domingo, 9 de julho de 2017

G20 passa a ser “G19 e uma alma penada”


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Quem esteve atento às notícias do encontro do G20, em Hamburgo, pode achar que a presença de Michel Temer em solo germânico foi inútil. Mas não. O presidente brasileiro foi o responsável por uma grande mudança no G20, que reúne os líderes das 20 maiores economias do mundo. A partir desta edição o grupo passou a ser chamado “G19 e uma alma penada”.

O que Michel Temer foi fazer na Alemanha? É simples. Foi dar mais um empurrãozinho para afundar a imagem do Brasil no pantanal de falta de credibilidade. O mundo está ligado e sabe que Michel Temer é um presidente ilegítimo. Aliás, talvez um presidente a prazo. Afinal, acabou voltando à base mais cedo, por causa da “crise política”. Tem gente prometendo que não fica na cadeira por mais 15 dias.

Os conservadores que puseram Michel Temer no poder podem não estar preocupados com esse aviltamento da imagem do país no exterior. Mas o fato é que o Brasil saiu de uma posição de player internacional, construída nos últimos anos, para um lugar pária nas relações exteriores. Não custa lembrar que todos os ex-presidentes desde FHC estiveram em posição de negociadores relevantes no G20.

Quem pôs Michel Temer nessa saia justa? Ora, o nome do responsável pelo vexame na Alemanha é evidente: estamos a falar do ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, que até pode ser bom coadjuvante para um golpe, mas nunca alguém a ter em conta quando o assunto é política internacional. Não vamos esquecer o desastre que foi a viagem anterior à Rússia e à Noruega.

Michel Temer é responsável pelo próprio fracasso. Muito porque entregou um cargo importante como as Relações Exteriores a um incompetente que sequer consegue salvar as aparências. O filme abaixo mostra a inexpressividade a que o Brasil foi relegado. Michel Temer não participa no encontro, apenas arrasta o seu espectro pelas salas de Hamburgo. É triste ver. Até porque arrasta a imagem do Brasil para o limbo diplomático.

É a dança da chuva.


sexta-feira, 7 de julho de 2017

Cai a ficha... e Geddel chora

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Geddel Vieira Lima é o personagem da vez. Mas mais do que a notícia da sua prisão, foi o seu choro ao saber que continuaria preso a encher as manchetes. O juiz da 10ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal negou o pleito da defesa, que pedia a troca da prisão pelo uso de tornozeleira eletrônica e prisão domiciliar.

Não tenhamos dúvidas. As lágrimas de Geddel Vieira de Lima são verdadeiras. É certo que o político tentou fazer parecer que o motivo é a própria honra (chegou mesmo a evocar o próprio filho, para criar alguma empatia), mas a coisa é mais simples: caiu a ficha. O problema aqui é o choque de realidade. É ver o sol aos quadrados.

O ex-ministro, personagem com décadas de trânsito nas estruturas do poder, “cresceu” habituado à ideia de impunidade dos poderosos. Há uma geração de políticos brasileiros que à décadas opera por essa lógica. Os apelidos Caju, Botafogo, Missa, Mineirinho, Primo, Justiça ou Babel, por exemplo, não são obra do acaso.

O sentimento de impunidade continua a existir, claro. Mas há um problema: o que antes era uma certeza hoje tornou-se aleatório. Antes os caras andavam pelos corredores do poder com enorme à vontade, mas hoje muitos têm que pisar miudinho, não vá o diabo tecer as suas tramas. Foi o que aconteceu a Geddel, um alvo dessa randomização das prisões.

Mas o que se pretende aqui não é julgar o homem. Isso é trabalho da Justiça. A ideia passa por mostrar dois momentos na vida de Geddel Vieira Lima. O primeiro na pose de moralista anticorrupção e outro a encher a telinha de lágrimas, no momento em que cai a ficha. Enfim, é um caso em que fica apropriado dizer: nada como um dia atrás do outro.

É a dança da chuva.





quarta-feira, 5 de julho de 2017

Sobre a ciclofaixa da rua Lages

POR FELIPE SILVEIRA
Na semana passada, a prefeitura de Joinville “surpreendeu” os moradores da rua Lages, no centro da cidade, com uma ciclofaixa onde antes habitava um estacionamento. Não demorou muito para que uma moradora publicasse um post em uma rede social, indignada pela falta de respeito do poder público com os empresários que tem seus estabelecimentos naquela rua. Ela apontava que não há um fluxo significativo de ciclistas naquela região, que não houve diálogo com os moradores e que do outro lado da rua havia menos vagas para carros, o que tornaria a ciclofaixa mais viável naquele ponto.

A postagem logo foi compartilhada por pessoas que concordavam e comentada por pessoas que a condenavam, em especial cicloativistas. Eu mesmo fui comentar que ando de bicicleta por ali e a via seria muito útil. Mas o assunto não morreu por aí. Meu colega Jordi Castan escreveu sobre o assunto na segunda-feira (3), apontando para as falhas do poder público e para a “patrulha” cicloativista, o que me levou a responder neste meu texto de quarta-feira (5).

O assunto mobilidade urbana, em especial esta questão de bicicletas e de transporte público, é o que eu mais gosto. Certamente é sobre o assunto que mais escrevi no Chuva Ácida. E, por andar há 20 anos de bicicleta com frequência em todos os lugares da cidade, me sinto um pouco apto a opinar. Mas não só por isso.

Por gostar do assunto, tento conhecer as experiências feitas mundo afora, motivadas por diferentes ideologias. Por isso, há muitos anos falamos aqui neste blog sobre o conceito de “cidade para pessoas” e das ideias do arquiteto dinarmarquês Jah Gehl, que transformou Copenhague com mudanças na mobilidade urbana, entre outras coisas. Ideias que se popularizaram muito nos últimos anos. E enquanto falávamos isso, o prefeito Udo falava em 300 km de asfalto e elevados como política de mobilidade. Escrevemos sobre o assunto aqui.

Aconteceu, no entanto, um fenômeno interessante. Mesmo sem confessar publicamente, fica evidente que o prefeito mudou de ideia sobre o assunto. A impressão que tenho, e um dia gostaria de perguntar a ele, é que Udo simplesmente teve contato com novas ideias e as apreendeu. Aquele pensamento retrógrado, provinciano, do asfalto e do carro a todo custo, ficou pra trás. Parece.

Não acho que a prefeitura acerte sempre, mas há evidentemente uma linha de raciocínio que propõe ciclofaixas, corredores de ônibus, redesenhos viários etc. Não é grande coisa. É simplesmente o caminho lógico. E falta muita coisa ainda: é preciso reduzir a passagem (na minha opinião, até chegar a zero, mas não é caso de discutir aqui. Se quiser saber mais, clique no link), aumentar o conforto, ampliar o número de linhas e arrumar as vias.

Fazer tudo isso, no entanto, exige que os passos sejam dados um de cada vez. E um passo neste sentido é a ciclofaixa da rua Lages. Não se trata de uma ação desconexa, mas parte de um projeto que não é exatamente da prefeitura de Joinville. É um projeto de toda uma sociedade, no mundo todo, que quer as cidades mais cicláveis.

O argumento de que o trecho é pouco pedalado cai por terra rapidamente. Coincidentemente eu moro na zona oeste há alguns meses e costumo passar por ali quando vou ao centro. Se eu for pela Timbó ou Max até a rua Blumenau, acho ruim pedalar na Blumenau até a região da Nove de Março. Por outro lado, acho ruim ir até a Quinze de Novembro, que tem um leve elevação antes de chegar no centrão. A Lages é perfeita para pedalar. Por outro lado, todo mundo sabe que os ciclistas costumam aparecer depois da instalação das vias adequadas. Né, Avenida Paulista?

Diferente de uma parte do cicloativismo, não acho que os carros são o inferno na terra. Ando de carro, a pé, de bike e de ônibus e acho que solução é um uso mais equilibrado destes modais. Para isso acontecer, é preciso tornar o transporte público mais confortável e muito mais barato. É preciso tornar a cidade mais segura para quem pedala. Isso não se faz com o isolamento do ciclistas, mas com a promoção do respeito dos motoristas pelos outros. Vale pra Joinville e pra Londres (repare na pista), como podemos ver no vídeo abaixo:

terça-feira, 4 de julho de 2017

É gafe atrás de gafe: um governo de "gafiosos"

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A maior tragédia de um país é ser governado por gente medíocre, inculta e focada apenas nos próprios interesses. É o retrato exato do governo de Michel Temer. E é desnecessário falar de economia, política ou finanças, áreas onde os resultados podem ser verificados na primeira pessoa pelos brasileiros.

O tema aqui é a falta de cultura dessa gente. Mas isso importa? Sim, importa muito. As limitações do presidente, um homem que tem o cérebro em algum lugar do passado, e das pessoas no seu entorno impedem uma clara leitura do mundo. Ou seja, Michel Temer e sua gente não estão intelectualmente apetrechados para governar.

É um fato verificável em todos os segmentos, mas que também fica evidente quando se olha para os detalhes. Um dos exemplos é o chorrilho de gafes que vem sendo debitado desde os primeiros dias do seu governo (ilegítimo). Enfim, o atual presidente está à frente de um governo “gafioso” (expressão que traz uma curiosa homofonia).

Sem querer ser freudiano, lembro o conceito de “atos falhos”. É quando o inconsciente e o consciente se baralham e fazem a pessoa dizer algo que não seria suposto dizer. Em política a coisa também é tratada pelo eufemismo “gafe”. Desde que chegou ao poder, Michel Temer e a sua pandilha pariram um sem fim de atos falhos.

O presidente não deixa os créditos por mãos alheias. O seu acervo de bolas-fora é vastíssimo. Disse que o massacre de 56 presos era um “acidente pavoroso”. Desejou que a Paraíba fosse inundada. Disse que os governos precisam ter marido. Mais recentemente, chamou a Rússia de União Soviética, numa viagem em que também confundiu o rei da Noruega com o “rei da Suécia”. E por aí vai...

A sua entourage também é assídua produtora de besteirol. Um ex-ministro disse que antes da lista de Janot estava de olho na “lista de Schindler”. Outro aliado disse que a Justiça do Trabalho nem deveria existir. Um ministro disse que os “homens trabalham mais, por isso não acham tempo para cuidar da saúde”. E até um outro ex-ministro disse que o México é um perigo para os políticos homens “porque descobri aqui que metade das senadoras é mulher”.

E o retrato mais definitivo parece ter sido pintado ontem pelo secretário nacional de Juventude, Assis Filho, que abriu um evento citando “o grande filósofo alemão William Shakespeare”. Nem chega a ser estranho num país onde procuradores confundem Engels com Hegel, mas mostra a pobreza intelectual dos caras que ditam os rumos do Brasil.

O que leva de volta à frase do início. A maior tragédia de um país é ser governado por gente disfuncional, sem expressão política e com critérios éticos muito lassos. Os atos falhos, lapsos ou gafes são apenas a expressão da falta de cultura, entendida aqui num sentido mais lato. Ou seja, um caldo de (in)cultura  machista, classista, anti-intelectualista. Ou apenas pura ignorância mesmo.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Chega de brincar com Joinville: bom senso ao poder

POR JORDI CASTAN
Há um ar de radicalismo binário nos temas da vila. Ou você é a favor ou você é contra. Não há meio termo. A turma do planejamento (ex-IPPUJ) continua fazendo imbecilidades e parece que todos os problemas de Joinville se resolvem com ciclo faixas e corredores de ônibus. Será?

Vamos a alguns exemplos. Para começar, a ciclofaixa implantada de um dia para outro na rua Lages. Antes que a patrulha dos cicloativistas - essa gente que não tem bicicleta, não anda de bicicleta, mas defende que Joinville seja a Copenhagen ao sul do Equador - é bom lembrar que já escrevi muito a favor de priorizar os pedestres e os ciclistas.

Portanto, é evidente o apoio à ideia de que Joinville tenha um planejamento - infelizmente não tem - que ao menos possa ser levado a sério. Ou seja, que priorize os pedestre e os modais bicicleta e transporte público. O que, no entanto,  não acontece. Porque só há ações desconexas, sem sentido e questionáveis tanto pelo elementar bom senso como pelo MPSC. Mas essa é outra historia.  

Há, na rua Max Colin, uma ciclofaixa, muito pouco utilizada pelos ciclistas que prezam a sua vida e que escolhem circular pela Rua Timbó. Ora, essa ciclofaixa coloca os ciclistas em perigo constante, ao colocá-los em conflito com os ônibus e, por seguir o padrão do IPPUJ, desaparece e aparece deixando os ciclo-suicidas desprotegidos. O lógico seria ter ciclovias nas ruas de maior fluxo de veículos e de maior velocidade e instalar as ciclo faixas exclusivamente nas ruas de menor trânsito e por tanto menor risco.

QUE TAL UMA VISITA À EUROPA - Proporia aos cicloativistas que habitavam o IPPUJ - e agora migraram para a Secretaria de Planejamento - uma vista à Europa. Amsterdam ou Copenhagen para começar. Freiburg ou Munster numa viagem mais demorada. O problema é que já foram para lá e não aprenderam nada. Aliás, ainda estamos à espera da licitação das bicicletas de aluguel. Uma licitação que não sai e que é melhor não sair mesmo, porque se converteu num monstrengo. Tem tantas exigências que morreu na casca.

Mas vamos supor que fossem para lá. Vamos a imaginar que levassem um pouco de humildade na bagagem e reconhecessem que nada sabem, porque só se pode aprender a partir da ignorância, do desconhecimento. Só a partir do momento em que reconhecemos não saber algo é que estamos preparados para aprender.

Como esse pessoal já sabe tudo e o seu líder máximo é o mais sábio dos sábios - ao menos é isso que ele acha - descobriam que as bicicletas lá compartem o espaço com os pedestres e não com os veículos. Quando colocadas no mesmo nível dos carros, o modelo é a ciclovia e não a ciclofaixa. Se alguém inventasse colocar ciclistas e ônibus para compartilhar o mesmo espaço, como na rua Max Colin, por exemplo, seria internado imediatamente. Em Joinville, o mais provável é que seja promovido.

Se o projeto é colocar ciclofaixas em todas e cada uma das ruas, seria bom entender que é preciso muito mais que pintar uma linha vermelha e outra branca. E que é preciso fazer estudos, identificar fluxos e as demandas existentes e futuras. Mas estudos não são o forte desse pessoal que vice gazeteando aulas e não faz os exercícios básicos. 

OS ÇABIOS DO PLANEJAMENTO - Deve ser por isso que projetaram uma ciclofaixa na rua Marques de Olinda, no trecho entre a Ottokar Doerfehl é a rua Concordia, e esqueceram de olhar a inclinação da rua. Deve ser por isso que nunca há ciclistas por lá. O mesmo caso que na rua Papa João XXIII. Ainda não vi um ciclista subindo o morro que leva ao Hospital Regional. Deve ser porque os ciclistas, que são muito mais espertos que os "çábios" do planejamento (ex-IPPUJ) sabem que há uma rota alternativa mais plana e mais cômoda.

Mas aqui apoiamos qualquer bobagem que se faça quando se trata de mais ciclofaixas. Mesmo que não liguem nada com nada ou que unam a nada a coisa nenhuma não tem importância. Vamos pensar um pouco mais? Vamos planejar uma cidade em que a mobilidade com bicicleta seja uma opção real e viável e não só o sonho quimérico de um bando de amalucados?

Vão me acusar de radical? Ótimo. Vamos colocar o bom senso no poder, chega de brincar com Joinville.