POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Michel Temer, o presidente golpista do Brasil, é uma gafe ambulante. Em menos de duas semanas, ganhou as manchetes nacionais e internacionais repetidas vezes, nunca por boas razões. Em muitos casos a sua figura foi lançada no ridículo. Há um crescente processo de erosão da sua imagem, dentro de fronteiras e também no exterior. Michel Temer é uma pessoa pouco respeitada em todo o mundo e isso contribui para minar a credibilidade externa no Brasil.
Não passaram em branco as suas declarações sobre o Dia Internacional da Mulher, quando escancarou a sua misoginia. Foi um mico de proporções épicas e internacionais, noticiado, por exemplo, pelo The Independent, ABC, The Telegraph, The Guardian, El País ou toda a imprensa portuguesa. Não dá para disfarçar que o atual presidente é um homem em dessintonia com a sua época. É alguém com o mindset de um passado remoto.
Michel Temer foi ridicularizado mundo afora. Talvez a zoeira de maior audiência tenha vindo dos Estados Unidos, com o apresentador John Oliver, que nem precisou fazer muitos comentários sobre a fala do presidente. A piada estava pronta. Outro exemplo interessante – e mais acessível para os falantes de língua portuguesa – foi o comentário de Ricardo Araújo Pereira, num programa da TVI, que não usou meias palavras para descrever Temer: “trata-se de uma besta, claramente”.
Ridículo pouco é bobagem. Os mesmos meios de comunicação que falaram na misoginia do atual presidente também repercutiram a notícia de que Michel Temer teria saído do Palácio da Alvorada por causa de fantasmas. Mau demais para ser verdade. Mas os mais céticos podem ler a transcrição da entrevista: “Eu não conseguia dormir, desde a primeira noite. A energia não era boa. A Marcela sentiu a mesma coisa. Chegamos a pensar: será que tem fantasma?”. Tem sim. O fantasma da falta de legitimidade.
O outro mico, que internamente teve proporções de “king kong”, foi a tentativa de negar a paternidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na transposição do São Francisco. A imprensa internacional não está a dormir de touca ou a guardar o obsequioso silêncio como faz a imprensa brasileira. Não sendo um tema de grande relevância, é possível encontrar, aqui e acolá, alguma referência ao fato, em especial quando alguns meios de comunicação falam na recandidatura de Lula da Silva em 2018.
Michel Temer é o dignitário maior do Brasil. Mas a dignidade do cargo está em xeque. É triste que esteja a semear uma imagem pessoal tão pouco credível, mas não seria preocupante se isso não estivesse a contagiar a imagem do país. Nenhum país é uma ilha em tempos de globalização. E as relações internacionais impõem credibilidade, uma coisa que o Brasil teve de sobra nos tempos de Lula da Silva e que foi perdendo nos tempos do golpe.
É a dança da chuva.