terça-feira, 19 de junho de 2018

O eleitor gosta mesmo de votar em corrupto?

POR JORDI CASTAN
O tema hoje deveria ser a Copa do mundo. Mas quem se importa com isso? Esqueci que tem uma parte importante do país que acredita que este é um evento importante e que não há nada mais transcendental que torcer pelo Brasil. Há também os que preferiram debater a apropriação da camisa da seleção pelos “coxinhas” e que por conta disso este importante símbolo nacional não deve ser mais usado pelos torcedores que não sejam coxinhas.

Não é preciso dizer que frente a estas discussões tão filosoficamente profundas, vou trocar de canal e propor que a nossa conversa aqui seja sobre outros temas, que, ao meu ver, deveriam ser mais importantes e motivas debates e mobilizações mais transcendentais e maiores que as que motivam a seleção e o mundial.

Proporia educação, mas perdemos feio. Segurança? Mas esse outro tema em que o Brasil está ruim na foto, com mais mortos por arma de fogo que países em guerra. Da saúde melhor passar, porque agora que acabou a greve dos caminhoneiros, não sei o que as autoridades vão inventar para justificar a falta de remédios, o estado precário de hospitais e Pronto Atendimentos (PAs) ou a falta dos materiais mais básicos e elementares.

Corrupção é um tema delicado, se houvesse algum tipo de premiação o Brasil ficava em primeiro e bem à frente do segundo. De Joinville melhor não falar, até porque há pouco de bom para contar. De um lado o silêncio cúmplice de uns. Do outro a inépcia supina de outros, e do outro a inércia de uma cidade que se apequena um pouco mais a cada dia.

Mas num país em que eleitor vota de novo em corrupto e o reelege uma e outra vez, é difícil imaginar que o povo não tenha culpa no cartório. Acho até que o eleitor gosta mesmo de votar em corrupto. Algum tipo de prazer mórbido o leva a votar em gente que deveria estar na cadeia fazendo companhia aos que já foram condenados e estão cumprindo pena.

Copa do Mundo é a versão do pão e circo (panem et circenses) dos romanos. Se alguém acha que fácil iludir o eleitor, está certo. Não há nada mais fácil que iludir o eleitor. Em outubro teremos a oportunidade de ver serem eleitos os mesmos de sempre. Votar em candidatos novos é uma alternativa para mudar.

Lanço aqui o desafio de não reeleger ninguém, para isso precisamos votar em candidatos novos, que não sejam corruptos, que tenham um histórico de defesa dos interesses da sociedade, gente com princípios e valores, mesmo que para isso tenhamos que, como Diógenes, sair pelas ruas, com uma lanterna a busca desses homens e mulheres que o país precisa.

Menos Copa e mais olho no Brasil, porque é quando a bola rola que as coisas ruins acontecem.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

“Buceta rosa, buceta rosa”... e gente repugnante de amarelo

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Tenho uma camisa da seleção brasileira, daquelas oficiais da Nike (apesar de, ao contrário dos brasileiros, ter pago apenas 10 euros por ela). Mas faz tempo que ela não sai do armário. As razões são evidentes. Nem preciso dizer que a “amarelinha”, antes um símbolo de brasilidade, acabou contaminada por divisões ideológicas neste imenso Fla-Flu político em que o Brasil se transformou.

E já que estamos no plano do simbólico, o maior incômodo é ver a camisa a expressar um estilo de vida molesto a todos os níveis. Vou resistir à análise simplista de dizer que é o símbolo do “coxinismo”. Afinal, a coisa é mais complexa, tem uma longa história e traz uma infausta ironia: os significados da camisa amarela foram apropriados por uma gente que não quer - e nem sabe - ser “brasileira”.

O ator social não é o coxinha em si. É o pequeno burguês brasileiro, gente que não se incomoda em viver num estado de apartheid social. Aliás, até se enquadra bem. É gente desrespeitosa, que  não sabe reconhecer as alteridades. O pequeno-burguês é, o outro não é. E quando você objetifica o Outro surgem doenças sociais como homofobia, racismo, misoginia, xenofobia, o preconceito contra o pobre etc. E também o machismo.

E por vezes acontece a tempestade perfeita. O palco é o Mundial 2018, na Rússia. Os protagonistas são um bando de pequenos-burgueses execráveis a vestir a camisa da seleção e num vergonhoso desrespeito pelo Outro. Ou, neste caso, pela Outra. Uma moça russa que foi envolvida por brucutus “uniformizados” de amarelo e a expressar a mais absoluta falta de caráter. 

“Buceta rosa”, “buceta rosa”, “buceta rosa”, gritavam enlouquecidos como se a barreira linguística fosse suficiente para escamotear a má formação, a falta de respeito pelo Outro e o mais repugnante machismo. Sim… esses são os “embaixadores” do Brasil, aqueles que levam o nome do país ao mundo. E, infelizmente, vestindo a famosa camisa da seleção. É por essas e outras que sempre que vejo alguém de amarelo fico à espera do pior...

É a dança da chuva.




sexta-feira, 15 de junho de 2018

CRÔNICA: a espada vingadora de Tokuda



POR MÁRIO PAGANINI
O leitor sabe o que é edaísmo? É o preconceito por causa da idade. Também costuma acontecer com os adolescentes, mas quem sofre a sério são os idosos. O mercado de trabalho é a prova. É comum ver anúncios de emprego a dizer, especificamente, que só são aceitos trabalhadores até aos 35 anos de idade. Ou seja, a pessoa que tem 40 anos é vista pelo mercado de trabalho como uma peça de museu.


Mas nem sempre. Se você já enfrentou uma situação de edaísmo, prepare-se para o seu momento de vingança. E a vingança vem pela espada de Shigeo Tokuda, um japonês baixinho que hoje tem 83 anos. E quando falo em espada é em sentido lato, porque o homem se tornou uma espécie de herói da terceira idade: até pouco tempo foi astro de filmes pornográficos na terra onde o sol levanta.


E levanta mesmo. Segundo uma reportagem da revista “Time”, Tokuda fez mais de 200 filmes pornô nos últimos anos (o último, ao que parece, em 2o15). E nunca deu mole (literalmente) para as parceiras de trabalho, sejam mulheres da mesma idade ou algumas ninfas de singelos 20 aninhos com as quais contracenou. Ah.. e vale lembrar que quando ele começou o Viagra ainda era uma miragem.


Shigeo Tokuda deveria ser um exemplo para todos os homens já mais entrados na idade. Quando se aposentou, em vez de ficar em casa a ver novela e jogar paciência, decidiu fazer um bico para passar o tempo.
 O homem podia ter optado pelo judô e passar o dia a agarrar homens. Também podia ter escolhido o kendô e ficar o tempo todo com a espada na mão. Mas ele sabia que a espada pode ser usada de maneira mais divertida, procurou um produtor de cinema e virou ator pornô.


A bem da justiça, Shigeo Tokuda deveria ser considerado herói nacional no Japão. Porque é graças a pessoas como ele que as estatísticas podem ser revertidas. Dizem que os japoneses são um dos povos que menos pratica sexo no mundo. Um estudo feito no país revela, por exemplo, que um em cada quatro casais - de todas as idades - não fez sexo no ano anterior. É f... Ou melhor, não é.


O mercado pornográfico para a terceira idade é um negocião no Japão. É o país que possui o maior percentual mundial de pessoas acima dos 65 anos e esse público parece ávido por pornografia. O sucesso de Shigeo Tokuda parece resultar do fato de os espectadores se identificarem com ele, por causa da idade.


O mais divertido é que ao longo de muito tempo a mulher e a filha nunca souberam do part-time de Shigeo Tokuda (que, como é óbvio, é apenas um nome artístico). No caso da mulher até dá para entender: ele provavelmente não quer levar trabalho para casa.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Os homens que não amam as mulheres


POR CLÓVIS GRUNER
Um juiz de Mococa, interior de São Paulo, ordenou judicialmente a esterilização de uma mulher, Janaína Aparecida Quirino, depois que o promotor público Frederico Liserre Barruffini instaurou ação judicial com o intento de constrangê-la a realizar o procedimento compulsoriamente. A alegação da promotoria foi que, moradora de rua, mãe de seis filhos e grávida de um sétimo, ela se recusou a fazer a laqueadura voluntariamente. A história veio à luz sábado último (09), na coluna do professor de Direito Constitucional, Oscar Vilhena, na Folha de São Paulo.

Desde então, o episódio repercutiu em outros veículos que ampliaram a cobertura e revelaram mais detalhes do caso, além de manifestações nas redes sociais, incluindo o apoio inconteste e irrestrito à medida da outrora estelar Janaina Paschoal, e um desmentido do juiz responsável pelo caso, Djalma Moreira Gomes Junior. Segundo ele, o procedimento foi realizado com o consentimento de Janaína Quirino, atualmente cumprindo pena por tráfico de drogas.

A trajetória de Janaína não é única em um país atravessado, historicamente, por contradições e desigualdades aparentemente insolúveis. A decisão do juiz, por outro lado e até onde sei, é inédita. Mas sua novidade, no entanto, está circunscrita ao ato – aliás, inconstitucional, o que tampouco parece fazer diferença em um país onde juízes driblam a legislação para contabilizar ganhos acima do teto constitucional.

No Brasil, a guerra contra os pobres vem de longa data. Mesmo antes de nos tornarmos nação, após nossa independência e durante o século XX, já no período republicano, nossas elites (econômicas, políticas ou intelectuais) não se furtaram a defender medidas drásticas, às vezes com o lastro da ciência, quando se tratou de sujeitar grupos vulneráveis. A decisão do juiz de Mococa é inédita, mas não é nova, porque retoma e atualiza uma ideia que foi lugar comum nas democracias ocidentais há até pouco menos de um século.

Eugenia e políticas de esterilização – Impulsionadas pelas teses naturalistas surgidas ainda nas primeiras décadas do século XIX, as teorias eugênicas se desenvolveram ao longo da segunda metade do oitocentos. Em seu cerne, a concepção da evolução humana como resultado imediato de leis biológicas e naturais que determinam o comportamento humano, sendo as raças constitutivas de um processo evolutivo no interior do qual se configuraram e cristalizaram as desigualdades.

A naturalização das diferenças legitimou um conjunto de proposições com desdobramentos políticos significativos: se as desigualdades são racialmente determinadas e estruturadas na natureza das populações, é possível asseverar a superioridade de uma raça sobre outras, mesmo a um nível mais cotidiano, afirmando a continuidade entre os caracteres racialmente determinados e a conduta moral dos indivíduos, por exemplo. A expansão colonialista levada a cabo pelas potências europeias se assentou, em grande medida, nesses discursos.

Amplamente aceita pela comunidade científica, a eugenia orientou igualmente ações políticas e governamentais dentro dos próprios países em que foi formulada. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que pelo menos 70 mil americanos foram esterilizados compulsoriamente, a esmagadora maioria mulheres, nas primeiras décadas do século XX. Os esforços americanos chamaram a atenção de Hitler, que tratou de aprimorar as tecnologias de eliminação dos indesejados, elevando-as a parâmetros industriais de resultados bárbaros e trágicos amplamente conhecidos.

A política eugenista de esterilização em massa seduziu também cientistas e políticos brasileiros. Uma das bandeiras da Sociedade Eugênica de São Paulo, criada pelo médico Renato Kehl em 1918 e que nos anos subsequentes tornou-se um movimento mais nacional, era a revisão do Código Civil. Ele defendia a inclusão de um dispositivo que autorizasse o Estado a proibir o casamento entre indivíduos que apresentassem algum risco da geração de uma prole com tendência à degenerescência. Em algumas versões, a proibição do casamento foi substituída pela esterilização compulsória.

Guerra contra os fracos – Houve um recuo dos discursos eugênicos depois da Segunda Guerra, por razões óbvias. Mas isso tampouco significou, particularmente no Brasil, um abrandamento das relações tensas e violentas entre o Estado e os grupos dominantes, cujos interesses sempre coincidiram, e as populações fragilizadas. Do golpe de 64 aos esquadrões da morte e à Candelária; dos massacres de Eldorado do Carajás ao Carandiru; de Belo Monte à Maré; da prisão de Rafael Braga ao assassinato de Marielle Franco, o Estado de exceção tem sido a regra.

Não surpreende que o recrudescimento de discursos eugênicos, incluindo a defesa da esterilização compulsória, ganhou novo fôlego com as políticas públicas de inclusão que, nas primeiras gestões petistas, impulsionaram a ascensão social de parcelas da população mais pobre. Misto de desinformação e preconceito, proliferaram desde então discursos que insistem em condenar grupos inteiros a uma espécie de subcidadania. E eles incluem assegurar ao Estado o direito de interferir nos corpos, notadamente naqueles considerados descartáveis, precários, indignos mesmo do luto, na expressão de Judith Butler.

E tem sido sobretudo os corpos femininos o objeto privilegiado desse novo front reacionário. Um exemplo: em 2014, o deputado estadual Carlos Bolsonaro, um dos herdeiros de Voldemort, defendeu que o Bolsa Família fosse concedido apenas às famílias cujas mulheres aceitassem se submeter “às cirurgias de laqueadura”. Como bom “liberal conservador”, Bolsonaro argumentava a favor da “liberdade individual” porque, mesmo garantindo ao Estado normatizar e condicionar o recebimento de um benefício à esterilização das beneficiadas, a cirurgia seria “uma escolha do cidadão”. O pai deve ter se sentido orgulhoso.

Não há nisso surpresa ou coincidência. De um lado, parte dos programas sociais, como o Bolsa Família, transfere a elas responsabilidades e lhes dá maior autonomia, “empoderando” mulheres de extratos economicamente mais desassistidos. De outro, assistimos uma ofensiva que desqualifica as políticas e discussões de gênero, vinda de parlamentares e entidades como o Escola sem Partido. A violência contra Janaína Quirino, nesse sentido, é a expressão de um desejo cada vez menos contido de estendê-la a outros e, principalmente, a outras Janaínas. A guerra contra os fracos não tem fim. Contra as mulheres, tampouco.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Lula leu 21 livros em 57 dias. E os botocudos puseram a boca no mundo...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
“Lula leu 21 livros em 57 dias”.
Só num lugar dominado por gente atrasada o tema podia virar polêmica. Mas esse lugar existe. E nem sou eu a dizer. Uma pesquisa divulgada no ano passado revela que a população brasileira é a segunda, entre 38 nações investigadas, com maior dificuldade em entender a própria realidade. Sempre foi assim, mas as redes sociais tornaram essa evidência gritante.

E por falar em social media, foi justamente no Twitter que o tema dos livros lidos por Lula ganhou força. A coisa acabou mesmo no plano da aritmética. Uma moça de nome Bruna Luiza produziu a seguinte pérola: “Se cada livro tem 150 páginas (o que é pouquíssimo para um livro normal), são 3150 páginas. Lula teria que ler 55 páginas por dia. Qualquer pessoa que costuma ler sabe que isso é irrealista, especialmente para um semi-analfabeto”. Viu?

Ora, é apenas ranço, preconceito e aquilo que podemos chamar ignorância petulante. O Brasil é um país onde persiste a lógica do apartheid social (ricos de um lado e pobres do outro) e ter um curso superior faz muita gente acreditar que é superior. Essa falta de noção faz com que muitos se sintam com autoridade para chamar o ex-presidente de analfabeto – ou semi-analfabeto, como no caso da moçoila.

É fato. Num país como o Brasil, onde a educação sempre foi privilégio, o diploma ainda funciona como elemento de distinção. Mas a verdade é que o país está cheio de obtusos com diplomas. Todos sabemos que, na prática, há pessoas que obtêm um canudo sem terem lido pelo menos dois míseros livros inteiros (se duvida, fale com algum professor). Tudo o que essas pessoas têm são noções epidérmicas sobre os fatos.

A ignorância petulante é resultado desse mal calculado complexo de superioridade. É uma auto-ilusão que leva as pessoas a se imaginarem num patamar intelectual elevado, quando, muitas vezes, estão abaixo disso. Muito abaixo. É o que mostra o caso da moça do Twitter, que considera irrealista ler 55 páginas num dia. Ah, minha cara Bruna Luiza, nem sempre é fácil entender que as nossas limitações são apenas nossas.

O preconceito impede de ver as coisas mais óbvias. Se uma pessoa se julga melhor que as outras apenas porque lê (e aqui há muito a questionar) ou porque tem um diploma, então ela é parte do problema. Aliás, é  um saco ver analfabetos funcionais - que às vezes sequer funcionam – arrotando superioridade apenas porque têm um canudo. Eita papo botocudo.

Enfim, parece muito provável que o ex-presidente tenha lido os tais 21 livros em 57 dias, até porque tem tempo de sobra. E, para finalizar, fica a dica: não tenho receio de afirmar que Lula entende mais de economia do que muito economista, de sociologia do que muito sociólogo, de administração que muito administrador. Entendedores entendem...

É a dança da chuva.


segunda-feira, 11 de junho de 2018

Uma geston eficientizaçada #sqn


POR JORDI CASTAN

Não posso evitar o sentimento de otário quando cruzo na rua com um desses sinaleiros “eficientizados” que geram uma economia de R$ 720.000 ao ano. Primeiro, porque uma administração pífia e inepta pode fazer qualquer coisa menos eficientizar alguma coisa. Nem o verbo “eficientizar” aparece no Aurélio. Deve ser desses neologismos que burocratas ficam inventando nas suas horas diárias dedicadas a praticar o onanismo mental.

Em outras palavras, esta gestón ineficiente, que vituperou a inteligência coletiva do joinvilense afirmando que não faltava dinheiro, mas gestão, mostrou depois de poucos dias que não tinha nem dinheiro, nem gestão. A resposta à eficientização dos sinaleiros veio na forma de um aumento brutal da COSIP. Assim, o joinvilense paga mais caro pela eficientização dos sinaleiros. Bingo! Alguma dúvida que o resultado seria esse?

Depois de trocar todas as luminárias vermelhas do Carlito pelas novas de LED, que são mais eficientes e, portanto, consomem menos energia, a lógica diria que a economia deveria ser transferida para o cidadão. E o valor extorsivo da COSIP seria reduzido. Nem preciso avisar que isso não vai acontecer. Seguiremos pagando mais caro pela eficientização da iluminação pública. E ganharemos o pomposo titulo de otário do ano, na categoria ouro, com menção honrosa. Porque trouxa que é trouxa merece ser homenageado e sua bovina mansidão reconhecida publicamente.

Em tempo, nenhum vereador tem se manifestado pelo desperdício de recursos públicos que representa converter em sucata as luminárias substituídas com menos de um terço da sua vida útil. Porque cidade rica se faz assim, jogando fora o que ainda serve, aumentando os valores das contribuições e taxas e administrando cada dia pior.

Para não ficar restrito à eficientização da iluminação pública, podemos incluir a da sinalização horizontal, as mudanças de trânsito, intempestivas e sem estudos técnicos que as sustentem, ou a administração por tentativa e erro. Com mais erros que tentativas, o que, convenhamos, tem muito mérito porque não é fácil cometer mais de um erro em cada nova mudança.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

O ativismo identitário e a segunda morte de Dona Ivone Lara

POR CLÓVIS GRUNER 

O ativismo identitário conseguiu mais uma vitória de Pirro. Apenas três dias depois de anunciada como a intérprete de Dona Ivone Lara no musical “Dona Ivone Lara – um sorriso negro”, a sambista Fabiana Cozza renunciou ao papel, após os ataques violentos que sofreu de militantes ignorantes, entre outras coisas, que sua escolha não foi um capricho da produção do espetáculo.

Seu nome contava com o aval dos familiares de Ivone Lara e da própria biografada – falecida em abril último, aos 96 anos –, pois o projeto começou a ser concebido na década passada. A justificativa para a investida contra Fabiana foi que, filha de pai negro (e sambista) e mãe branca, ela não é uma “preta retinta”. Ao aceitar interpretar Dona Ivone Lara nos palcos, Cozza estaria usufruindo do privilégio de ter a pele mais clara e contribuindo para a invisibilidade de artistas negros de pele mais escura.

Não vou discutir a cor da pela e a negritude de Fabiana Cozza. Gente mais capacitada e com legitimidade de sobra já o fez, em apoio a ela – Leci Brandão, Chico César, Emicida, além dos familiares e da própria Ivone Lara. Meu objetivo é discutir a violência que tem sido a tônica da atuação de parte da militância, particularmente nas redes sociais, capitaneada por influenciadores e influenciadoras digitais ávidos por likes e novos seguidores.

A quem acompanha a terra quase sem lei que é a internet, não é novidade que parcela da esquerda brasileira que a frequenta, os chamados “movimentos identitários”, se caracteriza pela prática de um policiamento moralista, arrogante e autoritário. Hostis ao diálogo com quem consideram diferentes – e a diferença se tornou evidência e prova de culpa –, são pródigos em apontar inimigos por toda parte, nem que isso signifique produzi-los.

O comportamento é mais abertamente visível nos "influenciadores de opinião”. Com milhares de seguidores alguns deles, eles parecem menos preocupados em abrir espaços de discussão, qualificar o debate público, em suma, desmantelar as muitas estruturas de poder e preconceito que os oprimem, e mais em uma busca incessante por curtidas e comentários elogiosos, pela sensação de que exercem uma influência sobre um número cada vez maior de seguidores.

A política da lacração – Nesse sentido, a performance é mais importante que a argumentação, e quanto mais intolerante e sectário o comportamento com o interlocutor, maior a “lacração”. Há um misto de preguiça, arrogância e covardia a sustentar uma prática que prescinde do diálogo, substituindo-o pelo ressentimento puro e simples, e confunde confronto com violência, tomada aqui em sua acepção mais restrita: o ato de intimidar, pelo recurso à força – que é, nas redes, principalmente discursiva – aquele que se pretende desqualificar.

Há muita preguiça em uma rede de circulação de textos e ideias que, basicamente, se alimenta e retroalimenta de uma maneira autorreferente e autossuficiente. Em um bom número de blogs e perfis de ativistas, não apenas o esforço de leitura começa e termina dentro da própria rede, como se compartilha um tipo de convicção ingênua de que os movimentos negros, feminista e LGBT nasceram com eles. O passado, quando aparece, surge de forma anacrônica, quando não meramente ilustrativa.

Como resultado, se ignora o esforço de construção desses movimentos e as muitas e complexas redes que os ligam a diferentes temporalidades. Dito de outro modo, falta historicidade a uma boa parte dos movimentos e ativistas, que parecem viver em um contínuo presente porque julgam desnecessário inserir sua militância em um tempo mais amplo, que contemple o passado e suas descontinuidades, seus avanços e recuos.

A fixação no presente explica também a arrogância que se expressa em uma espécie de estoicismo vulgar e virtual: na conduta do militante, sempre moralmente certa e reta, não há espaço para a incoerência e a contradição. Esse novo estoicismo, de verniz moralizante, justifica a exposição pública, a desqualificação, o linchamento de quem escapa a ele e a identidade que o define. Lombrosianos redivivos, os militantes identitários atribuem ao seu inimigo um olhar determinista que naturaliza sua diferença, transformada em uma desigualdade irredutível.

Há algumas explicações possíveis para essas condutas. Uma delas é de que, sem vitórias significativas, apesar de algumas conquistas mais ou menos pontuais, e depois de verem suas reivindicações incorporadas, diluídas e, algumas delas, nunca atendidas, por governos de esquerda – a descriminalização do aborto, por exemplo, nunca avançou –, sobrou a esses movimentos a truculência e o extremismo alimentados, ambos, pelo ressentimento.

Tornado afeto central da militância identitária, o ressentimento é potencializado nas redes sociais. Elas permitem que sentenças sejam rapidamente promulgadas e executadas pelos tribunais populares midiáticos, sem o filtro da reflexão mais ponderada, do debate, do enfrentamento de posições, resumindo tudo a acusações que cabem em uma ou duas frases, com algum esforço, em um post. Grosso modo, os movimentos identitários retiveram o pior da justiça tradicional – seu caráter excludente, por exemplo –, sem preservar, no entanto, seus poucos méritos.

A identidade como violência – Em seu livro “Identidade e violência: a ilusão do destino”, o economista indiano Amartya Sen nos lembra que as identidades (étnicas, religiosas, de gênero, etc.) tanto confortam como matam, denunciando o risco do que chama de “cativeiro” quando a cultura se deixa dobrar à “ilusão identitária”. Ele defende que identidades são plurais e as fronteiras entre elas, porosas e historicamente constituídas.

Isso não significa renunciar a características que definem, simbolicamente, nosso “lugar” no mundo, nem desconhecer as desigualdades hierárquicas que atravessam as relações entre diferentes culturas. Mas reduzir a identidade a algo absoluto, uno e coeso é perigoso porque, entre outras coisas, incentiva a construção e a percepção do outro como inimigo, tomando-o a partir de uma essência (étnica, religiosa, de gênero, etc.) ela própria artificial – não desempenhamos, socialmente, um papel único, mas múltiplos, plurais e não raro contraditórios papéis.

Um dos custos dessa busca por uma identidade singular e essencialista é o reconhecimento sempre limitado do outro, dificultando as possibilidades do encontro e da troca dialógica a partir de características mais ou menos comuns. E se Sen associa esse movimento em especial aos grupos e ideias nacionalistas de cunho mais conservador, no Brasil tem sido principalmente parte da esquerda a desempenhá-lo.

Os ataques contra Fabiana Cozza são apenas o mais recente, mas não o primeiro e, desconfio, nem o último caso de violência simbólica, protagonizado pelas redes de militância em nome da identidade e reivindicando, como justificativa, o combate à discriminação e suas consequências. Não há dúvidas que denunciar e combater as diferentes formas de preconceito e suas muitas violências é uma tarefa ética e política das mais urgentes.

Mas se a intenção é realmente desmantelar as estruturas profundas que os produzem e reproduzem, a militância identitária poderia tentar substituir a estratégia do linchamento e da desqualificação pelo confronto e a crítica capazes de forjar alianças, por exemplo, ao invés de se fecharem e cerrarem possibilidades de diálogo. Afinal, o ativismo identitário, suponho, sabe quem são seus verdadeiros inimigos.

Mas a enfrentá-los, inventa novas monstruosidades e produz novos inimigos a serem combatidos e linchados publicamente, em uma sanha persecutória e punitivista que condenamos quando vem da direita ou do Estado. E supõe, ou simplesmente finge supor que, com essa prática lamentável em que se cruzam egos, ressentimentos e disputas mesquinhas por nacos de poder, está de fato tornando esse mundo um lugar mais suportável. Mas não está.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

10 cuidados para ter no Facebook

POR LEO VORTIS
Durante muito tempo, o mundo viveu apenas com as esferas privada e pública. Mas as redes sociais vierem mudar essa realidade, introduzindo o conceito de esfera digital. As redes sociais, em especial o Facebook, são muito boas para comunicar, mas também podem representar um perigo em termos de quebra de privacidade.

Depois do escândalo da Cambridge Analytica, a imprensa mundial passou a fazer listas de recomendações sobre cuidados que você deve ter em relação ao Facebook. E hoje, baseado num texto do britânico “The Independent”, publico aqui um decálogo a conter algumas recomendações essenciais para preservar a sua privacidade.

1. A data do aniversário
Muita gente usa a data de aniversário como senha para muitas ações online. É possível que alguém parta desse dado para tentar acessar a sua conta bancária ou obter dados pessoais.
2. Número de telefone
Já imaginou alguém que você não conhece - e nem quer conhecer - telefonando a qualquer hora? Ou pior, entrando num processo de cyberbulling ou stalking – de cariz sexual ou não.
3. Abrir mão dos “amigos” 
Que tal abrir mão dos amigos que não são amigos? Segundo o “The Independent”, o professor de psicologia de Oxford, Robin Dunbar, desenvolveu uma tese segundo a qual uma pessoa só consegue manter  cerca de 150 relacionamentos estáveis. E a maioria dos amigos virtuais não estará ao seu lado quando precisar deles.
4. Fotografias de crianças ou jovens? Não…
Para começar, uma criança não pode dar permissão, mesmo aos pais. E como nunca se sabe quem está do outro lado, a melhor ideia é não abrir portas para intrusos, ainda que teoricamente virtuais.
5. Não revele a escola dos seus filhos
O número de crimes sexuais registrados tem crescido em alguns países. Evite dizer onde o seu filho está, porque os agressores sexuais podem estar à espreita.
6. Evite serviços de localização
Os sistemas Android ou o iPhone têm serviços de localização. Evite usar. Porque se alguém deseja prejudicá-lo não é boa ideia ele saber onde você está.
7. Evite comentários sobre o seu local de trabalho
É um caso comum. Cuidado com o que diz no Facebook, em especial sobre o trabalho. Qualquer pessoa – no caso, um chefe – pode acessar o seu perfil e ver o seu comportamento. Evite críticas públicas à sua empresa. Ah... mas há formas de excluir o acesso de certas pessoas.
8. Não marque o seu endereço
Muita gente marca o lugar onde vive e fornece o próprio endereço. Pode haver problemas. Por exemplo: há pessoas que gostam de mostrar fotografias das férias, enquanto ainda estão fora. Tudo bem. Mas é melhor não esquecer que há gente mal intencionada (os tais amigos do alheio) que fica sabendo que você não está em casa.
9. Numa relação? 
Guarde essa informação para si e para a sua vida pessoal. Há muitas razões. A primeira é que os relacionamentos acabam e a mudança de status sempre chama a atenção. A outra é que pessoas que não gostam de você também podem começar a chatear a sua cara metade. O mesmo vale para o resto da família.
10. Detalhes do cartão de crédito
Mas nem que a vaca tussa.