quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A violência nossa de cada dia


POR CLÓVIS GRUNER

A Arena Joinville foi palco, no último domingo, de mais um episódio de violência envolvendo torcedores – neste caso, do Atlético Paranaense e do Vasco da Gama. Em entrevista, Udo Dohler afirmou que impedirá o empréstimo da Arena para novos jogos do time curitibano, que só neste ano perdeu duas vezes o mando de campo por conta de ocorrências envolvendo a violência dos torcedores. Agiu certo o prefeito. O problema, no entanto, é maior e mais complexo, acredito. E é preciso observá-lo sob outras perspectivas.

Soube ontem que o Ministério Público catarinense entrou no início de dezembro com pedido de interdição do estádio, alegando que a estrutura do lugar é precária para receber eventos esportivos. Não me surpreende: esta não é a única “grande obra” joinvilense entregue às pressas e precariamente concluída, e a decisão do MP apenas torna público o que é já do conhecimento comum da maioria da população local. Há ainda a imagem do país no exterior, bastante comprometida com o ocorrido, e a menos de um ano da Copa do Mundo. Depois de domingo, a Fifa afirmou que durante o mundial tais cenas não se repetirão, pois o “padrão Fifa de segurança” é diferente do Brasileirão. Pode ser verdade, mas o estrago está feito e dificilmente a imagem do país e de seus torcedores será integralmente reabilitada.

Mas isto não me parece, ainda, o pior. Desde os anos de 1980, quando a violência entre torcidas aumentou significativamente, 234 mortes entre torcedores já foram registradas, segundo o El País. Só neste ano, 30 pessoas morreram em conflitos nos estádios de futebol. Na briga de domingo felizmente não houve mortos, mas dos quatro torcedores feridos um segue internado em Joinville. Outros seis foram e continuam detidos. Há algo realmente preocupante na relação entre torcedores e seus times quando ela justifica o recurso à violência extrema. As explicações usuais normalmente apelam às razões econômicas ou se esforçam em “psicologizar” e naturalizar  a questão. Nenhuma delas, a meu ver, oferece respostas satisfatórias.

A BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA – Há algo de performático na violência que parece fazer sentido aqueles que a praticam, como se a agressão ao outro reforçasse os laços de pertencimento à pequena comunidade das torcidas organizadas. Neste aspecto, ela é parte constitutiva da identidade do grupo – ou de parte dele – e independe da condição social e econômica (um dos agressores identificados é ex-vereador em Curitiba e ocupava cargo de primeiro escalão no governo estadual); nem tampouco se mede por critérios que se pretendam “naturais” ou “psicológicos” (a maioria dos torcedores não é violenta fora do grupo e em outros contextos que não os que envolvem o futebol).

De maneira muito peculiar e caótica, a violência é também uma forma de confrontar as autoridades instituídas – administradores públicos, justiça, polícia, “cartolas”. Talvez o melhor exemplo disso seja o descolamento entre os discursos dos dirigentes das torcidas organizadas e as práticas de muitos torcedores. Enquanto os primeiros negam e condenam a violência, inclusive colaborando com a investigação policial, os segundos seguem praticando-a, indiferentes ao que dizem e fazem seus supostos representantes.     

Além disso, os acontecimentos nos estádios acompanham um processo de banalização cotidiana da violência, que não é apenas física: há violência no desaparecimento de Amarildo; no autoritarismo policial; nos “governos paralelos” instituídos pelo crime organizado dentro e fora das cadeias, principalmente nas periferias das grandes cidades; etc... Mas há igualmente violência quando um humorista agride uma internauta e conclama seus seguidores a fazer o mesmo, indiferente seja à assimetria entre sua posição e influência midiáticas e a de sua interlocutora, seja ao conteúdo da crítica que lhe foi dirigida e sua resposta, que está muitos níveis abaixo do que pode ser classificado como grosseria.

São óbvias as razões que levam a maioria de nós a acusar a gravidade do que ocorreu domingo, na Arena Joinville, em relação a episódios considerados mais “comezinhos”. Mas eles estão ligados, entre outras coisas, pela crescente e perigosa insensibilidade que estamos a desenvolver para com muitas formas de violência que não a criminosa – e mesmo em relação a essa tendemos a achar que a solução está simplesmente no aumento da força policial e na ampliação do número de vagas nas penitenciárias. Não estou homogeneizando a violência. Mas afirmando que nossa atenção demasiada e isolada a algumas de suas manifestações, que caminha na direção inversa à crescente indiferença para com outras, não produz soluções. Antes, agrava o problema e nos torna a todos responsáveis.    
 

Um chegada e tanto

ET BARTHES

Para quem gosta de automobilismo, talvez a mais interessante chegada de todos os tempos.


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Facebook é coisa de velho

Link foto
POR FERNANDA M. POMPERMAIER


Peguei umas férias do blog por uma série de questões pessoais e volto a escrever com a maior cara de pau, sem dar muitas explicações. Peço desculpas, mas estou passando por períodos complexos, reajustando, repensando e não sei como o futuro vai ficar. Tenho certeza que o chuva estará presente de alguma forma, mas ainda não sei como. Enquanto isso vamos conversando.

Nesses reajustamentos da vida, decidi tomar uma decisão drástica essa semana e cancelar minha conta no facebook. Ok, grande porcaria, tem algumas notícias mais importantes no mundo. Concordo, mas "veja bem" nem sempre eu estou a fim de saber. Tru tum tum tum, pá! E o facebook meio que não respeita meu estado de humor ou o dia maravilhoso que estou curtindo com a minha família. Pinta a imagem: você preparou um almoço saboroso no domigo, sentou com filha e marido, tomando uma cervejinha, dá uma espiadinha no face, porque o celular está ali e é irresistível, e BUMP! Mandela morreu, virou assunto do almoço. Ou você tem um jantar legal com as amigas, vai ao banheiro, dá uma espiadinha no celular e BUMP! Foto de criança desaparecida para compartilhar. Aí você lembra que o mundo é um lugar horroroso, perigoso, cheio de gente má, e se pergunta por que você colocou um filho, que você ama tanto, nesse mundo torto e por aí vai a paranóia.

Ok, você pode desligar o celular, evitar olhar, ter auto-controle... Acredite, eu mesma já tentei convencer pessoas que cancelariam suas contas no facebook, que tudo era uma questão de aprender a usar a ferramenta. Aprender a usar os recursos: dar um unsubscribe nos amigos mais sem noção e parar de receber suas atualizações, deixar de dar like nas páginas, dar uma formatada pra ficar mais com a sua cara, enfim. Quer saber? Foge do controle. Você não quer ver foto de cachorrinho sem pata nos minutos que antecedem o sono noturno e mesmo assim você acaba sendo bombardeado por essa imagem simplesmente por ter cedido à última bisbilhotada no aplicativo quando pôs a cabeça no travesseiro. É uma coisa que se joga na sua frente e antes de você conseguir avisar que está noutro humor, você já viu, já ficou triste, já ficou com raiva, ou com grande descrença na humanidade. Nem precisa ser tão gráfico assim quanto uma imagem, pode ser o compartilhamento de uma burrice gigantesca, uma tirinha machista ou uma frase do Lobão. Pra mim chega.
Eu não quero mais saber que aquela amiga que eu adorava na adolescência agora acha que todos os petistas deveriam morrer. Não quero mais ler sobre a criminalidade crescente no Brasil, os escândalos de corrupção, os estupros, os assassinatos de transsexuais... aff, tudo isso é horrível e eu quero ser ativista em algumas causas mas não em todas. Não quero a pressão de ler tudo, saber tudo que está acontecendo o tempo todo no mundo todo, na vida de todos os meus conhecidos. Eca. Quero estar disposta a abrir a página de um jornal e ler as novidades, e entrar na página policial APENAS SE eu quiser. Mandar um bom e velho oldfashion email pra uma amiga e perguntar a quantas anda a sua vida.

Eu já sinto que tenho mais tempo pras coisas realmente importantes da vida. Tipo checar minha conta no instagram ou no twiter - just kidding.

Lógico que nem tudo são só espinhos. O facebook é uma ótima ferramenta, ele aproxima, tem uma série de recursos legais, nada especificamente contra o programa. O problema está comigo mesma que não consigui lidar com o imediatismo, a quantidade de atualizações e etc, etc, vocês sabem.

O golpe final foi ver uma estatística dizendo que os adolescentes estão abandonando o facebook e migrando para o instagram e o whatsapp. Eu é que não ia ficar no meio da velharada! :)hehe!


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A corrupção nossa de cada dia.

POR JORDI CASTAN

A organização Transparência Internacional  divulgou, há poucos dias, o índice de percepção da corrupção em 177 países. O Brasil que em 2012 tinha 43 pontos de 100 possíveis piorou um pouco e nesta edição caiu para 42 pontos. E entre os 177 países pesquisados, o Brasil caiu da 69 posição em 2012 para a 72 em 2013.  O Brasil em 2001 ocupava o 46 lugar da lista e somava 40 pontos. Em 12 anos não conseguimos que o Brasil chegasse a 50 pontos de um total de 100 e passamos de 46 lugar ao 72. Uma situação que deveria preocupar muito mais do que preocupa.A corrupção é um câncer que esta aumentando em todo o mundo, mais de dois terços dos países pesquisados não chegam aos 50 pontos no índice de transparência.

Há com tudo bons exemplos que merecem ser analisados. Fora os campeões que alcançam entre 100 – 90 pontos – Dinamarca e Nova Zelândia, ambos com 91 pontos, um grupo de países se situa entre os 89 – 80 pontos – Finlândia, Suécia, Noruega, Singapura, Suíça, Holanda, Austrália, Canadá e Luxemburgo. No outro extremo da lista com entre 9 – 0 pontos – Somália, Coreia do Norte e Afeganistão.

Entre os países que estão mostrando bons resultados e que tem feito do combate a corrupção uma questão de Estado, gostaria de citar o caso de Ruanda, país que por trabalho acompanho de perto desde já faz mais de um ano. Ruanda é um país pouco conhecido, encravado no coração da África equatorial, com uma população de 11,6 milhões de habitantes, um índice de alfabetismo de 71%, uma renda per capita de US$ 1.400 e um PIB que cresceu no último ano 8,8%. O governo converteu o combate à corrupção em uma questão de estado e hoje Ruanda, com 53 pontos é o 4 país com o menor índice de corrupção em toda África e o 49º no mundo. Aparece na frente inclusive de África do Sul e fica atrás só de Botsuana, Cabo Verde e Seychelles.

Como se combate a corrupção em Ruanda? Primeiro aplicando o conceito de tolerância zero para os casos de corrupção, segundo julgando e condenando a prisão os corruptos e os corruptores. Mas principalmente mostrando o quanto a corrupção destrói os valores do país e o elevado custo econômico e social que a corrupção tem para a sociedade. A corrupção se combate primeiro em nível local. É nos municípios é pequenas comunidades rurais em que é mais fácil iniciar o combate a corrupção. Outro dos êxitos do governo ruandês no combate a corrupção é a melhoria dos serviços públicos, com serviços públicos mais eficientes há menos espaço para corrupção. “Quando os corruptos são identificados e punidos serve de modelo para outros” declarou no seu discurso na semana nacional contra a corrupção.

Aqui no Brasil continua o debate sobre se o mensalão existiu, sobre se os condenados na justiça devem ou não ser presos. A Copa do Mundo de 2014 reúne uma longa lista de situações potencialmente passiveis de corrupção, orçamentos em aumento e maá qualidade de obras públicas, que precisam ser reformadas pouco tempo depois de inauguradas, são alguns dos caos mais flagrantes. Casos de corrupção são divulgados pela imprensa com assustadora frequência e poucos chegam a ser condenados, quando o são, ninguém lembra que o dinheiro público desviado deveria ser devolvido. Pode ser que seja por essas e outras razões que em quanto o Brasil cada ano vai perdendo possições no índice elaborado pela Transparência Internacional, outros países, que tem menos possibilidades que o nosso, encaram o combate à corrupção, como o que deve ser, o combate a um câncer que destrói o país e os seus valores.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Arena de horrores

POR GABRIELA SCHIEWE

E então eu resolvo ir num mero jogo de futebol, entre times que sequer torço, apenas com a intenção de ver um bom jogo, visto que um lutava por uma vaga na Libertadores e outro precisando escapar do rebaixamento.

Logo que entro na Arena, dou de cara com um homenzarrão...e não é que até o Imperador estava na Cidade dos Príncipes!

Eta alegria boa, vamu que vamu que a coisa está esquentando...logo o Atlético-PR abre o placar, o Vasco desesperado, torcida agonizando no seu desespero de mais uma vez a caravela naufragar, e o jogo pegava fogo...

Aos 17 minutos de partida...explodiu!

"Art. 14. Sem prejuízo do disposto nos arts. 12 a 14 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, a responsabilidade pela segurança do torcedor em evento esportivo é da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo e de seus dirigentes, que deverão: I – solicitar ao Poder Público competente a presença de agentes públicos de segurança, devidamente identificados, responsáveis pela segurança dos torcedores dentro e fora dos estádios e demais locais de realização de eventos esportivos;"

O artigo acima, do Estatuto do Torcedor, legislação muito bem elaborada e que visa a segurança do torcedor e de todos aqueles que compoe o evento, assim como pontua todos os responsaveis, é claro quando diz que a responsabilidade pela segurança do local é do mante da partida.

Ok! E agora tem opinião e empura e empura de tudo o que é lado...Opa, espera aí, estamos vendo nesse momento, exatamente o que ocorreu nas arquibancadas da Arena, opiniões diveras e empurra empurra de tudo quanto é lado.

Confere Arnaldo?

É gente, mais uma vez estamos vendo, ouvindo, escrevendo o que já ocorreu em diversas outras oportunidades nos estádios do Brasil e que a única preocupação é achar "o culpado" e não A SOLUÇÃO!

De que adianta, neste momento chegar a definição de que a culpa foi do clube mandante, Atlético-PR porque não cumpriu a determinação do Estatuto do Torcedor disponibilizando segurança suficiente para a manutenção do evento sem riscos de maiores monta; ou que foi da Polícia Militar que decidiu - sozinha ou com o apoio do Ministério Público - não entrar na Arena, a não ser que houvesse fato de risco; dos bandidos que se dizem torcedores?

Como se achar o culpado irá resolver alguma coisa. Resolveu nos outros casos de violência nos estádios que temos visto constantemente nos campeonatos no país? Claro que não!

Passou da hora de entidades desportivas, federações, governo, judiciário, justiça desportiva, patrocinadores e todos aqueles que estão envolvidos neste grande negócio coloquem como foco a segurança das vidas humanas e não a segurança do seu patrimônio financeiro.

Vasco caiu, Fluminense caiu, mas a verdadeira queda foi da esportividade e do bom sendo diante de bandidos que andam soltos e "torcendo" contra a vida alheia nos estádios.