segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Querem posar de leões, não passam de carneiros

POR JORDI CASTAN


"Não tenho medo de um exército de leões comandado por um carneiro. Tenho medo de um exército de carneiros comandado por um leão".  Alexandre, o Grande

Joinville nunca esteve tão apequenada ou acovardada. Somos leões governados por cordeiros. Difícil olhar para algum lado e encontrar algo que funcione. O único quesito em que somos destaque é em achar escusas para não fazer. A insegurança tem alcançado níveis alarmantes. Nas últimas semanas, pareceu que as entidades empresariais iriam subir o tom das suas reclamações. No final das contas nada houve e as supostas ameaças de partir para ações mais efetivas ficaram em nada.

Alguém acredita que o problema da segurança em Joinville vai se resolver com as soluções apresentadas pelo governador? Alguém acha mesmo que Joinville precisava de dois batalhões da Policia Militar ou o que precisava era de mais meios e mais efetivo? Até agora o que temos é mais oficiais, mais custo e basicamente o mesmo efetivo. Alguma ação para trabalhar a prevenção além da repressão? E os nossos deputados, que de concreto tem feito por Joinville? Estão tão preocupados com os seus projetos políticos e pessoais que não têm tempo para atender os pleitos de Joinville.

Tanto o Governo do Estado, como o próprio governo municipal, tem muito bem tomada a medida das nossas lideranças: são carneiros. Só carneirinhos que se deixam convencer com uns tapinhas nas costas, uns agrados e promessas que dificilmente serão cumpridas. O importante é fazer de conta. Rugir como leão afônico para o público da vila e depois aplaudir e correr a render homenagem aos espelhinhos e bugigangas com que iludem a “colonada”. Joinville ainda é a maior cidade de Santa Catarina, mas deixou de ter peso politico. Não assusta mais, não impõe, não exige aquilo a quem direito e lhe é devido.

Nem as nossas autoridades, nem as chamadas forças vivas nos defendem e representam, como já o fizeram outras no passado. De nada servem os abraços em público, as audiências na Capital ou os ofícios formais escritos num vocabulário rebuscado. Joinville pede pouco e pede mal. O resultado é este que vemos cada dia. Desistimos de esperar qualquer coisa do governo municipal, só se escuta a ladainha de sempre: “Não há dinheiro”, quando se faz alguma coisa, se faz mal e precisa ser refeito.

Lembremos o caso do Abel Schulz ou essa vergonha humilhante em que tem se convertido a obra da Santos Dumont a que só os néscios chamam de duplicação. A lista de prédios públicos abandonados pelo Estado é quilométrica. O patrimônio público se deteriora a olhos vistos. Não serve para o que deveria servir e apodrece frente o olhar impávido das nossas autoridades que nada fazem e olham para o outro lado. O máximo que fazem é dizer que é responsabilidade do Estado e lavam as mãos.

Joinville amargará no mínimo outros quatro anos de passividade, de retrocesso. Nenhum dos dois candidatos tem capacidade, valentia, determinação e nem a ousadia de fazer o que precisa ser feito neste momento. E, menos ainda, o peso político para voltar a colocar Joinville no papel de protagonista que merece. Um já mostrou que no máximo é um administrador medíocre, o outro está mais interessado em atender pleitos paroquiais. Dois carneiros, quando precisaríamos de leões. 

sábado, 8 de outubro de 2016

Udo conta com a falta de memória do eleitor:10 motivos para lembrar

POR JORDI CASTAN


Há quem insista em tentar convencer o eleitor de que merece o voto porque acorda cedo e doa o salário. Que estes motivos, somados à limpeza das suas mãos, seriam suficientes para votar nele de novo. Muitos esquecem o fato de que votar em Udo Dohler não foi uma boa ideia. Há vários motivos para lembrar, aos que foram acometidos de súbita amnesia, que é bom pensar duas vezes antes de seguir o mesmo roteiro uma segunda vez. A falta de memória é o melhor cabo eleitoral de Udo Dohler. Eis...

1.- Não foi capaz de tirar do papel o ícone que colocaria seu nome na historia de Joinville, a propalada ponte do Ademar Garcia, aquela que seria sua obra emblemática. Na verdade, nem foi capaz de colocá-la no papel, porque ninguém até agora viu um projeto executivo da dita ponte.

2.- Deixou as ruas da cidade convertidas num queijo suíço. Não asfaltou os 300 quilômetros que prometeu no Plano 15 e deixou sem manutenção estradas que, de tão esburacadas, se converteram em pistas só para veículos com tração 4X4. Houve buracos de todos os tamanhos e formatos. Agora, perto da eleição, lançou um mutirão tapa-buracos em que há ruas com mais remendo que asfalto original. Aposta no esquecimento do eleitor.

3.- Falando de buracos, não só ocasionaram enormes prejuízos econômicos aos joinvilenses, que sofreram acidentes e estragaram seus veículos. Os buracos ocasionaram prejuízos muito mais graves. Gente morreu nos buracos da Santos Dumont. E também causaram mortes os buracos mal sinalizados pelas obras da CAJ (Companhia Aguas de Joinville) na Vila Nova. O que o prefeito fez? Olhou para o outro lado, como se o problema não fosse dele. Acreditou que o eleitor esqueceria.

4.- Na saúde seguem faltando remédios. O próprio pessoal do São José tem divulgado que até os mais simples, como gaze e esparadrapo, têm estado em falta e que cirurgias foram remarcadas por motivos como esses. E olha que se promoveu na campanha a imagem do gestor que entendia da saúde. Nesta campanha há um pouco mais de comedimento e só é dito que o prefeito acorda cedo e que trabalha como voluntário porque doa o salário. Esquece que Joinville precisa de um bom prefeito capaz de resolver os seus problemas, não de um voluntário com insônia.

5.- As contas estão em dia é o mantra que se repete pelos corredores da Prefeitura. A verdade é que atrasou as contas com o Ipreville. Pedalou mais que o Nairo Quintana. E olhem que ficou rouco de dizer que o problema da gestão anterior não era falta de dinheiro, era falta de gestão. O joinvilense que não sofre de amnésia e procura se informar descobriu que além de dinheiro, agora também falta gestão.

6.- Das praças e do verde melhor nem falar. Estão abandonadas. Só o mato viceja e das poucas árvores replantadas menos da metade sobreviveu. O verde nunca foi uma prioridade do prefeito e da sua gestão. Ao contrário, até pretende que a cidade avance ainda mais sobre as margens dos rios, propondo a redução da distância entre as construções e os cursos de água. Nada foi feito pelas ARIEs (Áreas de Relevante Interesse Ecológico) do Boa Vista e do Iririu. Joinville sairá da sua gestão como uma cidade menos verde, mais cinzenta e triste.

7.- Na cultura, outro desastre. É bom lembrar os problemas com o Simdec.  Continuamos com museus fechados ou em estado precário. Mesmo que a triunfalista propaganda oficial fale de todos os museus abertos e só dar uma passada para ver que o Fritz Alt esta fechado, o Museu Nacional de Colonização esta com graves problemas de manutenção, da Cidadela Cultural melhor nem falar. Aliás, é só dar uma passada é ver como se cuida do patrimônio público. A melhor definição da sua gestão na cultura é muito barulho e poucas nozes.

8.- Sobrou alguma coisa? Ah... lembrei. Dos tablets fica a dúvida se foram entregues a todos os alunos da rede ou a uma parte. A propaganda eleitoral não é clara. Há ainda as escolas municipais que receberam tablets e não têm internet. E as que tem aparelhos de ar condicionado novos que nunca foram ligado porque não tem a instalação elétrica com a capacidade adequada que permita ligá-los? Esse é um exemplo de como se administra Joinville.

9.- O planejamento urbano é outro bom motivo para pensar bem se é bom negocio voltar a votar no Udo. Ou Alguém esqueceu da engrolação feita no Iririu? Ou a da frente do Mercado Municipal? Ou a duplicação da Santos Dumont? São tantas que fica difícil escolher. No caso da Santos Dumont, o que deveria ser uma duplicação virou uma comedia de erros, dessas a que Joinville já deveria estar acostumada, mal planejada, sem um projeto executivo, sem quantitativos verazes. O que em qualquer cidade mais seria se denominaria uma enjambrada. Uma parte binário, uma parte duplicada, com um projeto que sofreu uma dúzia de ajustes e alterações. De verdade que alguém acredita que é assim que Joinville vai avançar?

10.- O gestor que foi eleito em 2012 virou uma caricatura dele mesmo, pela sua própria "gestón". A gestão de Joinville, nos quesitos saúde, educação e saneamento foi reprovada quando comparada a de todos os municípios brasileiros. Joinville faz pouco, faz mal e paga caro. Ganhou nota 0,427, foi definida como pouco eficiente e ocupa a posição 3334 entre todos. A maior cidade de Santa Catarina e uma das 3 ou 4 maiores economias da região sul do Brasil tem uma péssima gestão.

Se não se reeleger, o prefeito sairá do seu governo muito menor do que entrou. Disse que cuidaria de cada centavo do dinheiro público. Pode ter cuidado dos centavos, mas os milhares, as dezenas de milhar e os milhões parece que não foram tão bem cuidados assim. Os recursos destinados à propaganda e publicidade, as obras feitas e refeitas, o retrabalho, os remendos, a maquiagem nos meses que antecedem ao período eleitoral não enganam mais. 

Ainda que tenha uma parcela de amnésicos que insistam em votar nele, por sorte para a cidade há ainda uma parcela significativa de eleitores que consideramos seu governo ruim é este dado se faz evidente nos elevados índices de rejeição que aparecem em todas as pesquisas. Há mais gente que não votaria nele que eleitores dispostos a votá-lo. Muitos eleitores querem que Joinville se livre desse peso morto, desse lastro que a impede de avançar e decolar de vez rumo ao futuro.



sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Você deixaria essa criança morrer?
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

A história é antiga. É um episódio ocorrido há muitas décadas, mas um acontecimento tão extraordinário que vale a pena uma reflexão. Tudo aconteceu na cidade alemã de Passau, na Baixa Baviera, conhecida como “Dreiflüssestadt”, a cidade dos três rios. Há uma razão óbvia para o nome: a região é o ponto de convergência dos rios Danúbio, Inn e Ilz. É um lugar importante para a economia local, uma vez que, além de navegáveis, os rios atraem muitos turistas.

O leitor e a leitora podem imaginar que um lugar assim é uma festa para as crianças. Mas apenas no verão, claro. Porque no inverno europeu, de baixas temperaturas e águas geladas, nem mesmo a molecada mais destemida se atreve a dar um mergulhinho.

Foi num desses invernos, em janeiro em 1894, que o jovem Johann Kuehberger percebeu uma coisa estranha quando passava perto do rio Inn. Um menino de quase cinco anos estava a se debater nas águas, prestes a se afogar. Sem pensar, ele se atirou à água e nadou para salvar o menino.

Perfeito. Tudo apontava para mais uma história de heroísmo, como tantas que acontecem aí pelo mundo afora. E até a imprensa da época documentou o gesto de desprendimento do jovem, mesmo sem revelar os nomes dos envolvidos. Sem dúvida, uma boa alma esse Johann Kuehberger.

Tanto que, quis o destino, anos mais tarde ele descobriu o sacerdócio, função que exerceu por toda a vida. Mas foi apenas depois de deixar a sua paróquia que ele revelou, ao seu sucessor, um segredo que tinha mantido religiosamente guardado ao longo dos tempos: o nome do menino que ele salvou era Adolph Hitler.

Ops! Digam lá, leitor e leitora, se não foi a pior boa ação de toda a história. Johann Kuehberger salvou a vida do menino que, ao se tornar homem, viria a tirar as vidas de milhões de pessoas. E aproveito a história para propor um pequeno dilema ao leitor e à leitora. Diga lá:

-       Se fosse você a passar pelo rio e visse o menino – sem saber quem ele era (e viria a ser) –, teria coragem de saltar para o rio e salvá-lo?
-       Mas se soubesse que ele viria a ser Adolph Hitler, ainda se preocuparia em, tirá-lo do rio pondo a sua própria vida em perigo?

Difícil, né? Se salva o menino, mais tarde correria o risco de se sentir responsável pela sua morte de milhões. E se não salva vai se sentir responsável pela morte de uma criança. Para finalizar: mesmo você, que vive a criticar o relativismo, vai concordar que tudo é relativo. Ou não?

É a dança da chuva.



A monstruosidade do imediatismo
















POR LIZANDRA CARPES 
Elencar algo para refletir em meio ao turbilhão que vivemos no Brasil é um desafio. Muito para pensar, muito para lamentar e muito para fazer. Os acontecimentos têm a velocidade do “imediatismo”. Isso significa: respostas a curto prazo e que não consideram as consequências. O imediatismo é fruto do consumismo.

A sociedade consumista (que consome desde informação até futilidades absurdas como tirar gordura das faces) substitui o conhecimento por falta de tempo para pensar. As pessoas precisam trabalhar exaustivamente para manter seus caprichos inúteis. Um prato cheio para o poder hegemônico, porque assim tomam as decisões apoiados por uma massa de manobra que não se enxerga como massa, porque perdeu a capacidade de reflexão, de pensar.

O imediatismo tem a função de transformar em algo novo o que já foi vivenciado na história, pelo simples fato de que é pouco provável que a massa se atente em fazer um resgate, uma análise de conjuntura. Vem como promessa de transformação, quando na verdade se aproveita da fragilidade da alienação para tornar suas pautas agradáveis aos olhos da sociedade.

Ou seja, sangue na tela e violência resultam em mais presídios, mais investimento em segurança pública com armamento; o impeachment e os “heróis” da Operação Lava-Jato, vão acabar com a corrupção no Brasil, de uma maneira simples de doer, vão  prender o Lula e sangrar o PT;  ouve-se clamores para a volta da ditadura militar brasileira como solução imediata. Tudo sem aprofundamento da raiz daquilo que se almeja, sem o crivo da razão, muito mais pautados pelo emocional abalado por conta da lavagem cerebral que o sistema nos impõe.

Logo, esta sociedade aceita qualquer discurso que prometa prosperidade econômica. A aflição provocada pelo imediatismo interfere no pensar e no agir das pessoas e opta por transferir responsabilidades a um salvador da pátria. Ele que pense por nós.

A cultura imediatista alimenta a urgência e um pensador, Douglas Rushkoff, professor de estudos de mídia na The New School University de Manhattan, traz uma definição certeira: a cultura do imediatismo apaga o passado, bloqueia o futuro e afeta as nossas escolhas políticas, sociais e ambientais. E este é o retrato da realidade que nos leva para a barbárie.

Os imediatistas não gostam de filosofia, de história e sociologia. Não gostam de estudar ciências humanas, nem ler. No entanto, dizem que têm certeza que sabem o que é melhor para a política. Mas, quem precisa da herança de Sócrates de questionar sobre:  O que é o bem? O que é a Justiça? O que é a virtude? Estas reflexões não interessam aos que se habituam a  enxergar as sombras do Mito da Caverna, de Platão.