Michel Temer comemorou o resultado dos leilões para a exploração dos campos de petróleo do pré-sal, realizados na semana passada. O presidente disse que o país agora entra num novo ciclo de crescimento econômico e, ao mesmo tempo, acenou com a criação de 500 mil novos empregos. O negócio garantiu ao governo uma arrecadação de 6,15 bilhões de reais em bônus (abaixo do esperado). Michel Temer tenta passar a ideia de que a entrega do pré-sal aos estrangeiros foi um negocião.
Só que logo a seguir a revista “Exame” tratou de jogar água no chope de Temer, com uma manchete até irônica: “pré-sal arrecada 1/5 do que Temer gastou para escapar de denúncia”. Segundo a revista, a grana que entra para os cofres públicos cobre parte ínfima do buraco financeiro. Não dá para comemorar, claro. Mas o que está em jogo não são os números. É o entreguismo. A corja do golpe está a entregar o Brasil de bandeja. E os brasileiros permanecem em estado de catatonia.
Entreguismo é a palavra do momento. É possível que muitos não saibam, mas há muito tempo a expressão é vista como um conceito ideológico, com repercussões nos planos político, social e econômico. O entreguismo é um mal do tal terceiro mundo e consiste na entrega das riquezas nacionais para a exploração de outros países. Gente com outros interesses. A desnacionalização de certos setores estratégicos para as economias nacionais faz parte da estratégia. É a tragédia de um passado colonial que nunca acaba.
A entrega do pré-sal põe a nu a lógica do entreguismo. Deixa claro que as elites lesa-pátria estão do lado dos estrangeiros. Temer e a sua catrefa podem insistir nessa tecla, mas nenhum negócio é aceitável se representa um golpe na soberania nacional. E quem ainda tem na memória o escandaloso processo de privatização da Vale do Rio Doce sabe do que estamos a tratar: uma das empresas mais valiosas do patrimônio público é vendida a preço de banana. Mas logo a seguir não pára de dar lucro aos compradores.
Mas não se ouve uma única panela. Porque muitos brasileiros, em especial a classe média, vivem o delírio de um estado mínimo e um pretenso liberalismo. O problema é que a maioria não faz a mínima ideia do que está a falar. E nem percebe que está a ser envolvida por um tipo de “ideologia”. Por quê? Porque o discurso, feito a partir da colagem de clichês surrados, é fácil de absorver. Tão fácil que até os analfabetos mirins do MBL, por exemplo, conseguem passar por inteligentes.
O país está nas mãos de gente disposta a entregar os anéis, mas também os dedos. Não se iludam, porque não estamos a falar de estratégias políticas ou econômicas. Estamos, isto sim, a tratar de simples entreguismo, autênticos crimes de lesa-pátria. Há quem não consiga enxergar, mas quando o “gigante acordar” a sério vai ver um Brasil amputado nas suas riquezas. E com o futuro dos brasileiros hipotecado. Eis a ironia: quem alertou para a sacanagem foi tachado de “petralha, bolivariano, esquerdopata”. Mas quem avisa...
É a dança da chuva.