terça-feira, 30 de agosto de 2016

Udo Dohler é candidato a Madre Teresa de Calcutá?


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

As auto-referências são para evitar. Mas parece oportuno lembrar um post publicado (aqui) em janeiro de 2012, quando Udo Dohler anunciou a decisão de concorrer à Prefeitura de Joinville. O texto pretendia refletir sobre as dificuldades que o empresário teria para manter a postura de gestor. Afinal, o chamado da política é sempre mais forte. O próprio Udo Dohler reconheceu esse risco, mas disse estar preparado para enfrentá-lo. Parece que não funcionou.

Passou o tempo e os fatos se encarregaram de esvaziar a figura do gestor. O slogan “não falta dinheiro, falta gestão” entrou para o anedotário da política local. Hoje, passados quase cinco anos, o homem que concorre à reeleição é 100% político. E com um problema a resolver. Udo Dohler ficou igual aos outros candidatos, mas com o ônus de ter feito uma administração muito questionada. É preciso criar um diferencial. Como? Eis um trabalho para os marqueteiros.

Udo Dohler tem poucas obras estruturantes para mostrar. E não se encontram sequer resquícios de uma estratégia consistente para a tal Joinville do futuro. Então é melhor eliminar, da semântica da campanha, uma fraseologia que aponte para os seus déficits. Gestão, saúde, planejamento, asfalto, Joinville 2030, entre outras expressões, são incômodas. Desviar o foco é um velho truque do marketing. Afinal, quando falta obra... sobram slogans. 

De que se lembraram os marqueteiros? Ora, uma olhadinha para as pesquisas de opinião mostra que a honestidade aparece, de modo reluzente, entre as preferências dos eleitores. Perfeito. Ainda mais porque um dos principais adversários, o deputado Marco Tebaldi, já foi condenado por improbidade administrativa. E surge uma campanha baseada no conceito de “honesto”, de “mãos limpas”, de “incorruptível”. Funciona? Talvez. O marketing tem poder, mas...

Alguém duvida da honestidade de Udo Dohler? Não. É chover no molhado. E há uma questão sociológica. O caráter de muitos brasileiros mistura o "espírito macunaímico” e a lógica do “laissez faire, laissez passer”. Ou seja, o Brasil é o lugar onde – infelizmente – o inconsciente social tem convivido de forma apaziguada com a expressão “rouba, mas faz”. A recente pesquisa do Ibope permite interessantes conclusões a esse respeito. Outra coisa para deixar com um elefante atrás da orelha: Darci de Matos não entrou na equação?

Um olhar panorâmico pelas campanhas até agora permite ver que nenhum candidato traz propostas disruptivas. Os compromissos são todos muito iguais. Aliás, é de salientar candidatos que andam de pires na mão e a fazer campanhas modestas. Udo Dohler é, disparado, quem apresenta uma campanha com maiores maiores recursos técnicos. Mas algo não cola. A campanha do atual prefeito parece propor uma espécie de “slogancracia” (um governo de slogans).

Pode funcionar, mas há riscos. Mãos limpas, honesto, incorruptível... fica aparecer que Udo Dohler é candidato a Madre Teresa de Calcutá. Mas será ele o prefeito que Joinville deseja? E já que falamos em slogans, não custa lembrar a assinatura da marca AXE: “a primeira impressão é a que fica”. De propósito fecho o texto com alguns slogans clássicos que, reunidos numa proposta, poderiam servir como linhas orientadoras de um programa de governo:

- Think different (Apple).
- Expand your mind, change your world (NewStatesman).
- Imagination at work (GE).
- Innovation (3M).
- Impossible is nothing (Adidas).


É a dança da chuva.




segunda-feira, 29 de agosto de 2016

CHUVA ÁCIDA 5 ANOS - Jéssica Michels













POR JÉSSICA MICHELS 

Eu consigo lembrar dos rumores de “um blog sobre a cidade”, que estava a ser planejado.

De fato, realmente acompanho o Chuva Ácida desde 2011, quando ainda estavam no processo de naming deste canal. É necessário falar que foi bem interessante ver várias amigas e amigos passando por aqui. E é aqui que vejo a importância deste espaço, exatamente por ter algumas dessas pessoas no meu círculo de convivência pessoal, e ver como é interessante o processo de reaprendizado que tive através da escrita, do pensamento, do estilo de cada uma.

Agradeço imensamente às amigas Maria Elisa Máximo, Emanuelle Carvalho, Valdete Daufemback, Fernanda Pompermaier e Fabiana Vieira que durante alguns períodos toparam o desafio de ser mulheres deste espaço. Agradeço também a todas as outras mulheres que participaram da seção de “Brainstorming” transformando e incentivando uma pluralidade de vozes. E assim, estendo meus parabéns a toda equipe do Chuva Ácida, que está comprometida com o debate de ideias.


Jéssica Michels
é fotógrafa
e ativista dos 
direitos civis.

https://www.facebook.com/jessicamichels1?fref=ts

Começou a corrida à Prefeitura. E é mais do mesmo...


POR JORDI CASTAN


Deu a partida para a campanha eleitoral. São poucos dias, muitos menos recursos que nas campanhas anteriores e uma corrida desigual que beneficia os candidatos que concorrem à reeleição. No caso de Joinville ,os primeiros números divulgados pela pesquisa IBOPE trazem poucas novidades. Mas a campanha está se mostrando surpreendente.

UDO DOHLER - Candidato a reeleição depois de quatro anos administrando Joinville, traz poucas novidades a insistência na honestidade como diferencial e o fato de acordar cedo. Muitos eleitores não entenderam ainda se é um problema de insônia ou se acredita mesmo que Deus ajuda a quem cedo madruga. Sobre os seus dotes de gestor e administrador até agora só um ominoso silêncio. Faz bem o seu marqueteiro em esquecer desse bordão da campanha de 2012, dificilmente o eleitor acreditaria de novo na patranha dos seus dotes de administrador.

DARCI DE MATOS - Empatado tecnicamente, dentro da chamada margem de erro, o deputado estadual Darci de Matos aparece em segundo lugar. É um segredo a vozes que o projeto de governar a maior cidade de Santa Catarina não é um sonho novo. Há muitas dúvidas sobre como o eleitor receberá a imagem de bom moço. O bom mocismo acompanha o discurso do candidato desde o inicio da sua carreira política. Darci é um dos maiores exemplos de como a política é generosa. Como em pouco tempo é possível deixar atrás a infância dura em Cafelândia e gozar de uma vida confortável e economicamente estável.

MARCO TEBALDI - O terceiro nas pesquisas e também empatado tecnicamente é o ex-prefeito Marco Tebaldi, que já mostrou qual é o seu modelo de administração. Os joinvilenses podem até ficar em dúvida sobre se o "fazer a todo custo" é a melhor forma de levar Joinville adiante e se é este o perfil ideal para o momento peculiar que vive a cidade. Mas não há duvidas: praticamente um quarto da população que já definiu seu voto acredita ser a melhor alternativa para sair do marasmo em que as últimas gestões têm mergulhado Joinville.

CARLITO MERSS - Em quarto lugar outro ex-prefeito. É Carlito Merss, que navega contra a rejeição e ensaia a sua volta à vida política, para evitar ser esquecido pelo eleitor. Não é nenhum segredo que o ex-prefeito não está participando desta corrida, ou seja, está lutando a sua própria batalha para sobreviver politicamente. Seu projeto político não passa mais pela prefeitura e sim por tentar a volta ao Legislativo. Esta só medindo o tamanho do capital político que sobrou depois do debacle.

DR. XUXO - No mesmo pelotão esta o Dr. Xuxo. A sua candidatura sentiu já na largada a força que podem ter as redes sociais. Se espalhou, de forma viral, um texto que continha acusações gravíssimas sobre o candidato. E que mostraram como esta eleição poderá ser vencida ou perdida nas redes sociais. Se sua candidatura crescerá ou se manterá no mesmo patamar será o que mostrarão os próximos dias.

RODRIGO BRONHOLDT - O candidato Rodrigo Bornholdt é o menos conhecido dos que disputam este grupo. Em princípio é o que tem maiores possibilidades de crescer se consegue projetar a imagem de que pode fazer diferente. O eleitor se mostra cansado de mais do mesmo e se na eleição passado escolheu aquele que achou o menos ruim, nesta pode preferir aquele que fará diferente em resposta ao mais do mesmo.

IVAN ROCHA - No último corpo está Ivan Rocha, um outsider que dificilmente será visto pelo eleitor como uma alternativa real, mas que tem a liberdade para poder oferecer propostas de governo completamente novas e fora do espectro habitual do eleitor.

Os outros candidatos listados na pesquisa tem ínfimas ou nulas possibilidades de chegar a um dígito no dia 2 de outubro.

Joinville tem pela frente uma corrida que apresenta poucas surpresas e a cidade precisa ser surpreendida para mudar, porque mais do mesmo já sabemos onde vai nos levar. 

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Justiça com as próprias mãos














POR LIZANDRA CARPES

Tivemos em Joinville, no dia 11 de agosto, um caso exemplar de justiceiro que quis lavar a honra (honra que se resumiu em um celular) com sangue ou com um golpe de arte marcial (golpe que se resumiu no que era a vida de alguém). Diego Felipe Fortunato Cidral era jovem e negro. E após uma gravata para ser imobilizado, acaba sem vida. Mais uma pessoa que entra nas estatísticas do genocídio da população negra.

Não vou entrar no mérito das questões do racismo (tema que o Felipe Cardoso trata com maestria aqui no Chuva Ácida) ou se houve ou não intenção de matar, pois para isso haverá um processo de julgamento. Vou aprofundar, sim, a questão da banalidade da violência e a desvalorização da vida. Muitos foram os comentários e posicionamentos. No entanto, o que mais choca é a crueldade aberta e pública em redes sociais: “Ainda bem que morreu, menos um”.

É preciso entender que a violência vai muito além das agressões e da morte. Ela se perpetua na incitação. Qualquer ato cometido que viole a Constituição Federal Brasileira de 1988 é um ato de violência. Ou seja, há violência quando não tem escolas, há violência quando pessoas morrem nas filas dos hospitais, há violência quando o Estado é ausente de suas obrigações.  E esta é a mais ameaçadora das violências, porque é provedora da injustiça e da desigualdade, a raiz do problema.

Quando “fazer justiça com as próprias mãos” ou “linchamento” tornam-se solução, isso evidencia também o atestado de falência dos setores que devem organizar estes conflitos sociais. É evidente que existem ferramentas e interesses que se alimentam da violência. A mídia sangrenta que vende horrores de publicidade com programas policialescos. Quanto mais sangue, mais audiência, gerando a indústria do medo, que, como diz o sociólogo Zygmunt Bauman em seu livro “Em Busca da Política”, uma sociedade amedrontada é de fácil manipulação.


A única justiça que podemos fazer com as próprias mãos é lutar por justiça social. É ocupar os espaços de decisão. A justiça com as próprias mãos se faz com conhecimento de causa e na participação política. Não movida por sentimentalismos. É fiscalizar e monitorar o serviço público e, mais que isso, cobrar resoluções. E no ciclo vicioso da violência, a pergunta que fica é: quem comete a violência primeiro, o cidadão e a cidadã ou o Estado?

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Cordial é o cacete!


















POR FILIPE FERRARI
Na participação do Brasil nas Olimpíadas, talvez a medalha que mais despertou reações internacionais tenha sido a do salto com vara, do Thiago Braz. Entretanto, as reações não se deram por conta do feito do atleta, mas sim pela reação da torcida: as vaias ao segundo colocado, o francês Renaud Lavillenie.

Independente das motivações, se o francês foi arrogante ou não, ou se cabe a vaia em um esporte de concentração, a questão que quero trazer é outra: o uso da cordialidade. Depois do episódio e das diversas manifestações da imprensa internacional e nacional, alguns lugares disseram que nós, brasileiros, não somos mais cordiais.

Aí já começa o problema: estamos mais cordiais do que nunca! Sérgio Buarque de Hollanda usa o termo a partir da raiz latina cordium, ou seja, coração. O homem cordial não é o homem bondoso, bacana, legal; mas sim aquele que pensa a partir de suas próprias convicções e vontades, passando por cima das regras e da legalidade. Assim, a pessoa age de forma a confundir o público com o privado, ou entender as relações públicas como extensão da sua casa. As relações familiares se estendem para a sociedade, impedindo a formação de alguma ordem pública, pois os agentes dotados de poder agem como se a população fosse seus parentes, para o bem ou para o mal.

Sendo assim, quando não se respeita o suposto ambiente de concentração de um esporte, há a cordialidade. Quando, em um estádio, se leva o laser para tentar atrapalhar a visão do goleiro, há cordialidade.

Mas, não para por aí. Quando um médico dá um atestado sem achar motivo, é cordialidade, quando um vereador coloca um amigo ou cabo eleitoral em algum cargo no qual o mesmo não tem preparação, também é cordialidade.

Nessas eleições municipais, temos show de cordialidades. Um prefeito que enche a cidade de pequenas obras nos 5 meses antes da eleição; candidato a vereador que em sua página diz ter participado de diversos momentos importantes da história dos movimentos estudantis e trabalhistas da cidade (e esteve. Olhando. De longe.); candidatos/as que aproveitam espaço para perguntas em debates acadêmicos para fazer discursos demagógicos e começar a aparecer para seu público “alvo”; candidatos dentro das igrejas... A cordialidade brasileira está em todas essas relações!

Ah! E as vaias ao francês? Merecidíssimas, ele é um mala.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Sérgio Moro é pau para uma obra?
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

- Calçar as sandálias da humildade.
- Cretino absoluto.
- Delírio.
- Justificar a tortura porque o fiz de boa fé.
- O cemitério está cheio desses heróis.

As expressões reproduzidas acima são do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e foram publicadas na imprensa nacional esta semana. O ministro não cita nomes, mas é fácil depreender que as críticas têm endereço certo: o procurador Deltan Dallagnol e o juiz Sérgio Moro (ver imagem no final do texto). Foi um tranco. Parece que há algo de podre no reino de Curitiba. Surpreende? Claro que não.

O que o juiz Sérgio Moro parece não saber – mas deveria ter intuído, se não se tivesse deixado deslumbrar pela luz dos holofotes – que certo tipo de "heróis" tem prazo de validade. Ou seja, são pau para uma obra. É só ir à história recente. Quem ainda fala em Joaquim “Batman” Barbosa? De herói das multidões reacionárias, hoje o ex-ministro vive um ocaso, longe da admiração dos seus antigos admiradores. É assim no reino dos golpistas: os reaças têm memória curta... e nenhuma gratidão.

Os fatos recentes podem indiciar que Sério Moro vai no mesmo caminho. Muito prestável na missão de provocar um rombo no PT – e fazer o trabalho que a oposição desejava dele – , o juiz de Curitiba pode estar a ser reduzido ao estatuto de simples peão na base da pirâmide do Judiciário. “Mudai os tempos, os lugares, as opiniões e as circunstâncias... e os grandes heróis se tornarão pequenos e insignificantes homens”, diz a frase atribuída a Mariano Fonseca, o Marquês de Maricá. Ninguém duvida.


Pode ser apenas um puxão de orelhas. Mas as circunstâncias parecem estar a mudar. E quando um superior hierárquico do calibre moral de Gilmar Mendes usa expressões como “cretino” para classificar pessoas e “delírio” para descrever as propostas defendidas por Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, então está entornado o caldo jurídico. E a poderosa Republiqueta de Curitiba pode estar a soçobrar.

É a dança da chuva.