sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Maledetto Rossi!!!!!!!

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Dizem que todo ser humano tem direito ao perdão. Todos, menos o Paolo Rossi. Para mim ele merecia ser julgado – e condenado – pelo crime de lesa-beleza do futebol. E vou mais longe. A punição devia ser uma tortura inspirada nestes novos tempos: o cara fechado num quarto escuro onde, a cada 30 segundos, era forçado a ouvir um coro de vuvuzelas.

O leitor que gosta do futebol bonito sabe do que estou a falar. Tudo aconteceu no dia 5 de Julho de 1982, no Estádio de Sarriá, num verão de Barcelona. A seleção brasileira, dirigida por Telê Santana, era a sensação da Copa do Mundo. E tinha uma qualidade rara. Além de ganhar os jogos de forma irretocável, ainda dava autênticos recitais de futebol.

O time brasileiro jogava por música (a gente nem ligava se o Serginho Chulapa e o Valdir Peres destoavam). E de forma tão afinada que mesmo os torcedores dos outros países pensavam que o campeão já estava encontrado. Quando, naquele dia quente, as equipes do Brasil e da Itália entraram em campo, ninguém tinha dúvidas de que seria apenas para cumprir tabela. Os italianos, mal das pernas, não eram páreo para aquele timaço.

E eis que surge esse Paolo Rossi para rasgar o script. O cara fez três gols e a Itália venceu por 3 a 2. Deve ter sido um dos dias mais tristes que eu vi no Brasil. Quem viveu o momento sabe como doeu. Não por acaso, no jogo seguinte da Itália, apareceu na torcida italiana uma faixa a dizer algo assim: “Rapazes, vocês destruíram um mito”.

Tenho uma memória firme desse dia porque fazia dois meses que era repórter de A Notícia (ainda estudante de engenharia) e lembro que a redação parecia um sepulcro. Havia muitos marmanjos, jornalistas com longa experiência, com os olhos vermelhos e marejados. E ninguém com disposição para trabalhar. Então, coube a mim fazer a “repercussão” da derrota nas ruas de Joinville. Mas, como diz a música, naquele dia “a cidade apavorada, se quedou paralisada”.

Maledetto Rossi.




Professor, um herói desprezado pela sociedade

POR DOMINGOS MIRANDA
O poeta e dramaturgo alemão Brecht, escreveu em sua peça Galileu Galilei: “Pobre do povo que precisa de herói”. E, no início de outubro, mês das crianças e dos professores, morreu heroicamente, na cidade mineira de Janaúba, a professora Helley Abreu Batista, de 43 anos. Ela lecionava numa creche municipal e lutou bravamente com o vigia que colocou fogo em uma sala de aula lotada de crianças. Mesmo com o corpo em chamas, a professora se esforçou para tirar as vítimas do meio do incêndio. Helley teve 90% do corpo queimado e dez horas depois morreu no hospital. Era casada e deixou três filhos: de um, 11 e 13 anos.

Como sempre acontece nestas horas, a tragédia fez com que as autoridades enaltecessem, com razão, aquela professora reconhecida por suas qualidades profissionais e com uma coragem e solidariedade inimagináveis. Mas, neste país onde o que mais se destaca é o farisaísmo e a hipocrisia, há muito discurso e poucas medidas práticas. Basta ver que o piso nacional dos professores, em torno de R$ 2 mil, não é respeitado na maioria dos Estados. Por outro lado, juízes e procuradores formam uma casta de marajás que recebem até R$ 100 mil por mês, muito acima do piso constitucional. Utilizam os célebres penduricalhos para burlar a lei.

A sociedade, em grande parte formada por zumbis que não sabem fazer respeitar a cidadania, permite que tais aberrações continuem existindo como se não houvesse nada de anormal. Os mesmos governantes que alegam não ter recursos para pagar o piso dos professores, se calam diante dos salários estratosféricos dos juízes. O presidente Temer, no ano passado, sancionou um reajuste de 57% para o judiciário, uma categoria com os melhores salários do país. Quando há vontade política a coisa muda de figura. O Maranhão, um dos Estados mais pobres do Brasil e administrado por um governador comunista, decidiu pagar os melhores salários para os professores da rede estadual de ensino, com piso de R$ 5 mil.

Em outros países os professores são respeitados e valorizados, mas aqui, seguindo uma tradição histórica de nunca dar destaque à educação, eles são tratados como profissionais de segunda classe. Os mestres são desrespeitados pelo governo, pelos pais e pelos alunos. Inúmeras vezes os estudantes agridem os mestres e fica tudo por isso mesmo, em um silêncio vergonhoso do restante da população.

O médico e escritor Augusto Cury botou o dedo nesta ferida. Escreveu: “Os professores são heróis anônimos, fazem um trabalho clandestino. Eles semeiam onde ninguém vê, nos bastidores da mente. Aqueles que colhem os frutos dessas sementes raramente se lembram da sua origem, do labor dos que as plantaram. Ser um mestre é exercer um dos mais dignos papéis intelectuais da sociedade, embora um dos menos reconhecidos. Os alunos que não conseguem avaliar a importância dos seus mestres na construção da inteligência nunca conseguirão ser mestres na sinuosa arte de viver”.

Se a sociedade quer valorizar os professores, cobre dos seus governantes mais respeito a estes profissionais e exijam salários dignos para eles. Este será o primeiro passo para sairmos da indigência moral em que nos encontramos. Palavras duras, mas necessárias.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Temer, o escravo de 594 almas

POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Com a infeliz declaração de que "só temos a comemorar", o atual Ministro da Agricultura e empresário do setor de agrotóxicos, Blairo Maggi, explicou o sentimento do governo federal sobre as novas regras que definem a fiscalização do trabalho escravo no Brasil. Mesmo que a Secretária Nacional de Cidadania, Flávia Piovesan, diga que é um "retrocesso inaceitável", não há como negar que o Brasil acabou por regularizar o trabalho escravo. As novas burocracias impostas, e comemoradas pelos grandes empresários urbanos e agrários, praticamente impedem qualquer investigação isenta ou denúncias frutíferas. Trabalhadores nacionais e estrangeiros, do campo e da cidade, especialmente pobres e crianças (crianças!), são os mais atingidos. Estamos pagando um preço quase inimaginável para o sustento de Temer no poder.

O nosso país ainda mantém muitas heranças do período colonial, e a escravidão é uma delas. Os negros possuem um passivo social gigantesco por causa disso, apesar de grande parcela da população negar e ainda acreditar no falso discurso da meritocracia. Ainda sustentamos nossos privilégios nesta lógica de séculos atrás. Por outro lado, os dados sobre trabalho mostram algo que pouco enxergamos: nos últimos dez anos, mais de 1.500 pessoas foram libertadas de condições assim, por todo o Brasil, em média. Para piorar, agora está tudo muito bem regulamentado, mesmo que o governo fale em "novas regras para a fiscalização".



Ocorre que a deturpação de direitos sociais pelo atual governo está virando rotina, especialmente como moeda de troca para o chefe do executivo se livrar de acusações contra o seu nome. Para se livrar do primeiro pedido de Impeachment, patrocinou o Congresso com emendas e medidas provisórias que beneficiaram os representantes setores do agronegócio, das igrejas e outros setores conservadores. Não por acaso, visto que a bancada desses ramos tem uma grande relevância na composição do Congresso. A regularização do trabalho escravo, lembremos, é uma estratégia para compor com a segunda acusação, a qual já tramita pela Câmara.

Sendo assim, temos um presidente que é o verdadeiro escravo, mas de 513 deputados e 81 senadores. Para se manter no poder, atende a todos os interesses de seus donos, nem que, para isso, tenha que cortar os nossos direitos. É uma luta desenfreada para realinhar conservadoramente o país. E ainda faltam a Previdência, bem como outras surpresas desagradáveis que logo virão. Com Supremo, com tudo.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O que fazer com o golpe?


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um olhar mais curto permite dizer que o golpe foi um sucesso. Afinal, o objetivo foi alcançado: derrubar Dilma Rousseff e levar os golpistas ao poder. Mas parece que não foi suficiente. Se é fácil tomar o poder, mais difícil é mantê-lo. E é aí que o sol queima o vampiro. Porque vai ficando evidente para os brasileiros, cada vez mais, que o golpe tinha o objetivo de proteger os corruptos. E não o contrário, como foi o discurso da época.

Em pouco mais de um ano, a ideia de que “não foi golpe” caiu de podre. Os “negacionistas” são cada vez mais raros e resumem-se aos amblíopes políticos. Diz a frase surrada que contra os fatos não há argumentos. E os fatos confirmam, no dia a dia, o que qualquer pessoa com dois dedos de testa já sabia e que, aliás, havia sido antecipado na frase do senador Romero Jucá: “tem que mudar o governo para estancar essa sangria”.

Os fatos vêm em catadupa. O mais recente foi protagonizado pelo operador financeiro Lúcio Funaro, que entregou Eduardo Cunha. Segundo a delação premiada, o ex-deputado teria recebido uma verba de R$ 1 milhão para comprar votos pela destituição de Dilma Rousseff. Alguém duvida? A patranha é tão evidente que que os advogados da ex-presidente já anunciaram o pedido de nulidade do processo de impeachment. Deve dar em nada, claro.

O golpe está a está a se esboroar e o atual Executivo é um bom retrato disso. O presidente está refém do próprio golpismo e dos fatos que isso acarreta: enfrenta a falta de credibilidade, é incapaz de convencer da sua legitimidade e, acossado por sérias denúncias de corrupção, tenta negociar a própria sobrevivência. Parece uma comédia, mas na realidade o país vive uma tragédia: o entreguismo tem sido uma marca destes tempos.

O Congresso Nacional, formado em sua maioria por corruptos dispostos a tudo, inclusive salvar o couro de Michel Temer, demonstra não ter escrúpulos. Mas tudo tem um preço, claro. Nem é preciso ir longe. Lembram das denúncias de corrupção no caso das propinas pagas pela JBS? Diz a imprensa que a operação “salva Temer” exigiu cerca de R$ 17 bilhões, em emendas e perdões de dívidas. Dinheiro do bolso de quem?

E por fim temos o Judiciário no fundo do poço. O poder de onde deviam emanar as garantias do estado de direito tornou-se um sorvedouro de dinheiro, um mundo à parte que flutua acima dos cidadãos comuns. O STF, por exemplo, é formado por deuses num Olimpo próprio. Não por acaso perdeu o respeito da população. E o pior: não consegue se livrar do estigma de estar superpolitizado (superpartidarizado, mesmo).

Mas há quem ainda espere pela estocada final: tirar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do caminho das eleições em 2018. Essa seria a segunda parte do golpe: evitar Lula e acabar com o PT. E mesmo que isso viesse a acontecer, ainda assim o golpe seria um fracasso. Porque os golpistas não conseguiram se tornar alternativa para ocupar esse vazio. Foram com muita sede à jugular da nação e com isso fecharam a tampa do próprio caixão.

Enfim, o que o golpe conseguiu foi transformar o país numa imensa distopia. Pobre Brasil.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Hackathon. Ou como a montanha vai parir um rato

POR JORDI CASTAN
A Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável promoveu o encontro "Hackathon Desenhos Urbanos Colaborativos - Desafio Join.Valle". Foi um momento para mostrar ideias criativas que permitam tornar a região central de Joinville mais interessante e humana. Os resultados devem ser apresentados ao prefeito Udo Döhler, em novembro.

O que parecia algo promissor, deu poucos frutos. Não há como não se decepcionar com as propostas apresentadas para revitalizar o centro da cidade. Falta ousadia, criatividade e coragem. Nenhuma das propostas é capaz de olhar para além da mesmice e da mediocridade instaladas no espírito desta Joinville que já foi e não é mais.

Gostaria de discorrer aqui sobre esse lindo exercício de diletantismo, de resultado mais que duvidoso. Propor ideias sem compromisso com a sua execução, sem envolver os atores e sem outro objetivo que discorrer sobre utopias desvinculadas de uma análise metodológica ou de um diagnóstico detalhado é pura perda de tempo.

As propostas divulgadas não passam de uma repetição dos belos projetos policromos e fantasiosos que têm sido apresentados ao longo dos anos. E que nunca tem saído do papel. Aliás, quando eventualmente são implantados se tornam uma caricatura do que tinha sido projetado. Há muitos casos que ajudam a comprovar este fato.

Os parques do Fonplata ou as obras do Rio Morro Alto são dois exemplos. A duplicação da avenida Santos Dumont e as obras de contenção das cheias do Ribeirão Mathias são exemplos mais recentes aos quais poderíamos acrescentar muitos outros, como as intermináveis obras das Ruas São Paulo ou Piratuba.

O estado de abandono de Joinville - e especialmente do centro - é não é o resultado das decisões equivocadas tomadas no passado. Pelo contrário, é mais  resultado das decisões não tomadas ao longo do tempo. Pagamos um preço cada vez mais alto pela inação, pela falta de ação que nesta gestão esta vivendo o seu ápice. A mediocridade é contagiosa. 

Vivemos numa época denominada VICA. Uma época que se caracteriza pela volatilidade de conceitos e valores, pela incerteza e pela complexidade. Uma época em que não há espaço para gestores com uma visão simplória, um tempo em que predomina a ambiguidade. Não ha espaço neste tempo para lideres autoritários, lineares, que se aferram a certezas e ainda acreditam que a terra seja plana.

A incapacidade de pensar a cidade de maneira consistente é a raiz dos males que assolam a Joinville destes tempos. Não espanta, portanto, que isso se reflita em eventos como o Hackathon. É um caso para lembrar o velho adágio: "a montanha vai parir um rato".

Quem tiver interesse em conhecer algumas propostas, clique (aqui) para ler no AN.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Jogar com a camisa 13. Dá sorte ou azar?

POR MARCO CASAGRANDE
Jogador de futebol é supersticioso? Uns dizem que sim, outros que não? Mas o que dizer de uns caras que, sempre que entram em campo, fazem questão de usar o pé direito? Vestir a camisa número 13, então, é motivo de desconfiança. Nos países mais assustadiços com as coisas do outro mundo, os jogadores evitam. Em outras culturas mais racionais, nem tanto.

No Brasil, tem muita gente jurando que o 13 dá azar. Mas também houve quem invertesse essa lógica para dizer que o número dá sorte. Ninguém melhor que Mário Jorge Lobo Zagallo, o ex-jogador e treinador da seleção brasileira, para afirmar que não há azar. Afinal, como jogador ele foi campeão mundial em 1958 e 1962, vestindo a camisa 13.

E temos Pelé. O maior craque brasileiro de todos os tempos tornou a camisa 10 um símbolo. Tanto que durante muito tempo o número era reservado aos craques de qualquer time. O que poucos sabem é que quando estreou pela seleção nacional, em 1957 (um ano antes de ser campeão mundial), Pelé tinha o número 13 às costas. Seria um amuleto?

Aliás, o “rei” Pelé tinha uma admiração especial pelo craque português Eusébio, que sempre considerou um dos maiores jogadores de todos os tempos. O “Pantera Negra”, como era conhecido o moçambicano de nacionalidade portuguesa, foi dono da camisa 10 no seu clube, o Benfica, mas na seleção imortalizou a camisa número 13.

Uma história parecida é a do argentino Mario Kempes. O atacante começou a jogar pela seleção do país vizinho com o número 13. Mas em 1978, quando os argentinos conquistaram a primeira Copa do Mundo, Kempes já usava a mítica camisa 10 alviceleste, a mesma que tempos depois viria a ser de Maradona e Messi.

A lista de jogadores que fizeram sucesso com a camisa 13 é extensa. Entre os casos mais recentes está o brasileiro Maicon, que brilhou na Internazionale de Milão. E o número 13 não é estranho a Daniel Alves, seu contemporâneo de seleção. Outro é o craque alemão Michael Ballack, que usou a camisa nos clubes e na seleção da Alemanha.

E para terminar, uma curiosidade. Na Espanha o número parece ser destinado aos goleiros. É só conferir: Bravo (Barcelona), Oblak (Atlético de Madrid), Keylor Navas (Real Madrid). Podemos lembrar o goleirão Courtois, do Chelsea e da seleção belga, que jogou no Atlético. Outro é o português Beto, que jogou no Sevilha e hoje está na Turquia.

Sorte ou azar? É para quem quiser acreditar.

Pelé, Kempes, Zagallo e Eusébio: todos têm uma história com a camisa 13







Marco Casagrande é estudante de geologia em Rio Claro,
torce pelo São Paulo e é a favor
de entrar com o pé direito em campo.


A mídia ajudou no linchamento público de Cancellier

POR DOMINGOS MIRANDA
A morte do reitor Luiz Carlos Cancellier, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no dia 2 de outubro, causou repercussão em toda a sociedade e por isso merece um novo comentário. A imprensa, que teve papel de destaque no linchamento público, sente-se incomodada e começa a fazer uma autocrítica. Como é de conhecimento geral, Cancellier foi levado preso pelos policiais federais, despido, invadido em suas partes íntimas e algemado nos pés e mãos numa cela junto com presos comuns. Ele não era acusado, nem sentenciado, mas apenas investigado por um suposto desvio de dinheiro na UFSC na gestão passada. Mas a mídia vendeu a notícia repassada pela polícia e destruiu a reputação do reitor, adquirida ao longo de quatro décadas.

No dia 8 de outubro a Folha de S. Paulo publicou artigo da ombudsman Paula Cesarino Costa, sob o título “Jornalismo de ouvidos moucos”, criticando a cobertura da prisão e morte  de Cancellier. São suas palavras: “Em uma versão eletrônica, a reportagem de setembro tem hoje um sinal de Erramos, produzido 23 dias depois de sua publicação: ‘A reportagem deixou de informar que o reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, era investigado por suspeita de interferir na apuração sobre o desvio de recursos na universidade, e não pelo desvio em si’. A admissão do erro foi direto, mas insuficiente e demorada”.

A ombudsman revela que o jornal não tem correspondente em Florianópolis e por isso que as informações da primeira reportagem foram apuradas por telefone e e-mail da polícia. E ressalta: “O que interessa é refletir sobre a maneira como a mídia tem lidado com operações policiais que buscam holofotes em investigações ainda em andamento. (...) Em alguns momentos, é preciso ter coragem para publicar. Em outros, a ousadia de não publicar”.

No mesmo dia e no mesmo jornal, o experiente jornalista Elio Gaspari, autor de cinco livros sobre a ditadura militar, abordava em sua coluna dominical o caso Cancellier, com pesadas críticas. “Nos dias de hoje, proibir um reitor afastado de pisar na universidade serve apenas para humilhá-lo. Vale lembrar que a ditadura nunca proibiu os professores que cassou de entrar nas escolas.” Dias depois veio à tona mais uma arbitrariedade: a justiça proibiu, por quatro vezes, o reitor de receber ajuda espiritual. Gaspari termina seu artigo dizendo: “O reitor Cancellier tornou-se um desencanto para o Brasil da Lava Jato”.

Outro ícone do jornalismo, Kennedy Alencar, comentou em seu programa da CBN: “Esses funcionários públicos têm poder demais para usá-lo sem questionamento da sociedade. Não gostam de controle externo, algo necessário numa democracia. A imprensa, que tem o dever de ser crítica do poder, de fiscalizar os políticos, precisa ter a mesma atitude em relação a policiais, promotores e juízes. O jornalismo não pode ser correia de transmissão da polícia nem do Ministério Público. Tampouco do Judiciário”.

O direito à dignidade foi uma conquista da democracia. Autoridades não podem agir ao seu próprio arbítrio, desrespeitando normas, quando fazem suas investigações. Com a Lava Jato, por causa de uma popularidade adquirida e que começa a declinar, muitos juízes, procuradores e delegados começaram a atuar como verdadeiros déspotas, sem prestar contas a ninguém. A nota que as associações de servidores públicos que atuaram neste caso deram à sociedade foi um escárnio à população.

Diante de tantos abusos, há urgência na aprovação do  Projeto de Lei 7596/17, que tramita na Câmara desde 10 de maio e já foi aprovado pelo Senado e que define os crimes de abuso de autoridade cometidos por juízes e procuradores. O senador Roberto Requião batizou a lei que deverá entrar em vigor de Luiz Carlos Cancellier. Em discurso, Requião falou: “Deus meu, que a morte do reitor Cancellier seja o freio das arbitrariedades e do excesso das corporações que agem à margem da lei. Amém!”.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Dove tira campanha do ar. Foi racismo?

POR LEO VORTIS
O mundo digital facilita o cotidiano. Mas também complica a vida para as marcas, que precisam estar cada vez mais atentas ao que publicam. Com a internet, tudo tem maior visibilidade. A semana foi marcada pelos protestos e acusações de racismo contra a Dove por causa de um filme exibido no Facebook, nos Estados Unidos. 

Numa pela feita para as redes sociais, uma mulher negra tira uma camiseta marrom e, no seu lugar, aparece outra mulher, de pele e camisa claras. O filme não a acaba aqui, mas a confusão é apenas sobre esta parte. Porque há um outro take em que a mulher branca tira a camisa e, no seu lugar, aparece outra mulher, mas de traços asiáticos.

Algumas pessoas não veem racismo. Dizem que os publicitários apenas marcaram touca na  montagem do filme. E contra-argumentam. Uma mulher de pele escura sendo substituída por outra de pele clara é racismo, mas uma mulher de pele clara substituída por outra de pele asiática (mais escura) não gera controvérsia.

O fato é que as reações negativas dominaram as redes sociais. Os mais exaltados dizem que é claramente um anúncio racista, uma vez que a mulher negra estaria sendo “branqueada”. As críticas ganharam tamanho eco que a marca foi obrigada a emitir uma nota pedindo desculpas por ofensas causadas. E retirou o post da sua timeline.

O problema é que o fabricante tem um historial nesse campo. Há poucos anos, a marca passou por situação semelhante, quando publicou um anúncio com três mulheres, mas posicionou a mulher de pele escura sob a palavra “antes” e a de pele clara sob a palavra “depois”. Deu rolo. E a marca também teve que pedir desculpas.

E se fosse num país pobre, será que isso aconteceria? Há anos o mesmo fabricante tem um produto chamado Fair & Lovely, comercializado na Índia, que branqueia a pele. Na comunicação, a marca associa o sucesso à cor da pele. Quanto mais clara, melhor. O Fair & Lovely existe há anos e até hoje os países ocidentais nunca se queixaram. O segundo filme (abaixo) é bem claro.



terça-feira, 10 de outubro de 2017

Quem é o dono do "movimento das bichinhas livres"?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Fernando Holiday: “Agora tem o tarado por travesti achando que é dono do MBL. Pelo amor de Deus! Volta lá para o seu filme pornô. O que que é isso? Falta de vergonha na cara, Frota”.
Alexandre Frota: “Tarado eu sou, sim. Mas não por essa sua bundinha. Entendeu, essa sua bundinha é seca. Fraca. Se boto você de quatro, você não aguenta. Você morre ali mesmo”.

É oficial. O Brasil está mesmo no fundo do poço. Não sei se esse era o plano dos golpistas, que não mediram esforços para levar essa gente para o círculo do poder. Mas o certo é que  a democracia sangra de morte no Brasil destes dias. Já não estamos a falar apenas de obscurantismo, mas no mais nefasto momento da história recente do país. A diatribe entre esses dois nomes “relevantes” da direita brasileira é a prova dessa agonia.

É fácil perceber do que se trata, mas se o leitor e a leitora ainda não sabem a origem dessa baixaria, estamos em meio a uma disputa para ver quem é o dono do MBL - Movimento Brasil Livre. O nível do debate - lembremos que Frota ameaça matar Holiday à pirocada - nem pode ser considerado rasteiro. É inqualificável. É indizível. É vexatório. Pobre Brasil, que sangra lentamente nas mãos destes boçais.

Qual é o butim em causa? O MBL é identificado por ser uma fábrica de mentiras (as mais escabrosas), por ter sustentação financeira a partir de fontes duvidosas e por estar ligado a partidos de direita, de forma dissimulada. No entanto, o maior problema para a sociedade é o fato de ser uma pandilha de analfabetos mirins que consegue ser seguida por analfabetos políticos adultos. É o retrato da sanidade mental do país. 

E a gritaria continua. De um lado temos um bando de moleques desvairados e ignorantes que dizem ser os donos do MBL. Do outro temos um ator pornô desvairado e ignorante que diz ser o dono do MBL (“movimento das bichinhas livres”, nas palavras do próprio Frota). A assistir tudo isso está um país abúlico, uma sociedade tão habituada à lama que já nem se revolta por ser emporcalhada.

É a dança da chuva.