POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Hoje não interessa falar a sério.
Porque vou fazer a minha homenagem a um pessoal que sempre foi injustiçado pela
história: a esquerda festiva. Aliás, um dia destes, um leitor habitual deste
espaço escreveu a me “acusar” de ser da tal esquerda festiva. Ou "caviar", como dizem os seguidores daquela mula sem cabeça que dá pelo nome de Rodrigo Constantino. Não sei se a
intenção era me chatear. Mas não chateou. Afinal, esse é o meu time.
Onde mais eu poderia estar,
leitor e leitora? É óbvio que prefiro estar onde está o pensamento humanista e, principalmente, onde
houver festa. Muita festa. É uma coisa que aprendi desde o primeiro livro do
Marx, o Groucho. Foi ele quem ensinou esta preciosa lição:
- Eu bebo para que as pessoas
fiquem interessantes.
Só há uma diferença. É que antes,
nos tempos mais inflamados, eu bebia cerveja e hoje prefiro vinhos de
qualidade. Sinal dos tempos. Ah... e eu sou daqueles socialistas que querem
socializar a riqueza, ao contrário dos caras que andam por aí a socializar a
pobreza. Catso, é não é que virei esquerda caviar? Então...
- Desce uma Moët & Chandon, companheiro.
Quem é da minha geração concorda. Qualquer pessoa com dois dedinhos de testa e os tomates no lugar só podia ser da esquerda festiva. Por pouco íamos escapando aos anos de chumbo. Eu só me
vi como ser político ativo quando a ditadura já estava a desabar de podre.
Então, com a milicada a deixar o poder e a abertura a chegar, tínhamos motivos
de sobra para comemorar. Tchim, tchim.
Mas cá entre nós, leitor e leitora,
sempre achei meio chata a ideia de revolução armada. Não gosto de armas. Nunca
dei um tiro na vida. E não sou chegado em violência. É por isso que prefiro
fazer as minhas revoluções numa mesa de bar. Espocar só do champanhe. Até porque
a revolução das pessoas e das ideias é essencial para todas as outras revoluções. E todos sabemos que não há ambiente mais
revolucionário que uma mesa de bar.
INJUSTIÇAS
- Ah... e há injustiças que o mundo precisa
corrigir. A maioria das pessoas parece não reconhecer, mas ser de esquerda é difícil
para cacete. Vamos analisar: como é que um cara acaba aderindo ao ideário da
esquerda? Ora, é preciso ler muito. Ler, ler, ler. E olhe que esses autores de
esquerda escrevem feito loucos, com teorias cada vez mais complicadas. O leitor
precisa de resistência de maratonista.
Outra coisa chata é o estereótipo
(que vem dos anos 60). Todo mundo vê os homens de esquerda como uns caras
barbudos que não tomam banho, usam sacolas a tiracolo e boinas estranhas. E as
mulheres são umas desgrenhadas, que não cuidam da aparência e não raspam os
sovacos. Mas, no que me diz respeito, o fato é que as mulheres de esquerda são
muito interessantes. Porque elas também se cuidam. E têm o que dizer.
Outra injustiça é ser chamado de
radical. A palavra foi deturpada pela direita. Ser radical é ir à raiz dos
problemas (o que é bom), mas alguém fez acreditar que os radicais são um monte
de gente de turbante pronta a explodir tudo. Até houve um tempo em que éramos
“xiitas”. Ainda são? É que essas estereótipos mudam muito.
Antes, quando Saddam Hussein era
amigo, os xiitas eram bandidões ferozes. Mas depois da queda e do cadafalso
para o ditador, eles voltaram a ser pessoas simpáticas. Ah... a história e os
seus relativismos.
Viu como é difícil, leitor? Agora
você entende que depois de tanto preconceito e perseguição, a gente bem que
merece uma festinha para compensar. Um brinde a la revolución. Tchim, tchim. E termino com o meu lema: “liberdade,
igualdade, fraternidade. Com caviar e Moët & Chandon para todos, claro”.
É a dança da chuva.