segunda-feira, 23 de abril de 2018

Lula continua preso


POR JORDI CASTAN
Lula segue preso e isso é bom para o Brasil e para acabar com a impunidade. Que um condenado por crime comum, depois de ter recorrido até a segunda instância tenha que cumprir a pena é bom e deveria ser o normal, porque mostra que a lei pode ser que seja para todos. O que surpreende é que haja ainda gente que insista em que um político preso é um preso político. O que surpreende é que haja gente que acredite que Delcídio, Dirceu, Palocci, por citar alguns, mereçam seguir presos e que só eles devam cumprir a pena, sem que o chefe da organização criminosa que tomou o poder neste país tenha também que pagar por isso.

Há quem jure de pés juntos que Lula é uma ideia, há ainda quem acredite que ele é na realidade um ectoplasma e que por isso não possa ser encarcerado. Lula desperta paixões, tanto nos que mudaram de nome para homenageá-lo e incorporaram o Lula ao seu nome de batismo, como os que vem nele um ectoparasito que junto com sua quadrilha utilizou o poder para parasitar o país.

A prisão de Lula é um passo no caminho do combate à corrupção, um passo de gigante ao mostrar de forma clara que ninguém está acima da lei, mas quando há tantos outros soltos, livres para ir e vir e pior ainda, livres para se candidatar a um cargo eletivo no próximo outubro, a impressão final é que a corrupção no Brasil não tem data para terminar, que está fortemente enraizada na sociedade em todos os níveis e segmentos e que uma parte da população, não é corrupta por princípios e sim por falta de oportunidade.

Espanta a virulência e a agressividade com que os acólitos adoradores de Lula defendem com unhas e dentes seu corrupto de estimação. A participação da maioria dos deputados, governadores e senadores, na sua maioria do PT em atos públicos de apoio ao ex-presidente preso, tem sido ou serão pagos com recursos públicos, o que é uma ilegalidade e uma imoralidade. Ainda que falar de imoralidade entre gente de tão poucos e tão elásticos princípios seja uma autentica perda de tempo. A maioria não sabem o que sejam princípios e os poucos que sabem não os praticam.

É preocupante o nível de agressividade de lado e lado. Preocupante que haja no judiciário um núcleo duro empenhado em que Lula não cumpra a pena, a que tem sido condenado, preocupante que a desfaçatez seja a prática comum na hora de argumentar e que fascista seja o adjetivo mais usado para desacreditar ou atacar a quem pensa diferente. Não deveria ser necessário lembrar que os mais acusam aos outros de fascistas são os que mais demostram um comportamento fascista e autoritário. 

Em tempo dois comentários sobre o circo em que estão querendo converter a prisão de Lula. O primeiro que a legislação estabelece claramente quem pode e quando pode visitá-lo, quem não respeita a legislação esta só querendo chamar a atenção e buscando tumultuar. A segunda que governadores e senadores que mostraram tanta rapidez em conhecer as condições da sala em que o ex-presidente está preso não tem mostrado o mesmo interesse em conhecer as condições dos presídios dos seus estados o que deveria gerar uma reflexão dos eleitores e evidencia o caráter partidário e circense de estas visitas e movimentações.
Alias é bom lembrar que a sala que ocupa não é para que receba visitas e de entrevistas, presos devem seguir as regras do lugar em que estão encarcerados e receber amigos, dar entrevistas ou sair de passeio não são atividades permitidas para alguém que cumpre pena.

A cada dia que Lula passe preso, o mito se desfaz um pouco e fica mais evidente que era só um ídolo de barro. Como disse Vargas Llosa nesta semana passada, Lula não está preso pelas coisas boas que fez em quanto foi presidente, está preso pelas coisas erradas que fez.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

As Humanidades em disputa


POR CLÓVIS GRUNER
A manchete de segunda-feira (16), do caderno “Educação” da Folha de São Paulo, não deixa muita margem para dúvidas: “Filosofia e sociologia obrigatórias derrubam notas em matemática” soa como uma sentença, tamanha a certeza contida em uma única frase. O que vem depois tampouco ajuda. Trata-se de resultados parciais de uma investigação conduzida por dois pesquisadores do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Thais Waideman e Adolfo Sachsida, cujas conclusões finais ainda serão publicadas.

De acordo com o trabalho, a inclusão obrigatória das duas disciplinas no ensino médio, em 2009, prejudicou o desempenho dos estudantes em três outras – além de matemática, são citadas redação e linguagens, mas não se explica porque apenas a primeira virou manchete. Não é o único nem o maior problema da matéria. Ela omite, por exemplo, que um dos responsáveis pelo levantamento, Adolfo Sachsida, é conselheiro econômico de Jair Bolsonaro, o presidenciável que despreza não apenas as Humanidades, mas uma parcela da humanidade.

Os dados foram extraídos das notas do ENEM, o Exame Nacional do Ensino Médio, mas o texto não diz, entre outras coisas, se a pesquisa levou em conta as mudanças implementadas no exame – a estrutura das provas foi modificada e o uso do ENEM como critério de acesso à universidade foi gradativamente expandido desde sua criação, gerando entre outras coisas uma enorme ampliação no número de inscritos – foram cerca de 6,7 milhões no ano passado. Outras variáveis ficaram de fora, ao menos da reportagem, e elas são importantes em pesquisas dessa natureza.

Exemplos: as condições de ensino e das escolas eram adequadas? O número de professoras e professores suficiente e elas/es suficientemente preparadas/os? Quais métodos de ensino foram empregados? Havia a preocupação em integrar o ensino de matemática a outras disciplinas do currículo escolar? Fica a impressão de que os autores chegaram a conclusões que, se servem de argumento à guerra cultural, carecem de rigor analítico. Afinal – e isso se aprende em aulas de Sociologia –, correlações não implicam necessariamente em causalidade.

A ideologia como método – A pesquisa tem um viés clara e abertamente ideológico, e não me parece despropositado vê-la como mais uma peça arremetida contra o nosso campo. A ofensiva contra as Humanidades não é exatamente nova, mas recrudesceu nos últimos anos e escapou ao ambiente virtual, orientando e dando forma à políticas públicas na Educação, tais como a nova Base Nacional Curricular Comum e a Reforma do Ensino Médio. Ela se sustenta em basicamente duas premissas.

A primeira, a de que elas são um antro de “esquerdopatas”, doutrinadores que usam as salas de aula para macular ideologicamente jovens inocentes, sua “audiência cativa”. Brandido particularmente por trogloditas mentais para quem qualquer defesa dos Direitos Humanos ou das chamadas minorias é sintoma de “esquerdopatia” – como os anônimos comentaristas desse blog –, é o tipo de argumento que, de tão espúrio, não merece crédito, nem paciência. Mas há um segundo, ao menos aparentemente mais sofisticado, e que demanda alguma atenção: o de que não produzimos um “conhecimento prático”, e estamos em descompasso com as exigências do “mundo contemporâneo”.

A expressão, não raro, é empregada como eufemismo para “mercado”. Sob essa ótica, a produção e transmissão do conhecimento devem adequar-se, necessariamente, às exigências do “mundo prático” e estarem conectados ao “real”. Logo, disciplinas como Filosofia, Sociologia, História ou Geografia, além de consumirem, no ensino superior, recursos valiosos que poderiam ser investidos, por exemplo, em áreas como as engenharias, obrigam estudantes do ensino básico a aprenderem inutilidades ao invés de coisas realmente úteis, como matemática.

A tendência é objetar essa crítica argumentando que as matérias de Humanas produzem um “pensamento crítico”, objeção legítima, mas insuficiente. Primeiro, porque nem sempre fica claro o que se entende por “pensamento crítico”. Além disso, a existência por si só das disciplinas humanísticas não garante nada, porque é preciso levar em conta – assim como no caso da matemática – as condições de seu ensino. E nunca é demais lembrar, afinal, que Marco Antonio Villa é historiador.

Em defesa das Humanidades – Se estamos a dialogar com quem pensa em termos práticos e objetivos, é preciso tentar responder igualmente. Não se sustenta o argumento de que nós, das Humanas, impedimos o avanço da ciência no Brasil. Dados de 2016 indicam que apenas algo em torno de 10% das verbas de pesquisa foi investido, pelos órgãos de fomento como Capes e CNPq, na área, e é provável que, com os cortes do atual governo, esse número tenha sido ainda menor no ano passado.

Custamos muito pouco aos cofres públicos, afinal. E tampouco somos inúteis. Nas universidades, são principalmente os cursos de Humanas os responsáveis pela formação de novos docentes e por atividades de extensão, considerada a “prima pobre” da pesquisa, mas responsável pela integração e inserção da academia nas comunidades externas a ela. O conhecimento produzido também está disponível aos poderes públicos e ao mercado, que nem sempre sabem, ou querem, fazer dele um bom uso.

Disciplinas como a sociologia, a antropologia e a história são fundamentais para o desenvolvimento e implantação de políticas públicas de saúde, segurança, cultura e, óbvio, educação, entre outras. A agricultura e o desenvolvimento urbano precisam da geografia. A implantação e multiplicação de círculos de leitura, bibliotecas e outros espaços e aparelhos culturais serão precárias sem os profissionais de letras e filosofia. A preservação da memória e do patrimônio histórico e cultural não depende apenas de arquitetos, mas igualmente de historiadores. E o mercado, perguntarão alguns?

Há quem diga que fazemos e vendemos miçanga como ninguém. Mas nosso âmbito de atuação é maior. Lemos pouco no Brasil, mas parte significativa do pouco que se lê é fruto da comunidade de leitores formada pelo trabalho de estudantes e profissionais de Humanas. Além disso, não é nada negligenciável nossa contribuição em áreas tão distintas como a organização de arquivos, públicos e privados; a produção e consultoria cultural e museológica; o mercado editorial; a comunicação (tanto o jornalismo como a publicidade); o turismo; o design; a moda; a produção audiovisual e o desenvolvimento de games, entre outros.

Sim, há equívocos e distorções a serem corrigidos nas Universidades, no ensino e na pesquisa, mas isso não é exclusivo às Humanas. Também é preciso repensar os meios pelos quais as disciplinas são ministradas no ciclo básico, e embora já exista muita gente se dedicando a isso, é possível fazer mais. Mas os problemas não se resolvem retrocedendo. Nem, tampouco, com pesquisas que mal disfarçam sua orientação ideológica.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Prisão de Lula é notícia em todo o mundo

POR ET BARTHES
A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido notícia constante na imprensa internacional. A maioria dos meios de comunicação, em especial nos países desenvolvidos, tem criticado a atuação da Justiça brasileira. Em pauta estão ações consideradas arbitrárias e desconectadas do estado de direito.




A força que o Brasil precisa...

POR ET BARTHES
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Agora é Aécio

POR ET BARTHES
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terça-feira, 17 de abril de 2018

Triplex



POR SANDRO SCHMIDT

MTST ocupa triplex. E o triplex não é nada disso...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O marketing de guerrilha é uma eficiente arma de comunicação. Quando não há dinheiro para “comprar” espaços na mídia, a solução é produzir ações que, com baixo ou nenhum custo, consigam passar a mensagem que se pretende. Um exemplo de marketing de guerrilha muito oportuno aconteceu nesta segunda-feira, quando integrantes do MTST e a Frente Povo Sem Medo ocuparam o triplex “atribuído” ao ex-presidente Lula (“atribuído” agora é o jargão usado pela imprensa brasileira).

O lugar é simbólico. Foi por causa do apartamento no Guarujá que o ex-presidente acabou condenado a uma pena de prisão. A invasão de ontem durou apenas três horas, um tempo mais que suficiente para produzir efeitos midiáticos pretendidos, no Brasil mas especialmente no mundo. Pela relevância jornalística, a imprensa brasileira não tinha como fazer vistas grossas. E como a velha mídia tupiniquim já demonstrou ter lado, tem sido muito importante para os apoiadores de Lula conquistar a atenção do exterior.

E funcionou. Não é preciso fazer uma pesquisa extensiva para encontrar a notícia na imprensa europeia e norte-americana, por exemplo. The Guardian, NY Times, Jornal de Notícias, RFI e mesmo algumas agências internacionais, a garantia de que a notícia chega a todo o mundo. Na semana passada, escrevi aqui que a prisão de Lula abriria uma nova etapa no processo: a guerra simbólica. Ou seja, a estratégia de construir uma narrativa. É preciso conquistar a opinião pública, não apenas nacional mas também no exterior.

A estratégia do PT passa por focar a imprensa internacional. E os resultados têm sido favoráveis em termos de imposição da narrativa. O mundo sabe o que se passa no Brasil. Ou seja, sabe do golpe. Mas depois do “com o supremo com tudo” a justiça brasileira perdeu credibilidade. Nas democracias, é natural haver um respeito pelos sistemas judiciais e isso aconteceu em relação ao Brasil até bem pouco tempo. Mas hoje, depois de todas as evidências do julgamento político de Lula, não há defesa possível.

A CEREJA NO TOPO DO BOLO -  Mas a revelação mais irônica do episódio foi o filme feito pelo pessoal do MTST para mostrar o apartamento. E as imagens vieram abalizar as explicações do ex-presidente, quando revelou os motivos para não efetivar o negócio. O apartamento nada tem de luxuoso, ideia que a velha imprensa se esforçou por divulgar. E só os muito ingênuos (para não usar termos mais duros) podem acreditar que a OAS gastou U$ 1,2 milhão na reforma do lugar, como afirma a acusação de Sérgio Moro.

Logo abaixo, o triplex como a imprensa mostrou e como é na realidade. Enfim, só alguém com a visão toldada pelo ódio de classe pode achar que Lula iria trocar a sua história política por isso.

É a dança da chuva.






segunda-feira, 16 de abril de 2018

A Joinville de gente que não reclama, só resmunga

POR JORDI CASTAN
Joinville é uma cidade singular. Poucos lugares conseguiriam sobreviver a décadas de maus governos, sem planejamento e dirigidas por legiões de ineptos. Qualquer cidade que não fosse Joinville já teria sucumbido faz tempo. Mas Joinville não. Joinville insiste teimosamente em sobreviver, em crescer e em prosperar, mesmo neste ambiente hostil em que a mediocridade viceja. Aqui o compadrio toma conta de tudo e o poder público está contaminado pela inoperância, a preguiça e ausência de uma visão estratégica para a cidade.

É importante estabelecer uma linha clara entre a cidade e seus habitantes, que são as pessoas, empresas e organizações que aqui lutam para prosperar e fazer prosperar, e a cidade e sua administração, os seus administradores e toda esta corja de gente e organizações penduradas nos seus úberes, outrora fartos e inesgotáveis. São os mesmos que veem e tratam Joinville como sua propriedade privada e a utilizam exclusivamente para seu beneficio próprio e o dos seus apaniguados.

Só uma cidade como Joinville para sobreviver. É a resiliência o que faz desta cidade um modelo a ser estudado, vivissecado e analisado. Esta capacidade de, por um lado, aceitar a inépcia e, pelo outro, superá-la. Este jeito tão joinvilense de calar e acatar. Este povo ordeiro trabalhador que suporta por anos a fio gestões incompetentes. Obras que nunca terminam. Obras que nunca começam. Obras que custam muito mais que o orçado e seguem com péssima qualidade. Prédios públicos abandonados durante lustros e décadas no mesmo centro da cidade. Avanços sobre a Cota 40. Redução das áreas verdes. Instalação de estações elevatórias de esgoto em praças públicas sem que ninguém se manifeste.

É ainda mais interessante ver como o joinvilense não gosta e até resmunga quando alguém se atreve a pôr em duvida a capacidade do gestor de plantão ou a acuidade mental de quem planeja e executa as obras públicas. Esse resmungar, tão característico dos sambaquianos, não conhece paralelo em outras sociedades que optam por se manifestar abertamente e publicamente. Aqui, desde a época da colônia, assumo que essa época colonial pertence a um passado distante e não segue sendo atual, criticar é muito mal visto. A ordem é baixar a cabeça e trabalhar, não questionar, não pensar diferente do pensamento oficial. Se não estivéssemos no século XXI, poderíamos imaginar que estamos vivendo na Alemanha nazi da década de trinta, em que qualquer um que dissentisse do fuhrer corria o risco de ser apaleado.

Vamos a seguir baixando a cabeça e trabalhar duro, porque temos que pagar os impostos, taxas e contribuições para manter azeitada essa máquina pública que nos explora e nos oprime. Viva essa resiliência que nos permite ser fortes e resistir a esta pressão infernal e superá-la. Viva Joinville, viva seu povo ordeiro e sofredor que aguenta tudo em silêncio ou, no máximo, emitindo pequenos resmungos baixinhos para não correr o risco de interromper o plácido sono do gestor. Vai que ele acorda e fica brabo.