de forma anônima.

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  2. Parei no POR FELIPE CARDOSO.

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  3. Não entendo, a coisa que a Globo mais difunde é como é bom ser preto e morar na favela. Um dia eu chego lá...

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