terça-feira, 14 de março de 2017

Temer: "trata-se de uma besta, claramente"















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Michel Temer, o presidente golpista do Brasil, é uma gafe ambulante. Em menos de duas semanas, ganhou as manchetes nacionais e internacionais repetidas vezes, nunca por boas razões. Em muitos casos a sua figura foi lançada no ridículo. Há um crescente processo de erosão da sua imagem, dentro de fronteiras e também no exterior. Michel Temer é uma pessoa pouco respeitada em todo o mundo e isso contribui para minar a credibilidade externa no Brasil.

Não passaram em branco as suas declarações sobre o Dia Internacional da Mulher, quando escancarou a sua misoginia. Foi um mico de proporções épicas e internacionais, noticiado, por exemplo, pelo The Independent, ABC, The Telegraph, The Guardian, El País ou toda a imprensa portuguesa. Não dá para disfarçar que o atual presidente é um homem em dessintonia com a sua época. É alguém com o mindset de um passado remoto.

Michel Temer foi ridicularizado mundo afora. Talvez a zoeira de maior audiência tenha vindo dos Estados Unidos, com o apresentador John Oliver, que nem precisou fazer muitos comentários sobre a fala do presidente. A piada estava pronta. Outro exemplo interessante – e mais acessível para os falantes de língua portuguesa – foi o comentário de Ricardo Araújo Pereira, num programa da TVI, que não usou meias palavras para descrever Temer: “trata-se de uma besta, claramente”.

Ridículo pouco é bobagem. Os mesmos meios de comunicação que falaram na misoginia do atual presidente também repercutiram a notícia de que Michel Temer teria saído do Palácio da Alvorada por causa de fantasmas. Mau demais para ser verdade. Mas os mais céticos podem ler a transcrição da entrevista: “Eu não conseguia dormir, desde a primeira noite. A energia não era boa. A Marcela sentiu a mesma coisa. Chegamos a pensar: será que tem fantasma?”. Tem sim. O fantasma da falta de legitimidade.

O outro mico, que internamente teve proporções de “king kong”, foi a tentativa de negar a paternidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na transposição do São Francisco. A imprensa internacional não está a dormir de touca ou a guardar o obsequioso silêncio como faz a imprensa brasileira. Não sendo um tema de grande relevância, é possível encontrar, aqui e acolá, alguma referência ao fato, em especial quando alguns meios de comunicação falam na recandidatura de Lula da Silva em 2018.

Michel Temer é o dignitário maior do Brasil. Mas a dignidade do cargo está em xeque. É triste que esteja a semear uma imagem pessoal tão pouco credível, mas não seria preocupante se isso não estivesse a contagiar a imagem do país. Nenhum país é uma ilha em tempos de globalização. E as relações internacionais impõem credibilidade, uma coisa que o Brasil teve de sobra nos tempos de Lula da Silva e que foi perdendo nos tempos do golpe.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Joinville está cansada de ouvir o mantra do "não"


POR JORDI CASTAN


Mantras são formulas encantatórias que servem para conduzir o pensamento. Inicialmente os mantras estavam restritos ao tantrismo, mas são cada  vez são mais frequentes e acabam influenciando a nossa vida. Tem gente que utiliza constantemente para alcançar seus objetivos.
A fórmula que melhor funciona é recitar por horas e dias a fio o mesmo mantra e torcer para que ele se cumpra. Ou não se cumpra. Porque mantras servem tanto para atingir objetivos como para evitá-los. Aqui em Joinville há mantras que se repetem, com maior ou menor sucesso, por anos a fio. Eis alguns dos mantras que mais se ouvem por aqui:

- Os recursos para esta obra dependem do Governo do Estado.

- Não há orçamento para as desapropriações, teremos que esperar que as pessoas doem os imóveis para poder duplicar a rua.

- A obra não será inaugurada no prazo, não há uma data prevista.


- Enchentes acontecem porque o joinvilense joga lixo na rua e nos rios.

- Cuidarei de cada centavo do dinheiro público.

- A Lei de Responsabilidade Fiscal não permite fazer esta despesa.

- Parklets e praças são espaços para maconheiros e vagabundos.

- A licitação do transporte público deve sair este ano, ou o próximo, ou o próximo.

- O aumento da tarifa do transporte público este ano será maior que a inflação acumulada.

E poderíamos escutar outros mantras, mas que raramente são proferidos. Como por exemplo:

- A obra foi projetada, executada e inaugurada no prazo e custou menos que o orçamento previsto.

- A nova licitação do transporte coletivo garante ônibus mais modernos e tarifas mais baixas que os anteriores.

- Desapropriações estão previstas no projeto e há previsão orçamentaria para que o projeto original de duplicação seja executado sem alterações.

- Joinvilense não joga lixo na rua.

- As avenidas previstas no Plano Diretor de 1973 finalmente sairão do papel.

- A segurança pública melhorou e todos os indicadores de crimes mostram redução significativa.

Assim, de acordo com os resultados, poderemos saber se os mantras de fato funcionam. Olhando a cidade desde a janela, a impressão que tenho é que sim, que os mantras funcionam. O problema é que Joinville está recitando os mantras errados. Se mudarmos os mantras, quem sabe comecemos a colher outros resultados. A cidade precisa urgentemente de uma mudança de astral, todos estamos começando a ficar cansados de ouvir "nãos". Não dá, não pode, não há orçamento, não esta previsto. Até porque as autoridades foram eleitas para fazer. Não lembro que alguém votasse em um candidato para não fazer. 

sexta-feira, 10 de março de 2017

"Aposentadoria fica, Temer sai"


POR CECÍLIA SANTOS
O título deste post foi o tema da manifestação do dia 8 de março em São Paulo, que reuniu milhares de mulheres. A reforma da previdência é mais uma das muitas medidas que visam desmontar as conquistas sociais e trabalhistas históricas, penalizando os mais pobres. Com o desmonte do SUS e da Previdência, que avança a passos largos, quem tem algum recurso vai contratar planos de saúde e de previdência privada (por que vocês acham que a Fiesp e o mercado financeiro apoiaram o impeachment?), enquanto os mais pobres vão ficar desamparados.

De todos os afetados, as mulheres são as mais prejudicadas com o aumento do tempo de contribuição e a perspectiva de se aposentar depois dos 65 anos.

É totalmente injusto igualar o tempo de contribuição das mulheres, considerando que temos jornadas duplas ou triplas. A divisão do trabalho doméstico continua a ser desigual e, se depender do conservadorismo cada vez mais forte, tem pouca chance de mudar. Pesquisa da Unicamp mostra que mulheres dedicam de 20 a 25 horas por semana ao trabalho doméstico, contra 9 horas pelos homens.

Mas nosso jurássico presidente da república reforça essa condição de desigualdade, conforme seu discurso proferido no próprio dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, deixando claro que a criação dos filhos é atribuição da mulher e não do homem:
Tenho absoluta convicção, até por formação familiar e por estar ao lado da Marcela, do quanto a mulher faz pela casa, pelo lar. Do que faz pelos filhos. E, se a sociedade de alguma maneira vai bem e os filhos crescem, é porque tiveram uma adequada formação em suas casas e, seguramente, isso quem faz não é o homem, é a mulher”
Por outro lado, as mulheres são frequentemente preteridas em contratações e promoções profissionais. E todo mundo sabe que uma pessoa de 40 anos, seja homem ou mulher, já é considerada velha para o mercado de trabalho. Então qual é a chance de uma mulher de 60 anos ser contratada a fim de completar seu tempo de contribuição e continuar a se sustentar? 

Toda essa situação levará a um empobrecimento geral da sociedade e a dependência financeira da mulher. E mesmo para quem se acha acima da questão, é preciso lembrar que o fato de haver uma população com baixíssimo poder aquisitivo compromete a economia. Se não há quem compre, o comércio e a indústria logicamente vão definhar e cada vez mais gente ficará desempregada.

Uma distribuição de renda mais igualitária entre homens e mulheres garante, entre outras coisas, que as mulheres tenham meios de sair do ciclo de violência doméstica, por meio da autonomia financeira. Frear a reforma da previdência não é só uma questão econômica, é também pela vida das mulheres.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Xoinville 166 anos - Baron Von Ehcsztein


Joinville 166 anos - José António Baço


Joinville 166 anos - Sandro Schmidt


Joinville 166 anos - Raquel Migliorini


Joinville 166 anos - Jordi Castan


Joinville 166 anos - Felipe Silveira


Como será Joinville em 2040?

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Neste 9 de Março, sempre é preciso lembrar da importância ideológica e discursiva que as datas comemorativas possuem para a manutenção do poder de alguns grupos sociais. Como isso já foi feito com brilhantismo dentro e fora das universidades joinvilenses, quero contribuir em outro viés, construindo uma análise sobre o futuro da nossa cidade.

Infelizmente, a cidade de Joinville sempre foi muito previsível. Quando seus comandantes e gestores quiseram ser ousados foi para manter a ordem e a lógica conservadora. Ou seja, para corrigir os rumos em prol da mesmice. Assim, é muito fácil fazer uma previsão de como estaremos em 2040. Os mandatários locais são os mesmos e circulam há décadas pelos mesmos espaços. Esqueçam essa história de 2020, 2025, 2030 ou qualquer coisa assim porque em 10 anos pouca coisa estrutural mudará, ainda que pese a velocidade da inovação tecnológica e seus impactos na sociedade. Ao falar de cidades, preciso lembrar que as suas rupturas são muito mais lentas, que merecem grandes investimentos e uma mudança de vários paradigmas, e isso está muito longe de termos por aqui, convenhamos.

Bilbau, na Espanha, é um exemplo de como o arrojo transformou a cidade (e seus habitantes) em 15 anos
A análise do futuro passa, portanto, pelo que será e o que poderia ser (focarei agora apenas no primeiro). A aprovação da Lei de Ordenamento Territorial nos dá uma grande oportunidade de entendermos como nosso espaço estará organizado pelos próximos anos. Pouco irá mudar, ainda mais devido ao espraiamento urbano provocado pelo aumento do perímetro urbano, a hype capitaneada pelos empresários visando a expansão para a zona sul e o adensamento burro nas regiões mais centrais, pois lá estarão os prédios de luxo da cidade e com menores densidades (apesar da verticalização dar ideia de que estará adensando).

Com isso, e somado a algumas políticas ultrapassadas de mobilidade urbana, pouco mudaremos para melhor em nossa forma e conteúdo. A Joinville do futuro terá suas periferias aprofundadas, com um distanciamento ainda maior da "cidade oficial", esta acessível apenas para os mais ricos. Surgirão novos bairros e novas localidades ainda mais distantes do centro e muito mais pobres. Por mais que os governos invistam em segurança, uma cidade desigual só tende a aumentar o número de crimes violentos. Copiamos um modelo perfeito que levou à destruição da qualidade de vida das grandes metrópoles brasileiras.

Já Elvis!
Sem contar a necessidade feroz para aquisição de um automóvel, as seguidas brincadeiras com a despoluição do Cachoeira, as poucas áreas de lazer (se o "parque" da cidade, para sair do papel, levou sete anos, como esperar alguma coisa maior e mais rápida?) e o pensamento desonesto de que a vocação de Joinville é industrial e por isso não precisamos da diversidade econômica e de pensamento. A UDESC em 50 anos pouco ampliou sua oferta de cursos e estamos há onze tentando fazer um puxadinho de campus da UFSC na curva do arroz. O Carnaval é perseguido. Os movimentos sociais excluídos (que diga o Conselho da Cidade) e criminalizados.

Joinville não se desenvolve. Rasteja. Mendiga. Chafurda. Contenta-se com pouco. Retrocede. E só os de sempre saem ganhando.

Eu não tenho dúvidas que as estruturas da cidade de Joinville serão as mesmas que temos hoje. Se não houver nenhuma mudança drástica, certamente elas serão ainda piores, porque o modelo adotado por aqui já deu errado em várias outras localidades. Ainda temos a mesma cara, os mesmos valores e as mesmas opções de 30 ou até mesmo 40 anos atrás. Como acreditar que, nos próximos 20, a cidade será diferente, e com a projeção de 900.000 habitantes de brinde?

Cenas como essa, do Juquiá, continuarão existindo 
Os donos do poder não vão deixar nada original acontecer, podem apostar. Será uma cidade para o trabalho dito como "produtivo", aquele manufatureiro e que faz "Joinville ser o que é". Para eles, sempre foi preciso manter a "vocação" ou, melhor dizendo: manter a cidade do jeito que está porque assim o poder também estará mantido em suas mãos brancas, preconceituosas, centrais e masculinas. Os mesmos que te dizem que o 9 de Março é importante e o 20 de Novembro, não. Ainda bem que não acredito mais nisso. E nem no conto de fadas que a cidade irá melhorar.

Os poucos lutadores que restaram são limitados por uma grande barreira invisível e que está presente nas almas e consciências daqueles que mandam. Segundo um empresário local, "gente assim não há de prosperar por aqui". Morreremos no mesmo quintal sujo e hostil de outras primaveras?