Acabou a palhaçada. Ontem a Folha de S. Paulo publicou uma matéria a revelar que empresários ligados ao candidato Jair Bolsonaro estão a bancar a veiculação de mensagens contra o PT e Fernando Haddad pelo Whatsapp. O golpe final, diz a reportagem, seria na próxima semana e seriam investidos cerca de R$ 12 milhões. É crime eleitoral, claro. Mas no Brasil do golpe essas coisas parecem não importar. O país virou uma casa da mãe-joana e pedir ações da Justiça é atirar palavras ao vento.
O PT entrou com um pedido para que a Polícia Federal faça uma investigação. Os representantes de Ciro Gomes cogitam pedir a anulação do primeiro turno. Nada deve acontecer. Mas pelo menos agora temos as provas de que há uma fraude e isso vai pôr em causa a legitimidade do candidato fascista, caso venha a ser eleito. E deixar claro que a imagem de “honesto” é pura fachada. Há também rumores (sim, eu escrevi rumores) de que pode vir mais chumbo pesado contra Bolsonaro. É esperar para ver.
No entanto, independente dos fatos de ontem, fica uma pergunta: o que leva um país a votar num homem sem qualidades e com muitos defeitos como Jair Bolsonaro? É um daqueles momentos em que há muitos questionamentos sobre a democracia. E mesmo a ideia de “um indivíduo, um voto” – inegociável para qualquer democrata – acaba posta em xeque. Afinal, é difícil atribuir valor a um voto feito com o fígado e não com o cérebro. Enfim, é um paradoxo que a democracia terá que resolver, porque estes tempos são difíceis.
Donald Trump, Vladimir Putin, Matteo Salvini, Viktor Orbán, Nigel Farage, o crescimento AfD ou o risco da vitória de Bolsonaro (se bem neste caso há a componente fascista) são um sintoma do mal-estar da civilização. O surgimento da tal “democracia iliberal”, que não passa de uma contradição dos termos, mostra que as liberdades estão em risco um pouco por todo mundo. Há razões diferentes, claro, mas sempre baseadas nos nacionalismos exacerbados, na rejeição do outro (onde o ódio está presente) e do autoritarismo.
Em agosto deste ano, a Fundação FHC, criada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, recebeu o cientista político norte-americano Steven Levitsky, professor na Harvard University, para falar na relação entre o “populismo e o autoritarismo competitivo”. Steven Levitsky é autor do livro “Como Morrem as Democracias”, em parceria com Daniel Ziblatt, também professor na Harvard University. Os dois dedicaram os últimos 20 anos ao estudo do debacle de regimes democráticos na Europa e também na América Latina.
Nesse trabalho, os dois cientistas fazem um alerta. Hoje o fim da democracia não é mais resultado de choques fraturantes, como os golpes militares. Já não é necessário usar armas, porque porque as estruturas de poder podem ser arrebatadas através de outros estratagemas: o descrédito da política tradicional, do uso de ferramentas comunicacionais – a imprensa incluída – e a corrosão paulatina de instituições chave, como é o caso do Poder Judiciário. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.
Como morrem as democracias? Deixemos o próprio Steven Levitsky falar. Veja o filme.
É a dança da chuva.