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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Você deixaria essa criança morrer?
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

A história é antiga. É um episódio ocorrido há muitas décadas, mas um acontecimento tão extraordinário que vale a pena uma reflexão. Tudo aconteceu na cidade alemã de Passau, na Baixa Baviera, conhecida como “Dreiflüssestadt”, a cidade dos três rios. Há uma razão óbvia para o nome: a região é o ponto de convergência dos rios Danúbio, Inn e Ilz. É um lugar importante para a economia local, uma vez que, além de navegáveis, os rios atraem muitos turistas.

O leitor e a leitora podem imaginar que um lugar assim é uma festa para as crianças. Mas apenas no verão, claro. Porque no inverno europeu, de baixas temperaturas e águas geladas, nem mesmo a molecada mais destemida se atreve a dar um mergulhinho.

Foi num desses invernos, em janeiro em 1894, que o jovem Johann Kuehberger percebeu uma coisa estranha quando passava perto do rio Inn. Um menino de quase cinco anos estava a se debater nas águas, prestes a se afogar. Sem pensar, ele se atirou à água e nadou para salvar o menino.

Perfeito. Tudo apontava para mais uma história de heroísmo, como tantas que acontecem aí pelo mundo afora. E até a imprensa da época documentou o gesto de desprendimento do jovem, mesmo sem revelar os nomes dos envolvidos. Sem dúvida, uma boa alma esse Johann Kuehberger.

Tanto que, quis o destino, anos mais tarde ele descobriu o sacerdócio, função que exerceu por toda a vida. Mas foi apenas depois de deixar a sua paróquia que ele revelou, ao seu sucessor, um segredo que tinha mantido religiosamente guardado ao longo dos tempos: o nome do menino que ele salvou era Adolph Hitler.

Ops! Digam lá, leitor e leitora, se não foi a pior boa ação de toda a história. Johann Kuehberger salvou a vida do menino que, ao se tornar homem, viria a tirar as vidas de milhões de pessoas. E aproveito a história para propor um pequeno dilema ao leitor e à leitora. Diga lá:

-       Se fosse você a passar pelo rio e visse o menino – sem saber quem ele era (e viria a ser) –, teria coragem de saltar para o rio e salvá-lo?
-       Mas se soubesse que ele viria a ser Adolph Hitler, ainda se preocuparia em, tirá-lo do rio pondo a sua própria vida em perigo?

Difícil, né? Se salva o menino, mais tarde correria o risco de se sentir responsável pela sua morte de milhões. E se não salva vai se sentir responsável pela morte de uma criança. Para finalizar: mesmo você, que vive a criticar o relativismo, vai concordar que tudo é relativo. Ou não?

É a dança da chuva.