Muito mais do que uma carta endereçada a um comunicador específico, este relato é uma defesa da profissão e dos profissionais que prezam pela ética, pela pluralidade e pela informação de interesse público. É, também, o reflexo de uma esperança muito pessoal de que anunciantes, leitores e jornalistas comecem a se voltar para os adeptos dessa "imprensa" com o olhar crítico que eles merecem.
Deixo claro que essa não é uma defesa do diploma. É, sim, uma defesa da ética e dos princípios que norteiam a profissão.
Por cautela, deveria me manter calada.
Por ofício e por prezar minha profissão, decidi por meu discurso à prova.
Desde o início da semana venho mastigando e tentando digerir críticas que, mesmo não sendo feitas a mim, me atingem como jornalista e como ser humano. Me fazem questionar a razão de o mercado ainda reservar espaço para pseudo-profissionais e franco atiradores que só pensam no seu próprio interesse, embora o vendam como interesse público.
Eu pensei durante muito tempo que esse jornalismo ia morrer: ou porque iam matá-lo os bons profissionais ou porque ele próprio ia cometer suicídio, motivado por seus erros, seus desvios éticos, sua fragilidade técnica e seu indescritível zelo à politicagem e ao jogo de interesses.
Mas descobri que o mau "jornalismo" continua vivo e espera atingir alguma prosperidade. Em parte porque os anunciantes permitem, em parte porque os leitores permitem. Mas MUITO porque os jornalistas de verdade permitem (e aqui, não me entendam mal, não estou falando do diploma). Nós não deveríamos permitir que tantos equívocos se intitulassem como "a imprensa".
Meu recado agora vai direcionado ao "comunicador" e "editor-chefe" do Jornal da Cidade João Francisco da Silva.
João, eu gostaria de ter lhe escrito antes. Lá no ano passado, quando você ofendeu um amigo querido com as piores palavras possíveis. Quando você foi notícia em portais nacionais por seu discurso homofóbico e cruel. Mas silenciei e hoje me arrependo.
Que bom que nunca nos cruzamos em uma redação por aqui. Porque somos de escolas radicalmente opostas. O jornalismo em que eu acredito, o jornalismo que eu estudo e do qual me orgulho não ofende e não denigre, muito menos motivado por interesses pessoais.
O jornalismo que eu gosto e sei fazer é plural. E não só porque plural é uma palavra bonita, mas principalmente porque parto da certeza (sim, essa é uma das poucas certezas que tenho na profissão) de que, quando critico um cidadão, é indispensável ouvi-lo, citá-lo, assegurar a ele o direito de resposta.
O jornalismo que eu gosto e sei fazer é movido pelo interesse público e não pelo MEU interesse. Ora, não venha me dizer que suas críticas não são pessoais. Nem os ingênuos acreditariam que uma verdadeira e hostil perseguição a dois excelentes profissionais são motivadas por questões técnicas. Se fossem, você e alguns dos seus amigos não seriam os únicos a reclamar.
Por fim, gostaria de lhe dizer, lamentando muito, que o senhor desconhece totalmente o papel de um assessor de imprensa de órgão público. Lembro que a palavra PÚBLICO fala por si só. E que não é para o senhor e para nenhum dos seus amigos que um assessor de órgão público trabalha. É para a sociedade. E nesta sociedade, incluem-se os jornalistas que fazem o bom uso da informação, que buscam o contraponto, que constróem uma visão de um fato amparado em fontes, dados, observação. Desta sociedade, excluem-se profissionais que perseguem, que humilham, que oprimem, que chacotam e que vociferam arrogância, calúnia e má fé.
E se por algum motivo você quiser me incluir entre os seus perseguidos, fique bem à vontade. A justiça está aí para isso. Certamente não será nem o primeiro, nem o último processo que o senhor irá responder.
Amanda Miranda é jornalista e professora.