terça-feira, 3 de setembro de 2024
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segunda-feira, 2 de setembro de 2024
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domingo, 1 de setembro de 2024
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quinta-feira, 22 de agosto de 2024
A comunicação de Lula não é ruim: o trabalho é que é muito difícil
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Tem muita gente batendo forte na comunicação do governo Lula. Dizem que o pessoal não consegue atinar com estes tempos do digital. Pode ser. Mas não é assim tão simples. Porque as armas são desiguais. Tentar levar a verdade a um mundo onde impera a falsificação é um trabalho de Sísifo. Imaginem que hoje a mentira deixou de ser mentira: virou um “outro tipo” de verdade, a tal da “pós-verdade”. A extrema direita, que produz desinformação em doses cavalares, está a nadar de braçada.
O leitor e a leitora estão familiarizados com a expressão “information overload”? Ora, não é coisa nova. O termo foi usado pela primeira vez na década de 60 do século passado, em ambiente acadêmico, e acabou popularizado pelo escritor americano Alvin Toffler. O cara é muito conhecido pelas suas previsões sobre a sociedade da informação. Mas o que significa essa sobrecarga (overload)? Que a quantidade de informações disponíveis supera a capacidade que o ser humano tem de processá-las de forma adequada. Daí resultam leituras da realidade muito equivocadas.
E a coisa piorou. A tecnologia e as redes sociais evoluíram, tornando o desafio ainda maior. O excesso de informação deixou de ser uma sobrecarga quantitativa. Não há qualquer dúvida de que o mundo evoluiu da “information overload” para uma “desinformation overload” (ou “infoxication”). É a expressão exata para descrever um cenário onde, além da abundância, há uma proliferação de informações falsas ou intencionalmente enganosas. As pessoas perderam a capacidade de distinguir as linhas que separam a verdade da mentira.
Há atores políticos que têm o objetivo confundir as pessoas e minar a confiança em fontes de informação confiáveis. É só lembrar a declaração de Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump, quando disse que a verdadeira oposição não são os rivais políticos, mas a mídia, e que a estratégia é “inundar a zona com merda”. É a estratégia do quanto pior, melhor. O objetivo é saturar o espaço informacional com tantas narrativas fajutas que o cidadão comum se vê desorientado, incapaz de discernir o que é real.
Exemplos práticos dessa lógica estão nas raízes do trumpismo e do bolsonarismo. Neste momento, Donald Trump está em campanha para voltar à Casa Branca. No debate que teve com Joe Biden (antes da desistência), em junho último, Trump fez tantas alegações falsas que muita gente perdeu a conta. A imprensa mostrou dezenas de afirmações enganosas ou imprecisas. Um exemplo do absurdo. Trump repetiu a ideia de que os democratas apoiam abortos “depois do nascimento”. É a esquizofrenia total. Até porque aí já seria assassinato e não aborto.
O bolsonarismo seguiu roteiros parecidos. Falsificações grosseiras como a “mamadeira de piroca”, o “kit gay” ou o “banheiro unissex” foram usadas para impulsionar o nome de Jair Bolsonaro. A proliferação de “fake news” no WhatsApp, por exemplo, criou uma legião de idiotas. É gente que rejeita qualquer informação que não esteja em linha com as suas crenças. Já não se trata do direito de ter a própria opinião, porque eles reivindicam o direito de ter os próprios fatos.
Enfim, essa “desinformation overload” é um extremo que confunde e impede o diálogo democrático. O resultado é a polarização e a fragmentação do tecido social, como vemos no Brasil. Num mundo onde a verdade se torna líquida (para citar Bauman), a confiança nas instituições é corroída. As sociedades democráticas enfrentam um desafio sem precedentes: restaurar a ideia de verdade em meio a esse mar de merda proposto por Steve Bannon. O futuro das democracias depende disso. É difícil, muito difícil. Que o digam os homens da comunicação do governo Lula.
É a dança da chuva.
Foto: Ricardo Stuckert |